O Sexta Feira escrita por Miss Krux


Capítulo 6
Capítulo 06 - Provas




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A herdeira manteve-se imóvel, sequer soltou a mochila como foi ordenado, já havia levado sustos maiores, não seria uma simples ameaça que iria amedrontá-la, ainda mais sabendo que quem portava a arma era uma mulher assim como ela própria, ou seja, se tivesse que brigar, sabia que a diferença física não seria um problema tão grande. Entretanto, algo mais forte, impossível de manter o autocontrole de si mesma ou daquela situação a dominou por completo, em questão de segundos sentiu sua visão turfa, as cores sumindo, um frio percorrendo por todo o seu corpo e de repente uma tontura arrebatadora a preencheu, de tal modo que apenas sentiu como se o chão faltasse.

Mas ainda que confusa, não pode deixar de perceber que os números de passos em sua direção apenas aumentaram, de imediato tentou pegar o Oroboros no bolso da calça, mas era tarde demais, Marguerite caia ao chão, inconsciente e para surpresa de todos os presentes, próximo aos pés da mesma mulher que acabara de ameaçá-la.

Uma senhora já com uma certa idade, de posturas rígidas e semblante indecifrável, não tinha o hábito de brincar com suas ameaças, tampouco fazê-las sem um fundamento plausível, suspeitava de um traidor dentre seus empregados, responsável por permitir a entrada daquela mulher na mansão Roxton e os desfalques da fortuna de seu filho, sendo assim não enxergou motivos para avisar sobre a sua visita.

Lady Elizabeth Roxton encontrava-se acompanhada de um homem mais jovial, forte e também de feições duras, como um segurança ao seu lado e apenas isso, não fez sequer um movimento para ajudar a mulher que estava desmaiada diante de si, pelo contrário, aguardou que todos os funcionários da mansão chegassem ao local.

L.R - Vamos Leopold o que está esperando para ver se essa ladrazinha amadora está viva ou morta.

L - É claro Mylady... Mil perdões... Estava disperso em meus pensamentos.

L.R - Talvez ande pensando demais Leopold, sugiro que pense menos e me obedeça mais, afinal está sendo pago para isso.

L - Claro, sim, imediatamente, a senhora está certa. Mais uma vez, peço desculpas por meus devaneios.

O mordomo abaixou-se, averiguou os pulsos da mulher desfalecida e constatou que a pulsação estava fraca, assim como a pele pálida e fria, o suficiente que para assustar.

L - Senhora, acredito que seja recomendável chamar um médico, a mulher está com a pulsação fraca demais e sua cor também é como se tivesse sumido de seu corpo.

A Lady refletiu durante alguns instantes sobre o ocorrido, gostaria de ter a oportunidade de ver a mulher na cadeia, era justo, afinal estava “pegando emprestado algo que não era seu, e tampouco havia pedido também”, mas ao mesmo tempo e de modo contrariada sabia que nada adiantaria, pelo menos não naquele momento não seria útil chamar a polícia, portanto, que assim fosse, chamariam o médico de confiança da família.

L.R - Que maravilha! Além de ladra incompetente, é uma doente também, sabe-se lá quais doenças pode estar portando e ainda nos contaminar. Telefonem para o Doutor Edward, ele saberá o que fazer com essa daí. Detetive Hugo queira fazer o favor de levá-la para o quarto de hóspedes sim, obrigada.

... E peçam ao Doutor Edward urgência, falem que é para ontem.

O médico conhecia a família Roxton há anos, quando William e John ainda estavam no ventre da mãe, ele quem realizou os partos de Lady Roxton e tomou todos os cuidados com a saúde da mulher, não bastasse conhecia muito bem suas exigências e costumes, ainda mais que residia nas proximidades, logo, não demorou para que estivesse junto dos demais, examinado até então “a ladra de quinta” como a Lady havia descrito.

Dr.E - Lady Roxton, se me permite, preciso examiná-la a sós, são procedimentos padrões, pedirei a gentileza que se retirem, apenas por alguns minutos e assim que tiver o diagnóstico chamarei a todos.

L.R - Apenas eu, este assunto está sobre a minha responsabilidade, não dos demais. Leopold e Hugo estão dispensados, podem ir dormir, daqui em diante cuido eu.

Como prometido, minutos depois o médico comunicava a Lady Roxton sobre o tal diagnostico.

Dr. E - Lady Roxton não farei rodeios, está mulher encontra-se em estado interessante, creio que a gestação se encontra no terceiro ou quarto mês, não posso afirmar com total propriedade, é necessário realizar exames específicos. No entanto, ela está muito abatida e também fora do peso, indícios de anemia, já neste período de gestação deveria ter ganho algumas medidas, também a sua palidez me assusta um pouco e a pulsação fraca, creio que seja necessário o repouso de uma semana no mínimo, ou duas, uma boa alimentação e claro deve evitar fortes emoções, nas circunstâncias pode sofrer um aborto a qualquer instante.

L.R - Será que este era o motivo dos roubos? Não deve ter meios ou condições sustentáveis.

Dr.E - É provável, mas ela está bem vestida, roupas limpas, pele limpa. Sugiro que aguarde ela acordar para saber o que está acontecendo aqui, entendo que gostaria ver a justiça sendo feita, mas aconselho que conversa com esta dama, não posso imaginar o que tenha levado a tal ato.

L.R - É claro, eu irei fazer. Obrigada Doutor Edward e por favor, deixe sua conta com meu sobrinho, ele quem tem cuidado e administrado os bens e financias da família...

Finalmente amanheceu, os primeiros raios de sol iluminavam todo o quarto onde a herdeira repousava, assim como a própria Lady havia pego no sono em uma das poltronas próxima a cama.

M - Minha cabeça, parece que vai explodir. Onde… onde estou?

Ao ouvir os ruídos de Marguerite, a Lady acordou de imediato, ajeitando se na poltrona de modo que ficasse encarando a mulher diante de si.

L.R - Está em minha casa, na mansão da família Roxton, sabe minha querida furto ou roubo é considerado crime, poderia muito bem enviá-la para cadeia.

A herdeira recordava-se de tudo, até mesmo quando perdeu a consciência e o mal súbito, provavelmente a mesma mulher que a abordou era a que estava diante de si, ameaçando-a pela segunda vez.

M - E porque não tenta? Não deve saber muito bem com quem está lidando não é mesmo.

L.R - Além de ladra, desnutrida e anêmica, é atrevida, de fato, deixe-me esclarecer algumas coisas. Eu sou Lady Elizabeth Roxton, seja quem for você, garanto que pelo seu comportamento não deve ser mais do que eu, logo se vê pela sua classe e, além disto, só não comuniquei a policia durante esta noite, porque imagino que seu filho ou filha não merece a mãe que tem, seria criado em qualquer orfanato, enquanto você cumpria a pena, não quero carregar este fardo comigo.

Neste exato momento Marguerite sentia se fosse pisoteada por um T-Rex ou qualquer outro dinossauro enorme e pesado, aquela era a Lady Roxton, a mãe do John, e filho, orfanato, o que ela queria dizer com isso. Seus pensamentos ainda que rápidos, estavam confusos demais para compreender com exatidão o que a mulher mais velha acabava de dizer, bem verdade, parecia que ia desmaiar de novo, esforçou-se mais um pouco, até alinhar um pouco suas ideias e perceber que já não estava com as suas próprias roupas.

M - Onde estão as minhas roupas? O que fez com elas?

L.R - Estão logo ali, no sofá, se prestasse um pouco mais de atenção, as teria visto. Pedi para que uma das minhas empregadas trocasse você, peguei uma camisola minha qualquer, porém me diga ... É de com às suas roupas que está preocupada ou com este artefato de ouro?

A mulher tinha o Oroboros em mãos e não aparentava que devolveria o mesmo tão cedo e de bom grado.

M - Isso é meu, eu exijo que me devolva.

L.R - Você exige? Tem certeza do que está falando? Minha querida acho que não entendeu ainda, mas você não está em posição de exigir nada aqui. Não vou devolver o seu artefato até que tudo esteja esclarecido. 

M - O que? Não pode fazer isso.

L.R – Não só posso, como estou fazendo. Acredite estou tão descontente quanto você com essa situação, imagino que este medalhão seja mais um item dentre vários que roubou, que talvez seu o devolvesse, você se trocaria e partiria. Mas nada garante que não voltaria a minha casa. E infelizmente, para o meu desprazer, foi recomendado por prescrição médica que você permaneça em repouso por uma ou duas semanas, e todo o ocorrido do seu mal estar foi aqui, sobre os meus olhos, é meu dever cuidar da sua saúde, sua e da criança em seu ventre.

M - Mas que droga, eu não roubei esse medalhão, ele é meu mesmo, eu o consegui, para você não importa como e outra também não sou ladra coisa nenhuma, meu nome é Marguerite Krux, estou perfeitamente bem, não preciso de cuidados de ninguém, muito menos da senhora e que história é essa de criança? Você só pode estar ficando louca, mas também com a idade que tem, não me admira, minhas regras estão corretas se quer saber...

L.R - Ora dobre a sua língua para falar comigo, eu posso ter uma idade mais avançada sim, aliás suficiente para ser a sua mãe e acredite se eu fosse não seria tão mau educada. Creio que pelo seu espanto não sabe ainda, a senhorita está grávida e anêmica também, suas regras podem estar corretas, mas queira ou não está GRAVIDA, o próprio medico da minha família a examinou e por isso acabei agindo de forma generosa, permitindo que permaneça durante estes dias aqui em minha casa, tempo hábil para se recuperar do susto, já que pode abortar está criança a qualquer emoção que for submetida. Mas esteja ciente minha casa, minhas ordens.

M - Grávida? Eu? Não, não e não, isso não pode estar acontecendo, não agora, Challenger vai querer fazer disso mais um de seus experimentos, terei que ouvir os malditos sermões de Verônica, às gozações de Malone e John, o que ele vai pensar? Droga, esse dia não podia ficar melhor.

A Lady encarava Marguerite, a forma como se portava, organizando seus pensamentos, mas nitidamente de modo falho, porém algo chamou a sua atenção, a pronúncia dos nomes Challenger e John, ou ela era uma golpista muito inteligente e experiente ou algo de muito estranho estava acontecendo ali.

L.R - Você disse Challenger e John?

Marguerite olhou para a mulher que agora parecia estar mais interessada em ouvir, do que acusar, talvez, analisou um pouco de suas expressões, poucas que permitia escapar.

M - Sim, George Edward Challenger, o cientista, responsável por uma expedição para um mundo perdido há aproximadamente quatro anos, Lord John Richard Roxton, seu filho e caçador mundialmente conhecido, Ned Edward Malone o jornalista americano. Sim, todos vivos e moramos juntos. Escuta sei que parece loucura, mas esse maldito medalhão que está segurando é o Oroboros, ele permite que faça viagens entre e espaço, se não como acha que estaria aqui?

L.R - Não acredito em você e nem pretendo fazer. Isso me cheira problemas, você me parece um problema. Você pode ter entrado por uma das portas dos fundos, suspeito que um dos meus empregados esteja me traindo, não seria a primeira vez que percebo os desfalques do cofre, além de ter visto um novo automóvel na garagem, que foi comprado sem ninguém ordenar.

M - Tá, talvez eu seja mesmo um problema, não é a primeira pessoa que me diz isso, mas tem que acreditar em mim, não tem traidor nenhum foi tudo a pedido de seu filho, foi um plano nosso, juntos.

L.R - Está confessando?! Então quer dizer que está por traz de tudo isso, envolvida nisso tudo? Quer dizer que esse plano é seu? É pior do que eu podia imaginar, sua ladra, vil e ainda tem a coragem de usar o nome do meu filho.

M - NÃOOOO… eu já disse que não sou ladra, minha calça, olhe o outro bolso, tem algumas instruções, feitas pelo próprio John, olhe e veja senão é a letra dele. Por favor.

Ainda contrariada Lady Roxton fez como Marguerite pediu, e por um breve momento sentiu seu coração acelerar, a sua voz sumir, era a letra de John, ela conheceria a letra de um de seus filhos em qualquer lugar ou circunstância.

M - Viu eu não falei, e a letra de seu filho.

L.R - É parecida, mas ainda assim isso não prova nada. Se é mesmo quem diz que é, me conte algo que só nossa família sabe?

M - O que? Está bem, está bem… Eu sei que quando John era jovem, ele, o irmão e o Lord Phillip Roxton, costumavam fazer os cafés, ou almoço ou o jantar no dia do seu aniversário, e não só isso sempre davam presentes especiais nessas datas, não digo ouro ou joias, mas por vezes livros, vestidos, teve uma vez que lhe deram um cavalo de presente e você e seu marido cavalgaram a tarde toda até o sol se por.

A Lady não esperava ouvir uma confissão nesse sentido, era algo íntimo da sua vida com Philip, que só seus filhos e marido possuíam conhecimento, e pouquíssimos empregados também dividiam da informação, mas ainda assim, algo nas palavras de Marguerite a fizeram amolecer, ou pelo menos a analisar melhor todo o ocorrido e prestar mais atenção naquela mulher diante de seus olhos.

L.R - Eu não sei como sabe disso, não faço ideia sequer de quem é você, mas digamos que eu venha acreditar em você, que por hora tem a minha atenção, ainda preciso de mais provas, essas que me apresentou não bastam, são poucas, e sei bem que um dos meus empregados poderia ter lhe contado tudo o que acabou de me falar.

M – O que? Mais provas? Mas que ... Espera, tem o jornal... O jornal de quando partimos, você deve ter guardado algum exemplar, pegue-o, olhe a foto, sou eu que estou com os demais da expedição, eu quem financiei a expedição é só olhar.

Antes que a mulher pudesse responder, o mordomo adentrou o quarto com uma bandeja de café da manhã reforçada, servida para ambas as mulheres.

L - Milady, bom dia. Trouxe o café das manhãs das senhoras, e informo também que o Sr. Hugo a aguarda no andar de baixo, tem informações importantes, pede para que as veja o quantos antes. É fundamental.

Marguerite não teve dúvidas, era ele, o mordomo e amigo de confiança que John comentou, poderia ser sua única solução.

M - É você, Leopold não é mesmo?! Tem que me ajudar, conte para ela que não sou uma ladra, que John está vivo e que estamos nisso juntos.

A Lady olhava espantada, não acreditava no que presenciava, o empregado que mais confiava, envolvido nisso, ele era o responsável pelas retiradas, claro, apenas ele tinha conhecimento da senha, como não havia pensado nisso antes.

L.R- Leopold você?! Eu me recuso a acreditar que está envolvido por trás disso tudo, não depois de todos esses anos, não pode ter feito isso, trair a minha confiança, minha família e, pior a memória de seu patrão, do seu melhor amigo, de Philip.

L - Milady, por favor, por favor, não é o que está pensando, a senhora tem que acreditar em mim e creio que no que essa jovem também está lhe dizendo. Eu...eu não a trai, não trai ninguém, nunca, não faria isso.

L.R - Não venha me dizer para acreditar nessa história banal. Você me decepciona... Chega, não quero ouvir mais nada sobre isso, pelo menos não agora. Tudo não passou pelo visto de uma armação. Escutem, eu preciso conversar com certa urgência com o meu detetive particular, e também organizar meus pensamentos e refletir quais medidas adotarei. Espero que me aguardem exatamente aqui, neste quarto, ou eu juro que gravida ou não, sendo meu empregado ou não, eu não medirei esforços para vê-los por trás das grades.


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