O Sexta Feira escrita por Miss Krux


Capítulo 40
Capítulo 40 - A conversa




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Uma tarde inteira talvez não fosse o suficiente, eram tantas histórias e explicações.

Os recém-chegados contavam e compartilhavam de suas aventuras, sobre como ocorreu o confronto final com Shangai Xan, como Lady Roxton com auxilio dos inspetores e de seu amado companheiro Leopold, foram perspicazes e livraram John e Ned da prisão, os quais atualmente eram condecorados heróis, como se deu a organização e a viagem de volta para o platô, que teria iniciado em menos de uma semana após o fatídico encontro com o mestre do crime. Revelando alguns segredos que só a própria Lady conhecia.

Enquanto os demais também relatavam sobre a chegada na casa da árvore, as ideias e escolhas que tiveram que seguir, as novas invenções e aperfeiçoamentos do cientista, as visitas de Zanga e o nascimento do William, que como esperado prendia a atenção de todos, já que o parto foi realizado as presas, sem que houvesse o auxílio de nenhum médico especialista ou devido ao local, sem nem mesmo a presença de uma parteira experiente no assunto, mas sim pelos próprios amigos, em especial, por Challenger.

Seguiam todos entusiasmados, e ainda havia a ideia de que logo mais retornariam para Londres, agora com o medalhão devidamente restaurado, não demoraria muito mais tempo, era questão de acertarem alguns detalhes, que ainda requeriam atenção.

Verônica, Jessie e Anne cuidavam dos preparativos do jantar, já passava das 19 horas, os outros cuidavam de organizar as louças, mesa e a cozinha em si, com exceção de John, o caçador foi incumbido da missão de cuidar do William, o qual muito lhe agradou, como se estivesse encantado ele não sabia bem o que fazer, mas dedicava-se ao bem estar do garoto, realizando todas as suas vontades, desde mantendo seu chapéu junto dele até passeando por todos os cômodos das casa da árvore, explicando cada canto, cada objeto.

Permitindo assim que Marguerite e a Lady tivessem um pouco mais de privacidade para conversarem e acertarem de uma vez por todos aqueles conflitos passados, mas não sem dar uma pequena espiada.

J - Está vendo este quarto?!

... Jamais, nem em seus sonhos, você deve invadi-lo antes do horário do café da manhã sem pedir permissão, nele habita uma iguaria vinda de outro mundo, que de acordo o seu tio Ned pode ser letal, mas que no seu caso irá atender pelo nome de mãe.

... No entanto, se mexer em suas joias, acredite nem eu poderei salvá-lo, então preste muita atenção, para o seu próprio bem.

M - O que está fazendo aqui Lord Roxton?

 

Ela não estava brava, não de verdade, apenas compartilhava de sua brincadeira, o encarando com um brilho no olhar, convidando-o para jogar, como sempre faziam.

J - Ele insistiu.

... Você sabe, sendo um Krux também, é difícil persuadi-lo ao contrário.

M - Ahh sim, entendo.

... Ele insistiu então, tanto assim?

J - Muito.

... Por alguns instantes pensei vê-lo refletir o mesmo gênio de certa pessoa, será que reconhece?

M - Talvez.

... Quem sabe podemos identificar estas e outras características mais tarde, juntos.

J - Tudo bem, já entendi.

... Estamos batendo retirada, vamos William, vamos até o laboratório, tenho certeza que irá encontrar coisas interessantes por lá também.

M - Claro, se você gostar de explodir as coisas meu amor.

... Vai encontrar o seu avô postiço, que é de fato muito bom no que faz.

... Principalmente em inventar meios de colocar as nossas vidas em perigo.

 

Marguerite afetuosamente depositou um beijo nas feições do William e outro em John, que a olhava quase que implorando, também pedindo por aquele beijo, como um cão fiel atrás de si.

Logo os dois subiram as escadas, desaparecendo do campo de visão da herdeira, que procurava reunir novamente toda a sua concentração em Lady Roxton, que a aguardava sentada na beirada da cama para darem continuidade naquela conversa tão esperada.

 

M - Juro, que se ele crescer e ficar igual ao pai, eu não acho que darei conta.

... Ser uma agente tripla, pode ser mais fácil que ter dois Roxton’s.

L.R - Só dois? Tem certeza disso?

M - O que, a senhora também deseja vários netos?

L.R - Talvez mais um ou dois, quem sabe uma menina.

M - Mais um ou dois?!

... É Marguerite que confusão você se meteu dessa vez. Eu estou perdida com vocês, com todos vocês.

... Acho que descobri de onde vem esse desejo do John de ter tantos herdeiros.

L.R - De fato, você se meteu em uma boa confusão desta vez, acredito que isso seja característico e resultado da união entre as famílias Blanc e Krux.

M - Provavelmente, tendo em vista tudo o que você e a Jessie me contaram.

L.R - E você não está com raiva ou magoada?

... Ela me contou que não reagiu como esperava há alguns meses atrás.

M - Há alguns meses atrás o seu neto não permitia que eu conduzisse a situação como eu faria normalmente e, as incertezas sobre o que teria acontecido com o seu filho levaram o pouco do discernimento que me restava.

... O que acabou refletindo em Jessie, mas depois da chegada de William, ela vem ganhando minha confiança novamente, talvez, assim como você nesse exato momento.

... Acredite, eu sei muito bem o que é omitir para tentar proteger os outros, ainda que sejam apenas terceiros desconhecidos, ninguém precisa se machucar, mas às vezes, de acordo com o John, se tivesse contado toda a verdade desde o começo, teria sido mais fácil e teríamos resolvido toda a situação juntos.

... Não estou com raiva ou magoada Lady Roxton, desapontada talvez, chateada, eu esperei por toda minha vida, para saber quem eram os meus pais, e estou feliz por ter me contado e revelado tudo o que sabia sobre eles, era mais do que eu poderia esperar, mas lamento, porque nunca irei conhece-los, nunca saberei o que é o amor de um pai de verdade ou de uma mãe.

Lady Roxton a observava com maior profundidade, permitindo-se reparar em suas expressões, sentia-se surpresa com os seus sentimentos, era impressionante como mesmo sem conhecê-la como um dia desejou, da maneira como almejou vê-la crescer junto de sua família, ainda assim a amava, tanto como os seus próprios filhos.

Marguerite trazia consigo traços dos dois, de Archie tinha parte daquele gênio obstinado, empenhado e dedicado, quando se envolvia em algo, nada poderia pará-lo, os olhos e olhares também eram como os dele, mas de Eve tinha todo o resto, a empatia, pensava muito mais nos outros do que em si mesma, também estudiosa, atraída pelo desconhecido como uma abelha em busca de mel, o amor pela vida, sempre procurava meios de se sentir viva, e aquele sorriso capaz de derreter bonecos de gelo. Sim, ela carregava mais de seus pais do que jamais pensou.

L.R - Muito bem.

... Agora que já sabe toda a verdade, existe algo que eu quero te dar, como um presente de casamento e também como um meio de agradecer por tudo o que fez pela minha família, pelo meu filho, você devolveu ao John o sentido de viver, e eu te trago a sua origem Marguerite Blanc Krux.

 

A mulher mais velha oferecia a ela um envelope que carregava consigo, do tamanho daqueles que enviamos uma carta ou outra, também não estava lacrado, mas era perceptível que guardava algum conteúdo, Marguerite sentiu o seu coração acelerar, suas emoções e algo dentro de si dizia que aquilo mudaria a sua vida. Além do que, não compreendia bem o que a Lady quis dizer, “de que trazia consigo a sua origem, só seria capaz se fosse, não, nem ela teria isto em mãos, não era possível...”.

Ela o abriu receosa, percebeu que havia alguns retratos, mas todo o seu foco foi direcionado para o papel cuidadosamente dobrado, seus olhos o varreram com rapidez, uma, duas, três vezes. Seu mundo girou e seu ar mais uma vez faltou.

M - Não pode ser, isso é impossível.

A Lady segurou firme suas mãos, era uma das poucas vezes que mantinha o contato com a herdeira desde quando a conheceu, ela tinha que se mostrar forte, tinha que se manter e se controlar, nunca imaginou um dia encontrá-la, e agora estavam ali, compartilhando um momento único e ao mesmo tempo tão delicado.

L.R - Sim minha querida, é possível.

... Está é a sua certidão de nascimento, retirada de um dos cofres de Shangai Xan, Liu Hang quem realizou tal façanha, ele esteve guardando-a durante todo o tempo, quando fez o acordo com você, já sabia de toda a verdade sobre quem você era, quem você sempre foi.

... Ele te enviou para esse maldito platô não só por conta do Oroboros, mas porque temia você, se descobrisse os seus segredos, seria a sua sentença de morte, como aconteceu de fato.

Marguerite não era capaz de responder, de pronunciar uma só palavra, o choro que tentava segurar, tomava conta do seu ser, as lágrimas caiam descontroladas, e ela odiava chorar, odiava mais ainda chorar na frente de alguém que não conhecia tão bem como gostaria, sentia como se estivesse demonstrando alguma fraqueza.

Demorou alguns minutos até que ela fosse capaz de alinhar a si mesma.

M - Então, eu nasci no dia 28 de Julho de 1892 e o meu nome completo é de fato Krux?

L.R - Exatamente, Blanc e Krux.

M - É ...

... E você estava lá também, quando eu nasci?

L.R - Não, mas eu estive no dia seguinte, acompanhada do meu marido e filhos.

... John era o mais curioso e animado para conhecer você, de todos ele foi o primeiro que a viu, quando chegamos na casa, ele correu, disparado entre os corredores, debruçando sobre o seu berço, se queixando que era pequena demais para brincar com ele.

Marguerite não sabia se ria ou chorava, não acreditava em coincidências, mas também não existia nenhuma explicação lógica para todos aqueles fatos, como se sempre estivessem ligados ou destinados um ao outro.

L.R - Veja, aqui estão vocês dois, você tinha quase três anos neste retrato, e mesmo com a diferença de idade, ele sempre estava correndo atrás de você, ou sempre estavam brigando.

... E nem eu, nem seus pais, nada os separavam.

... Quando você nasceu Marguerite, eu defini para mim mesma de que seria a próxima Lady Roxton, desejava que se casasse com o William, mas um dia sua mãe me falou que você seria livre para escolher quem quisesse ao seu lado e nesta mesma ocasião, me lembro do seu pai rindo, falando que pelo modo como você e o John se portavam, já sabia quem seria o seu cavalheiro de armadura reluzente.

... No entanto, dias depois aconteceu tudo o que já sabe, eu mal podia acreditar no que os jornais noticiavam, foi a primeira de muitas perdas que vieram depois, mas alguma coisa me dizia para não acreditar que você estivesse morta.

... Então quando Bryan chegou em casa naquela noite, contando sobre o meu filho e sobre você, eu já tinha algumas desconfianças a seu respeito, mas isso talvez fosse a peça que faltava, eu contratei mais investigadores, me dediquei dia e noite, meses, até te encontrar e o seu passado também.

... Quando a vi, assim como Anne quase te sufocou mais cedo, era o que eu queria fazer, mas já lhe bastava Xan, a surpresa e a gravidez, juro que por diversas vezes eu te olhava e queria contar a verdade, mas o medo de colocar tudo a perder sempre falava mais alto.

 

Era a vez de Lady Roxton se permitir cair aos prantos, emocionada pelo reencontro, pelas lembranças que sempre carregava em seu coração.

M - Eu acho que você já percebeu que não sou muito de demonstrar afetuosidades, mas eu não importaria de receber um abraço seu, não depois de tudo o que fez.

... Afinal você além de ser minha sogra é minha madrinha também, não é mesmo?

Não foi necessário falar duas vezes, e ela a abraçava carinhosamente, como costumava fazer quando Marguerite ainda era uma criança de colo.

 

—--//---

 

Mais tarde quando todos já se recolhiam em seus quartos improvisados, Marguerite descansava, sentada em sua cama, ainda admirando os retratos, observando os seus pais, ela mesma e a família Roxton, era tudo como se tivesse saído de um sonho, que tinha medo que um dia acabasse.

Enquanto ao seu lado, John quem fazia o William dormir, contava uma de suas histórias ao garoto, se passando pelo grande caçador em busca de sua donzela rebelde, o pequeno por sua vez, parecia lutar contra o sono, prestando atenção no conto e na encenação do pai, que por sinal rendia a ela boas gargalhadas, em especial quando tentava imitar a sua voz.

J - Ele não dorme?

M - Acho que não, pelo menos não se continuar contando as histórias dessa maneira.

J - Porque, como você as conta para ele?

M - De um modo menos chamativo, bom eu não fico tentando imitar a sua voz.

J - O que tem ela?

... A sua também não é uma das mais fáceis de interpretar, principalmente quando grita e chama por mim.

M - Deveria tentar quando eu canto.

Ele constatou a sua risada realçando aquele belo rosto, que durante semanas se fez presente em seus sonhos, se mais cedo já tinha percebido os seus sinais, naquele instante apenas os confirmou.

Naqueles poucos minutos, foram os suficientes para o William adormecer, ele o segurou mais firme no colo e após o depositou dentro do berço, que ficava ao lado dela. O acariciou e observou mais um pouco, de certo que se pudesse congelaria aquele momento.

Em seguida, a acompanhou e deitou-se ao lado de Marguerite, bem verdade, como poucas vezes ele fez, jogou sua cabeça sobre o colo dela, de onde podia admirar a sua beleza por completo e como de costume encontrar os seus olhos.

J - Então, como foi a conversa com a minha mãe?

M - Como se você não soubesse.

J - Eu? Eu não ...

M - Ora Lord Roxton, você não se faça de desentendido.

... Acha que eu não o notei nos observando, que não sei que você foi até o andar de cima, deixou o William muito provavelmente com a Jessie ou com a Anne e depois retornou nas pontas dos pés.

John as observou de fato, ele ainda tinha receios de deixa-las sozinhas, como se os resultados daquele encontro fossem incertos e talvez catastróficos.

J - Será que conta um pedido de desculpas?

... Eu tive medo, admito Marguerite.

M - Medo que eu pudesse matar a sua mãe ou que ela pudesse me matar?

J - Para ser sincero, eu não sei.

... Não sabia muito bem o que esperar de vocês duas.

M - É compreensível, nem eu mesma sabia.

 

Os dois permanecerem por mais alguns momentos em silêncio, contemplando um ao outro, trocando pequenos gestos de carinho.

J - E o que mais?

M - O que?

J - O que mais você quer me contar, que parece estar te incomodando ou a fazendo pensar, se deve ou não falar.

M - Eu já falei o quanto as vezes você é irritante, a forma como sabe ler meus sinais.

J - Hoje não, nem que estamos em um maldito platô.

Marguerite se viu rindo, quase que gargalhando pelas palavras que John declarava como suas de maneira tão habitual e que as vez lembrar que a Lady também as usou mais cedo. Entretanto, ele estava certo, ainda restava um pequeno segredo que gostaria de compartilhar, algo que Luna havia lhe contado e que talvez o abalaria. Mais cedo ou mais tarde faria.

M - O William tem uma marca de nascença John, antes que pergunte, diferente da minha. A dele é no meio do peito, como um pequeno furo, igual a uma bala de rifle.

... Luna quando nos visitou, riu quando o viu e alegou que já o conhecíamos, mas não daquele jeito, que de um modo ou de outro ele tinha encontrado algum meio para ficar próximo de nós, um meio de fazer com que tivemos mais “juízo” e permanecêssemos juntos e no caminho certo, como fez meses atrás.

... Entende o que estou dizendo?

O caçador se levantou, sentou-se ao seu lado, como se assimilando cada uma de suas palavras, definitivamente aquele tinha sido um dos dias mais agitados de sua vida, ele entendia o que Marguerite alegava, mas não enxergava como isso era capaz.

J - Marguerite, está dizendo que o nosso filho, é como se fosse a reencarnação do meu irmão?

M - De acordo com a Luna e com várias outras culturas e crenças pelo mundo isso é uma teoria plausível, assim como eu ainda posso ser a reencarnação daquela sacerdotisa druida que encontramos.

J - É tem isso, já havia me esquecido deste seu segredo.

... Bem, acho que nunca iremos saber de verdade.

M - Nem se construir uma biblioteca com todos os mistérios desse platô.

J - Não mesmo.

... Mas independente de qualquer coisa, eu amo ele e a você também, minha Marguerite.

 

Antes que se aproximasse o bastante para beijá-la, ela o barrou, depositou uma de suas mãos sobre o seu tórax.

M - Agora é você que está escondendo algo.

... O que está pensando John?

J - Não te escapa nada, não é mesmo?

M - Nem a você.

... Estou esperando.

John como de costume, quando se tratava de algum assunto sério, tomou o seu tempo, ponderou sobre as palavras apropriadas que caberia ou não usá-las, respirou fundo e a envolveu pela cintura, a deixando mais perto de si.

 J - Durante este tempo que passamos longe um do outro, eu pensei muito sobre nós e cheguei a uma conclusão.

... Agora que temos tudo nos seus devidos eixos, sem mais credores ou Shangai Xan, e que sabemos a sua origem de fato, acredito que possamos definir a nossa situação uma vez por todas. Não existe mais nenhum impedimento e se aceitar eu posso oferecer a você tudo o que sempre sonhou, além do meu amor.

... Case-se comigo Marguerite?

 


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