O Sexta Feira escrita por Miss Krux


Capítulo 39
Capítulo 39 - Restaurado




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Tudo parecia como num sonho ou quem sabe fosse mais uma brincadeira de suas imaginações, afinal não seria a primeira vez a acontecer. Pelos próximos segundos não foram capazes de moverem, como se estivessem confirmando ou ainda tentando assimilar e acreditar no que acontecia, de que estavam de fato frente a frente, tão próximos um do outro.

William como nada entendia, quando percebeu a quietude da mãe, aproveitou para se divertir com os seus cachos, que cascateavam tão próximos de si e aparentemente sem nenhum impedimento de se enroscar neles, causando ao pequeno boas gargalhadas e risadas, despertando-os por completo de seu “estado quase hipnótico”.

John havia pensado demais, demorado demais, lançou ao chão o rifle, mochila, o que fosse que tivesse em mãos e correu em sua direção, ele envolveu Marguerite em seus braços, assim como o filho, tirando ambos do chão e os girando sobre seus pés, todo sentimento de medo de perdê-los, de culpa por não ter permanecido ao seu lado, ressentimento e o mais importante deles, todo o seu amor transbordava, em meio de lágrimas derramadas, sorrisos e apertos, ele os beijava, como uma chuva de beijos, revezando entre Marguerite e William, os admirava e declarava o quanto os amava.

J - Vocês estão vivos, vocês dois

... Eu ... tive tanto medo de perdê-los, de nunca mais encontrá-los, de que algo pior pudesse ter acontecido, jamais me perdoaria.

... Marguerite você estava certa, deveríamos ter feito tudo junto, desde o começo, eu ...

M - Eu amo você ...

Marguerite depositou uma de suas mãos sobre os lábios do caçador, ele não tinha culpa de nada do que aconteceu, nenhum deles tinha, tudo o que poderia ter sido feito, eles fizeram e nada mais importava, não no aqui e agora, estavam juntos novamente, os três, como desejou desde o dia em que William nasceu.

Só agora que John havia silenciado e cessado a chuva de beijos, que ela se deu conta que tinha assumido os seus sentimentos por ele de uma maneira diferente das outras vezes, ela o fez usando o seu tom de voz habitual, audível para qualquer outra pessoa próxima, não pensou, nem levou em consideração que estavam na sala da casa da árvore e que tinha muitos outros pares de olhos a encarando. Não se importou também.

O sorriso cresceu e iluminou as suas feições, ele acariciava a sua pele macia, sentia o seu aroma, esqueceu-se de tudo o que havia “lá fora” além deles mesmos, os seus olhos pareciam que quanto mais os admirava, mais fundo mergulhava, não demorou e ele clamou por seus lábios, o beijo foi suave e terno, como um dia de primavera em um campo de flores.

Foi puro, não como um encontro de apaixonados, mas como de duas almas que se reconhecem, que se amam em sua plenitude, atraídos por suas magnitudes.

J - Eu também amo você Marguerite.

 

Entretanto, um pequenino pedaço e fruto daquele amor de Marguerite e Roxton, sentiu-se incomodado, como se exigisse um pouco mais de atenção do que lhe era proporcionado no momento, começou a emitir ruídos, que indicava choro, de prontidão o casal direcionou os olhos para o colo dela, para o William, que também os observava atentamente.

O caçador ainda tomado pela emoção e adrenalina, o via pela primeira vez mais detalhadamente, seu filho, assim tão de perto pode perceber seus próprios traços estampados na criança, com exceção daquela cor que seus olhos emanavam, como os dela. Com a voz tremula, ele perguntou.

J - Eu posso?

... Posso carregá-lo?

Marguerite apenas acenou e em seguida o ajeitou envolto de sua manta, depositando-o no colo de John, que o recebeu sorridente, levantando-o diante de seu rosto.

J - Ele... Marguerite, eu não sei o que dizer. Ele é ...

M - Nosso, meu e seu, nosso pequeno grande caçador.

As palavras, a pronunciava soava bem, ele continuou brincando com o seu filho, fazendo-o cócegas, que parecia reconhecê-lo, rindo alegremente, conversava como se o pequeno pudesse compreender o que dizia, mas também prestando a atenção em Marguerite, em cada movimento da mulher, com aqueles olhinhos brilhando, seguia cada gesto seu.

M - Ei meu pequeno William, sabe quem é este homem que te segurando, não sabe?

... Lembra das histórias que a mamãe conta quando vai dormir, do grande caçador, é ele, é o seu pai.

John não pode deixar de sorrir, depois de todos esses meses, ele estava de volta, estava com sua família e se sentia tão vivo novamente, como se suas emoções, sua felicidade, fosse maior do que a si próprio.

Suspendeu o William no ar, levantando-o poucos centímetros acima dele mesmo, como se registrando cada instante, cada traço, cada risada, enquanto o pequeno quando viu o chapéu de John, como se estivesse fascinado pelo objeto esticou suas mãozinhas tentando a todo custo pegá-lo.

M - Hahaha ... Homem de pouca fé, o que te falei sobre o seu estimado chapéu?!

J - Meu chapéu, que chapéu?! Só vejo o dele aqui.

Ele tirou o chapéu e fez a vontade do pequeno, ainda que grande por conta de sua pouca idade, o “vestiu” com objeto, fazendo-o provavelmente o pequeno grande caçador mais feliz de todo o platô.

  

—--//---

 

Tamanha foi a surpresa quando perceberam que John veio acompanhado do que Marguerite denominou de “a cavalaria dos perdidos”, estavam todos no platô, sem que houvesse muitas exceções, definitivamente se não estivessem vendo com os próprios olhos, poderiam alegar ser algum tipo de desvaneio ou alucinações.

Após a recepção, em meio a apertos, risadas, choros de alegria e uma Anne eufórica, que bastou um olhar apelidou William de “meu menino”, reuniam-se juntos a mesa do almoço.

Pela primeira vez Verônica viu a casa da árvore ficar pequena para tantos convidados, no entanto, isso não era um fato que a incomodava, mas sim que enchia seu coração de alegria, ao lado de Malone, observando cada um dos exploradores e os amigos ainda recentes, pensou que para ser perfeito só faltava sua mãe e talvez o professor Summerlee, mas do modo como estava, muito a agradava também, principalmente quando sentia os movimentos do bebê dentro de si, a preenchia de tal maneira, que se esquecia de qualquer solidão ou vazio que um dia sentiu.

Jessie - Marguerite, eu já terminei, quer que eu o segure um pouco?

Jessie se oferecia para segurar o William, enquanto Marguerite terminava de almoçar, era uma espécie de rotina que as duas criaram, caso contrário o garoto não permitia que ela realizasse suas refeições direito, pelo menos não sem se sujar. E por mais que John quisesse segurá-lo, uma vez sentados, ele agarrou-se unicamente a mãe. Ela sabia que com a outra mulher ele se desprenderia de bom-grado, isso porque provavelmente ela o balançaria e cantaria músicas de ninar, até que fosse a hora do pequeno “almoçar”.

No entanto, uma certa Lady que manteve-se comportada, contendo seus impulsos, procurando evitar discussões, ansiava para carregá-lo também, era o seu primeiro neto e esperava que não fosse o único, além disto o fato de dividir o nome com seu primogênito despertou lembranças que a muito não pensava.

Em uníssimo e “contrariadas”, ambas as mulheres responderam.

M - Sim, por favor Jessie.

L.R - Não, não precisa, eu o faço Jess.

No mesmo instante ela percebeu que poderia ter cometido um erro, sequer perguntou a Marguerite se poderia carrega-lo, no entanto, antes que pudesse falar algo ou corrigir o seu equívoco, a herdeira o fez.

M - Fique à vontade para fazer, aposto que até ele sentir fome não irá reclamar de duas avós o mimando, mas depois disso, esteja preparada para escutar um choro mais alto que um rugido de T-Rex.

... Ele já perdeu o lanche da manhã, não vai perder o da tarde também, acredite.

... Agora, tome, pegue-o Liz.

Marguerite a chamando pelo apelido não passou despercebido, sabia que havia mais do que um gesto carinhoso, bem verdade, o objetivo era para que constatasse que ela já estava a par de alguns de seus planos e de sua verdadeira história, mas que também, aparentava não carregar mágoa, não que entendesse por completo tudo o que aconteceu, mas nada que uma conversa e talvez o maior presente que pudesse oferecê-la não consertasse um pouco as coisas. Lady Roxton e Jessie não perderam tempo em se refugiarem na varanda, depois da permissão explicita da herdeira.

John por sua vez não conseguia não admirá-la ao seu lado, desde quando a viu até agora, era como se a maternidade realçasse toda a sua beleza, a deixando ainda mais exótica, tão diferente de todas as mulheres que um dia conheceu, tão única e para o seu orgulho, tão sua, ele não sabia com exatidão quando seu desejo se tornou paixão e consecutivamente quando sua paixão se tornou amor, mas não se importava, bastava tê-la ao seu lado. Desperto de seus pensamentos, ela perguntou.

M - John, você guardou a outra metade do Oroboros?

J - Sim Marguerite, esteve comigo o tempo todo, digamos que aprendi bem com a sua tática.

M - Aprendeu bem?! Está dizendo que também o guardou em um solado falso?

J - E o que mais minha Marguerite?

M - Eu não acredito.

J - Pois bem, espere e verá.

V - Marguerite acho que você está levando o Roxton para o mal caminho, está influenciando-o demais.

M - Você acha?!     

Elas trocaram risadas, e mal podiam acreditar, ele fez o mesmo que a própria Marguerite anos atrás, guardou a metade do Oroboros em um solado falso de sua bota, nem mesmo Ned ou Challenger foram capazes de esconder o espanto, talvez Verônica estivesse certa afinal, a herdeira influenciava John as vezes, mais do que a própria imaginava.                   

J - Bem, aqui está.

... O que está planejando agora?

M - Juntar as metades, de acordo com o que Luna nos explicou, é possível unir o medalhão novamente.

J - Luna esteve aqui?

M - Sim, no dia seguinte que o William nasceu.

... Lembra-se que quando comecei a dominar o uso do Oroboros, fomos visitá-la algumas vezes, em uma dessas ocasiões, ela me confessou que ele poderia se partir novamente, desde que fosse um ato de amor verdadeiro e de confiança, que caso acontecesse, ainda que raro, eu deveria confiar plenamente na outra pessoa, ou seja, em você.

… E de acordo com ela, com a lenda de Zanga, para torná-lo um novamente ocorre da mesma forma, só que o partiu é capaz de uni-lo, se ambos desejarem e acreditarem de todo o coração, como uma forma de renascimento daquele mesmo amor, uma nova vida ou uma ressurreição.

Ele pensou um pouco sobre, depositou a sua metade sobre as mãos de Marguerite, sabia que ainda havia mais coisas, conhecia cada expressão, seus modos e posturas, sua última frase soou como se estivesse contando o que era necessário saber, mas não tudo o que precisava saber, e seus olhos pediam para entender.

J - E o que precisamos fazer?

M - Segure a sua metade, acredite em seu poder e deseje de todo o seu coração, que o medalhão seja restaurado.

... E o resto eu faço, confie em mim.

J - Confiaria minha vida a você.

Marguerite buscou a sua metade do Oroboros em seu quarto e logo retornou, sentando-se mais uma vez ao lado do caçador, com uma mão entrelaçou a dele e com a outra aproximou o objeto, que de imediato reluziu uma luz na cor dourada, forte, iluminando todo o cômodo da casa, emitindo uma espécie de zumbido, tremia um pouco, mas quando se apagou, lá estava, o medalhão havia sido completamente restaurado, como a curandeira havia afirmado.

M - Acho que vamos para Londres John.

Não houve tempo para Roxton sequer formular a resposta, e um choro estridente, seguido de duas vozes chamando pela mulher, tomou conta. Era William, pelo visto faminto.

M - Corrigindo, acho que vamos voltar para Londres, mas não agora.

... Eu já estou indo!!!

... Não precisa alertar o platô todo William Blanc Krux Roxton.

Marguerite já o capturava dos braços da Lady, sumindo através das escadas, enfatizando a última frase, chamando o garoto pelo nome e pela junção dos sobrenomes, que mais servia como um convite, que demonstrava disposta a ter uma conversa com a outra mulher.

 


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