O Sexta Feira escrita por Miss Krux


Capítulo 38
Capítulo 38 - Idêntico




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O tempo não para, não congela, ele apenas alça voo ...

Completava 02 meses após o nascimento do pequeno William e desde a sua chegada prematura todos sentiam-se como se tomados de alegria, como se com o decorrer dos dias estivessem despertando algo que jamais pensaram existir, definitivamente se redescobriam.

Ele crescia saudável e forte, quase o dobro do tamanho das crianças de sua pouca idade, que como um relógio biológico chorava apenas quando sentia fome, do contrário se mostrava um garotinho dócil, calmo e sorridente.

Tendo herdado a maioria dos traços de Roxton, tanto em termos de comportamento, como físicos, já se notava o quão eram semelhantes, que para o azar de Marguerite ele era um dos primeiros a acordar, antes mesmo que a si própria, também havia o pequeno chumaço de cabelo escuro que crescia desordenado, suas feições cheias de linhas marcantes ou o formato dos olhos mais estreitos, no entanto o tom verde-acinzentado mais vivido, era como os dela.

Todos na casa da árvore se desdobravam para ajudar à herdeira quanto aos cuidados e criação do William.

O cientista nunca se viu tão criativo como agora, havia reforçado e potencializado a voltagem da cerca elétrica com intuito de redobrar a segurança, estudava um novo material para ser utilizado no moinho de vento e, também com algumas peças retiradas do automóvel e mais alguns fragmentos de meteoritos havia desenvolvido uma nova máquina de tele transporte, menor e mais prática, havia adaptado de modo que fosse possível manuseá-la de um lugar para outro com maior facilidade, só faltava os últimos “toques” e testá-la no centro da casa, cujo conheciam como o centro de toda a energia do platô.

Verônica por sua vez, sabendo dos riscos que o platô oferecia, desde o quarto mês de gestação optou pela prioridade de sua segurança e daquela outra vida que crescia gradativamente dentro de si, ou seja, permanecer a maior parte do tempo dentro de casa ou nas proximidades dentro do perímetro da cerca, o que resultou a garota muitas horas livres, mais do que o suficiente para voltar a sua atenção a leitura de alguns diários de seus pais, em busca de ensinamentos sobre bebês recém nascidos e “meios de conforto” para eles. O que por sinal ajudou muito, vez que com o auxílio dos guerreiros de Zanga, construiu um pequeno berço de madeira, folhagens e tiras de árvore, rústico, mais eficiente.

Jessie também participava e se adaptava a todo esse processo de “mudanças interiores”, seu casamento com Challenger de certo modo havia renascido, resgatado toda a chama da paixão e do amor que um dia perderam no caminho de suas escolhas, com Verônica redescobria os seus dons para culinária, se mostrava uma “aluna” dedicada, e quanto a Marguerite, notava-se que aos poucos conquistava novamente sua confiança, além de se mostrar sempre disposta a ajudar e a compartilhar os seus “conhecimentos maternos”, nunca vivenciou a experiência da maternidade, mas nada a impedia de conhecer tais “dotes”, visto que ajudou duas de suas irmãs na criação de seus sobrinhos e sobrinhas, o que lhe concedia um pouco mais de conhecimento sobre crianças do que os demais.

Enquanto a própria Marguerite se surpreendia consigo mesma, seus sentimentos, comportamentos, seus modos e instintos, todo o seu eu parecia mudado, transmutado e se voltado unicamente ao seu “pequeno grande caçador”, após o seu nascimento, como se despertado um lado que julgou um dia jamais existir, uma brecha dentro de si que a dominou por completo, a preenchendo, como se ele fosse o responsável por devolver as cores de seu mundo particular, aquelas que o confronto com Xan e as incertezas sobre o paradeiro de John custaram.

Bem verdade havia dias que ela se agarrava a criança como um lembrete de que teria por quem continuar, principalmente quando a saudades a consumia e a incerteza tomava conta de seus pensamentos, transformando-se em medos e preocupações, no sentido de que talvez nunca mais o encontraria ou ainda pior, Xan poderia tê-lo capturado, torturado e de certo obtido a sua vingança desejada, talvez fossem esperanças infundadas, a esta hora todos poderiam estarem mortos. Tantos “talvez” ou “se”, como Challenger uma vez falou, antes a verdade, do que as incertezas, nelas nada se encontra.

 

—--//---

 

L.R - Será que podemos para um pouco para descansarmos?

J - É terceira vez hoje mãe, agora falta pouco, estamos a menos de duas horas da casa da árvore, chegando lá todos nos descansamos, vamos continuar, por favor.

L.R - Você acha mesmo que chegando lá eu vou querer descansar?!

... A essa altura Marguerite já deve ter dado à luz a criança, eu vou querer mais do que ninguém o carregar e envolver os meus braços e ...

A - E cantar canções de ninar, ensinar a comer bolo de chocolate e principalmente a ser menos respondão que Marguerite, afinal de pequeno é mais fácil de colocá-los na linha, como deve ser.

J - É mesmo?

... Vocês duas parecem que já planejaram tudo pelo visto?!

... Só se esqueceram de um detalhe.

Foram três meses convivendo uns com os outros, Ned, John, Lady Roxton, Leopold e Anne, sendo que a última integrante venceu no cansaço a questão de acompanhá-los, insistindo e sobre a alegação que não tinha mais nada a perder em Londres e que iria até o platô com ou sem eles.

Na medida que os dias acabavam e reiniciavam de novo e de novo, aprenderam a lidarem com suas diferenças e com alguns obstáculos e adversidades já esperados do percurso da viagem, não mais existia diferença de classes sociais entre eles, títulos ou relação de “chefe e subalterno”, eram todos um dependendo do outro, se quisessem encontrar os amigos, assim deveria ser.

Tendo ficado para trás apenas Bryan, ele quem cuidaria de todos os negócios da família e caso algo de errado acontecesse, se ninguém retornasse no período de um ano, ele quem assumiria todas as responsabilidades e seria dado e considerado como o herdeiro da família Roxton.

As mulheres por sua vez quebraram qualquer barreira que um dia existiu, Anne agora tinha conhecimento de toda a verdade que a Lady tanto escondeu e entendia perfeitamente os seus motivos e razões, só não estava certa de que Marguerite faria também, ambas tornaram-se amigas, dividiam experiência de vida, histórias da herdeira quando criança ou quando adulta, e estavam ansiosas, naquela manhã quando souberam que até o final do dia todos poderiam estar reunidos, soou como música, mas o calor que fazia no platô não colaborava muito.

            Em uníssimo...

L.R e A - Do que nos esquecemos?

J - Até parecem que não a conhecem.

... Da própria Marguerite, caso o nosso filho já tenha nascido, o sentido de autopreservação dela estará mais aflorado do que jamais esteve e ela fará questão de cuidar da criança mais do que a si própria.

A - Besteira Lord Roxton, ela irá dividi-lo conosco, tenho certeza disto.

... E outra nós temos você, é uma boa distração para os olhos de qualquer mulher, ela estará ocupada e nós também, mimando a criança.

... Imagina que Marguerite não vai se distrair nem um pouco, mesmo ela se permite a esses luxos, principalmente depois de todos esses meses distantes, deve ter muito acumulado.

O caçador sentiu-se corar, Anne quase nunca falava tais coisa por mal, na verdade ela era uma das mulheres mais espontânea que já tinha conhecido em sua vida, dizia apenas verdades, e também por vezes ousava em seus comentários, não temia criticas e tampouco estava disposta a fingir o que não era.

De todo modo, ele não conseguiu juntar palavras para lhe conceder alguma resposta, apenas a sua maneira ajeitou o chapéu, posicionou o rifle e abriu o caminho a diante, o fato de estarem tão próximos, depois de todo esse tempo estava deixando-o agitado, Roxton não conseguia pensar em outra coisa que não fosse chegar na casa da árvore, se mantinha atento ao redor, os passos largos e rápidos.

Seu coração parecia que a qualquer momento saltaria do peito, ofegante, pulsação acelerada, seus pensamentos cercados de recordações, os caminhos que fazia hoje, eram os mesmo que por várias vezes traçou acompanhado de Marguerite, o mesmo do dia em que correram dos raptores, feito duas crianças, ou que se cobriram com a vegetação, na tentativa de esconderem seus corpos cobertos de lama ou ainda, no dia em que falou para ela pela primeira vez que a amava.

John a amava com todas as suas forças, e se estivesse sozinho, sabia que a essa altura estaria encurtando o trajeto, correndo em disparado em direção da casa da árvore, mas procurava manter o ritmo, não por si, mas pelos os outros, embora sabia que na última meia hora estavam mais rápidos.

Ele tinha pressa...

 

—--//---

 

O relógio marcava mais de dez horas da manhã, o dia estava quente e ensolarado, os raios de sol iluminavam toda a casa da árvore, Verônica era a que estava mais próxima do elevador, debruçada sob o balcão da cozinha, se divertindo com aquela cena, Challenger havia transformado uma simples troca de fraldas em mais uma de suas experiências cientificas, enquanto discutia com Jessie e Marguerite quais metodologias mais apropriadas e fáceis de trocar a criança.

C - Vejam...

...Eu acredito senhoras que se posicionarmos esta aba por este lado, o lado esquerdo e depois dobrarmos está outra aba formando uma forma geométrica, como a de um triangulo, pelo lado direito e então, utilizarmos um alfinete maior do que tem sido feito, a fralda permanecerá mais junto do corpo do nosso jovem William, e também mais firma e segura.

... Olhem só, o que lhes digo.

Marguerite estava séria e um pouco irritada também, os braços cruzados sobre o busto, fitava o cientista mal acreditando no que presenciava, com olhar interrogativo, observando os gestos da criança, que parecia incomodada com todos aqueles “meios” que Challenger havia adotado, além de ser quase o horário de amamentá-lo, ela podia prever que não tardaria e William começaria a chorar e logo, ela mesma perderia a pouca paciência que restava.

No mesmo instante em que o cientista o ergueu, demonstrando o quão eficaz seria a sua nova maneira, a fralda escorreu pelas perninhas do William, como se nada estivesse segurando-as em seu corpo frágil.

C - Ora, eu não entendo.

... O que será que deu errado dessa vez?! Eu prendi certo, sei disto, talvez a dobradura.

... Bem, vamos tentar novamente não é mesmo pequeno.

Jessie - George.

... Eu não acho que seja uma boa ideia, vamos me dê ele e eu faço isso.

C - Inaceitável Jessie, eu mesmo farei isso.

... Não é possível que eu não consiga trocar as fraldas de uma criança.

Como a herdeira imaginava, William começou a chorar, foi um franco resmungar, que logo tomou proporção e deu início a um choro alto, sentido, como se ele dispusesse de todas forças de seus pulmões, tornando-se forte, que poderia ser escutado de longe.

O bastante para que ela perdesse o pouco da paciência que restava.

Em questão de poucos minutos, Marguerite estava com a criança nos braços, tentando trocá-la e também acalmá-la.

M - Chega Challenger, agora chega, você passou dos limites.

... William não é mais uma de suas experiências ou invenções, que você faz o que bem quer, ele é meu filho, é humano como eu e você, se é que se esqueceu disso.

... Ei, ei ... meu pequeno... Shhhhh...

... Estou aqui com você, está bem?! Vai ficar tudo bem, vêm, vamos ficar um pouco na varanda, isso irá te acalmar.

Verônica não era capaz de conter as risadas e gargalhadas, a situação em si era divertida, Challenger se portando como um avô desastrado, tentando de todas as maneiras mimar o garoto, que por sua vez quase sempre ganhava uma bronca ou um olhar torto de Marguerite, que tornou-se uma mãe cautelosa e protetora, como nunca imaginaria, era com certeza algo que merecia ser observado, era algo inusitado.

M - E você, está achando toda essa situação engraçada, não é mesmo?!

... Pois espere, daqui alguns meses será a sua vez, não se esqueça disso.

A garota também seguia para as proximidades da varanda, na tentativa de auxiliar a outra mulher, Marguerite carregava o William perto de si, o aninhava em seus braços, tentando fazê-lo para de chorar, para que depois pudesse amamentá-lo.

Tamanha foi a surpresa de Verônica quando percebeu a conhecida figura masculina congelada diante de seus olhos, como se fosse uma estátua, Roxton estava ali, sem mexer um musculo sequer, parado na entrada de casa, possivelmente por conta da sua atenção voltada para a criança, que há pouco chorava alto, não se deu conta do barulho das engrenagens do elevador.

Entretanto era ele, era de fato o amigo, muito bem armado e vivo.

Sim, John estava vivo, imóvel, como se não conseguisse sair do lugar, com algumas lágrimas escorrendo por seu rosto e o olhar cheio de amor e admiração, observando Marguerite como o pequeno envolto de seus braços, rindo e brincando com a criança, tão próximos de si, que tinha medo de tocar e despertar como em um sonho.

Ele só voltou a realidade quando a viu virando-se de frente para si, estampando um sorriso em seus lábios, um dos seus mais belos sorrisos que já viu atravessando suas feições, e o garoto compartilhando daquele sorriso, enquanto puxava os luxuosos cachos de Marguerite, enroscando-os em suas pequeninas mãos.

O choro havia cedido lugar para risos entre mãe e filho.

M - O que vou fazer com você se continuar assim?!

... Dois Roxton’s ... Você é idêntico ao seu ...

... Pai...  John?!

 

As últimas palavras mais pareciam como um sussurro, quase impossíveis de serem formuladas ou ouvidas, mesmo o ar parecia difícil respirar, se conter ou as lágrimas controlar, era ele.

 


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