O Sexta Feira escrita por Miss Krux


Capítulo 37
Capítulo 37 - William




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A renomada e mítica empresa Royal Mail Steam Packet (RMSP) desde sua fundação em 1.839 e mesmo após a Grande Guerra manteve a postura e os negócios como a detentora de maior cota-parte de vapores transatlânticos de passageiros e comercias da época, tendo como um de seus principais “navios”, o vapor Asturias da séria “A”, que inclusive durante as batalhas de Guerra foi requisitado para ser utilizado como um navio-hospital. No entanto, sendo atingido por um torpedo em março de 1917 e encalhado, somente recondicionado há pouco tempo, naquele mesmo ano de 1923, como navio de cruzeiro cujo denominação alterou-se para Arcadian.

Desde que partiram de Londres rumo a América do Sul, mais precisamente ao porto de Recife, do estado de Pernambuco/Brasil, os dias pareciam todos iguais para Roxton, olhar para o horizonte ou para a vastidão do oceano, era como se olhasse para si mesmo, estavam sempre lá, aguardando a lua chegar, mas sem tocar, sozinhos.

Durante os últimos 30 dias que se encontravam embarcados, ele dedicou a maior parte de seu tempo a estudar com dedicação e atenção todos os registros a respeito de Marguerite, procurando mais do que ler, mas entender e compreender cada atitude e cada escolha que a mulher havia tomado em seu passado, o que tinha ocorrido por sua mente brilhante, o que tinha sentido, o que realmente tinha acontecido para ter se tornado a mulher que conheceu.

L.R - Você sabe, eles foram criados separados, mas destinados a ficarem juntos.

Era Lady Roxton, aproximou-se tão silenciosamente junto dele no convés, que sequer a percebeu encostar do seu lado, ou talvez ele quem estivesse distraído demais em seus pensamentos, planos e suposições.

J - Do que está falando minha mãe?

L.R - Ora, não é óbvio?!

... Do sol e da lua claro, existe uma lenda antiga que conta a história de um jovem casal, que juravam amor eterno um pelo o outro, dispostos a arriscarem suas vidas por seus sentimentos, que uma certa vez provocaram a fúria de um terceiro elemento, que como punição os separou pelo horizonte.

... Mas ainda assim, nada do que lhes foi causado bastou, o amor deles era tão grande que derrotou está força maligna e se mostrou capaz de mover céus e terras, mares e estrelas. E desde então eles se encontram quase todos os dias ao clarear ou a noite ao escurecer.

... Será que lembra alguma outra história você conhece?

John observou a postura interpreta da Lady, que assim como ele admirava o horizonte, sua voz entonava carinho, mas era os seus olhos que lhe pediam calma e paciência, por meio deles enxergava a sua alma, muito além das aparências que procuravam manter, era lá, concentrado em suas feições que ele sabia que ambos de certo modo compartilhavam de sentimentos e emoções semelhantes.

L.R - Porque está tão preocupado?

... O que tem de errado filho, o que te incomoda?

J - O mesmo dos últimos 30 dias.

L.R - Então é isto que te aflige, de verdade?!

... Mais 30 dias, ou seja, mais quatro semanas de gestação e agora ela dar início ao último ciclo, e você não estará presente.

Ele nada respondeu, apenas ofereceu um aceno e voltou a se perder com a paisagem, naquele final de tarde, a Lady sempre foi perspicaz, observava as pessoas a sua volta, mais do que lhe mostravam, desde muito jovem frequentava as reuniões da alta sociedade, um verdadeiro paleio de corrida, competições das mais diversas, usavam verdadeiras armaduras ou mascarás, que fosse, eram pessoas que jamais permitiam-se mostrar suas essências. Ou seja, o jogo de esconder, ela dominava com destreza, sabia que existia mais, que John escondia algo que lhe incomodava profundamente.

L.R - E além disto?

J - O que tem além disto?

L.R - Ainda não sei, porque não me conta, afinal eu sou a sua mãe, sempre descobri as suas mentiras ou seus segredos, mais cedo ou mais tarde, eu saberei.

Alguns segundos depois, um tanto inseguro John depositou as suas mãos sobre as de sua mãe e cedeu ao seu pedido.

J - Eu sonhei esta noite com o William.      

... Quer dizer, não o vi, mas sei que a letra era a dele.

... Estava no platô, como se estivesse retornando de alguma caçada, eu não sei, o importante é que havia um bilhete sobre a mesa da casa da árvore, que dizia apenas: “Estou chegando.”

... E mais nada, mas eu reconheceria aquela letra em qualquer lugar, era o seu modo de brincar quando éramos crianças, dos jogos de adivinhações e enigmas.

L.R - Eram os seus jogos favoritos, solucionar ou criar enigmas, decifrar pistas ou rastros.

... Sabe, a princípio o seu pai queria que ele seguisse a carreira militar, como um oficial, acreditava que ele tinha potencial para áreas administrativas ou investigativas, mas depois do Archie e da Eve, abandonou a ideia por completo, não queríamos que nenhum de vocês se envolvessem, mas parece que não adiantou muito, não é mesmo John Richard Roxton?

Com um sorriso singelo, o caçador lhe ofereceu a resposta, no mesmo tom de brincadeira que foi realizada a pergunta.

J - É o que parece minha mãe.

... De acordo ouvi uma vez, diria que a senhora saiu do fogo, para cair da frigideira.

 

A Lady riu com a frase do filho, permitindo-se abraça-lo, desfrutar daqueles momentos que lhe restavam, procurava manter as esperanças, de quem em breve todos estariam reunidos, juntos, mas em contrapartida tinha receios guardados, medo de que algo os atingisse no decorrer da viagem, o que era natural, dada a localização, o percurso e próprio lugar, que oferecia muitos riscos e mistérios.

Além disto, naqueles momentos de apreensão ele precisava muito mais dela, do que ela dele, e independente do que acontecesse, jurou que estaria ao seu lado, como sempre deveria ter feito, como quando William se foi e em seguida Phillip, era um meio de recompensar a sua ausência como mãe.

L.R - Eu imagino quem provavelmente falou estas palavras para você, e seja lá a que se referiu, ela deveria ter razão.

... Mas eu não me importo, este é o meu lugar, junto daqueles que eu amo.

John não precisava de muitas palavras, não mais que aquelas, nem de mais tantos gestos, já tinha quase tudo que um dia almejou, e o que tinha se perdido, já não estava tão distante como pensou.

J - Obrigado...

 

—--//---

 

Naquela manhã Marguerite acordou se sentindo diferente. Há dias um desconforto a acompanhava, mas, acreditava que as emoções das últimas semanas eram as responsáveis por estas alterações em seu estado de espírito e em sua saúde. Ela sabia que estes mal estares poderiam estar relacionados a sua gestação, entretanto, preferia afastar qualquer tipo de preocupação em relação a isso.

Como de costume, não contou a ninguém sobre tais sensações.

Desde que Jessie lhe contou a verdade sobre sua origem, a herdeira se manteve afastada da mulher e mesmo do cientista. E, embora sua relação com Veronica estivesse cada vez mais forte, decidiu não perturbá-la com este assunto, ela sabia o quanto a amiga estava afetada pela ausência de notícias de Ned.

Pensava que falta John lhe fazia, como queria que ele estivesse com ela naquele momento. Sentia falta de tudo dele, mas, principalmente, de sua companhia e proteção. Apesar de não ter nenhuma garantia sobre seu bem estar ou se ainda estava vivo, em seu íntimo Marguerite parecia pressentir que o reencontraria e ela queria desesperadamente que isso não tardasse a acontecer.

Um enrijecimento em seu abdômen a surpreendeu.

Aquele tipo de manifestação fisiológica estava sendo comum atualmente, na verdade, cada vez mais frequentes naquela semana, mas, desta vez, a contração muscular veio acompanhada por uma dor profunda, que surgiu imediatamente na sua região lombar e se espalhou por todo seu ventre proeminente. O incômodo durou alguns segundos, que pareceram horas, e, tão rápido como surgiu, a sensação se foi, até que, cerca de vinte minutos depois o ciclo se repetiu, agora, um pouco mais forte e demorado. 

E assim aconteceu sucessivamente durante a próxima hora.

Marguerite concluiu que as contrações não cessariam espontaneamente, e que esta era a hora de pedir ajuda. Esperou que a dor fosse momentaneamente e se ergueu na intenção de procurar os amigos, mas, ao realizar este movimento percebeu que por entre suas pernas escorria involuntariamente e incontrolavelmente um líquido transparente e inodoro. Ela soube exatamente do que se tratava.

Tentando controlar seu nervosismo, ela chamou alto:

M - Veronica, Challenger, Jessie! Alguém?!!

Em pouco tempo os três estavam em seu quarto. Mesmo sem nunca terem tido filhos, eles perceberam de imediato o que a fisionomia marcada pela dor e a camisola encharcada de Marguerite significavam.

Jessie - Há quanto tempo começaram as dores?

Questionou Jessie a gestante, embora a mulher mais velha estivesse preocupada com as possíveis consequências de um parto prematuro no platô, ela evitou transparecer sua apreensão a futura mãe.

M - Há mais de uma hora, mas a bolsa acabou de se romper ...

Outra contração começava a se aproximar e Marguerite gemeu apertando o ventre numa tentativa frustrada de amenizar a dor. Foi a vez do cientista a questionar.

C - Quais são os intervalos?

M - Entre 10 ou 15 minutos, mas eles estão cada vez mais frequente e mais fortes.

 Respondeu a herdeira enquanto se recuperava.

 

C - Marguerite, eu preciso examiná-la.

Challenger assim o fez, e verificou rapidamente que o colo do útero estava alargado, indicando que a mulher estava em estágio avançado de dilatação e que a fase de expulsão estava próxima.

C - Minha cara, está chegando a hora.

A herdeira sabia disso, as contrações seguiam cada vez mais intensas e ritmadas e os intervalos, agora, não passavam de cinco minutos.

C - Jessie, preciso de toalhas limpas e água quente.

... Veronica, vá até o laboratório e busque o frasco que preparei com uma emulsão de óleo de Jasmim e rosa mosqueta.

O cientista régia a equipe como um maestro que controla uma orquestra.

Nos últimos dias, ele havia estudado meticulosamente os diários do casal Layton na expectativa de encontrar informações que o ajudassem em um eventual parto naquelas condições. Abigail mencionou em uma de suas anotações, que os compostos voláteis do óleo essencial de Jasminium officinales tinham ação sobre a musculatura lisa da parede uterina, abreviando o trabalho de parto, auxiliando na expulsão placentária, bem como possuindo efeitos analgésicos.

No momento que a garota da selva retornou com o pequeno frasco âmbar nas mãos, Challenger orientou que ela aplicasse a emulsão de óleos a região lombar de Marguerite massageando-a de forma circular. O efeito da terapia foi quase imediato, a essência de Jasmim causou na herdeira uma sensação de aconchego e afeto, e por mais que as dores a castigassem, pela primeira vez durante todo o processo, ela se sentiu segura.

A mulher mal conseguia conter os gemidos.

As contrações estavam simultâneas e sem intervalos, ela sabia que o momento mais importante se aproximava. Veronica se posicionou atrás da amiga oferecendo apoio e sustentação para as mãos e costas.

A sensação era quase insuportável e Marguerite sentia como se todos seus ossos estivessem sendo quebrados ao mesmo tempo. As lágrimas brotavam em seus olhos a cada grito de dor, essas lágrimas se misturavam com o suor que escorria de sua fronte.

C - Marguerite, falta pouco.

Incentivava o cientista, que a assistia da melhor forma possível.

C - A criança está coroando, você está indo muito bem, preciso que na próxima contração você o empurre com toda a sua força.

A herdeira concordou com a cabeça.

Ela estava exausta, não encontrava forças nem para responder ao amigo. Tudo o que conseguia pensar era que aquilo terminasse o mais rápido, por que não sabia por quanto tempo ainda suportaria. Quando percebeu que um próximo ciclo de contração se aproximava, Marguerite reuniu tudo que lhe restava de energia, e, inspirada por um instinto ancestral de todas as mulheres que vieram antes dela, impeliu com toda sua vitalidade a criança para fora de seu corpo. Seu filho acabara de nascer e ela de renascer, ninguém passa por uma experiência como está sem se sentir assim, como um renascimento.

O processo de expulsão facilitou a desobstrução das vias aéreas e o bebê, chorava a plenos pulmões, um choro forte e saudável.

 

Naquele instante, Marguerite esqueceu totalmente a dor que sentia minutos antes, ela era só amor por aquele pequeno ser.

C - É um menino!

Anunciou entusiasmado George, que ao cortar o cordão que o ligava a placenta da mãe entregou-o a uma Jessie emocionada que rapidamente o embrulhou em uma coberta macia e colocou-o nos braços da mãe.

Todo o corpo de Marguerite tremia, movido pelas altas concentrações de cortisol, adrenalina, ocitocina e prolactina que transitavam por sua corrente sanguínea naquele momento.

Ela pegou seu filho recém-nascido no colo, que ainda tinha a pele coberta por resquícios de sangue e vérnix de proteção, mas isso não a incomodou ou a impediu de que o acariciasse e beijasse com extrema delicadeza a pequena cabeça do menino, enquanto derramava lágrimas, desta vez, de felicidade.

M - Meu William, meu pequeno grande caçador, você chegou.

 


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Notas finais do capítulo

Dedicatória e Agradecimento
Para: Olívia Ryvers

Minha querida Olívia, é surpreendente como compartilhamos ideias e pensamentos, o quão semelhantes seguem a nossa linha de raciocínio, a sincronia que temos quando discutimos algum ponto de vista referente a série TLW ou as nossas Fanficiton, também fico pasma como me identifico com o seu modo de escrever, que tanta se assemelha ao meu.


É interessante as brincadeiras do destino, você diz que Choque de Tempo foi a sua inspiração para escrever, para ingressar neste encantador mundo da fic's, eu lhe digo Título Vazio foi um dos motivos que me fez continuar com O Sexta-Feira, tornou-se um dos meus combustíveis de emoção.

Sem mais delongas, este capítulo dedico a você, de todo o meu coração e agradeço desde o instante em que aceitou a minha proposta de escrever essa maravilhosa cena em que o William vêm ao mundo, participar das próximas aventuras.

Gratidão.



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