O Sexta Feira escrita por Miss Krux


Capítulo 32
Capítulo 32 - Shangai Xan




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X - Bravo, bravo Sra. Smith

... Continua tão perspicaz como da última vez que nos encontramos.

 

Marguerite reconheceria aquela voz em qualquer lugar que estivesse, ainda que disposta a encontrá-lo, essa não era exatamente a maneira como tinha planejado, quando sentiu John a apertando com força, mais do que usava normalmente, subiu os olhos vagarosamente, encontrando os dele, espanto e preocupação foi o que viu, além do próprio reflexo de Shangai Xan.

Mais distante, também visualizou Callum e outro de seus discípulos mantendo Challenger, Jessie e Verônica como possíveis reféns, ainda que contrariada tinha que admitir as habilidades do mestre do crime no quesito de chegadas inesperadas eram surpreendentes, nenhum deles sequer os viu aproximando, bem verdade a morte de James foi um chamariz, os fez perder totalmente o foco e abaixarem a guarda, a ponto de não percebê-los já os aguardando no local.

Ela virou-se para encontrá-lo frente a frente, há pouco metros de distância, ainda sobre a proteção dos braços de John.

M - E você continua arrastando damas indefesas por um beco.

X - Sabe senhorita, não está em posição de rir aqui ou de fazer uma de suas graças.

M - Eu sei o que você quer, comuniquei que entregaria o Oroboros, se tivesse seguido o combinado já estaria com ele em mãos.

X - Felizmente eu não acredito mais nos seus jogos, acreditei uma vez, acreditei o suficiente para me enganar.

M - Então o que você pensa que quer eu faça?

... O medalhão está aqui comigo, não era o que queria. Muito bem, eu te entrego ele e isso nos deixará quites.

Xan deu mais alguns passos a diante, a medindo dos pés a cabeça, por alguns segundos parando os olhos sobre seu ventre, permitindo um sorriso sarcástico escapar de seus lábios, quando se viu o suficiente perto, lhe estendeu a mão.

Nem a própria Marguerite, nem John entendiam aquele gesto, esperava qualquer coisa do homem, menos isso, como se um convite sem palavras, o caçador tinha uma pequena arma escondida em seus bolsos internos, mas o medo das consequências de suas atitudes o fez conter seus impulsos e observar atentamente as ações de todos a sua volta, assim como buscava de algum modo se livrar daquela situação e da melhor forma possível.

M - O que quer dizer com isso?

X - Quero dizer que o nosso acordou mudou senhorita.

... Não acredito que me entregará o medalhão de boa vontade, assim como você deve imaginar que não entregarei mais aquela certidão que mencionei, afinal quando não cumpriu o trato pela primeira vez eu a queimei.

... Portanto, não temos mais nenhuma par-ganha, as joias que foram entregues, nada mais justo, mas preciso de uma garantia que devolverá o Oroboros, o verdadeiro eu digo, nada melhor do que a levá-la comigo, assim terá tempo o suficiente para pensar sobre suas atitudes, caso me entregue de bom-grado estará livre, senão, eu pensarei o que fazer com a senhorita, assim que essa criança nascer.

M - Deve estar ficando louco, não irei com você Xan, a lugar nenhum.

X - Eu não perguntei se irá ou não.

... Como falei anteriormente, acredito que mais uma vez não esteja em posição de negociar, portanto, isso é uma ordem.

Alguns segundos que pareciam uma eternidade se passaram, Marguerite se desfez dos braços de John, que a contragosto voltava a puxá-la para si.

M - John tem que me escutar, nós sabíamos que isso poderia acontecer, sabíamos dos riscos, tem que me deixar ir, não é apenas eu que estou em risco, por todos nós.

... Lembre-se viva hoje, lute amanhã.

O lord a abraçou forte, envolveu em seus braços quase a tirando o fôlego, como seu porto seguro, ele não podia acreditar que isso estava acontecendo, que Marguerite estava se entregando tão facilmente, não ela, mas suas atitudes eram conflitantes, não compreendia o que ela pensava em fazer, porque agia daquela forma, o que se passava por seus pensamentos. Com lágrimas não derramadas John deixou o amor da sua vida, o seu próprio ar, por suas mãos escapar.

Marguerite apertou a mão de Xan, que ainda a mantinha estendida, o homem sorriu triunfante, finalmente pensou consigo, depois de todos esses anos a tinha sobre o seu controle, ele seguiu pela mesma rua que chegaram ao automóvel, os braços envoltos da mulher, deixando apenas Callum de vigia, já havia combatido os exploradores uma vez e vencido, ou seja, era mais do que capaz.

Aos poucos suas imagens sumiam, se misturavam em meio à multidão que passeava pela rua principal, Callum ainda mantinha os olhos atentos e os cuidados sobre Challenger, Jessie e Verônica, foi então que a garota que estava mais próximo do mercenário o golpeou, com uma cabeçada inesperada, sabia que mais tarde sentiria as dores, mas era a única opção.

V - Corra Roxton, vá logo.

Ele não pensou duas vezes, saiu em disparado, a vida de Marguerite e sua liberdade dependiam disso.

Callum - Você não vai se livrar de mim tão facilmente

V - É o que vamos ver.

... Você me encontrou uma vez desprevenida, mas isso não vai acontecer de novo.

Verônica no laço do vestido, nas costas, carregava consigo as suas facas, que sempre manteve junto de si no platô, que salvou sua vida e de seus amigos tantas vezes, e não seria hoje que falharia, arremessou uma delas, acertando o ombro do mercenário, o fazendo desacelerar os movimentos, mas não o parar.

Challenger aproveitava a brecha para buscar por perto algo útil que os ajudaria, enquanto os dois mais jovens lutavam entre si, o cientista se dirigiu até o automóvel, abaixado, tentando se proteger da melhor forma, conhecia Marguerite, ela tinha que ter alguma carta na manga, ou seja, alguma arma escondida, era sua melhor esperança, Jessie também seguia pelo outro lado, desviando de algumas lâminas que Callum lançou, mas sem sucesso, por sorte a porta de aço a protegeu.

V - Challenger!!!

A garota tinha que reconhecer, o oriental possuía bravura como poucas vezes viu, uma devoção sem comparação, tudo para proteger o seu mestre e uma agilidade nos movimentos calculados, que temia não suportar por mais tempo.

Jessie - George, tome, pegue.

Jessie quem encontrou a arma, em um suporte acobertado por debaixo do assento do motorista, muito bem escondida, em uma posição que permitiria o passageiro de proteger-se de tiros ou certos obstáculos e, ainda buscar um meio de defesa, ou seja, a Magnum guardada, era o bastante para explicar o porquê Marguerite fazia questão de sempre viajar naquele mesmo assento.

O cientista se posicionou ainda que de joelhos, aguardou até que Verônica virasse o mercenário de costas e quando o fez, puxou o gatilho, o tiro foi certeiro, atingindo-o direto no coração, derrubando-o, em segundos o corpo de Callum estava diante dos pés da garota, que agora respirava mais aliviada, estabilizando os nervos.

C - Como se sente?

V - Já estive melhor, mas estou bem.

... Vamos, temos que encontrar Marguerite e John, antes que seja tarde.

Ned - O que aconteceu aqui?

Malone havia retornado com Leopold, ambos olhavam pasmos, surpresos, não demorou de fato mais do que 10 minutos e tudo parecia estar de pernas para o ar.

V - Explicamos no caminho.

... Challenger vá na frente, você conhece esse lugar melhor do que eu.

C - Muito bem, então vamos logo.

 

—--//---

 

Liu Hang e Hugo seguiam Shangai Xan e Marguerite, não muito perto, para evitarem de serem reconhecidos ou chamarem atenção, caminhava por entre os telhados dos estabelecimentos e casas, uma vez em lugares mais altos, maior era a visibilidade proporcionada, ambos aprenderam isso desde a grande guerra, quando se conheceram e participaram de um grupo de operações especiais, voltado para investigação e infiltração, foi uma tática que salvou a vida de ambos muitas vezes e também tornou-se quase que rotineira, por isso tamanha destreza em seus movimentos.

O mestre do crime tinha um automóvel a sua disposição não muito distante, em caso de uma fuga rápida e furtiva, dois de seus homens o seguiam, um deles a sua frente e o outro ao seu lado, posicionados de maneira estratégica. Enquanto Marguerite continha suas lágrimas, seu coração sentia despedaçado, quebrado, permitia-se recordar de tudo o que vivenciou no platô, desde sua chegada até sua partida, quem se tornou, tinha as invenções do Challenger, provocações de Malone, bondade de Summerlee, inocência e proteção de Verônica e o mais importante deles, o amor do seu cavaleiro de armadura reluzente.

Não admitia que tudo acabasse dessa forma, ela acompanhou Xan para proteger os amigos, para proteger John, pelo bem deles ou do contrário a essa altura poderiam estar mortos, como o pobre James, mas ela não se entregaria facilmente assim, nem o seu filho, tinha entendido claramente a sua intenção, de que independente da sua escolha seria mantida como sua prisioneira e após o nascimento da criança só ela seria libertada, estava próximo de completar 7 meses de gestação, ou seja, caso necessário, se sua fuga não ocorresse como esperado, tinha conhecimento de que um parto de urgência era possível de ser realizado, ainda que lhe custasse a vida.

J - MARGUERITE!!!!!

O grito os pegou de surpresa, a todos eles, John corria em sua direção, inundado de desespero, cego de medo, empurrava aqueles que entrassem em seu caminho, desviando de uma ou outra lâmina que o oriental arremessava em sua direção.

Ela aproveitou da oportunidade de distração, tirou o Oroboros de seu bolso, aquele verdadeiro, o agarrou o mais forte que podia, desvencilhou das mãos de Xan, o empurrando contra uma bicicleta cheia pães e doces da tarde, que atravessava a rua e se tele-transportou para o mais perto possível do caçador.

M - Vem, por aqui.

J - Marguerite, eu achei que perderia você.

Ele a abraçou e sorriu quando viu de quem era os braços que o agarrava em meio aquela bagunça.

M - Você prometeu que sempre estaria ao meu lado, eu terei o cuidado de fazê-lo cumprir, não duvide disso.

Os dois de mãos dadas corriam ao encontro dos demais, ainda que Marguerite tivesse feito uma viagem breve, a mais breve que já fez, não se sentia nada a vontade usando o medalhão, como se o próprio objeto lhe tomasse a vitalidade, se é que isso era possível.

 

Liu e Hugo também entraram em ação, Xan tinha muito mais do que apenas dois homens, todos escondidos em lugares ardilosos, inclusive alguns também próximos deles.

Hugo - Quantos contou?

L.Hang - 15 ao todo, 10 homens lá em baixo e 5 nos próximos metros no telhado.

Hugo - O que sugere?

Hang - Vamos nos dividir, acha que consegue lidar com os que estão no chão.

Hugo - É para isso que estou aqui. E o seu irmão?

Hang - Se tiver a possibilidade, mate-o, sem excitar ou ele fará pior com você.

Enquanto Hugo procurava posições ou brechas para atirar nos discípulos de baixo, lá do chão, que pareciam surgir feito pragas, por todos os lugares, Liu Hang corria e saltava de telhado em telhado, atirando, chutando, derrubando aquele que cruzasse em seu caminho.

Marguerite e John corriam o mais rápido que as condições permitiam, ele começava cogitar a possibilidade de carregá-la no colo, mas temia cair e derrubá-la, o que seria ainda pior, se ao menos chegasse no automóvel da herdeira, teriam mais chances de escapar.

Xan também se recuperava da queda, enfurecido, gritava e ordenava para os seus homens trazê-la de volta, o mestre do crime não era um admirador de arma de fogo, mas em situações extremas como está, exigia que ele abrisse uma exceção, tinha uma guardada a beira da manga do paletó, e na outra um pequeno punhal, os quais não excitaria em usá-los.

C - Por Deus, encontramos vocês, vamos, corram, eu dou cobertura.

J - Não George, não vai ficar para trás, não sozinho, eu te ajudo.

Os dois amigos seguiam em ritmo mais lento, adentrava o beco novamente, atirando em alguns dos homens que os perseguia, ainda tinha aqueles que caiam mortos por um atirador nas alturas, que também não passou despercebido pelo astuto caçador, que pensou que depois com cautela teria que verificar isso, agora tinha coisas mais importantes para resolver.

V - O que foi Malone? Qual o problema?

Ned - E o corpo do James?

Leopold - Senhor Malone acredito que isso não vem a baila no momento, sabemos o que tem de ser feito.

V - Isso mesmo, ele já está morto e nós não.

Leopold - Eu ajudo.

Malone e Leopold retiraram com cautela o corpo do mordomo de dentro do automóvel, o depositando perto da parede, como se estivesse sentado apenas, infelizmente não tinha o que fazer, o buscariam mais tarde.

O repórter assumiu o voltante, Verônica ao seu lado, como passageira, Jessie e Marguerite nos assentos de trás, Leopold sacou também uma arma escondida por baixo de seu uniforme.

Leopold - Senhor Malone, vá, acione a marcha-ré do automóvel, eu darei cobertura daqui, tenho conhecidos a caminho, puxem Lord Roxton e o Professor Challenger para o veículo, aqui não é seguro, vão logo.

V - Vamos Ned.

O repórter excitou de imediato, ele não queria deixar mais ninguém para trás, entretanto outras vidas dependiam dele, principalmente a de sua amada Verônica. Ele engatou a marcha-ré, o que atrapalhou os lutadores e os demais homens de Xan que se aproximavam do local, Ned precisava ajudar John, ele era mais jovem que Challenger, portanto, penso que seria mais necessário e útil junto dele.

Ned - George, troque de lugar.

C - O que? Malone o que está fazendo?

Ned - Salvando as nossas vidas.

Malone desceu do automóvel ainda em movimento, tomando a Magnum das mãos de Challenger e praticamente o empurrando para dentro do mesmo, assumindo o volante, senão fosse dessa forma, ele sabia que o cientista não faria, Verônica desesperava-se, chorava e gritava por seu nome, sua vontade era saltar e encontrá-lo, mas compreendia o que o repórter tinha acabado de fazer, era loucura, ficaria para trás, para salvá-los, como quando ficou no platô ao seu lado.

Marguerite no banco detrás, praticamente pendurava-se pela porta aberta, buscava alcançar John, ela teve a ideia de todos de um jeito ou de outro segurarem as mãos, como uma corrente, inclusive Jessie segurava a dela que estava livre. A intenção era quando chegasse ao caçador, oferecia a ela a outra mão, que detinha o Oroboros, assim que ele a agarrasse, faria o desejo e todos seriam tele-transportados para o platô.

M - John, segure-se!

J - O que pensa que está fazendo?

M - Salvando nossas vidas, segure logo!

John sentiu o coração saltar, percebeu o veículo descendo em movimento, Malone assumindo a posição de Challenger, uma Verônica com olhar triste e a sua Marguerite dependurada, vindo em sua direção, estendo-lhe a mão e com o medalhão exposto daquela forma, ele pensou que mesmo depois de todas as aventuras no platô, nada se comparava as circunstâncias atuais, ele derrubou o último dos orientais que persistia em manter-se em pé e lutar, levantou-se e seguiu rumo a direção da herdeira, segurando-a firme a mão.

X - Não vai a lugar nenhum Lord Roxton.

M - ROXTOOOOON!!! NÃOOO!!!

J - MARGUERITE!!!!

Shangai Xan esperava por aquele momento, era conhecido por seus raciocínios rápidos e conhecimentos de “guerras”, não demorou para entender os planos de Marguerite, ele apenas aguardou pacientemente, vendo os seus homens serem derrubados, Callum seu seguidor mais fiel, desfalecido, não haveria perdão, não concederia a nenhum deles, quando os viu de mãos dadas e o medalhão, disparou sem pestanejar.

O barulho foi ensurdecedor e inesperado, o alvo acertado em cheio.

Xan preferia o medalhão partido novamente em dois, do que nas mãos dela, além disto, teria Lord Roxton e todos mais como reféns, os enviaria aos poucos, um por um para buscarem a mulher, depois de expô-los a quase morte.

Inacreditavelmente o Oroboros partiu, uma parte junto da herdeira, que sumiu com os demais, como se nunca estivessem lá e a outra na mão de John, que tentava entender o que tinha acabado de acontecer, ainda pasmo, como se tivesse sido atingido.

X - Ela se foi Lord Roxton.

... Nem pense nisso, mais um passo e eu precisando de você ou não, irei atirar.

Xan tinha a arma próxima a sua nuca, inclinada para cima, para que o tiro fosse letal caso precisasse, John podia sentir o cheiro da pólvora, a proximidade do homem, Malone também parecia encurralado, ele foi o único que restou ao seu lado, foi nesse exato instante que enxergou alguém que era familiar perto do repórter, atentou-se aos movimentos, mas sua situação não ajudava, ele escutou o gatilho, a arma sendo preparada e de repente mais um disparo, um que desta vez não permitia erros.

Fechou os olhos e quando os abriu, seu ar faltou, parecia difícil respirar, ele sentia ainda seu coração pulsando, seus sentidos, e próximo aos seus pés uma poça de sangue se formava, o homem caído, um buraco lhe perfurava e atravessava a cabeça, percebeu que talvez fosse seguro, virou-se e para sua surpresa a encontrou, a arma fumegante em suas mãos, chorava e ria ao mesmo tempo, e aqueles olhos, lembrava-se que às vezes só eles poderiam acalmá-lo.

 

J - Mãe?!


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