O Sexta Feira escrita por Miss Krux


Capítulo 31
Capítulo 31 - Para sempre em meu coração




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Os dias seguintes foram relativamente calmos, sem que houvesse qualquer tipo de surpresa desagradável, porém a apreensão e a tensão de todos era evidente, bem como a distância entre os casais, Jessie e Challenger passavam pouco tempo juntos, a mulher parecia apreciar mais a companhia de Anne ou Verônica, e o cientista como sempre entretido em seu laboratório, ainda que algumas vezes disperso, dedicava horas dos seus dias e noites junto de suas invenções e estudos, os últimos exames da herdeira constataram uma grande quantidade de resíduos do veneno em seu sistema circulatório e imunológico, ainda que fazendo uso do antidoto, o que era preocupante, tendo em vista que a substância poderia afetar ela e a criança também.

John e Marguerite também não se comportavam diferentes, depois da última discussão após o obtido do Sexta-Feira, o caçador tomou a frente dos negócios, os conduzindo de maneira individual, com medo de que algo acontecesse a herdeira, ele se dirigia ao escritório quase todos os dias sozinho ou acompanhado de Leopold, que considerava ser seu “braço direito”, mesmo Bryan tinha cessado suas viagens para fora do país e agora ambos se empenhavam e trabalhavam juntos na empresa.

Marguerite por sua vez sentia os seus nervos à flor da pele, passava a maior parte do tempo reclusa em seu quarto ou biblioteca, não permitindo aproximação de nenhum dos exploradores ou de seus empregados, ela tinha um plano para arquitetar e não podia conter falhas, ou os resultados poderiam ser catastróficos, e como se não fosse o suficiente sentia o bebê se movimentando cada dia mais e os pesadelos, a imagem de como encontrou o Sexta Feira ainda assombrava seus pensamentos constantemente, mais do que gostaria.

Os únicos que pareciam bem de fato, eram Malone e Verônica, não se incomodavam de permanecerem na mansão sem sair, passear ou o que fosse, a garota aperfeiçoava as suas técnicas de pinturas e apreciava cada momento de sua gravidez, que apenas despontava há alguns poucos dias e Ned além de acompanhá-la, como um marido presente, já imaginando nomes e o encaixe dos sobrenomes, mostrava-se um futuro pai carinhoso e amoroso, também agarrou a oportunidade de finalmente organizar todas as suas notas que seriam ou não publicadas, todas por ordem de datas e entregando-as a Marguerite, nos momentos que a via circular pela casa.

Naquele dia seria o aniversário de Verônica, e Marguerite organizou um almoço para a garota, reservou previamente junto do restaurante Cora Pearl Covent Garden uma mesa exclusiva para os exploradores e encomendou o seu bolo favorito, a festividade se daria às 13 horas, primeiro o almoço sofisticado e após as comemorações. Anne mesmo diante da insistência da herdeira, alegou que não se sentia à vontade, não deseja acompanhá-los, pensava que faria bem a todos terem um momento "em família", só os exploradores e depois a noite ela mesma faria outra guloseima para comemorarem juntos.

James quem conduziria um dos automóveis, o que partiria da casa, junto com a herdeira, Malone, Jessie e Verônica, enquanto John e Challenger os encontraria no local e após Leopold os buscaria para retornar para o escritório. Não seria nada além de um almoço e um pouco de distração.

 

Pela manhã ...

J - Marguerite não podemos continuar dessa forma, você mal fala comigo, está me evitando há dias, não me olha nos olhos durante uma conversa.

... Escute eu sei que está brava por conta das decisões que tomei, mas eu estou cuidando de você, não quero que se arrisque ou o nosso filho.

M - Pensei que íamos cuidar disso juntos Lord Roxton?! Eu já te falei, sei me cuidar muito bem sozinha, se acha que me prendendo aqui vai adiantar, sinto muito te decepcionar, mas não vai.

... Agora porquê não termina de se trocar e parte logo para os seus negócios e me deixa em paz, com essas malditas paredes.

J - Marguerite eu...

M - Não, seja lá o que for falar eu não quero ouvir.

O Lord terminou de alinhar suas roupas, buscou no armário uma de suas gravatas para combinar com o terno, ao lado notou o seu chapéu que o remetia as lembranças do platô, começava a sentir certo pesar, desviou-se dos pensamentos e direcionou um último olhar para o espelho, não para ver a si mesmo, mas sim o reflexo de Marguerite, de costas, sua silhueta sumindo para dentro da suíte.

Lamentava que tivesse chegado a esse ponto, de modo que mal se olharem, contudo os seus sentimentos de angústia e desespero só pareciam aumentar, durante o dia sentia-se perdido sem tê-la por perto, saudades de sua cumplicidade o afogavam em mágoa e pior pareciam que tinham estruturado ou construído uma nova barreira, a qual a cada dia erguia-se mais entre os dois, mas para si mesmo, ele dizia que era o mais seguro a ser feito, ele a preferia distante, furiosa e viva, teria chances de reconquistá-la novamente.

A herdeira entendia os reais motivos de Roxton agir dessa forma, queria protegê-la e a criança também, não era surpresa alguma as suas atitudes, mas assim como ele, Marguerite prezava pela proteção de todos, era a única que de fato conhecia um pouco mais afundo Shangai Xan, que como haviam discutido desde o início de seus planos, só aceitaria uma par-ganhar se partisse dela própria e se isso acontecesse em um local público, pensava que as chances de agir de má fé eram menores, além do que durante toda aquela semana Anne manteve-se fiel a ela, como sempre foi, todo o valor em ouro que devia ao mestre do crime foi devidamente efetuado o pagamento, suas dívidas em si estavam quites, foram pagas com correções de valores e juros, entregou muitas de suas pedras preciosas que trouxe do platô, agora só restava o seu bem mais precioso, devolver a ele o Oroboros, o que por sinal não estava disposta a fazer.

 

—--//---

 

— Por qual nome devo procurar a reserva?

M - Lady Marguerite Roxton.

— Assim, vejamos, aqui está.

... Devo informar que Lord Roxton e o seu convidado já aguardam vocês, queiram me acompanhar, irei levá-los até a mesa.

Um pouco mais a diante lá estavam John e Challenger sentados lado a lado, conversando sobre assuntos triviais, cada um com seu copo de whisky 12 anos, o lord com charuto acesso entre os dedos, o que não passou despercebido por Marguerite a qual não o criticava, mas naquele momento não aprovava, ele vinha descontando sua mágoa no vício com mais frequência do que se lembrava.

Quando os demais se fizeram presentes, ambos como bons cavalheiros não perderam tempo em oferecem as cadeiras para as esposas se acomodarem, claro, que próximas deles mesmos.

Foi um momento agradável e de descontração entre os amigos, até a herdeira parecia ter melhorado em questão de humor, mantinha-se alerta observando aos arredores até onde sua visão alcançava, de maneira atinada, procurava por algo que apontasse que Xan estava lá ou um de seus discípulos, por um sinal do homem, qualquer um que o reconheceria, mas não identificou nada, nenhum movimento suspeito, nem as três vezes que usou a desculpa de ir ao toalete.

Entretanto, em meio de suas observações, não deixou de notar um pequeno papel embrulhado, que John depositou entre sua mão, quando entrelaçadas por de baixo da mesa, quando ninguém podia ver, todos cantavam os parabéns de Verônica, a herdeira o abriu discretamente.

 

"Lady Marguerite Roxton, para sempre em meu coração.

Eu amo você desde antes de te conhecer,

e farei por todo o meu viver".

 

Ela leu o bilhete por pelo menos três vezes, o enrolou novamente e guardou junto de si, como se fosse o seu tesouro mais precioso, mais doque qualquer uma de suas joias ou riqueza, esboçou um sorriso convidativo ao Lord, como há dias não fazia, apertou sua mão com mais força e depositou um beijo afetuoso em seu rosto, um pouco mais demorado como de costume, que estendeu seu braço por detrás dela, acariciando os seus cachos, permitindo-se apreciar aquele momento.

Verônica a aniversariante sentia-se radiante, quase toda a sua família de coração estava unida, e logo mais aumentariam, com a chegada dos bebês, em partes também carregava consigo certa ansiedade, queria conhece-los. Apesar das dificuldades e divergências momentâneas tinha a todos presentes com ela, naquele dia tão especial, que um dia no passado derramou lágrimas de tristeza, hoje sorria alegremente, os olhos brilhavam de felicidade e o seu coração parecia que saltaria do peito. Foi o momento que registraria em sua memória, que em breve contaria e compartilharia com aquele “serzinho” que aos poucos crescia dentro de si.

 

—--//---

 

J - Marguerite onde está o James?

M - Eu não sei John, nós combinamos de nos encontrarmos aqui em 2 horas assim que entramos no restaurante, mas não o vejo em lugar algum.

Ned - Pode ser que ele não tenha encontrado uma vaga para estacionar.

J - Não Malone, caso fosse isso Leopold também não teria feito e ele está logo ali, mais a diante.

C - Porque não olhamos nas proximidades, salvo engano James avisou que estaria em uma esquina menos movimentada.

Os amigos caminharam por mais alguns minutos, entrando e saindo de alguns becos e esquinas, largos o bastante, buscando pelo automóvel branco de Marguerite e qualquer sinal do mordomo desaparecido, era a quarta esquina que averiguavam, uma rua sem saída, um tanto mais estreita que as demais e menos movimentada também, a herdeira sentiu-se observada, uma sensação de aflição e desespero a preencheu, na medida que identificaram o veiculo e se aproximavam, ela se viu imersa por um ímpeto de fugir e de levar a todos consigo.

J - Marguerite, está pálida, não está se sentindo bem?

M - Eu não estou gostando disso, não ...

John se posicionou a frente dela, viu os seus olhos cheios de medo e dúvidas, suas mãos estavam incertas e quando a tocou sentiu estremecer, Marguerite sabia o que estava acontecendo, ou pelo menos tinha participação.

J - Você sabe o que está acontecendo aqui, o que está escondendo?

M - John eu... Eu ...

Ned - Roxton, Marguerite precisamos de vocês dois aqui. AGORA!

J - Já estamos indo Malone.

... Essa conversa não acabou aqui, quando chegar em casa vai me contar o que planejou.

Marguerite apenas sinalizou, como quem concordava com o que tinha acabado de ouvir, sua sensatez dizia que aquele não era o momento mais apropriado para discutirem suas atitudes, e seus sentidos também gritavam em alerta, a visão mais à frente não agradava.

O automóvel estacionado no final da rua, tinha a sua cobertura flexível toda estendida, tudo estava quieto demais, Jessie e Verônica um pouco mais afastadas, Challenger quem aparava as mulheres, as quais aparentemente choravam, Malone parecia um tanto confuso, olhava para dentro do veículo e para o casal que se aproximava.

Ned - Ahan Marguerite eu sei que você é forte, mas talvez melhor deixar Roxton ver primeiro, você está grávida, não acho que faria bem para vocês.

M - Ned eu não gosto disso, o que exatamente não me faria bem?

O repórter impedia a passagem do casal, olhava ambos, principalmente Roxton, buscando algum tipo consentimento ou concordância com suas palavras.

J - Malone nos diga o que tem aí, atrás de você?

... E eu e Marguerite decidiremos se fará bem a ela ou não. Vá em frente Nedboy.

Ned - É o James, eu sinto muito, ele ... está morto.

Marguerite não pensou duas vezes, num ímpeto impulsivo deixou John para trás e empurrou Malone de lado, que se atrapalhou e quase que caiu ao chão, a mulher tinha um enorme carinho pelo mordomo, sempre muito prestativo, ponderado e sensato, por tantas vezes a ajudou se livrar de apuros, como a esperar no local e hora certa, ainda que sua própria vida corresse riscos, ele estaria lá, aguardando-a. Jamais a julgou por seus atos ou a criticou por qualquer situação vergonhosa.

Afinal seus pressentimentos estavam certos, o corpo de James jazia sem vida junto ao volante do veículo, envolto de seu pescoço, impedindo que o oxigênio circulasse por suas vias respiratórias, era visível o cordão de âmbar báltico, objeto que causou sua morte, três voltas, o mordomo havia sido asfixiado, mas não só isso, as pequenas pedras contidas no cordão atravessavam sua pele, perfurando o bastante para fazê-lo sangrar e do próprio liquido foi desenhado em seu rosto as insígnias de Xan.

John compartilhava da visão, mais próximo da mulher, a envolvia em seus braços por trás, Malone também o olhava abismado, não acreditava no que seus olhos viam, como se não quisesse acreditar no que estava acontecendo.

M - John, vá buscar Leopold, ele pode estar correndo perigo também.

J - E deixa-la aqui, nem pensar.

Ned - Tudo bem eu vou, volto em 10 minutos.

J - Leve Challenger com você.

Ned - Não Roxton, ele está cuidando de Jessie e Verônica, você de Marguerite, não pode cuidar das três sozinhas, além disto, sozinho eu vou correndo, serei mais rápido.

J - Muito bem, estaremos de aguardando.

Malone sumiu entre as ruas, corria o mais rápido que podia, Marguerite ainda nos braços do caçador, chorava por mais uma perda em sua vida, depois de tantas, mais uma na sua lista, mais uma que partia seu coração, começava a se perguntar se era seguro permanecer junto de seus amigos, se eles seriam os próximos na lista de Xan e aquele cordão, o que ele queria dizer com aquilo, conhecia sua origem, não era um objeto qualquer.

M - John e se Xan está pensando em fazer alguma coisa ao bebê?

... E se isso não for apenas um aviso, como aconteceu com o Sexta-Feira.

Disperso de seus próprios pensamentos e preocupações, John a apertou em seus braços um pouco mais forte, tinha medo em sua voz, medo que ele compartilhava.

J - O que quer dizer com isso com Marguerite?

... Até onde sabemos Xan quer o Oroboros de volta, não o nosso filho, para que ele ia querer uma criança?!

M - Para usar como chantagem talvez?!

... Escute, aquele cordão é feito de âmbar báltico, em algumas culturas, aqui mesmo na Europa e no Oriente, quando uma criança nasce ela pode ser presenteada com um colar deste, acredita-se que possui benefícios terapêuticos, que quando utilizados estimula e fortalece o sistema imunológico, entre outras coisas.

J - E o que isso tem a ver?

M - O veneno que foi usado naquela lâmina que me atingiu, afeta justamente o sistema imunológico e o sanguíneo, o meu e o do bebê, ele fez isso de propósito, quer chamar nossa atenção.

 

X - Bravo, bravo Sra. Smith

... Continua tão perspicaz como da última vez que nos encontramos.


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