O Sexta Feira escrita por Miss Krux


Capítulo 30
Capítulo 30 - Jogar a isca




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/797878/chapter/30

J - Então Doutor, como ela está?

Dr.E - Lady Roxton está bem, está dormindo e sugiro que dê um tempo a mais para ela.

... Foi um choque muito grande, um susto dessa proporção pode causar consequências graves, considerando o seu estado interessante.

... Agora, é importante que saiba, eu conduzi em seu chá uma pequena dosagem de ansiolítico, ou seja, uma variação de sedativo, que tende a aliviar o nervoso ou ansiedade, fazendo com que a pessoa que o ingere tenha uma boa noite de sono por assim dizer.

... Entretanto, não é recomendável durante o período gestante, ainda mais quando na corrente sanguínea do paciente existe outro tipo de substância medicamentosa sendo dosada, apenas o fiz porquê de fato era uma exceção e um caso extremo.

... Sendo assim, devo alertá-lo Lord Roxton, se quiser evitar que sua esposa tenha um parto prematuro ou mesmo um aborto, e se preza pela vida dela e dessa criança, recomendo que dobrem, tripliquem o cuidado, ela vivência o último período da gestação, daqui em diante a sua situação tende apenas a se agravar.

John espiou pela brecha da porta, observando Marguerite, que naquele instante dormia tranquilamente, ainda que com os olhos marejados seu semblante havia suavizado, sua respiração de certa maneira estava mais calma, enquanto Anne velava o seu sono, às palavras do médico soaram como um aviso, embora não fosse um homem de sentir esse tipo de sensação ou "presságio", algo dentro de si despertou, como um aperto no peito ou uma espécie de nó na garganta, que o fez estremecer, não carregava consigo bons pressentimentos. "Talvez deveriam ter permanecido no platô, pelo menos até a criança nascer...”.

Despediu-se do médico ainda na porta principal, Leopold quem conduzia o automóvel, ele inclusive quem o buscou e após o ocorrido também comunicou os demais exploradores, que se reuniam no laboratório improvisado de Challenger.

C - Roxton, como ela está?

J - Aparentemente bem, pelo menos está dormindo, Dr. Edward conduziu uma espécie de sedativo, mas alertou dos riscos.

V - Acho que estão arriscando demais, primeiro foi aquela lâmina, agora o Sexta Feira, já pensaram que dá próxima vez pode ser pior?!

J - É exatamente isso que estou pensando Verônica, se algo acontecer a ela, eu jamais me perdoaria.

Ned - Então talvez fosse melhor permanecermos como antes, todos nós juntos, é mais difícil de Xan causar algo, pelo menos por enquanto.

Jessie - Nada pode parar o Xan, senhor Malone.

Jessie se arrependeu de imediato, após realizar o infeliz comentário percebeu que havia cometido um erro, ela falou com tanta propriedade, que despertou olhares, mesmo Challenger que analisava o corpo desfalecido do gato, teve sua atenção voltada para ela.

O cientista obviamente tinha conhecimento de que a mulher era muito bem informada e mantinha-se atualizada dos mais diversos assuntos, afinal quando jovem formou-se com mérito no segmento de educação na Universidade de Cambridge e inclusive durante o começo do casamento, ela lecionou em algumas instituições particulares, apenas abandonou a carreira por uma exigência hipócrita que ele havia imposto.

Contudo, tinha que admitir que durante os últimos anos, sem sua presença, ela mudou muito o modo de se portar, suas atitudes, como se tivesse se libertado, o que em partes lhe agradava, ela de certo tinha aprendido muito, mas também algo o incomodava, eles ainda não tinham conversado sobre o que aconteceu durante a sua ausência, não que isso fosse um problema, mas talvez algo não estivesse exatamente no seu lugar.

C - Minha querida, me diga, o que sabe sobre Shangai Xan, para afirmar com tamanha convicção.

Jessie sentia-se um tanto pressionada, quase deixou-se levar pela emoção e falou mais do que deveria, as palavras de Liz, pedindo cuidado lhe ocorreram, ela estava certa, tinha que ter muita cautela com as palavras que escolhia ou caso contrário colocaria tudo a perder, todos os planos poderiam não se concretizar e pior, prejudicar a todos.

Jessie - Ora George, eu sei sobre Xan tanto como vocês, pelo o que Marguerite confessou outro dia ou por seus comentários.

... E vendo que se trata de é um homem perigoso e a nossa situação atual, acredito que talvez o melhor sejamos ficarmos juntos como Malone sugeriu, ou aqui, ou no platô.

J - Marguerite não irá para o platô, ela às vezes amaldiçoa mais aquele lugar do que o próprio Xan.

... Eu irei subir, ficarei ao lado dela, Anne também precisa descansar, sintam-se em casa, concordo que tenhamos que ficar juntos e quanto antes melhor. Aliás acho que seria bom se daqui em diante fazermos como no próprio platô, não sairmos sozinhos e voltar antes do escurecer para casa.

V - Marguerite não vai gostar muito disso.

J - É a única escolha que temos Verônica.

 

—--//---

 

Minutos depois os amigos organizavam algumas de suas coisas para levarem de volta a Mansão, Jessie ajudava Verônica com algumas peças de roupa, enquanto Malone e Challenger carregavam as demais bagagens, James também os ajudava com os afazeres e Leopold que havia retornado há pouco, todos pareciam dispostos e sem sono durante a madrugada, além disto para evitar comentários, o horário era propício.

James - Professor Challenger, veja, acredito que caiu do diário da sua senhora.

O homem entregava ao cientista um retrato antigo, de fato, era de Jessie, abaixo nos registros continha o nome da instituição de ensino e a data de formação também 27 de julho de 1.881, sua amada esposa faria primaveras um dia depois, completaria 21 anos de idade e no ano seguinte, no mesmo dia estariam laçando a sua união como marido e mulher.

Jessie assim como ele pertencia a uma família simples, ambos se esforçaram muito durante o colégio, isso tudo para obter uma bolsa de estudos em alguma universidade pública, embora lembrava-se que na época que a conheceu, que seus pais planejaram a sua união, surpreendeu-se muito com ela, não era comum mulheres terem seus estudos concluídos e chegarem aos 21 anos solteira, por isso em 6 meses namoraram, mais 6 meses noivaram e logo estavam casados.

Com a fotografia ainda em mãos, se viu rindo de um episódio de ciúmes juvenil que tanto observou em John, compartilhando do mesmo sentimento, um dos rapazes que se graduou com Jessie, um pouco mais velho, sua segunda formação, de uma família aparentemente nobre ou que tinha uma condição financeira desejável, sempre a rodeava, mesmo quando casados, uma vez teve a ousadia de bater na porta de casa a noite, depois que se retirou, o casal discutiu horas a fio, até que a mulher confessou que ajudava o cavalheiro em questão, que na verdade estava perdidamente apaixonado por uma amiga em comum, e nada mais.

Jessie - O que está fazendo George?

C - O que? Ah... sim, estava perdido em nossas lembranças, James encontrou essa fotografia caída ao chão, estava pensando, qual dos rapazes foi aquele “abusado” que bateu em nossa porta certa noite

Jessie - Foi este aqui, o Archie.

Ela tinha que “jogar a isca”, como combinado com Liz, aguardou por meses, mas de certo, aquele era o momento que esperava.

Jessie - Nós fomos no casamento dele, não se lembra?

... Só um instante, aqui está, veja, a foto dele com a esposa.

Em um caixa próxima retirou uma foto, Jessie e Challenger e o casal, todos os quatro juntos, os recém-casados extremamente felizes, não foi um casamento arranjado como costumeiro, mas sim por livre e espontânea vontade, por amor, ela também estudava em Cambridge, finalizava o curso de linguística, tinha uma paixão por outros idiomas imensurável, como alguém que conhecia, além disto, o homem também era inteligentíssimo, lembrava-se de comentar que era acima da média, tanto que desde muito jovem tornou-se oficial do exército britânico, conhecia ramificações de direito, política, ciência, geologia, arqueologia, cartografia e outras mais, dialogava como ninguém, capaz de manter um pessoa entretida apenas por sua boa lábia, falaria de tudo e de nada, bastava lhe dar a oportunidade. 

C - Jessie, me diga, como perdemos o contato com eles?

... Me lembro que você principalmente era muito próxima aos dois, embora eu ajudei está sua amiga com o parto, mas foi apenas isso, nada demais.

... O que afinal aconteceu, teve alguma interferência, daquela outra amiga de vocês, a que sempre chamava de Liz, vocês discutiram? O que houve?

Jessie - Na verdade, enquanto esteve fora eu voltei a visitar essa minha amiga, a Liz, e nós nunca discutimos, apenas nos afastamos por coisas corriqueiras da vida, ela tinha filhos para criar e após, alguns lutos para superar, e eu tinha uma casa para manter, você não é o único que guardou segredos durante nosso casamento.

... Quanto a Archie e Eve, nós perdemos mais que o contato meu querido, nós simplesmente perdemos os dois, faleceram após um incêndio devastador, talvez você não se lembra porque estava fora, em alguma de suas viagens, mas toda a Inglaterra noticiou o ocorrido na manhã seguinte.

Jessie entregou ao marido um folheto de jornal, pegou mais algumas de suas bagagens e se retirou, deixando-o sozinho com seus pensamentos e talvez algumas poucas recordações, as cartas foram lançadas, esperava que ele entendesse.

 

“Incêndio devasta toda a propriedade da família Krux, foram encontrados os corpos de Archie, Evelyn e Marguerite Krux, mesmo a pequena herdeira de 03 anos foi morta junto aos pais, motivo do ocorrido pode estar ligado a máfia chinesa...”.

 

Challenger lia atentamente a matéria, a imagem da casa totalmente destruída e junto a família que havia perdido suas vidas, o nome da garota e as semelhanças físicas eram inquestionáveis, o deixaram atordoado, quase em estado de choque, o cientista não acreditava no que via, não era possível, o destino não teria lhe pregado aquela surpresa e se Jessie sabia disso tudo porque não contou antes, pensou, ele começava a suspeitar que tinha muito mais coisas escondidas, como sua esposa falou há pouco, existiam segredos entre eles, mas ainda assim, não conseguia compreender de prontidão o porque ela guardou isso para si e o que mais escondia, quais suas reais razões.

 A pequena mudança foi concluída em breve, dividiram seus objetos pessoais entre as duas casas, como se a adrenalina em seus corpos fugissem, o cansaço agora dominava cada um deles, a noite não havia sido fácil, o estado de exaustão e de alerta misturavam-se em um só, quando Challenger finalmente foi se deitar reparou que Jessie já dormia profundamente, ele pensou em acordá-la, tinha muitas dúvidas, segredos que desejava em seu íntimo mais profundo descobrir, ainda que para isso tivesse que confessar os seus próprios e sabe-se lá o que resultaria, mas outras vidas estavam em jogo.

Contudo, pior do que Jessie, seria encarar Marguerite, se suas suspeitas fossem verídicas, se a sugestão da esposa fosse o que ele imaginava, dentro de poucas horas estaria diante da mesma menina-mulher que um dia viu nascer, que aliás teve participação durante o parto e “por Deus a história estava se repetindo”.

 

—--//---

 

C - Como está sentindo?

M - Chata, de luto pela perda do Sexta-Feira, deprimida, inchada, aprisionada nessa maldita Mansão, pensando no divórcio, querendo matar o Roxton e também sendo mais uma de suas cobaias, o que mais eu poderia desejar George?

Anne - Sabe minha menina, não precisa responder dessa forma ao professor, ele apenas está examinando-a e preocupada com o seu bem estar.

M - Pelo visto todos estão, como se não tivessem mais nada de interessante para fazer.

... Qual a parte que eu falei mais cedo que gostaria de ficar sozinha, que ninguém entendeu?! Não estou falando em outra língua pelo que sei, será que é tão difícil assim ter um momento de paz.

C - É claro Marguerite, bem, eu já tenho tudo o que precisava, qualquer coisa estarei no laboratório.

Anne - Eu o acompanho professor, vou descer até a cozinha.

Marguerite apenas virou o rosto enquanto a porta se fechava, ela queria ficar sozinha com seus pensamentos, a noite passada havia abalado demais os seus nervos, a perda de seu amado Sexta-Feira foi mais do que poderia suportar, sabia os motivos e desconfiava que diante da situação não se tratava apenas de um aviso, mas tinha consigo que Xan tinha chego em Londres.

Além do que, a discussão com John logo quando acordou e o viu de saída só havia piorado o seu estado emocional, ela não se submeteria as suas ordens, conhecia todos os riscos, foi ela quem causou todos esses problemas, e querer mantê-la dentro de casa por tempo integral, só se estivesse louco, jamais faria.

A herdeira sentia como se algumas coisas estivessem fugindo do seu controle, tinha que planejar os seus próximos passos, como resolver toda aquela situação sem que ninguém mais saísse machucado e com de preferência com urgência, uma emboscada talvez.

Ainda que sua ideia fosse perigosa, as chances de darem certo eram grandes.

M - Telefonista me transfira para a escola de Genghis Khan, Xangai...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Sexta Feira" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.