O Sexta Feira escrita por Miss Krux


Capítulo 29
Capítulo 29 - Tudo fora do lugar.




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03 meses depois ...

 

John e Marguerite compartilhavam todos os seus dias juntos, como Lord e Lady Roxton, em pouco tempo aprendiam a lidar um com o outro, com suas diferenças, medos, inseguranças e obstáculos, o que os uniu ainda mais, ele se mostrava um marido dedicado, amoroso, compreensível e também se descobria como pai, quase todas as noites quando se deitavam contava histórias para a criança ainda no ventre, sobre os dinossauros, homens lagartos, suas aventuras no platô, as narrando em terceira pessoa, como o grande caçador sempre salvava a donzela em perigo, ou como era salvo por ela.

Enquanto Marguerite o admirava e ria dos seus contos, quando o bebê parecia agitado demais dentro de si, ela cantava, acariciando a própria barriga, ou mesmo quando se sentia nervosa ou incomodada com algo. Jamais imaginou que um dia seria capaz de se sentir tão feliz e amada, a Mansão tornou-se o seu lar, aquele que tanto desejou e sonhou e John o seu porto seguro, além disto, ambos como sócios movimentaram o capital dos negócios da família mais do que nos últimos anos.

A empresa em si, elaborava planejamentos tributários para outras mais, as quais em grande maioria estavam ligadas diretamente ao governo britânico ou outros países próximos, sendo necessário desenvoltura estrategista ou certo conhecimento em relações internacionais, o que para a herdeira não era segredo nenhum.

Challenger e Jessie tornaram-se alvos de jornais, o cientista logo que anunciou o seu retorno à sociedade devido as aglomerações em frente sua casa, se viu obrigado a vende-la, os assédios, entrevistas e públicos eram constantes, dia e noite, mudou-se para a antiga Mansão de Marguerite, e junto consigo Verônica e Malone, assim também era um meio de permanecerem todos próximos.

O casal mais jovem, em especial a garota, se viram como detentores do Oroboros, foi um meio que encontraram de protegê-lo, despistar qualquer suspeita e também sempre que possível viajarem para o platô, claro que todas as viagens com a autorização da herdeira, assim como, foi uma maneira que o jornalista usou para apresentar Verônica a sua família viajando para a américa sem chamar tanta atenção.

Inclusive até algumas semanas atrás, todos estiveram na aldeia Zanga reunidos, foram buscar a cópia do Oroboros, que por sinal era perfeita, sem nenhum defeito, e também para conversarem com Luna, a qual alertou sobre a proximidade das luas, do encontro entre almas e de uma nova vida a caminho. No entanto, Marguerite chegava ao sexto mês de gestação, e as idas e voltas pareciam cansativas demais para ela, nesta última vez quase desmaiou, por conta disso, decidiu não viajar mais até o nascimento da criança, mas não se importava que os demais fizessem.

 

—--//---

 

Seis meses de gestação alegava o Dr. Edward naquela tarde, era o tempo aproximado, poderia ser menos ou mais, mas ainda assim seria uma diferença mínima de aproximadamente 10 dias ele falou. Marguerite seguia o acompanhamento junto ao médico, de modo rigoroso, sob a supervisão de todos, principalmente de John, que sempre a acompanhava nas consultas ou exames necessários.

Os enjoos e tonturas mais fortes cessaram desde que completou 5 meses, em compensação os movimentos do bebê também se intensificaram, podia jurar que ele a chutava boa parte da noite quando John contava suas histórias mais emocionantes, sobretudo quando se tratava de tiranossauros, o que por sinal, tinha acontecido naquela madrugada, não permitindo que ela pregasse os olhos, e ela como vingança não deixou o caçador dormir, culpando-o por todos os chutes e socos do bebê.

Naquela consulta em questão John não pode acompanha-la, aparentemente foi requisitado para uma reunião na sociedade dos lordes e sua presença era imprescindível, portanto, quem acompanhou a herdeira foi Anne e James.

James - Senhora para casa ou para o escritório?

M - Para casa James, por favor.

... Não dormi nada durante a noite, culpa do Roxton.

A - Qual Roxton minha menina? Lembre-se agora são dois.

Brincava a governanta com a morena

M - Os dois Anne, os dois.

... E nem precisa me lembrar que são dois, eles já fazem isso normalmente.

A - Você continua insistindo que seja ele não é mesmo? Como pode saber?

M - Ora Anne, eu insisto sim.

... Eu ainda não sei como posso ter certeza, mas quando foi que eu insisti em algo e não estava certa?!

Anne apenas a olhou, enquanto o automóvel cruzava os enormes portões da casa, Marguerite poderia estar certa, ela carregava consigo uma intuição extremamente aguçada e quase nunca errava ou desistia de uma ideia quando a colocava na cabeça, talvez por isso os negócios da família Roxton expandiam de forma acelerada, tanto em quesito de proporção, como valores e em poucos meses, como já havia feito antes com seus próprios empreendimentos.

M - Estou exausta, preciso de um banho quente e da minha cama, me sinto do tamanho de um dinossauro, enorme, e ...

... Que barulho é esse?

A - Barulho? Não estou ouvindo nada deve ser sua imaginação pregando peças Marguerite.

A herdeira parou de imediato, ainda nos primeiros degraus da escada que dava aos quartos, encarando a mulher que a seguia, nunca a chamava pelo nome, a menos que estivesse escondendo alguma coisa ou brava com uma de suas atitudes “irresponsáveis” e certamente não era a segunda opção

M - Anne, me chamou pelo nome, o que está escondendo?

... Não sabe fazer isso, o que está acontecendo aqui e aliás agora que percebi, Leopold não nos recepcionou, o que estão tramando?

A - Seu nome é tão lindo minha menina, não tem nenhum mal usá-lo as vezes, quer dizer, não sei o porquê acha que estou escondendo algo, não tenho nada para esconder e ... E Leopold ele pode ter ido buscar Lord Roxton, não pode?! Está vendo, no final essa reunião não vai demorar tanto quanto imaginou.

Marguerite não engoliu a história, pois a mesma mais parecia uma desculpa esfarrapada, não que não confiasse em Anne, mas sabia quando estava tramando alguma coisa e escondendo também, claro que ideia de John, era sempre ele o responsável por esse tipo de situação, mas antes que fosse capaz de levantar algum questionamento, seus pensamentos foram interrompidos por mais um estrondo que tinha como origem o quarto de frente ao seu próprio, o barulho ecoou por toda a casa, não demorou para as duas chegarem até o local.

J - Mas que droga, achei que montar um berço era mais simples do que isso.

C - Nós achamos meu amigo, todos nós.

... Mas me arrisco a dizer que o nosso erro é devido a posição, veja os parafusos não estão devidamente alinhados e você sabe, uma vez tortos podem ter provocado a queda do berço, além disto alguns deles não parecem encaixados ou seguros o suficientes.

... Leopold faça o favor sim, pegue aquela peça ali e encaixe na outra, vamos tentar mais uma vez.

N - Vocês dois já pensaram que ter contatado um profissional na área seria mais fácil?

... Admitam, é segunda vez, não está dando certo.

C - Ora besteira Malone, podemos muito bem cuidar dessa situação.

... Só nos resta finalizar a montagem do berço agora, veja tudo o que já fizemos, onde está seu espirito de aventureiro?

M - Sabe George, eu não sabia que montar um berço fosse capaz de tornar uma aventura tão letal. Sendo assim, imagino que poderiam ter convidado os raptores ou quem sabe Tribuno para ajudar.

            Era Marguerite, encostada na porta do quarto para espanto dos rapazes, observando toda a cena e obrigando-se a segurar o riso, em segredo reuniram-se para mobiliar o quarto do bebê, provavelmente ideia do caçador, mas que os demais tomaram como sua, inclusive Ned que apesar de suas divergências passadas, se mostrava cada dia mais presente.

J - Marguerite, eu não esperava vê-la tão cedo, quer dizer não tinha que comprar roupas novas?

M - Não, eu ainda não “perdi” as que comprei alguns dias atrás e você Lord Roxton era essa a sua reunião tão imprescindível?

John apenas deu com os ombros, podia ver que a herdeira não estava brava de verdade, surpresa talvez, mas não brava.

J - Gostou?

M - Se eu gostei? Vamos ver.

... Você mentiu para mim, fez com meus empregados mentissem também e provavelmente colocou Challenger e Malone em algum tipo de encrenca com Jessie e Verônica, já que não as vejo por aqui e, tudo isso para mobiliar o quarto do nosso filho, estou certa?

J - Não poderia ter colocado melhor, está certíssima vossa alteza.

A herdeira ofereceu a ele um de seus sorrisos, ainda olhando para cada um dos exploradores, para o quarto bem reformulado e para o berço meio montado e meio caído em um dos cantos, abaixou-se, pegou algo no chão e aproximou-se de John.

M - Eu não gostei Lord Roxton, eu adorei.

... Mas talvez, seria mais fácil se lessem o manual ou serei obrigada a concordar com Ned e dizer que devem contatar um profissional, agora preciso de uma banho e dormir um pouco, vejo vocês no jantar, todos vocês.

Já saindo do quarto, mas não antes de dar um abraço em Malone ou Challenger, a mulher não pode deixar de comentar algo que fez questão de deixar solto no ar, como um de seus segredos.

M - Vocês sabem que garotos tem seus segredos, mas garotas também não deixam de ter os seus próprios não é mesmo?

Era a vez deles se surpreenderem, como se pegos desprevenidos, não souberam o que responder, apenas acenaram com a cabeça, nem mesmo Anne compreendeu muito bem o que a herdeira insinuou, os rapazes apenas trocaram olhares confusos entre si, para o manual na mão do caçador e para uma Marguerite que fechava a porta de seu quarto atrás de si.

N - Bem pelo menos agora com o manual é mais fácil de montarmos esse berço e logo descobrimos que segredo é esse que a Marguerite comentou.

C - Assim, sem dúvida alguma, quanto antes o fizermos, mais cedo também buscamos Jessie e Verônica, o que acha John?

J - Eu? Ora eu acho uma boa ideia, até porque o nosso elemento surpresa parece que foi por água a baixo.

N - Não querendo ser estraga prazer, mas o SEU elemento surpresa acabou de sair pela porta, porque não sei se percebeu, mas Marguerite surpreendeu muito mais a gente, do que nós a ela.

Os amigos se olharam por um instante, inclusive Leopold, e caíram na risada, sim a herdeira os havia surpreendido e também os deixado curiosos, John não podia negar, mesmo depois de algum tempo Marguerite não perdia o jeito em como surpreende-lo ou jogar com ele, ainda o deixando muitas vezes sem reação, algo lhe dizia que seria assim por toda a sua vida, a mulher era uma jogadora.

Durante o jantar, as conversas eram as mais diversas, as risadas ecoavam pela casa, comemoravam entre eles o nascimento do filho de Assaí, Verônica e Malone haviam retornado naquela manhã com a feliz notícia, ele seria o sucessor do chefe de Zanga, a aldeia toda estava em festa.

Inclusive o casal pretendia voltar a visitá-los em breve e acompanhados de Challenger e Jessie, o cientista não poderia estar mais empolgado, sua amada esposa finalmente cedeu, lhe faria companhia e conheceria o lugar, seria uma viagem curta, não mais do que dois dias. Afinal de certa forma, tudo estava em paz, e John e Marguerite também estariam longe de Londres, enquanto estivessem fora, o casal viajaria para o sul da França.

Jessie - Mas vocês garotos, não acredito ainda que armaram todo esse plano, enganaram Marguerite, tudo por causa de um berço.

M - Corrigindo Jessie, pensaram que haviam me enganado, mas ninguém engana Marguerite Krux.

Uma voz rouca vinda da cozinha no mesmo instante se fez presente após o comentário da herdeira.

R - Roxton, Marguerite Roxton você quer dizer não é mesmo minha querida?!

Marguerite revirou os olhos, fingindo desdém, brincando com o caçador que tinha em mãos a bandeja com o jantar, depositando sob a mesa, assim como Verônica ao lado, que ria da expressão do casal.

M - Voltando Jessie, não diria que me enganaram, não Lady Marguerite Roxton.

... Mas sim, tudo isso por conta de um berço, cortinas, pinturas, brinquedos, guarda roupa e tapetes. Começo a pensar que dá próxima vez que for mobiliar um dos meus quartos, já sei quem vou contatar

Jessie - Ora é mesmo? Eles quem tiveram todo esse trabalho?!

... Infelizmente, eu e Verônica não tivemos a oportunidade de ver isso. Eu nem poderia imaginar ou sabia que George tinha tanto talento para mobília, ainda mais de crianças.

... Estou adorando conhecer esses seus talentos desconhecidos meu querido, podem ser úteis, muito úteis.

Challenger ficou rubro com o comentário da mulher, naquele momento queria se esconder de tamanha vergonha, mas não lhes restava muita opção, acabou por virar o restante de vinho no copo, enquanto os demais se divertiam da cena, em especial Marguerite que não perderia a brecha de provocá-lo.

M - Mas é claro que possui esse talento Jessie, acredito que esse é muitos outros que ainda desconhece, não é mesmo Challenger?

C - Sabe minha cara eu fico lisonjeado por seu comentário, mas devo dizer que não é nada demais, o quarto mesmo a maior parte quem fez foi Ned e o John, não é mesmo rapazes?

O homem ruivo sabia que Marguerite brincava com sua situação, Jessie o havia encurralado, deixando-o sem palavras a princípio. Aliás não lhe passou despercebido que nesse curto período de tempo as mulheres também ficaram próximas, sua esposa parecia ter adotado ambas, tanto a herdeira, como Verônica, que cada uma a seu modo a retribuía e a considerava como parte da família.

J - Sim, mas você também ajudou Challenger, sabe devo concordar com a minha querida Marguerite.

... Jessie seu marido possui muitos talentos ainda desconhecidos, talvez devesse testa-lo, fazê-lo de cobaia aqui ou ali.

Ned, Verônica e Marguerite explodiam em risos, enquanto o próprio cientista permanecia boquiaberto, até John o jogou aos leões, ou melhor a leoa, Jessie o encarava aguardando uma resposta e mesmo o caçador perdia seu autocontrole e gargalhava das suas expressões.

C - Mas o que isso tudo, um complô devo dizer.

... John meu amigo devo alertá-lo que a sua convivência com essa bela senhorita ao seu lado pode ser prejudicial à sua saúde emocional e psicológica, não me recordo de comentários desse gênero vindo de você anteriormente.

J - O que posso dizer?!

... O casamento muda o homem, por falar em casamento, Ned você é uma prova viva disso, não sei se já comentei, mas há um tempo atrás ficou mais atrevido vamos dizer assim. No entanto hoje me pareceu um tanto quieto, quieto até demais, espero que você não tenha nada a ver com isso Verônica, como colocá-lo para dormir no sofá, por exemplo.

O casal de cabelos claros sorria para os amigos, principalmente depois de todos os comentários e brincadeiras entre eles, na última viagem ao platô a nova vida que Luna se referiu era aquela que crescia dentro de si, somente Verônica e Marguerite tinha conhecimento do fato, porém a morena guardou o segredo a sete chaves, agora diante da expressão da garota da selva, podia ver que a suspeita concretizava.

V - Não Roxton, não coloquei Malone para dormir no sofá hoje e não pretendo um dia fazer. Mas talvez tenhamos uma surpresa para vocês todos ou quase todos, não é mesmo Marguerite?

A herdeira encontrou os olhos de Verônica, podia entender o que ela queria dizer, mesmo que sem palavras, sem nada pronunciar, podia interpretar a garota, séria agora diferente de alguns segundos atrás, não acreditava no que estava prestes a ouvir, sabia que seria algo previsível, que mais cedo ou mais tarde aconteceria, assim como tinha certeza que seria mais uma alegria que estava por vir.

J - E agora vocês duas vão ficar assim de segredinhos com todos nós, afinal também queremos saber o que está acontecendo aqui.

Marguerite sentava ao lado do caçador, o encarou de imediato, tinha um sorriso escondido nos lábios e um ar de mistério com uma pitada de sedução, que não passou despercebido por John.

M - Ora, ora, Lord John Roxton impaciente.

...Não é você quem diz que paciência é uma virtude?

J - Digo, principalmente quando a impaciente é você Marguerite, mas existem exceções minha querida e essa é uma. Verônica o que dizia?

A herdeira apenas balançou a cabeça e voltou também sua atenção para a Verônica e Malone, mais tarde cuidaria de Roxton pensou, agora tinha assuntos mais importantes e o caçador tinha lá suas vantagens.

V - Bem, o que eu dizia e que inclusive Luna já tinha nos alertado, eu e Marguerite, mas não falamos antes porque nada era certo, até essa semana claro.

... É que eu e Ned seremos pais, estou grávida.

Marguerite foi a primeira que se levantou e abraçou Verônica, nunca imaginou que seria capaz de um dia amar tanto a garota como naquele momento, mas ela foi a irmã que a vida lhe ofereceu, ligada à sua alma. John também apertou Malone, seguidos pelos comprimentos de Challenger e Jessie, que ainda pareciam atordoados com a notícia inesperada.

M - Está vendo Malone, todo esse tempo ao nosso lado, nesses últimos meses, servirá como um treinamento para você. Principalmente como montar um berço, depois de hoje, fará sozinho o próximo.

O jornalista a olhou, com um sorriso de canto a canto.

Ned - Hahaha tenho que admitir Marguerite, você venceu hoje, mas sozinho não, farei com o manual e quem sabe você supervisionando, como faz com as minhas notas.

M - Para o seu próprio bem, começo a pensar que seria o mais seguro.

Depois das comemorações e discussões costumeiras, os casais se despediram com a palavra de que voltariam a se encontrar daqui alguns dias, o aniversário de Verônica se aproximava e a herdeira havia planejado uma surpresa para a garota, junto dos demais exploradores, só faltava acertar os últimos detalhes.

 

—--//---

 

John tinha acabado de se deitar, sentiu o seu corpo relaxar e pensou que do modo como estava cansado poderia dormir de imediato, Marguerite não dormiu na noite passada, por conta do bebê, e se ela não conseguiria dormir, ele também não o faria, bem verdade não podia reclamar, duas das vezes que ela o despertou durante a madrugada, resultou em suas brincadeiras particulares.

Contudo o dia foi igualmente agitado, ele não parou um segundo desde cedo, mobiliar o quarto do bebê havia sido mais difícil do que imaginava, sem falar na sua descrição fingida encenada para enganar Marguerite, ou seja, a tarefa mais difícil.

 

M - John, está dormindo?

J - Hum ... Não Marguerite, apenas descansando e você já não deveria estar deitada também?

... Aliás o que pensa que está fazendo quase de baixo da cama?

M - Eu não o encontro John, já procurei por todo o quarto enquanto se banhava, mas nada.

Sua voz estava aflita e apreensiva, preocupada e a herdeira revirava o quarto todo.

J - O Sexta-Feira é isso?

M - Sim.

Marguerite habituou-se a dormir todas as noites junto ao gato, ele parecia que a acalmava quando ninguém mais era capaz de fazer, só quando a mulher adormecia que ele saltava para a sua “caminha” estofada do outro lado do cômodo, durante o dia a seguia como escuteiro fiel, onde ela estivesse, o Sexta Feira estaria, e quando não recebia a atenção que desejava, ele deitava-se sobre suas roupas, mordia as canetas e saia correndo, escondendo-as,  arranhava os livros ou ainda, teve uma ocasião que havia levado uma bronca por conta de viver molhado, John podia jurar que o animal fez de proposito, derrubou todo o café recém feito, logo pela manhã.

J - Ele pode estar escondido na suíte.

M - Não John, estou vindo de lá e já olhei por todos os cantos, nem sinal dele.

J - Se lembra quando o viu pela última vez?

M - Antes do jantar eu acho, dormi um pouco durante a tarde e ele ficou ao meu lado, o deixei aqui no quarto quando desci para encontrar você e os outros.

J - Ele pode estar dando um passeio, já que dormiu a tarde, está com toda a sua vitalidade recarregada.

M - Besteira John, ele sempre nos acompanha na hora de dormir, eu ou você.

... Algo aconteceu.

John viu a preocupação em seus olhos, a sentiu tensa e nervosa, conhecia seus traços.

J - Está tudo bem Marguerite, nós vamos encontrá-lo.

... Porque você não olha os jardins, uma vez me falou que em Avebury era o lugar favorito dele, enquanto isso, procuro aqui por dentro, assim também evitará fazer esforços físicos.

... Quem encontrá-lo primeiro chama o outro.

M - Está bem.

 

Minutos depois Marguerite vasculhava os jardins, já tinha averiguado os mais próximos da casa e não encontrou nenhum sinal do Sexta Feira, a noite estava gelada, mas ela não desistiria de encontrá-lo, até porque uma vez a casa fechada, ninguém mais entrava ou saía até o dia seguinte e deixa-lo para o lado de fora, seria o mesmo que abandoná-lo a sorte.

Alguns passos mais distantes, visualizou um relevo, como uma pequena sombra que se projetava através da luminosidade da casa e da “lanterna” que carregava consigo, a herdeira ergueu as vestes de dormir, o casaco longo que usava e correu em sua direção, seu coração acelerava, finalmente o havia encontrado, nada não passou de um susto, assim pensava.

M - ROXTOOOOOOOOON!!! Me ajude, Roxtoooon!!!!!

 

O grito foi escutado por todos da casa, John naquele instante debruçava-se na janela do quarto do bebê, pendurada ao telhado encontrou a coleira do animal, que parecia ter sido arrebentada, se perguntava como isso era possível, intrigado, quando a ouviu, o desespero tomou conta de seus sentidos, correu para dentro da casa, seguido para os jardins.

Marguerite tinha os cabelos caídos, um tanto desarrumados, de joelhos, as vestes claras sujas de terra, chorava descontroladamente, como poucas vezes presenciou, segurava algo em seus braços, que só pode ter noção do que se tratava na medida que se aproximava.

J - Marguerite, eu estou aqui, estou com você.

... O que ...

Sua voz sumia, embargado pela emoção, mesmo ele sentiu-se perturbado com aquela visão, Marguerite envolvia em seus braços o Sexta Feira, o animal aparentava não possuir mais nenhum indicio de vida e como se não bastasse, quando abaixou-se, pode constatar que havia lesões por todo o seu corpo.

Desfalecido, imóvel, John não pode deixar de analisá-lo, percebeu que o focinho tinha sido realinhado para dentro do crânio e a boca continuava a sangrar, também faltavam alguns dentes, como se atingido por um objeto semelhante a um taco de madeira, mas golpeado com força e como se fosse o golpe final, já que gatos uma vez nocauteados nessa região a morte é instantânea, o que não se aplicava ao Sexta.

Além disto, quando o segurou firmemente em suas mãos sentiu como se todos os seus ossos internos da região torácica estivessem fraturados, nada estava no seu devido lugar, e por último quando verificou as patas um tanto desconexas ao corpo, constatou as insígnias de Shangai Xan, uma em cada pata traseira, queimadas a ferro quente.

Mais cruéis do que isso seria impossível, tudo indicava que o gato foi sacrificado enquanto vivo, provavelmente amarrado e torturado, como um sinal de aviso e alerta de que estavam sobre os olhos da máfia chinesa e pior, que a morte do Sexta Feira era apenas o começo.

 

 


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