O Sexta Feira escrita por Miss Krux


Capítulo 23
Capítulo 23 - Chapéu




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Entre as ruas londrinas, cobertas de neve, Jessie caminhava em passos rápidos, atenta a qualquer movimento que julgasse suspeito e as pessoas ao seu redor, dado o horário a cidade começava a ganhar vida, portanto, as ruas ainda estavam relativamente vazias o que a deixava mais apreensiva, segui rumo ao coração do Soho, ao Algerian Coffee Stores, local que tinha agendado a sua reunião de negócios.

Jessie - Bom dia, vejo que chegou mais cedo do que o esperado.

L.R - Bom dia Jes.

... Você me conhece, não gosto de perder tempo.

... Vamos, é melhor conversarmos lá dentro, assim não corremos riscos de intromissões indesejadas.

As duas mulheres acomodaram-se em uma das mesas mais a fundo do local, que fosse mais escondida, não permitindo o reconhecimento de ambas tão facilmente, mas que ao mesmo tempo permitia a visão da porta de entrada.

L.R - Então, como ela está?

Jessie - Eu achei que perguntaria primeiro de John, não de Marguerite.

L.R - Eu conheço o filho que tenho, pode estar desesperado e perdendo a cabeça, mas é apenas isso, não foi ele o atingido.

Jessie - Não Liz, não foi ele.

... Marguerite aparentemente é tão forte como os pais, ela possui muita vontade de viver, está se recuperando ainda, mas ao menos o pior já passou.

L.R - Ela é tão parecida como a nossa Eve você quer dizer?!

Jessie - Você está sendo injusta Liz, culpando-o de tudo o que aconteceu.

... Eve se casou com Archie porque quis, porque o amava, mesmo conhecendo todos os riscos e segredos que a família dele carregava, ela quem escolheu com quem se casaria, ela quem fez seu destino, diferente de nós.

L.R - Ela sempre foi a frente do seu tempo.

... No entanto, a história está se repetindo Jess, e pior o meu filho está envolvido e o seu marido também, nós duas sabemos o que aconteceu há 30 anos atrás quando Shangai Xan esteve em Londres.

Jessie - Você acha que ele já está aqui?

 L.R - Seus discípulos temos certeza que já estão nos observando, Liu avisou que isso poderia acontecer.

... Quanto a Xan, imaginamos que esteja a caminho, ele irá aguardar o momento certo para agir, mesmo que Marguerite devolva o medalhão, o que duvido que ela fará, com aquele gênio dela. Sabemos que ele tentará tirar o bem mais precioso deles. Temos que estar preparadas para quando isso acontecer, custe o que custar.

Jessie - E nós estaremos, pela Eve.

L.R - E pela Marguerite.

... Agora que sabemos toda a verdade sobre ela, penso que John não poderia ter escolhido melhor.

 

Jessie - Então tudo não passou de uma encenação?

L.R - A maior parte sim, eu tive a oportunidade de estudar teatro na juventude, sabia que seria útil para alguma coisa.

... Embora houve momentos que eu gostaria de ter puxado a orelha dela, principalmente quando a escutava me chamando de “Lady Limão de Gaveta”.

... O que me manteve concentrada é que pelo visto John a ama de fato, está perdidamente apaixonado por ela.

... Aliás deveria dizer que isso é um mal da família Roxton?

Jessie - Hahahaha ... Senão fosse John, seria o William, parece que você está fadada a tê-la como nora. Seus dois filhos se apaixonaram pela mesma mulher, filha da nossa melhor amiga na juventude.

L.R - Coincidência talvez?

Jessie - Não sei.

... Depois de tantos anos com George, ele diria que não existem coincidências e tentaria explicar cada um desses acontecimentos por meio de seus tubos de laboratório, portanto, não sei mais no que acreditar.

... Apenas que estou feliz que tenhamos nos aproximado novamente, com a ausência dos nossos familiares e mais ainda que finalmente temos Marguerite por perto.

L.R - Sim, mas não vá estragar o disfarce com todo esse seu carinho, ninguém pode desconfiar, não agora.

... Você deverá coletar informações com Challenger, e também jogar a isca para ele, sei que a ideia de omissão, não te agrada, mas terá que fazer.

... Enquanto isso estarei observando tudo de longe, John irá assumir os negócios da família, e ela estará ao seu lado, mas Bryan também estará perto, irá me fornecer tudo o que preciso saber, assim como o detetive Hugo e Liu, é o tempo que precisamos para sabermos o que fazer.

Jessie - Perfeito.

... Devo dizer até mais então Liz ou Lady Elizabeth Roxton?

L.R - Hahahaha Liz por favor, essas regras me cansam.

... Até mais Jess, Bryan o espera.

As duas mulheres se cumprimentaram com sorrisos nos rostos e uma felicidade sem tamanho em seus corações, tudo corria conforme planejaram, desde o momento que Marguerite retornou, tudo estava caminhando como havia sido devidamente calculado. A Lady sentou-se novamente, pedindo mais um capuccino forte, enquanto observava Jessie sumindo pelas ruas de Londres.

 

—--//---

 

Doutor Edward examinava e verificava os sinais vitais de Marguerite, bem como acompanhava a cicatrização da lesão causada pela lâmina, a recuperação em si da herdeira era surpreendente, melhor do que imaginava, além disto ela também parecia reagir bem com o procedimento realizado.

Enquanto a equipe médica conversava e a orientava a herdeira sobre os motivos causadores da sua internação, John se recusava a sair do seu lado, permanecendo, portanto, no quarto, junto de todos os presentes, tinha toda sua atenção voltada para o diálogo e também para as feições de Marguerite, que alguns momentos expressou saber de algo mais do ele próprio.

Dr. E - Bem Senhorita Krux diante da sua recuperação, fico feliz em informar que, se o seu sistema imunológico continuar a reagir tão bem como tem feito, bastará o período de aceitação da transfusão e logo mais terá alta.

... Obviamente que irei agendar novas consultas e exames, devo ressaltar que é de extrema importância que uma mulher em seu estado realize todos os devidos acompanhamentos, isto para que nenhuma eventualidade ocorra no momento do parto, nada que possa colocar em questão a vida da senhorita e da criança. ... Afinal já tivemos o suficiente de sustos durante a sua gestão.

M - Nem me fale... Ainda não acredito em tudo o que me contou.

Dr.E - Acho que nem eu mesmo acredito, o sangue da senhorita Layton ter sido compatível ao seu, é um verdadeiro milagre. Eu quase perdi as esperanças.

... Bem, se me derem licença tenho alguns pacientes ainda para visitar, a senhorita espero que descanse, quando mais fizer, mais rápido estará totalmente recuperada. Deixarei mais alguns medicamentos e vitaminas prescritas, que irão ajudar também.

... E Lord Roxton, procure relaxar um pouco, odiaria ter mais um leito hospitalar para visitar.

J - Esteja certo disso Doutor, eu irei relaxar um pouco mais, sabendo que tenho Marguerite ao meu lado, acredito que eu possa fazer.

O médico estendeu a mão, cumprimentando John, acenou para Marguerite e logo se retirou do quarto. Agora o caçador a tinha toda para si, poderia finalmente desfrutar da companhia da herdeira, sem mais ninguém para atrapalhar e também esclarecer as dúvidas que surgiram durante toda a conversa.

 

Marguerite permanecia deitada na cama, mas de modo inclinado, a postura mais elevada, observava o caçador em pé, arrumando a bandeja de café da manhã, não havia lhe agradado o quanto ele ficou calado, certamente especulava os seus próprios modos, a cada dia o surpreendia mais, John lhe enxergava além das palavras.

M - Então ...

J - Então o que?

M - Ora, vamos John, eu sei que quer perguntar alguma coisa, você sempre tem uma pergunta para me fazer, e nada nunca o impediu de fazer.

Os dois se olhavam carinhosamente, John depositava o suporte sobre a cama, sentou-se enquanto entregava a Marguerite uma vitamina, que olhava a contragosto, almejando o seu café, que há tanto não saboreava o gosto da bebida. Nunca imaginou admitir isso, mas com os anos passaram a se conhecer tão bem, que às vezes pareciam ser a mesma pessoa, ele reconhecia qualquer traço ou expressão sua, por menor que fosse, e ela por sua vez sabia quando ele estava observando-o, tentando identificar o que quer fosse que ela sentiria, eram os seus jogos particulares.

J - Marguerite, eu sei dos seus sentimentos, das suas dores, felicidades e também quando tenta omitir algo, sua autopreservação.

... O que te preocupa?

Marguerite respirou fundo, tocou no rosto do caçador, queria envolver-se em seus braços, nem que fosse apenas para descansarem, repousar sobre o seu peito.

M - John eu conheço um pouco sobre a toxina que foi usada, esse tipo envenenamento não é retirado do organismo dessa forma, mesmo com o antidoto.

J - O que está sugerindo?

M - Que ainda posso estar infectada, e o bebê também.

J - Marguerite eu não vou deixar que nada aconteça a vocês, Challenger também pode ajudar.

M - Não ele não pode, o que poderia ser feito, vocês fizeram.

... E nem você pode também, teremos que esperar ele nascer, a menos que...

John a viu baixar os olhos, como se impedindo o choro, acariciava o ventre cuidadosamente, pensava que do modo como ela agia, o toque, o olhar e até sua respiração, quase podia até vê-la com a própria criança em seu colo, tinha amor e afeto em seus gestos, Marguerite despertava novos sentimentos dentro si.

Ele levou a bandeja para uma pequena mesa, retornou ao “seu posto” como sempre, sua mão encontrava a da herdeira, sendo permitindo sentir os movimentos da criança também.

J - Vai ficar tudo bem, nós ficaremos bem.

M - Você sempre diz isso.

J - E eu sempre cumpro.

 

            Tinha medo em sua voz e amor em seus olhos.

M - Eu não perder ele John, não quero.

J - E você não vai, nós não vamos.

... É claro que quando ele crescer corremos riscos dele se tornar um ladrão de joias procurado por todos os continentes ou não sei, um agente triplo.

M - Um ladrão ou um agente? John...

... Ele será seu filho também caso já tenha se esquecido, ou seja, mais um caçador na minha vida.

Ele conseguiu faze-la rir, estava de volta, retribuindo os seus jogos, desprovida da preocupação de poucos instantes atrás.

J - Corrigindo minha Marguerite, mais um grande caçador mundialmente famoso na sua vida.

M - Ah é mesmo?

J - É claro Marguerite ou você acha que será diferente?

M - Acho que se isso acontecer, eu pelo menos não terei que dividir minhas joias com ninguém, ao contrário de você e seus rifles de caça e seu amado chapéu.

J - O meu chapéu, o que tem ele?

O caçador fingia espantado, sua expressão de surpresa e sua voz rouca, um tom mais elevado, fez com a herdeira caísse nos risos, deleitando-se de um John fingido, mas que lá no fundo possui sentimentos especiais pelo objeto.


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