O Sexta Feira escrita por Miss Krux


Capítulo 22
Capítulo 22 - Precisamos parar de nós encontrarmos assim




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Os primeiros raios de sol passavam pela janela e iluminavam o quarto, podia senti-los tocando sua pele, aos poucos aquecendo o seu corpo e espantando toda a aquela sensação de frio, era estranho, não se lembrava de quando se deitou, e “que lugar era aquele”, suas memórias pareciam confusas, como se faltasse algo, sentia uma dor de cabeça aguda, tentou levar uma de suas mãos para massagear o local, mas então percebeu que havia “algo” a segurando.

Atentamente colocou reparo ao seu redor, notou alguns aparelhos de medição de batimentos cardíacos e pressão arterial, também havia um suporte com bolsas de medicação, as paredes todas variando em tons pastéis, era um hospital, “é claro, algo ou melhor alguém a atingiu enquanto caminhava com Verônica”, lembrou-se da dor, da lâmina gelada cortando a sua pele e de seu sangue escorrendo por entre suas roupas, “mas o que teria acontecido depois, não julgava que teria sido tão grave”.

Marguerite sentiu certa pressão novamente em sua mão, e reconheceu de quem era aquele aperto, John dormia desajeitado em uma poltrona, um tanto torto e mal coberto, tinha uma aparência de cansado, e deveria estar mesmo, ela havia se mexido pelo menos duas vezes e ele não acordou como de costume, sempre que percebia um ruído ou movimento acordava, por menor que fosse. Talvez se ela apertasse um pouco mais sua mão, não muito, mas entrelaçasse a dele.

J - O que? Marguerite?

John sentiu os movimentos, tinha certeza disso, mas quando acordou e a chamou, ela ainda dormia, imóvel sobre o leito, talvez tivesse apenas sonhado ou algum reflexo como Dr. Edward havia o alertado que poderia acontecer, ao menos sua pele ganhava um pouco de cor, fugindo daquela aparência fantasmagórica da noite passada.

Ainda era cedo, até o próximo plantão deveria ter um intervalo de pelo menos 30 minutos, sabia que não dormiria mais, no entanto, precisava descansar um pouco, ainda não havia previsão de quando Marguerite acordaria, mas era certo que estaria ao seu lado.

Encostou-se novamente e espreguiçou-se um pouco, ajeitando-se na poltrona, seus músculos estavam tensos e não se lembrava de sentir tantas dores nas costas desde que havia dormido em uma árvore, fugindo de raptores, lembrando-se de momentos que viveu no platô, lhe ocorreu que gostaria de ter seu chapéu por perto, assim o abaixaria um pouco sobre a sua visão como de costume, mas já que não era possível apenas às fechou, permitindo-se repousar por mais alguns minutos.

Tudo silenciou novamente, ela não dormia mais de fato, viu cada movimento do caçador...

M - Precisamos parar de nós encontrarmos assim Lord Roxton.

J - Marguerite, você ... eu ... Quero dizer ... Eu pensei que a perderia, de novo.

M - Vaso ruim não quebra, lembra?

J - Não estou tanto certo disso.

M - O que quer dizer, foi tão grave assim?

J - Mais do que você pode imaginar, eu senti tanto medo, a vi perdendo a vida diante dos meus olhos, sem que eu pudesse fazer nada para impedir, sem que pudesse fazer alguma coisa. Eu... Ahhh Marguerite...

Ele manteve-se ao seu lado, sentado na beirada da cama, com suas mãos levemente entrelaçadas, a voz embargada, tomada pela emoção, quase não era capaz de pronunciar as palavras, como se um algo como um nó na garganta o detinha, algumas lágrimas escapavam, mas ainda assim os seus olhos não desviavam dos dela, podia jurar que havia tanto medo e desespero como nunca viu antes, nem mesmo em todos esses anos no platô, John tremia, ela não o tinha visto tremer jamais, não dessa forma, bem verdade, o seu comportamento revelava muito mais do que ele podia expressar.

Marguerite se sentia relativamente bem, senão fosse pela dor de cabeça e o corte causado pela lâmina que a incomodavam, nada mais tinha em mente, não a ponto de assusta-lo tanto, até que algo lhe ocorreu, “a criança, será que ela havia abortado, será que ... isso poderia explicar as reações de John ... Não era possível, ela não sabia o que significa amar uma vida que crescia dentro de si, até sentir o ventre crescer e a criança mexer, não queria perde-lo, não agora”.

M - John, a criança, o que aconteceu com o nosso filho?

 

—--//---

 

Assim que o procedimento de transfusão foi realizado, Marguerite não apresentou nenhum indício de rejeição, apenas permaneceu inconsciente, o Dr. Edward foi que deu a notícia a Roxton, Challenger, Verônica e James, que aguardaram na sala de espera até que tudo se desse por finalizado.

O médico havia sido muito atencioso com cada um deles, explicando detalhadamente a ação tomada, bem como os alertando dos riscos, era evidente que as primeiras horas seriam cruciais, tendo em vista o risco eminente da rejeição imediata, que não ocorreu, permitindo que o quadro clinico da herdeira fosse mais esperançoso.

Entretanto, ainda existia o prazo de observação e recuperação, era necessário e fundamental que Marguerite superasse as próximas 48 horas, feito isso, seria compreendido que ela e a criança encontravam-se fora de perigo de vida.

 

Com exceção do caçador que lhe foi autorizado que permanecesse nas dependências do centro clínico, como acompanhante de Marguerite, os demais seguiram para a mansão em Londres enquanto ainda era madrugada. Não foi surpresa que todos estivessem acordados e tentando manterem suas mentes ocupadas, nitidamente para afastarem todas aflições e angustias.

Uma vez “em casa”, cada um encontrou seu par, e reunidos puderam ouvir todas as explicações possíveis a serem narradas, somente após isto os exploradores e os demais presentes dispersaram-se, Anne e James se retiram, ela queria conversar com o seu marido a sós, sabia que dessa forma se tivesse acontecido algo mais grave do que foi relatado pelo cientista, ele contaria quando no quarto de dormir, Leopold não sentia sono, pelo contrário o pobre homem parecia mais como se tivesse acabado de receber uma dose de adrenalina, já imaginando que nas próximas horas ele quem visitaria o hospital, tratou de providenciar as roupas e objetos pessoais de Lord Roxton.

Verônica ainda se sentia muito confusa e apreensiva, de certo modo o seu ato e ver que Marguerite tinha alguma esperança a fez sentir melhor, mas não o suficiente para compartilhar dos próximos momentos com os amigos, ou com Malone, na verdade ela precisava descansar um pouco os seus pensamentos agitados, permitindo que o jornalista, Challenger e Jessie tivessem algum tempo para organizarem os próximos planos.

 

Ned - Então ela está fora de perigo Challenger?

C - Não é tão simples assim meu rapaz.

... Marguerite foi submetida a um procedimento de risco, veja, a partir do momento que recebeu as bolsas de sangue o organismo dela terá o prazo de 48 horas para aceitar ou recusar a transfusão, totalmente ou parcialmente, podendo inclusive ocorrer certas complicações.

Ned - Complicações? Quais complicações?

C - Como o Dr. Edward nos explicou, ela está grávida Malone e, isso pode interferir no processo de aceitação, existe a possibilidade de que o organismo entenda que é um vírus, como um intruso e como uma maneira de defesa cause efeitos colaterais, que podem variar, resultando em um estado febril, instabilidade no sistema circulatório ou nas piores hipóteses a perca da criança ou da própria Marguerite.

... Além disto, ainda temos a presença da toxina do veneno, que pode não sido expelida por completo, tendo em vista que o raticida utilizado pode permanecer incubado por meses, o que agrava a situação.

... Por isso, ela irá permanecer hospitalizada pelos próximos dias, precisará de cuidados específicos que fogem das minhas mãos, eu sou um homem da ciência, mas isso requer muito mais que meus conhecimentos.

... Acredito que o melhor agora é aguardar e é bom que estejamos preparados para qualquer eventualidade. Roxton obviamente duvido que conseguiremos convencê-lo a sair do seu lado e também não será permitido qualquer tipo de visitação, a única coisa que talvez seja viável é que um de nós, ao menos uma vez por dia vá até a recepção do hospital, assim teremos notícias de ambos e claro pensei em levarmos roupas para eles também, algo que os proteja e aqueça mais do frio.

 

Jessie - George, e quanto a recepção na Sociedade Zoologia, já pensou sobre?

... Será daqui alguns dias, e não acredito que sejam capazes de participar do evento em si, pelo menos não todos vocês e, imagino que se não comemorarem todos juntos, ninguém mais fará.

C - Na verdade não minha querida, o que me ocorreu por hora é a ideia de que seria conveniente um laboratório, talvez se formos até a nossa casa Jessie, gostaria de estudar mais sobre as possibilidades de Marguerite.

Jessie sorriu para o marido, enlaçou o braço dele junto ao próprio e o guiou até um cômodo proximo, ainda no mesmo andar inferior, Malone também tinha um pequeno sorriso estampado, escondido em meio de suas feições.

Jessie - Imaginamos que você não poderia ficar sem o teu laboratório, com a autorização do Sr. Leopold ele nos disponibilizou este quarto, que aparentemente estava vazio. Depois de limpo, eu e o Sr. Malone, usamos do medalhão que chamam de Oroboros e acredito que trouxemos quase todos os seus instrumentos.

C - Vocês organizaram isso tudo? Eu não acredito, Jessie estou surpreso com você e com você também Malone, não esperava algo assim.

Jessie - Digamos que quatro anos sozinha, entre acreditar que você estava vivo e não possuir nada que provasse algo nesse sentido, eu aprendi algumas coisas novas.

C - Assim, e bem vejo, diga-se de passagem, acho que em breve terei uma nova ciência para estudar.

Jessie - De fato, mas nada disso vai adiantar senão descasarmos, pelo menos vocês dois precisam recompor as energias imediatamente, estão com olheiras devo dizer.

C - Você permanece tão acordada como nós... Acho que seria adequado...

Jessie - Acho que seria adequado que descansem, como já disse, ao menos por algumas horas, o dia acabou de clarear, não fará mal dormirem um pouco.

... Eu não sou cientista George, portanto, a Sra. Krux pode precisar de seus conhecimentos, e também não domino a magia do Oroboros, é bom que esteja preparado a qualquer momento Sr. Malone e sua esposa nesse momento requer atenção. Ou seja, ambos para os seus quartos.

... Além disto, eu estou acordada porque tenho negócios a tratar agora pela manhã, que não imaginei que seriam tão úteis no momento, mas pelo visto estava errada.

Os homens trocaram olhares cúmplices, Challenger sentiu-se corar, timidez talvez, diante de Malone presente, não conhecia aquela Jessie, havia algo mais na mulher, algo que o instigava, de certo que desde sua partida muito havia mudado.

 

Minutos depois, cada um estava diante da porta dos quartos que lhe foram designados.

Ned - Challenger, posso fazer uma pergunta?

C - É claro Malone, qual a dúvida?

Ned - A respeito do que nos contou, até que ponto Roxton sabe a verdade?

C - Ele sabe o que é necessário saber, pelo menos por enquanto.

Ned - Mas não é tudo?

C - Não Malone, e tão pouco com as mesmas palavras que usei com vocês. Agora, vamos dormir um pouco, não gosto de admitir isso, mas minha querida esposa esta certa, eles precisarão de  nós, e não teremos nenhuma utilidade se estivermos exaustos.

 

 


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