O Sexta Feira escrita por Miss Krux


Capítulo 24
Capítulo 24 - Condições




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Após o telefonema de que Marguerite estaria sendo liberada nas próximas duas horas, Leopold e Jessie providenciaram algumas vestimentas mais adequadas para a herdeira, e não demorou tanto tempo para que o mordomo estivesse estacionando o automóvel em frente ao hospital.

Conforme orientado pelo Lord, buscou levar roupas de frio para o casal, vez que agora o frio tomava conta de toda a Inglaterra, também teve o cuidado conduzir o automóvel branco que Marguerite tanto gostava, vez questão de busca-los na entrada do centro clinico. 

L - Para casa Milord?

J - Sim Leopold, por favor.

A viagem até a Mansão Roxton foi calma, sem qualquer surpresa desagradável, o casal no banco de trás observavam a cidade, o quanto havia mudado, às roupas, os movimentos, os antigos e novos comércios, também não passou despercebido pelo caçador que a sede dos negócios da família havia mudado de localidade, sendo direcionada para um prédio maior, estabilizada no coração financeiro da cidade. 

Entre olhares, os dois comentavam uma coisa ou outra, riam de algo, a herdeira vez ou outra apontava algo para John e vice-versa, suas brincadeiras e jogos, seus momentos de esquecimento do mundo ao redor, o mordomo através do espelho dianteiro admirava com carinho a cumplicidade do casal. 

Em tempos passados teve a oportunidade de ver o patrão com outras mulheres, muitas delas por sinal, isso não era nenhuma novidade, mas agora tinha algo ali, que nunca esteve presente, o conhecia desde jovem e até então não identificou aquele brilho no olhar de John, toda aquela admiração e devoção, até o som da sua voz ou de seu sorriso soava como a própria felicidade retratada, Leopold conhecia os sinas, se aquilo não fosse amor, não saberia explicar o que mais era, ele mesmo tinha a que dar o seu último ar, se fosse necessário.  

L - Desculpe interromper, mas chegamos.

J - Obrigada Leopold, faça o favor de se juntar a nós, vamos todos tomarmos o café da manhã juntos.

L - Claro Senhor, obrigado.

John desceu do automóvel, seguido de Marguerite, caminhavam lado a lado, de braços dados, entrelaçados, passos lentos, era a primeira vez que a herdeira tinha a oportunidade de observar com maior atenção a Mansão, e durante o dia também.

A herdeira estudava as feições do homem ao seu lado, por alguns segundos percebeu o quão compenetrado em seus pensamentos ele estava, perdido dentro de si mesmo, um pequeno sinal, quase indecifrável para muitos, lhe dizia que senão retornaram para Avebury, era porque algo de errado teria acontecido e isso não era somente por conta seu ferimento, era a Lady. 

M - John você não me trouxe aqui para caminharmos apenas, até porque teremos muitos outros dias para isso e pelo que sei os outros estão nos aguardando. Portanto, o que está acontecendo, que você ainda não me contou? 

J - Minha mãe, acredito que não aceite que estejamos juntos.

M - E só agora você percebeu?

... Você tinha mesmo esperanças de que ela faria, de me aceitaria facilmente? E se aceitasse, como seria depois que descobrisse tudo a meu respeito?

... Eu sinto muito John, mas avisei que a minha vida de volta para casa seria complicada.

J - Avisou sim ... Vamos sente-se, acho que será melhor assim.

Ela o encarou de braços cruzados, especulando-o e não gostou daqueles olhos sempre serenos estarem tempestuosos, o semblante do caçador também escondia um pedido, mas não era só isso, podia ver em suas feições, havia muito mais do que ela imaginava.  

M - Eu não gosto quando você fala dessa forma Roxton.

J - Eu já percebi, você muda até o modo de tratamento, como me chama.

M - Hum ... Prossiga, ainda estou aguardando uma explicação.

J - Você está certa e errada também.

... Eu me iludi e alimentei esperanças de que minha mãe poderia aceitá-la, principalmente por conta da gravidez, um herdeiro poderia ajudar com isso, mas como vê, eu estava errado.

... No entanto, ela já descobriu Marguerite, ela sabe mais de você do que me permitiu saber nesses últimos anos.

M - Impossível, ela estava blefando e você acreditou.

John segurou suas mãos firme, levou uma aos cabelos de Marguerite, um de seus cachos escapou, concedeu a ela um sorriso torto, em partes carregava o medo, apreensão, tinha que contar para ela. 

J - Eu vi os registros, as fotos e os documentos Marguerite, todos a seu respeito, eu não sei como ou quando.

... Mas minha mãe contratou detetives particulares para nos encontrar e um deles achou algum rastro seu, depois disso por algum motivo que também desconheço, ela coletou todas as informações possíveis sobre você, ela sabe de tudo.

Marguerite o olhava incrédulo, além de sentir que novos questionamentos lhe surgiam a mente “Porque Lady Roxton iria querer saber tudo sobre ela? Porque esse interesse repentino? Ainda mais antes, que ninguém sabia sequer que estavam vivos. Que ótimo Marguerite, onde estaria se metendo agora”. 

M - Tudo mesmo?

J - Bom... Quase tudo, não vi nenhum documento a respeito da sua infância, ou sua certidão de nascimento, se o que quer saber. Mas isso não impede que ela tenha encontrado e escondido, ou que ainda vá buscar mais informações suas, eu não sei.

M - Hum... Eu não imaginei que teria encontrado, mas isso não importa.

O que mais?

J - Como assim o que mais?

M - John você não sabe mentir, pelo menos não pra mim.

... O que mais está me escondendo?

 

A pergunta ainda pendurou durante alguns instantes. 

J - Só acho que podemos conversar sobre isso mais tarde, logo os outros estarão a nosso encalço e não acredito que precisamos de mais problemas do que já temos.

M - Não é você que diz que estamos todos juntos, como uma grande e feliz família?! Não é esse o problema, está tentando ganhar tempo, se você não tinha a intenção de terminar essa conversa, não deveria ter começado.

... Vendo que estou correndo risco de vida, e que sua mãe sabe muito mais do que eu desejaria sobre o meu respeito, eu acho que tenho o direito de saber o que esta escondendo.

J - Porque tem que ser sempre assim?! Mas que droga Marguerite.

... Não é nada demais, é só que apesar de tudo, ela me entregou os documentos referentes aos negócios da família, para que os assuma e administre.

Agora a herdeira estava surpresa, esperava por muitas coisas, depois de tudo o que tinha acabado de escutar, menos isso. 

M - Ela fez o que?

J - Isso mesmo que acabou de ouvir, porque a surpresa?

M - Porque a sua mãe me parece uma jogadora, e uma jogadora só aposta em algo quando tem certeza do que faz.

... Ela te entregou os documentos sem nenhuma condição ou objeção?

J - Apenas que não voltássemos para Avebury. Mas porque isso agora?

M - John, você não acha suspeito ou contraditório a sua mãe entregar os negócios da sua família para você, quer dizer, ela pensa que sou uma golpista, que posso tirar tudo o que é seu e, ainda assim agiu dessa forma.

... Porque ela faria isso?

J - Eu não sei, talvez não acredite que ficaremos juntos de verdade.

M - Besteira, sua mãe é mais esperta do que isso.

... Ela sabe de algo mais que não te contou, ela não seria louca o bastante de apostar a fortuna da sua família dessa forma.

J - Marguerite o que está sugerindo?

... Minha mãe não é exatamente dessa maneira como está falando, uma jogadora.

M - Ou é assim que ela quer que você pense.

... Pelo o que sei, ela é uma mulher exigente, dedicada, sofisticada, muito bem estudada e informada, requisitada pela elite inglesa, e isso antes mesmo de se casar com o Lord Phillip Roxton, ela não é exatamente uma mulher de ficar dentro de casa aguardando o marido ou os filhos chegarem com a janta servida, sei bem que antes mesmo de tudo acontecer entre vocês, ela cuidava das finanças junto do seu pai, lado a lado.

... Eu também morei em Avebury lembra?! Acha que não ouvi boatos e histórias sobre a sua família. Mas isso não vêm ao caso.

... Estou sugerindo que além de Xan, tenhamos cuidados com qualquer negociação futura, principalmente você, Bryan estará no escritório e junto de algumas reuniões futuras, pois bem, ele é o pupilo da sua mãe, irá mantê-la informada sobre tudo. Talvez seja bom em ter cautela com quais dados e informações irá passar para o garoto. Ele é jovem, mas não é bobo.

Ele jamais pensaria em todas as hipóteses que Marguerite levantou, jamais imaginaria qualquer coisa nesse sentido, mas vendo desse modo, mais claro e nítido diante de si, sabia que precisava da herdeira ao seu lado, mas naquele momento algo lhe ocorreu, dadas as circunstâncias, a queria como esposa, como sempre desejou, mas como sua sócia nos negócios também, tinha que reconhecer, a mulher além de conhecer inúmeras línguas, enxergava as pessoas, os detalhes, as situações e dessa forma estariam juntos quase que em tempo integral, isso também seria útil, ajudaria a mantê-la mais segura de Xan, pelo menos até o perigo passar.  

J - Marguerite eu não quero Bryan ao meu lado, eu sei que ele é tanto da família como eu, mas posso enviá-lo para as viagens externas, fará bem ao rapaz.

... Além disto, em breve você se tornará a Lady Roxton, e não poderia confiar em mais ninguém senão em você para estar comigo, como esposa e sócia.

M - John, como posso me casar com você se nem mesmo sei quem eu sou, que dirá me tornar a sua sócia.

... E outra iremos brigar o tempo todo, sabemos muito bem como somos, é quase uma catástrofe. Como isso vai funcionar?

J - Da mesma forma que funcionava no platô.

... Quando assumiu o nome de Marguerite Krux, você tinha algum documento, algo que comprovasse o seu nome?

M - Documentos falsificados, todos eles, mas o que tem isso?

J - Assim que anunciarmos o nosso retorno, usamos estes documentos para nos casarmos, pelo menos burocraticamente falando, já que eu sei que não casaria grávida. E logo depois, a apresento como minha sócia.

M - Você deve ter perdido o juízo, nos casarmos com documentos falsos, ficou louco John?

J - E porque não Marguerite?

... Você já fez isso mais de uma vez, e outra, sabe muito bem que ninguém iria contra, principalmente como você diz, se tiver o incentivo certo.

... E eu vi os seus documentos antigos, registros, sei bem do que é capaz, não vão te reconhecer, nada vai te acontecer. Eu estarei do seu lado, não irei permitir que ninguém a machuque, por isso a quero como sócia também, eu sei tudo sobre você, tem que confiar em mim.

M - Eu confio em você, mas ...

... Se descobrirem sobre isso, você será no mínimo acusado de ser meu cúmplice, tem ideia do que pode acontecer?

J - Mas não vai acontecer, e qualquer coisa temos o Oroboros também, e os outros.

M - É mesmo, e se vierem atrás de nós, vamos para onde, voltar para aquele maldito platô? Esse é o seu plano genial?

J - Não Marguerite esse não é o meu plano genial, mas é o que nós dois temos no momento. E se quer saber, eu não aceito não como resposta.

 

Marguerite respirou fundo, deixou-se perder por alguns segundos, admirava a paisagem que os cercava, semblante sério, pensativa. Sabia que o caçador estava certo, odiava quando ele a pressionava dessa maneira, ou se dar por vencida, no entanto, mesmo ela tinha que admitir, não era o melhor plano, mas era o que tinham naquele momento, como uma garantia de que estariam todos juntos e um meio de ganhar tempo, seja para resolver suas pendências com Xan, seja para descobrir as reais intenções de Elizabeth Roxton. 

M - Bem ... Lord Roxton, como já deixou claro, não irá aceitar não como resposta.

... Portanto, o que espera que eu faça, senão me resta outra alternativa a não ser aceitar o seu pedido?!

J - Que diga que sim Milady.

 

John tinha um de seus sorrisos mais belos e triunfante também, nos seus olhos, um brilho sem igual, daqueles que faziam Marguerite se perder, aproximou-se dela vagarosamente, já que a mesma o retribuía com um sorriso de lado, escondido em seus lábios, mas quando a trouxe mais perto de si, sentiu uma mão sobre sua boca, o afastando. 

M - Eu posso dizer que sim, mas terá algumas condições.

J - Está bem, quais condições?

M - Podemos nos casar da forma que sugeriu.

... Mas quero que saiba que caso Xan não devolva a certidão de nascimento que me prometeu, porque eu duvido que ele fará, continuarei buscando por ela, eu preciso saber quem eu sou de verdade.

... Como sua esposa, acho que está certo sobre nos conhecermos melhor, como falou tantas vezes no platô, então aos poucos irei dividindo meus segredos com você, mas sem que me pressione. E você fará o mesmo.

... Como sua sócia, irá me contar tudo sobre os negócios e finanças da sua família, exatamente tudo e iremos trabalhar juntos para que cresçam e para descobrir quais são os motivos de fato da sua mãe agir assim.

... E como mãe, o meu filho, nosso filho, sempre estará conosco, nos acompanhará seja no escritório, seja em alguma viagem, um de nós sempre estará com ele.

J - Acho que todas elas podem ser providenciadas minha Lady Roxton, mas algum desejo?

M - Já que perguntou, café e o seu café.

J - Hahaha ... Os seus desejos são uma ordem Milady, uma ordem.

Mas não antes sem...

Entre sorrisos cúmplices, olhares trocados, ternamente os lábios se tocaram, não era um beijo aprofundado, mas sim uma troca de carícias entre o casal, como se estivesse apreciando vagarosamente o gosto um do outro, leve como os flocos de neve que começavam a cair sobre eles, não tinham muitas certezas do que o futuro lhe reservava, mas nada disso importava, estariam juntos, como se o destino os laçasse, e dispostos a lutar por isso. 

 

 


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