O centro clinico mais próximo da propriedade era o Hospital Ridgeway, que dentre suas especialidades desempenhava serviços clínicos de urgência e tratamentos para pessoas em estados críticos, o qual Roxton lembrava-se que Dr. Edward atendia no local desde muito jovem, tendo se tornado um dos supervisores da ala clínica quando mais velho, esperando ainda encontrá-lo por após anos, tinha consigo que era a sua melhor chance de salvar Marguerite.

A herdeira foi direcionada de imediato para a UTI do hospital, enquanto Challenger preenchia os formulários de atendimento e possível internação na recepção, já que diante da situação foi o único capaz de se manter mais calmo e racional para tanto. Uma vez que o caçador agitado e contrariado foi conduzido a aguardar na sala de espera, depois de ter sido seriamente ameaçado pela equipe de segurança e médica a se retirar do local senão mantivesse a calma e obedece a todos os procedimentos e regras necessárias, sendo uma delas a de não tentar invadir os leitos.

Minutos tornaram-se uma eternidade, até que o próprio Dr. Edward os encontrava, o médico parecia apreensivo, tinha um semblante carregado de preocupação e receio, tendo em vista a explosão de John, logo quando deu entrada no centro clinico.

J - Então Doutor como ela está? Como a criança está? Irão ficar bem?

Dr. E - Creio que as notícias não são boas senhores.

... A lesão em si não é grave, não atingiu nenhum órgão vital, nem qualquer veia comprometedora, no entanto, existem resíduos de envenenamento em sua pele, em tão pouco tempo não posso apontar com exatidão, mas diante da situação acredito que seja algum tipo de raticida, brodifacoum talvez, isso devido aos sintomas apresentados.

... É também a explicação mais plausível para as aparentes hemorragias internas, assim como a aceleração de perda de sangue e vitaminas vitais em seu organismo. Infelizmente esse tipo de veneno é facilmente absorvido em contato com a pele e pode pendurar no organismo durante meses, o que nos daria tempo o suficiente para salvar o infectado.

... Contudo, no caso da Senhorita Krux, os meses podem se tornar horas, como ela vive um estado interessante, todo o seu organismo é submetido a compartilhar as vitaminas com a criança, o que compromete gravemente a sua recuperação, já que o seu sistema imunológico de defesa não possui meios para combater os efeitos do veneno nem mesmo por si própria.

... Eu sinto muito Lord Roxton, irei permitir a sua entrada no leito para que se despeçam, ela ainda permanece inconsciente, mas pode acordar a qualquer, se acontecer, ao menos estará ao lado dela.

J - O QUE???

... EU NÃO QUERO ME DESPEDIR DE MARGUERITE, EU A QUERO COMIGO E VIVA!

... EU NÃO IREI PERMITIR ISSO, ESTÁ ME OUVINDO, MARGUERITE ...

John gritava alto e em bom tom, deixando toda a equipe de segurança em alerta novamente, assim como o próprio Dr.Edward que se viu obrigado a recuar alguns passos, chamando a atenção de todos próximos, olhos perplexos e curiosos os encaravam, enquanto Challenger, Verônica e James o seguravam o máximo que conseguiam, antes que o homem fizesse alguma besteira, o que não seria a primeira.

O caçador debatia-se entre os braços dos amigos, lágrimas não cessavam, proferia socos nas paredes, urrava de dor, mas não de uma dor física, eram seus sentimentos quebrados e despedaçados, ele jurou “daria seu último ar para Marguerite viver, sua vida em troca da vida da mulher, e agora não poderia fazer nada”, John jamais aceitaria, eles haviam sobrevivido a dinossauros, canibais e muito mais, não admitia perde-la assim, haviam sobrevivido a coisas piores, mas até então seria apenas os dois, “maldito seja, se ele não tivesse agido por seus impulsos, se ele tivesse se cuidado, ela não estaria grávida, nada disso estaria acontecendo, era culpa sua e agora perderia não só a mulher de sua vida”.

Perdidos em meio de desespero e culpa, de dor e angustia, recluso em um dos cantos da sala, os ânimos de certa forma mais bem controlados, pode ver Challenger caminhando mais adiante junto do médico.

J - Onde ele vai?

V - Parece que ele tem alguma ideia Roxton, mas não sei qual.

Desde a partida até este momento, foi a primeira vez que Verônica se pronunciou, mais quieta que o habitual, mantinha-se reclusa e distante, respondia apenas o que lhe fosse perguntado, e a todo momento ainda olhava para as suas próprias mãos, haviam sido higienizadas, limpas, mas as suas roupas sujas de sangue, eram como um lembrete de sua falha.

Dr.E - Meu caro senhor, o que sugere é uma medida utilizada em casos extremos, que ainda vem sendo estudada e desenvolvida pela medicina, que devido aos efeitos colaterais pode agravar a situação, tornar-se pior do que deixa-la morrer apenas com o envenenamento que a consome.

C - Veja Dr. Edward eu compreendo os riscos de uma transfusão mal sucedida, durante a guerra obtive conhecimento de muitos homens que morreram instantaneamente devido ao procedimento, mas a situação da Senhorita Krux também não nos dá nenhuma esperança, como o senhor mesmo disse.

... No entanto, em meio a estas mortes, existiam aqueles poucos que sobrevivam, eu mesmo há algum tempo fui submetido ao procedimento e como pode ver, aqui estou. Portanto, acredito que se existe uma possibilidade de salvá-la, ainda que remota, deveríamos tentar, tenho certeza que Lord Roxton também concordaria.

... Na pior das hipóteses iremos perde-la, mas isso também é inevitável e dentre as melhores possibilidades, bem ... como cientista acredito que com o corte devidamente cuidado, sem brechas para um novo rompimento e recebendo a quantia certa de sangue, as vitaminas de seu organismo ou mesmo o seu sistema de defesa possa se recuperar, o suficiente para ela reagir.

O médico com base em seus conhecimentos e diante dos fatos apontados por Challenger, analisou tais possibilidades, permitindo-se olhar para o corredor que os separavam da recepção e dos leitos de internação, sendo que um deles estaria Marguerite, lutando inutilmente por sua vida já perdida.

Dr.E - Muito bem, o senhor pode estar certo, é arriscado e terei que conversar com o Lord Roxton acerca do assunto, se ele de fato aceitar, como diz que fará, providenciarei os termos de responsabilidade e darei início ao procedimento.

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Na propriedade de Avebury sentia-se a tensão espalhada por toda a casa, bem como por todos os presentes, os empregados já haviam limpado todo e qualquer rastro de sangue pelo chão, ou desfeito dos curativos utilizados, o sofá retirado do local e levado para um quarto separado, até que fosse limpo também.

Bryan quem acompanhava Ned e as senhoras Jessie e Anne, as ajudava a guardar os pertences dos demais exploradores, a organizar as bagagens, estavam de partida, como o próprio Roxton instruiu, Malone usaria dos poderes do Oroboros para se teletransportar a todos para a sua mansão em Londres, seria o ponto de encontro dos exploradores.

Lady Roxton desde a partida de seu filho não pronunciou uma única palavra, se manteve no escritório organizando alguns documentos referentes aos negócios da família, mantendo-se entretida e ocupada, recusava-se pensar que John a tinha enganado desde o começo e como se não bastasse deixado claro e nítido que estaria ao lado daquela mulher, que o havia tirado de si pela segunda vez.

Leopold - Milady, me permite um momento de sua atenção?

L.R - Não sei bem se minha atenção encontra-se no estado mais adequado Leopold, mas vamos, o que deseja?

Leopold - Gostaria de informar a minha partida senhora.

... Não creio que meus serviços serão de grande valia ao seu lado Milady, e diante de toda a situação deve imaginar que irei servir ao seu filho, como faço desde sua juventude, e como prometi ao Lord Phillip em seus últimos dias de vida, jamais quebraria tal juramento.

L.R - Porque será que isso não me surpreende.

... Bem Leopold, não irei impedir que faça, sabemos também que ultimamente o nosso relacionamento se rompeu, não confiarei mais em seus serviços, não quando me traiu para acobertar aquela mulher, diretamente ou indiretamente.

... Além disto não me importa mais, nada disso importa mais, toda uma vida desperdiçada para aquele ingrato jogar fora.

... Pegue, aproveite que está de partida e entregue isto ao Lord Roxton, já que ele se julga tão superior e capaz, veremos se saberá mesmo administrar todos os negócios e ainda lidar com todos os integrantes da família de uma só vez, depois que souberam com quem de fato ele está se envolvendo.

... Se for só isso, pode se retirar.

Leopold pegou o envelope com os documentos, recém assinados pela Lady, apenas lhe fazendo uma mensura e retirando-se do local, suas malas também estavam prontas, bastava encontrar com os demais no andar inferior para partirem.

Ned - Já que estamos todos prontos, vou pedir para que se segurem, deem as mãos uns para os outros e concentrem-se. Podem ficar um pouco tontos, ou enjoados, mas isso é normal, está bem.

E como instruído assim fizeram, com um último aceno para Bryan, todos se foram, em instantes estavam na mansão de John, como quase todos já conheciam o local anteriormente, com exceção de Jessie, não houve dúvidas do local, ainda que tudo estivesse escuro e vazio, já que todos os empregados foram levados para Avebury.

Leopold - Senhor Malone, irei providenciar as nossas acomodações, temos quartos o suficiente, aliás mais do que o suficiente e em seguida preciso verificar se tudo está em ordem, imagino que quando Lord Roxton retornar gostaria de ver a casa devidamente organizada.

Ned - É claro Leopold, como achar melhor, e torcemos para que ele volte o quanto antes. Todos eles.

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Dr.E - Então Lord Roxton, concorda com este procedimento?

J - Se essa é nossa única chance de salvá-la, sim, pode preparar imediatamente os termos de responsabilidade, eu mesmo assinarei.

Dr. E - Muito bem, o meu assistente irá providenciá-los de prontidão.

... Mas gostaria de enfatizar mais uma vez, como um alerta a todos aqui reunidos, devido a extrema urgência não teremos tempo hábil para realizar a prova de compatibilidade completa, nem eu farei, nem minha equipe, ou seja, há riscos evidentes de que a transfusão pode não ser compatível, resultando inclusive ao óbito imediato da Senhorita Krux e a da criança à partir do momento que receber as bolsas de sangue.

... Além disto, devo levar em conta que desde a chegada dos senhores já se passaram duas horas, e uma transfusão sanguínea deve ser realizada no máximo em 04 horas, o que também reduz o nosso tempo pela metade e torna impossível encontrar um doador de sangue, portanto, devo dizer que irei requerer um de vocês como voluntário.

            John escutava atentamente cada palavra, sabia que a ideia havia partido de Challenger e como agradecia o homem por ser o gênio que era, obviamente sabia dos riscos, ele mesmo ajudou Finn e Marguerite a realizarem o procedimento no cientista quando foi necessário, ainda lembrava de como a herdeira tremia enquanto o fazia, o medo em seus olhos, mas nesse momento era a única esperança que lhe restava, que podia se agarrar ou era isso, ou ele preferia sequer pensar no que aconteceria.

J - Eu o farei, serei o voluntário que precisa, prometi a Marguerite que daria o meu último ar para ele se necessário, e seja o que for, para salvá-la faço o que quiser.

V - Não Roxton, eu o farei.

J - Verônica?

V - Eu quem estava com ela quando aconteceu, eu quem deveria tê-la protegido e falhei, é tudo culpa minha, ainda que todos vocês digam que não.

... Sabíamos do que poderia acontecer quando voltássemos para cá, e ainda assim eu me permiti esquecer dos perigos, não escutei meus instintos. Se isso for capaz de salvar Marguerite, eu gostaria de ser a voluntária, como um pedido de desculpas. Por favor.

 Então esse era o motivo do silêncio da garota, ela se sentia culpada pelo o que aconteceu, desde o início era isso que carregava em seus pensamentos e coração, por isso estava agindo tão estranhamente, e agora diante de todos queria se redimir por algo que não fez, não foi ela quem atirou aquela maldita lâmina, não foi ela quem feriu Marguerite e tão pouco era sua obrigação protege-la.

J - Verônica, nada disso é culpa sua, não precisa fazer isso. Além disto, eu quem jurei protege-la e ...

V - E você tem cumprido com isso todos os dias de sua vida. Ainda que me diga que não foi minha culpa, eu gostaria de fazer isso por ela.

John compartilhou um abraço com Verônica, que envolvida nos braços do amigo permitiu-se derramar as lágrimas que tanto procurou deter, da melhor maneira possível desde que partiram a caminho do hospital.

Dr.E - Então será a Senhorita Verônica nossa voluntária?

 Os amigos apenas trocaram um aceno, John carregava em seus olhos gratidão e surpresa por sua atitude, o qual diante do seu pedido sentiu-se incapaz de recusa-lo, ele mesmo sabia como era sentir-se culpado naquele momento.

Dr.E - Certo, irei pedir que a senhorita, junto do Senhor Challenger acompanhem minha equipe, irão leva-los até um dos leitos vazios para que sejam realizados os procedimentos de coleta.

... O que lhe permite Lord Roxton alguns poucos minutos com a Senhorita Krux, irei guia-lo até o quarto que ela está acomodada, ao menos assim terá uma possibilidade de vê-la mais uma vez, já que não sabemos ao certo o que pode ou não acontecer.

... Vamos é por aqui.

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J - Olá minha Marguerite.

Ela repousava sobre a cama, olhando assim estava tão tranquila, John lembrava-se das manhãs que acordava ao seu lado e a admirava enquanto dormia, aguardando a qualquer momento encontrar aqueles belos olhos, capazes de afoga-lo voluntariamente em sua imensidão de beleza e mistério.

Deseja apertá-la em seus braços, ouvir novamente o som da sua risada ou a sua voz, sentir o teu corpo junto ao dela, admirar o seu sorriso ou o brilho de seu cabelo a luz do sol, queria tocá-la, envolve-la e girar alegremente sobre os seus pés, sabendo que tudo estava bem, que tudo ficaria bem.

Mas quando tocou sua mão e a sentiu fria, bem como atentou-se a agulha que furava a sua pele macia e pálida, soou como um alerta para trazê-lo de volta das suas lembranças felizes, sua Marguerite perdia a vida diante de si, mais uma vez o desespero lhe bateu, já havia perdido tanto, primeiro seu irmão, depois seu pai e agora sentia que poderia perder a única mulher que amou, que o ensinou a amar, mais do que a si mesmo.

J - Eu não quero que eu e você acabe assim, eu quero que nunca terminamos. Por favor, não me deixe Marguerite, não me deixe.

Sentado na cadeira ao lado, chorava enquanto tinha suas entrelaçadas a dela, deseja ao menos um sinal de que ela estava ali, de que permanecia junto de si, esperava qualquer coisa, mas absolutamente nada aconteceu, Marguerite permaneceu imóvel.

Dr. E - Lord Roxton, estamos prontos.

John direcionou os olhos para o médico, não o percebeu chegando, depositou um beijo sobre a mão da herdeira, ainda pousou os olhos sobre ela, uma última vez.

J - Espero que, mais uma vez não esteja dormindo o tempo todo e mais ainda que volte para mim.

... Doutor Edward estarei aguardando-o na recepção.

Dr. E - Espero que eu possa levar melhores notícias.

J - Eu também ...