O Sexta Feira escrita por Miss Krux


Capítulo 15
Capítulo 15 - Senhora Challenger




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Marguerite apertou a campainha uma vez e nada, segunda vez e novamente ninguém, então na terceira vez, uma mulher de meia idade surgiu na porta entreaberta, ainda receosa, olhava às duas mulheres ao portão, as duas muito bem vestidas, não pareciam ser classe média, na verdade pareciam até nobres, nunca às tinha visto por lá, ainda mais esse horário, não que fosse tarde, não era aproximadamente 21 horas, horário da janta, mas duas mulheres assim, sozinhas, para ela era algo suspeito, ainda mais morando e vivendo os últimos anos sozinha.

Jessie - O que desejam?

M - Viemos falar com a senhora, me chamo Marguerite e está senhora ao meu lado é a minha governanta Anne.

Jessie - Sobre o que querem falar?

M - Temos notícia sobre a expedição do professor Challenger.

Jessie - Challenger? Sabe o que aconteceu com ele? Onde está?

M - Por favor nos deixe entrar e posso explicar tudo, tem minha palavra, não iremos te fazer mal nenhum. Por favor.

Jessie durante alguns minutos pensou, não sabia ao certo o que deveria fazer, mas em todos esses anos sozinha, nunca recebeu uma só notícia sobre o marido, nem sequer uma carta e as duas mulheres não pareciam maldosas, ainda desconfiada a mulher permitiu que Marguerite e Anne entrasse em sua casa, era simples por dentro, aconchegante, muito bem organizada, arrumada e para o frio deveria ser perfeita pensou a herdeira, era bem quente, na sala cada uma sentou-se em um sofá, Jessie em um poltrona próximo a lareira e Anne e Marguerite no sofá maior de três lugares.

Jessie - Você falou que possui notícias do meu marido, o que sabe sobre ele, e que exatamente são vocês?

Marguerite observava um pouco Jessie, parecia ser uma dama, mas muito simples, sua expressão também parecia um pouco cansada, provável que cansada de tanto esperar, os olhos azuis pareciam um tanto triste, cabelos loiros, feito um coque, usava uma simples camisa branca e uma saia longa que lhe cobria os pés azul marinho.

M - Sim trago notícias sobre o professor Challenger, eu sou a mulher que financiou a expedição, a senhorita Krux, não, ninguém ainda sabe sobre meu retorno ou pelo menos quase ninguém, seu marido deve voltar em uma semana para Londres, quer dizer é o que será anunciado, mas em três dias ele estará em Avebury, posso assegurar a senhora quanto a isto e se quiser pode vir conosco.

Jessie, olhava a mulher mais nova, que se apresentava como a madrinha da expedição de Challenger, buscava por traços que fossem capazes de fazê-la recordar-se de como a mesma era, algum indicio que provasse que a mulher estava falando a verdade. Instantes depois, levantou-se e seguiu até a mesa próxima ao sofá maior, puxou a gaveta e tirou um jornal envelhecido, guardado desde a época que os exploradores partiram, olhava incrédula para foto, era realmente ela, Marguerite Krux estava diante de si, Jessie levou as mãos no rosto, chorava de tamanho a emoção que sentia, não podia acreditar, estava tão feliz, como esperou ouvir aquilo, ouvir alguma notícia, ela era uma das poucas que mantinha a esperança de que logo Challenger voltaria, aprendeu a ser “o chefe da casa”, a se virar sozinha, mas queria muito rever o marido e sempre esperou pelo dia que isso acontecesse.

M - Eu imagino como deve se sentir, mas porque não se senta um pouco, procure se acalmar e assim conversamos melhor sobre, posso explicar tudo o que irá acontecer e depois um amigo virá nos buscar, eu e Anne vamos para Avebury, a senhora pode nos acompanhar, se quiser

Jessie - É claro, você está certa Senhorita Krux.

... Eu tinha certeza que meu marido estava vivo, durante todos esses anos esperei ouvir essa notícia a cada dia que acordava. A senhorita não faz ideia do quanto me deixou feliz. Vamos para cozinha é melhor, podemos conversar enquanto jantamos, não sei se é o suficiente para nós três, não esperava companhia, mas tenho alguns petiscos espero que não se importem.

A - Claro que não Senhora Challenger, incômodo algum.

...Viu minha menina, você também sabe deixar as pessoas contentes.

Jessie reparou no carinho de Anne por Marguerite, embora a senhora mais velha era muito carismática e se notava que não apenas com a herdeira, mas com todos a sua volta, com a herdeira, era especial.

Jessie - Desculpe, mas você é mãe dela, digo mãe e filha?

A - Não, não. Imagina, gostaria muito que fosse, mas nunca tive filhos e conheço está minha menina já tem alguns anos, depois de tantas aventuras, a amo tanto como se fosse. Apenas trabalho para ela, como sua governanta e nas horas de folga sou quase uma mãe tentado aconselhar uma filha rebelde.

M - Rebelde, eu? Ora Anne, e outra, você sabe que é mais do que a minha governanta, já é dá família Anne.

A - Será que Lord Roxton vai aceitar?

M - Se ele vai aceitar?! Ainda tem dúvidas, do contrário ele que experimente não aceitar.

Jessie - Espera Lord Roxton, o famoso caçador que partiu com vocês, ele também está vivo? Quer dizer todos estão?

M - Sim, ele ainda está muito bem vivo, posso garantir para a senhora. Mas infelizmente nem todos estão, o professor Arthur Summerle ele, bem ele se foi, sofreu uma queda em uma cachoeira, não sabemos explicar exatamente o que aconteceu. Quanto aos demais sim, estão todos vivos e muito bem por sinal, inclusive Challenger.

Jessie - Se soubesse o quanto isso me deixa feliz.

... Bem, vamos comer algo, e após irei preparar minhas malas, não tenho tantas coisas assim para levar, mas pelo menos quando o seu amigo vier nos buscarmos, tudo estará pronto.

 

—--//---

 

Bryan e Leopold assim que chegaram na sociedade de Zoologia, conversavam com o presidente da respectiva “organização”, o ilustre, doutor e reitor Leyonel, a princípio havia sido complicado, não tinham agendado horário com suas secretárias, tampouco aguardado na fila de espera e outros entusiastas e alunos também procuravam pelo homem. Entretanto, bastou Bryan declarar que era primo direto de Lord John Richard Roxton e alegar que inclusive o real motivo de todo aquele alvoroço era sobre obter notícias recentes do mesmo e dos demais membros da expedição, que todos os presentes na seleta de espera fizeram-se calar.

Leyonel - Senhor Bryan, parece que o senhor tem a minha atenção. Entre em minha sala por favor, o senhor e seu acompanhante, porém seja breve, como pode ver não tenho tanto tempo disponível e já está ficando tarde.

B - Claro senhor eu serei.

Cada um sentou-se em uma cadeira, sendo que Bryan e Leopold permaneciam de frente para Leyonel, separados apenas por seu gabinete, os três estavam sérios, o assunto requeria maior atenção e de certa forma era algo que iria chocar muitos, por ser algo tão inesperado.

B - Senhor Leyonel não farei rodeios, o fato é que meu primo entrou em contato está semana comigo e com minha tia Lady Elizabeth Roxton, que imagino que o senhor deve conhecer.

... Foi solicitado auxílio quanto ao seu resgate, creio que quase todos os integrantes da expedição ainda estejam vivos, e se eu estiver certo, retornando para Londres daqui aproximadamente uma semana. Sendo assim, estou aqui, para pedir que o senhor como presidente desta organização, reitor das turmas de ciência, e também doutor por formação, faça as honras de recebê-los e claro agende uma reunião com todos os demais membros da sociedade, para que seja comemorado o retorno dos mesmos, conforme as tradições.

Leyonel estava branco feito uma folha de papel, por um súbito momento sentiu-se soar frio, o que o rapaz dizia era quase impossível, depois de todos esses anos sem nenhuma notícia, nenhuma evidência que haviam sobrevivido, como se a própria terra o tivesse engolido e agora isso.

Leyonel - Senhor Bryan o que me pede, o que está me contando é quase impossível que eles estejam vivos.

B - Senhor, quase impossível é diferente de ser impossível de fato, foi Leopold quem primeiro se comunicou com meu primo, o senhor tem três pessoas que servem de prova testemunhal como eles estão vivos, agora se preferir não os receber eu entenderei. Mas certamente terei que me locomover até a associação dos Lordes e pedir que nos concedam a assistência que o senhor não pode oferecer. Tendo em vista que meu primo é um Lord e membro da associação, assim como o pai dele, o irmão mais velho, e alguns outros familiares, tenho certeza de que não irão negar esse favor.

Leyonel - Ora Bryan, posso te chamar de Bryan certo?

... Claro que não, não será necessário, desculpe-me a descrença e a falta de postura, mas devo admitir que uma notícia como está e de maneira tão repentina, me deixou abalado, eu já estou velho, não aguento mais me submeter a este tipo de emoção. Mas vamos lá, ao que nos interessa... Já que diz que três pessoas tiveram contato com a expedição de Challenger, sendo que duas delas seja você e o senhor Leopold, presente nesta sala, não há motivos para duvidar.

... É obvio que os receberei, e com certeza farei questão de comunicar a todos participantes da sociedade de Zoologia, sejam alunos, patrocinadores, professores, cientista e mesmo a imprensa. Também pedirei para que a elite e os mais influentes de toda a sociedade inglesa estejam presentes, só preciso me organizar durante esta semana. Garanto que não tem motivos para a associação dos lordes intervir, eu mesmo posso cuidar disso.

Nitidamente Leyonel havia repensado quanto a sua atitude errônea, se de fato o que Bryan dizia fosse verdade, e se acaso ele recusasse recepcionar a expedição de Challenger sem um motivo plausível, sendo John um Lord, membro da Associação dos Lordes e pertencente a uma das famílias mais influentes, todos esses acontecimentos juntos poderiam resultar em cortes de fundos, que a mesma associação generosamente concedia a Sociedade de Zoologia semestralmente, portando, a sua melhor opção seria recebê-los, o que também acarretaria em benefícios. Afinal uma expedição que retorna de um mundo perdido, depois de 04 anos, definitivamente não é algo que se vê todos os dias e só o tumulto e popularidade que causaria quando a notícia se espalhasse era o bastante.

Já se despedindo, Bryan lhe apertava a mão e agradecia por ter aceito o seu pedido e agendado a tal reunião, agora estava certo, logo os tabloides, os noticiários e os jornais de toda a Londres ou Inglaterra estaria anunciando o retorno dos outros, logo todos saberiam.

 

Após o jantar de negócios o jovem passou na casa de Jessie, podendo claro apresentar-se formalmente a senhora e todos partiram de volta para a propriedade em Avebury, Jessie sentiu-se encantada com tamanho da propriedade, nunca podia imaginar uma casa tão grande, era um palácio diante de seus olhos, Lady Roxton os aguardava na sala, ela não havia sido comunicada quanto ao plano, mas logo deduziu do que se tratava a saída de Marguerite.

M - Senhora Challenger apresento Lady Elizabeth Roxton.

Jessie - É um prazer conhecê-la, ouvi falar muito da fama de sua família.

L.R - O prazer é meu senhora Challenger, imagino que seja a esposa do homem responsável por esta expedição.

Jessie - Sou sim, e você é a mãe do homem que jurou ir até o inferno pelo meu marido.

L.R - Ele mesmo, é difícil de acreditar, mas é meu filho.

Jessie - Difícil de acreditar?

L - Sim, porque o que me sobra de juízo, nele falta.

Jessie - Mas tenho certeza que a senhora está tão feliz quanto eu.

Lady Roxton lançou um último olhar sobre a sala, viu que os demais haviam se retirado, Marguerite provavelmente foi se deitar, o dia tinha sido agitado, assim como Anne, Bryan deveria ter ido até o escritório, principalmente por ter retornado de um jantar de negócios e imaginou que Leopold estivesse na cozinha, vez que podia ouvi-lo preparar algo, somente assim em segredo confessou a Jessie algo que ainda guardava para si, mas algo que sentia que a mulher diante de si, por ser mais velha e carregava consigo uma aparência mais serena e sábia, entenderia melhor do que ninguém.

L.R - Senhora Challenger, eu a conheci agora e bem lhe asseguro que ninguém mais nessa história está tão feliz como eu, por favor guarde em segredo, mas eu não terei só meu filho de volta, mas sim uma possível nora e um neto ou neta.

Jessie - Está se referindo a mulher chamada Marguerite não é mesmo?

L.R - A própria. Está grávida, ora quem podia imaginar que John iria para aquele lugar esquecido e amaldiçoado por Deus e voltaria assim, com uma possível família.

Jessie - Bom, imagino o quanto não deve estar feliz.

L.R - Estou de fato, mas tenho que manter as rédeas da casa.

Jessie - Bom quatro anos sendo o chefe da casa, mantendo os negócios da melhor maneira possível e sem meu marido ou filhos por perto, eu a entendo perfeitamente.

As duas mulheres ainda que pertencentes à classes sociais distintas, ambas aprenderam muito na ausência de seus familiares, passaram por situações semelhantes e não tiveram nenhum apoio quando enfrentaram suas batalhas e angustias, e naquele momento dividiam do mesmo sentimento, a alegria e expectativa de saber que logo toda a sua família, não importava se grande ou pequena, todas as pessoas que amavam e julgavam mortas, estariam reunidas, o que de certo modo permitia que uma amizade nova começasse, as deixassem próximas, era como se soubessem que logo seriam boas amigas.


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