O Sexta Feira escrita por Miss Krux


Capítulo 16
Capítulo 16 - Agora, traga meu filho de volta.




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Durante o café da manhã a mesa estava cheia, Bryan, Anne, Jessie, Marguerite, para Lady Roxton que já havia se acostumado a tomar o café à sós, se ver acompanhada assim, era um misto de emoções ao mesmo tempo que era diferente, não podia desejar nada melhor, a não ser claro o retorno do filho, mas isso seria resolvido em poucos dias. A herdeira por sua vez, parecia inquieta, vasculhava os bules e parecia não encontrar algo que queria.

L.R - Marguerite o que está procurando?

M - Como não tem café? Apenas suco e chá, não é possível.

Leopol ao lado, sempre pronto para atender.

L - Se este é o problema senhorita, já irei providenciar.

L.R - De jeito nenhum Leopold. Agradeço a sua prontidão e seus serviços, mas Marguerite está grávida, esse tipo de bebida pode ser prejudicial, tanto a você, como o bebê. Sinto muito, mas enquanto eu estiver por perto, seguirá todas as orientações do Doutor Edward.

Marguerite não podia acreditar no tinha acabado de ouvir, estava mal-humorada naquela manhã, a criança parecia tão ansiosa como ela própria, se mexeu durante toda a noite e a causou náuseas também, não podia ficar sem café, e a sua consulta com o médico seria apenas na parte da tarde, o qual ela planejava esclarecer isso de uma vez por todas. Contudo, sua raiva falava mais alto naquele momento, não suportava mais toda aquela situação, o fato de obedecer a ordens, seja de quem fosse, sempre a incomodou, ainda mais agora que sentia seus hormônios a flor da pele, não iria ficar a todo momento as acatando de bom grado, a herdeira pediu licença a todos os presentes, levantou-se e se retirou batendo os pés, enfurecida.

B - Tia, não seria bom ir atrás dela?

L.R - Ora besteira Bryan, Marguerite é adulta, crescida o suficiente, só que pelo o que vejo não está acostumada a receber ordens.

B - Tia, talvez não seja a senhora que veem exigindo muito dela?

L.R - Imagina, garanto que ela só irá esfriar a cabeça, andar faz bem.

... O que me diz Anne? Você que a conhece melhor e a mais tempo também.

A - Acredito que esteja certa. Ela é assim mesmo, temperamental e também não aceita ordens de ninguém, entendo que Lady Roxton queira o seu bem, mas que a minha menina também precise ficar um pouco sozinha, até porque em breve muitas coisas irão mudar, isso deve estar deixando-a aflita no mínimo.

L.R - Viu Bryan, não a nada o que se preocupar.

B - Eu espero tia.

 

—--//---

 

Marguerite aproveitou o momento sozinha e decidiu explorar novamente a casa, na noite passada ouviu Lady Roxton ordenando aos empregados que limpassem e arrumassem todos os cômodos, logo, tinha novos quartos para conhecer e ocupar a cabeça, era melhor do que vier ficar brigando com a Lady Limão de gaveta.

Anne, Jessie e a Elizabeth estavam ocupadas, haviam saído, foram até a cidade juntas, quem as olhassem de longe, pareciam melhores amigas, como se conhecessem há anos, enquanto Bryan passaria a maior parte do tempo no escritório ou biblioteca, nem sequer a notaria, ou a sua ausência no caso.

Com todos os quartos destrancados, a herdeira só comprovou o que já imaginava, por ser uma casa antiga permitia acesso a várias passagens secretas, cofres e mais cofres escondidos e um enorme sótão, cheio de móveis, baús, quadros entre outras coisas, todos os bens eram antigos e também estavam cobertos de poeiras, parecia que ninguém visitava o lugar há anos.

Em um canto, algo chamou sua atenção, um manequim no formato de uma mulher, que parecia ser semelhante ao seu tamanho, estava coberto até o chão com um lençol antigo, Marguerite não conteve sua curiosidade e o puxou com uma de suas mãos, enquanto a outra cobria os olhos, devido todo o pó que se agarrava no material. Para sua surpresa, era um vestido de noiva, provavelmente um dos vestidos mais belo que já tinha visto em toda sua vida, bordado em pedraria, manga longa, justo apenas na parte de cima e atrás parecia como um espartilho, um pouco sujo de ficar guardado, por isso a sua apagada, mas nem por isso perdia a beleza, definitivamente rico em cada detalhe.

M - Será que foi de Lady Roxton? É tão lindo, parece ser uma peça única. E se está jogado às traças dessa forma, ela não vai se importar se eu pegar emprestado.

Marguerite pensava em tirá-lo do manequim e provar, mas quando olhou pela pequena janela, percebeu que tinham retornado e provavelmente o homem que as acompanhava, era o Doutor Edward. A herdeira pegou o vestido para si, e se apressou pelas passagens secretas, até chegar em seu quarto, guardou o vestido dentro guarda-roupa e correu pelas escadas o mais rápido que lhe era permitido, “Se Lady Roxton me ver correndo assim... Pior, se fosse John, porque será que todo Roxton adora se intrometer na minha vida?”.

 

No andar de baixo, a herdeira se jogou no sofá, agarrou o livro mais próximo que achou e fingiu descansar. Anne e Jessie subiram para os seus quartos, deixando a Lady a sós com o Doutor e com Marguerite, a mulher mais velha não pode deixar de notar que o vestido claro que a herdeira usava, estava sujo no barrado, poeira, não muito, apenas se olhasse mais atentamente e como a Lady parecia manter sempre a guarda sobre Marguerite, não passou despercebido.

L.R - Marguerite este é o médico de nossa família, Doutor Edward. Ele é um ótimo clínico e obstetra, creio que será ele quem fará o seu parto, como fez os meus. Doutor Edward está é a senhorita Krux, como o senhor é um amigo antigo em nossa família, devo informar que esta é a minha futura nora, não posso fornecer mais informações do que isso, em seu tempo o senhor irá compreender tudo.

O médico olhava para às mulheres, não compreendia muito bem como Marguerite poderia ser a futura nora da Lady Roxton, se John estava ainda perdido e não havia nada sobre o seu retorno, era o que o homem pensava.

M - Acredito que esteja pensando como é possível, logo mais irá saber, mais precisamente em uma semana Doutor Edward. Agora, se puder gostaria de saber como estou.

Dr.E - Realmente não esperava uma notícia assim, mas se for quem diz ser, não duvidando da senhorita, bem ... se for, saiba que estou muito feliz e lisonjeado com a novidade.

... Agora, vamos a sua saúde, sua e dessa criança que carrega dentro de si, que por sinal vejo que sua barriga cresceu, isso é ótimo, prova que o bebê está crescendo.

A tarde passou rápido, Doutor Edward colheu alguns exames, fez várias perguntas pertinentes, típicas, examinou a barriga de Marguerite, verificou o bebê se mexendo, escutou as batidas do coração da criança e por fim, prescreveu alguns medicamentos para enjoos ou tonturas, que eram as principais queixas da herdeira e ainda, forneceu uma dieta mais reforçada. Marguerite varreu os olhos sobre a lista de alimentos e não viu nada sobre café, seus olhos chegaram a brilhar.

M – Doutor Edward, e quanto ao café, pelo o que vejo em suas prescrições, não fala nada sobre café, posso então, tomar normalmente, certo?

Dr. E - Assim... O café durante a gravidez, eu não recomendo senhorita, na verdade vou até anotar como um dos itens restritos, é uma bebida forte para mulheres grávidas, pode causar ainda mais enjoos ou dores estomagais, melhor evitar.

L.R - O que lhe disse mais cedo Marguerite, se recordar?! Pois bem, obrigada Doutor Edward por tudo, principalmente por ter o senhor mesmo esclarecido tal dúvida da Senhorita Krux.

Dr.E - Imagina, Senhorita Krux, me parece mais saudável em vista de primeira vez que a vi, os exames demorarão alguns dias para ficarem prontos, mas qualquer eventual problema, estou à disposição. Apenas se cuide e não esqueça de seguir na linha a dieta, é primordial para você e para a criança, irá fortalecer o seu organismo e também ajudar para quando chegar a hora do parto.

L.R - Ela irá doutor, posso assegurar. Ainda mais que estarei ao seu lado na maior parte do tempo, fico de olho caso não esteja cumprido suas recomendações.

Marguerite também o agradeceu cordialmente e aguardou sua silhueta sumir através da porta de entrada, quando a Lady retornou à sala, a morena já havia desaparecido do seu campo de visão, o que a deixou minimamente desconfiada, tinha quase certeza que estava aprontando algo, ainda mais quando viu que herdeira segurava o livro de ponta cabeça e não tinha se esquecido também do barrado sujo de seu vestido, mas naquele momento, tudo o que almejava era paz, tinha assuntos mais importantes para resolver, os negócios de Bryan na noite anterior não correram como planejaram, além disto naquela manhã, elas tiveram um pequeno desentendimento, preferiu evitar outros mais, pelo menos por enquanto.

 

—--//---

 

Durante os dias seguintes, todos mantiveram-se ocupados com os preparativos e com a adequada arrumação da casa, tudo tinha que estar brilhando, o piso do salão refletia como um espelho, toda a tapeçaria tinha sido trocada, as janelas e portas abertas e destrancadas, flores espalhadas em todos os quartos para perfumar o ambiente, a cozinha a todo vapor, preparavam um banquete equiparado ao de reis e rainhas, os automóveis impecáveis, Bryan e Leopold passaram o dia limpando-os, James também tinha chego de Londres e era ele quem cuidava de todos os jardins, tudo o que se via era perfeição, a casa parecia ganhar vida novamente.

Lady Roxton fazia questão que houvesse uma comemoração particular pelo retorno dos exploradores, e todos deveriam se estar impecáveis, inclusive os empregados trajavam roupas de noite, alinhados para a ocasião. No salão de festa, as mesas adequadas em suas posições, a decoração finalizada, a mulher fez uma última vistoria e quando olhou para fora, percebeu que já era noite, era a hora de Marguerite ir busca-los e conforme combinado, Bryan a acompanharia até o platô, por questões de saúde.

Para a surpresa de todos os presentes, em especial Lady Roxton, Marguerite adentrou o recinto nada menos que deslumbrante, trajava o vestido encontrado no sótão, que aparentava como novo, devidamente limpo demonstrando a sua verdadeira tonalidade, ou seja, um azul claro e sereno que pareciam conversar com os olhos da herdeira, também ajustado em seu corpo e com alguns recortes que contribuíam para ressaltar algumas de suas curvas, sem contar com a maquiagem e penteado tão elegantes e bem elaborados como o vestido.

Lady Roxton jamais admitiria em voz alta, perdida entre suas lembranças, de quando casou-se com Phillip e seus pensamentos ao ver a mulher a sua frente, tinha que reconhecer, ainda que somente para si mesma, Marguerite sabia como se vestir igualmente a uma dama e estava linda em seu vestido de casamento, vestido que preferiu esquecer que um dia existiu, mas que naquele momento a fez pensar “O vestido que um dia usei para me casar, ela usou para ele buscar”.

L.R - Marguerite, isso tudo é para buscar John?

M - Então, o que achou?

L.R - Devo dizer que eu me achava a noiva mais bela quando me casei com este vestido, mas você não fica muito atrás de mim, está bonita Marguerite, agora traga meu filho de volta.

Marguerite não pensou duas vezes, era tudo o que mais desejava, agarrou o braço de Bryan ao seu lado e de repente, do salão luxuoso da propriedade Roxton, para o meio da sala simples e aconchegante da casa da árvore.

B - Marguerite, é sempre assim? Eu acho que preciso de um tempo para me recompor, agora entendo porque sente tonturas, além do estado claro.

M - Besteira, abaixe um pouco a cabeça, que logo deve melhorar.

 

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Os exploradores estavam quase prontos, a maioria das bagagens arrumadas e organizadas na sala, assim como algumas das invenções de Challenger, Malone e Verônica aguardavam na varanda, aproveitavam para verificarem mais um pouco as proximidades, lá embaixo, os guerreiros Zangas de guarda, em volta de toda a cerca elétrica, foi o casal que percebeu a chegada de Marguerite e seu acompanhante, de imediato os encontrando na sala.     Enquanto o cientista e John subiam com o último baú de carga, ouviram as vozes animadas dos amigos, o caçador parecia um pouco enciumado quanto a proximidade Bryan, contudo por hora ele apenas observou, sabia que Marguerite também não costumava dar brechas, nem sozinha e muito menos com ele ao seu lado.

O que também não passou despercebido, foi o quanto ela estava bela naquele vestido, John conhecia a sua origem, só não entendia como Marguerite o obteve, o azul era uma das suas cores favoritas e nela parecia que o vestido antigo ganhou um charme diferente, um brilho especial e único. Devido as circunstâncias, John não teve tempo para elogiá-la como gostaria, mas seus olhos demonstravam e falavam por si.

Cada um dos exploradores tomou uma posição, de mãos dadas, o mais próximo que a bagagem permitia, observavam carinhosamente a casa da árvore, como uma despedida, não era definitivo para todos e também não significava um “Adeus”, mas carregava consigo o sentimento de mudanças, que a partir de então uma nova fase em suas vidas se iniciava.

Era certo que o visionário, a herdeira, o caçador, o repórter e mesmo a garota da selva que partiam nessa nova jornada, jamais seriam os mesmos de 04 anos atrás, possuíam tantas recordações, impossíveis não pensar.

... Apesar de todos os obstáculos, aquele lugar proporcionou muitas alegrias, no começo, quando chegaram ao platô, tudo parecia mais difícil e quando as passagens pelas cavernas foram soterradas, sentiram como se tivessem perdido tudo, mas a esperança de se obter uma saída através desse novo mundo os manteve em pé, aprenderam a lidar com a personalidade marcante e pensamentos divergentes de cada um, que cada discussão, só prejudicava o grupo, que a amizade prevalece e que juntos foram capazes de sobreviver ao que muitos chamavam de impossível, capazes de superar o luto pela perda de um dos seus.

... Quase nunca havia sossego, cada dia uma nova novidade e se eles não fossem atrás da aventura, a aventura dava o seu jeito e os encontrava, como quando o Tribuno invadiu a casa no meio de uma tarde qualquer, ou quando Assaí ia busca-los porque algo de inusitado acontecia pelas proximidades.

... Com o passar do tempo se tornaram uma família, sentimentos novos surgiram e desabrocharam, sentimentos fraternos, de irmandade e de amores, mesmo por aqueles que diziam ter respostas calculados e sentimentos que um dia souber sentir, mas que estavam lá, só esperando vir tona. E assim, aos poucos a casa da árvore ao invés de um abrigo, tornou-se um lar.

... Sabiam que aquele momento seria como enfrentar o desconhecido, que a dor da saudade era como uma lâmina fria atravessando corações quentes, que aquela poderia ser a aventura mais difícil de enfrentar, mas era chegada a hora tão esperada. Todos fecharam seus olhos, juntos concentraram-se em um único pedido, a herdeira foi quem o fez por último, assim que certificou que todos seguiam com plano, ela cumpriu com a sua parte, fez o seu desejo de todo o coração.

 


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