Keybringer Pirates escrita por Kardio


Capítulo 11
Capítulo XI


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos! Sejam bem-vindos novamente, como estão? Espero que bem. Hoje, além do novo capítulo, estou trazendo uma "tarefinha de casa" opcional. Resolvi abrir, por tempo indeterminado, para vocês poderem enviar sugestões de personagens. "Ain, tá deixando pra gente criar os personagem tudo?" Não. Já tenho a grande maioria dos personagens que necessito, mas a história vai ser MUITO grande, e personagens nunca são demais. Não garanto que os nomes, características, poderes, histórias ou todos os aspectos vão chegar intocados a história, mas farei o possível, desde já agradeço aqueles que se dispuserem e fiquem com o capítulo de hoje.



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Capítulo XI – Atirador Rei.

— - Clair - -

— Desculpem, mas vocês não vão poder ficar por aqui, tenho que pedir que se retirem. – falo assim que meus pés pousam sobre o parapeito do navio, tratava-se de uma pequena caravela, no máximo dois ou três canhões em cada lado do navio, nenhum destes possuía algum tipo de movimentação para mirar mais acima ou mais abaixo, devo concluir que são um bando pirata relativamente pobre, que chegou até a Reverse Mountain, entrada da Grand Line, abusando de sorte e esforço, provavelmente possuem alguns membros na média ou pouco acima dela, não conseguiriam sobreviver neste mar sem isso, mas aqui é o East Blue, o mais fraco dos Quatro Mares Cardeais, esses membros “na média” estão muito mais baixos que a minha média.

Devo admitir, reconheço a bandeira deles, um peixe morto com dois palitos semelhantes à hashis formando os “ossos cruzados” na bandeira, é o bando de Jake, o “Sushiman”, um bando pirata que está entre os mais fortes do East Blue, seu capitão usa um estilo de luta que mais parece uma preparação de sushis, 16 milhões como recompensa, sua força merece um 2,5 e, devo admitir, sua sorte merece um grande e redondo zero.

O capitão do 1° Esquadrão e meu superior, Joseph, estava em uma ligação com os demais capitães dos 16 Esquadrões, por isso ele pediu para não ser interrompido e, se alguém nos encontrasse, deveríamos simplesmente silenciá-los para que não descobrissem nada, mas será que eles sabem quem somos?

— O que você está fazendo neste mar? – um deles diz com os joelhos tremendo, vejo-o tentar dar um passo para trás e cair sentado, arrastando-se sem em nenhum momento afastar seus olhos de mim, ele tinha uma faixa verde ao redor de seus cabelos negros e hashis presos á ela, provavelmente era o tal Sushiman. – O que você, Clair “The QuickShot”, faz aqui? – seu tom era trêmulo e seus olhos estavam apavorados, acho que sua reação responde a minha pergunta: Ele sabe quem eu sou, logo, ele sabe o que significa o navio de velas negras sem Jolly Roger atrás de mim, logo, ele não pode sobreviver.

— Olha... Eu hoje não acordei em um bom dia, não estou com o mínimo saco para lutar com vocês, então que tal fazermos assim? Vocês vão embora e fingem que nada aconteceu e eu não enfio uma bala no cérebro de cada um de vocês? Não seria mel- Antes que eu pudesse terminar de falar, um homem grande, gordo e suado pega um grande machado em mãos e avança em minha direção, realizando um poderoso golpe de cima para baixo, devo admitir, o machado era quase do meu tamanho, não que eu seja muito alta, espera aí... Eu acabei de me auto-zoar usando minha altura? Fala sério.

 Sinto uma pulsação fluir por todo o meu corpo, chegando até meu braço esquerdo, minha mão esquerda e antebraço começam á escurecer, assumindo a textura e resistência de um estranho metal negro, ergo-o acima de mim, usando-o como um escudo para aparar o golpe, o metal do machado, de péssima qualidade por sinal, parte-se com facilidade, quase como se estivesse batendo uma pedrinha de gelo contra uma parede de ferro maciço, o homem assusta-se, provavelmente ele vira apenas uma garotinha que pulara para dentro de seu barco fazendo ameaças sem sentido, ela poderia muito bem ser uma louca sem força pra nada ou um monstro invencível, então ele apostou, mas agora eu devo dizer, entre calar a boca, fugir e lutar, ele fez...

— Uma péssima escolha. – sorrio com o canto de meus lábios, usando minha mão direita para sacar uma garrucha e acertar um tiro bem no centro de sua testa antes mesmo que ele tivesse a chance de piscar. Salto do parapeito do navio, pousando no convés do mesmo, ouço o som de tiros em minha direção, mas é inútil, posso escutar a “voz” das balas e ver toda a sua trajetória como se estivesse em câmera lenta.

Uma vem de frente, está com uma trajetória levemente ascendente, provavelmente pegaria de raspão em minha orelha esquerda, mexo a cabeça uns quatro centímetros para a direita e desvio sem quaisquer dificuldades, a segunda vem de meu lado esquerdo, de cima para baixo, uso meu braço esquerdo, ainda em sua forma de metal-negro-super-resistente-e-mortal, e aparo a bala com a palma de minha mão, a resistência aumentada faz com que eu nem ao menos sinta que a bala estava ali, a última bala vinha da direita, sua trajetória era reta e quem a disparou tinha uma mira um pouco melhor que a dos outros dois, esta mirava certeiramente em meu crânio, mas nada que não possamos resolver, não é mesmo? Ergo meu braço direito rapidamente, dando outro tiro super-rápido, acertando a bala dele com a minha, os dois projéteis caíram inofensivamente ao chão, posso ver o olhar incrédulo e desesperado do capitão aumentar, provavelmente eles nunca viram tal força antes, mas o que posso fazer? Eu sou demais mesmo.

 A “blindagem” ao redor de meu braço esquerdo se desfaz e saco outra garrucha, cruzo-as sobre meu peito e dou um pequeno salto, rodopiando sobre meu próprio eixo, no meio do salto dou três tiros com minha arma esquerda e cinco com a direita, logo em seguida oito oponentes caem ao chão em diferentes locais do navio, todos mortos, mas ainda posso escutar duas “vozes” vindas de seus corações, uma do capitão caído à minha frente, a outra...

Dou um passo para trás, ainda bem que me concentrei o suficiente para ouvir a “voz” da última bala, desta vez disparada pelo rifle do homem no topo do mastro, a sua bala cravou-se no ponto onde eu estava há alguns momentos atrás. Ao mesmo tempo em que a bala dele perfura o chão de madeira do convés, minha bala acerta-o em seu olho direito, atravessando por dentro da mira do rifle e saindo do outro lado da cabeça do homem, ouço claramente a “voz” de seu coração parando, ou seria mais adequado dizer que deixei de ouvi-la? Bom, tanto faz.

O corpo do homem cai ao chão e, de alguma forma, o capitão enche-se de uma estranha coragem, pegando duas facas que pareciam ser usadas na preparação de sushi.

Corte Retalhador de Algas Marinhas. – ele avança com suas facas em punhos, devo admitir que gostei do nome, mas a técnica em si? Lamentável. Largo minhas garruchas e ambas as minhas mãos se cobrem com o mesmo metal escuro de anteriormente, dou um golpe rápido em cada uma das facas que se estilhaçam em minhas mãos, antes que as garruchas tocassem o chão, pego-as novamente, giro meu corpo para a esquerda e acerto um tiro em cada um dos pés do homem, fazendo-o cair agonizando no ponto onde antes eu estava em pé, bom, este era o fim dele.

Ele gritava e rolava de um lado para outro como um porco ao chafurdar na lama, sento-me sobre um caixote localizado próximo aos canhões do navio, abrindo o compartimento de munição de uma das garruchas, vendo que estava quase vazio, pego algumas cápsulas de munição em meu bolso e começo a recarregá-la.

— Merda! Que dor! Maldita seja! – esbravejava o homem à plenos pulmões. – O que alguém como você faz aqui?

— Bom... – ergo meu olhar, fitando o homem. – Eu tenho que te matar mesmo, então que diferença faz eu te contar, não é mesmo? – abro um sorrisinho convencido e vejo o corpo inteiro dele estremecer. – Me diga primeiro, o que sabe sobre mim.

— Seu nome... É Clair Fairmen. – ele começava a ficar ofegante, provavelmente a perda de sangue já começa a afetar sua capacidade pulmonar e cardíaca, ele morrerá em breve mesmo que eu não faça nada. – Você tem mais de 200 milhões de recompensa, é imediata da 1° Divisão do Bando das Dez Mil Mãos, conhecida como Clair “The QuickShot”, uma das atiradoras mais rápidas e precisas do mundo. – devo admitir, ele realmente sabia muito, mas não o suficiente.

— Você errou em alguns pontos. – termino de recarregar a garrucha, guardando-a cuidadosamente e começando esse mesmo processo na outra. – Eu sou a vice imediata da 1° divisão, o Imediato quase nunca aparece nem faz nada de útil, mas o cargo ainda é dele. – faço uma pequena pausa. – Agora que você já disse o que sabe, é minha vez de responder sua pergunta. – ao terminar de recarregar a arma, começo á girá-la em minhas mãos. – Você estava certo, eu realmente não devia estar aqui, meu lugar é no Novo Mundo, combatendo os mais fortes, mas digamos que nosso grande capitão tem uma ambição... – faço uma pequena pausa. – Ele sempre almejou derrotar o Rei dos Piratas, Luffy, e para isso bolou um plano, dominar todo o East Blue, terra natal de Luffy, ele pretendia se fortalecer ao mesmo tempo em que enfraqueceria o Chapéu de Palha, mas viu que seria muito problemático e arriscado fazer isso tirando nossas outras divisões do Novo Mundo, visto que poderíamos perder territórios importantes, então ele mandou Joseph, seu homem mais confiável, e todo o seu esquadrão para cá, mas digamos que Joseph é muito... Metódico. – abro um pequeno sorrisinho. – Apesar de sermos o esquadrão com os membros mais fortes, Joseph não gosta que lutemos desnecessariamente, então ele está usando sua grande influência para dominar esse mar na surdina, e é por isso que estamos escondidos aqui. – paro de girar a garrucha, engatilhando-a e apontando para a cabeça do homem.

— De que adianta ele dominar a terra natal do Rei dos Piratas para lutar com ele se o Luffy está morto? – vejo uma lágrima escorrer pelo seu rosto enquanto um sorriso se abre no meu.

— Você realmente acredita nessa besteira? Luffy é o homem mais forte do mar, ele não morrerá a menos que queira. – Bum. Puxo o gatilho e problema resolvido. Agora, vamos voltar para o galeão. Tô afim de comer sushi.

— - Luke - -

Já fazia algum tempo desde o banquete que tive na mansão do Lyon, devo admitir que já estava com saudades de comer muito e bem, afinal, a comida da Sofie meio que me faz vomitar a cada dez minutos e peixes crus não são muito de meu agrado, mas aqui estamos nós, reunidos ao redor de uma grande mesa com oito tipos de peixes preparados de várias formas diferentes, cozidos, fritos, marinados, defumados, todos eles ricamente temperados, mas com certeza a coisa mais apetitosa eram os 5 tipos diferentes de sucos, fiz questão de deixar um copo para Sofie, Torui e Zodick e pegar todas as jarras para mim. Será que eles vão ficar chateados se eu pedir mais?

Além de todos os sucos que encontrei, me servi de peixes fritos, arroz e um pouco de um creme estranho, mas muito gostoso. Sofie pareceu optar por uma macarronada com sardinha, nhoques e canelones. Já Zodick escolheu peixes grelhados, salada e um pouco de salmão. Já Torui escolheu por não jantar, ao invés disso optou por deliciar-se com mini pizzas, pastéis, hambúrgueres e calzones.

Durante todo o jantar comi tudo o que eu podia e mais um pouco, sempre com Sofie e Zodick brigando comigo por meu barulho ou falta de educação, ao terminar, Torui nos conduziu à nossos quartos, pois já era tarde e a velha Kaya parecia estar cansada, nossos quartos eram no segundo andar, no final do corredor que havia em frente à escadaria principal. Eu e Zodick dormiríamos em um e no da frente estaria Sofie.

Ao entrarmos no quarto, vejo duas camas, uma de cada lado do cômodo, seus lençóis e fronhas eram de uma limpeza impecável, Torui nos avisa que, se quiséssemos, poderíamos tomar banho a qualquer hora, o banheiro era no começo do corredor, logo após a escada, me senti injustiçado ao saber que o quarto de Sofie era uma suíte com banheiro, mas não posso reclamar muito, afinal só chegamos aqui graças aos conhecimentos de navegação de Sofie, é mais do que justo dar a ela um pouco mais de conforto, afinal, de que adianta eu e Zodick conseguirmos fazer todo o trabalho pesado se não tivéssemos ninguém para nos guiar, certo?

Deixo meu corpo desabar sobre a cama, o colchão era macio e posso sentir um leve aroma de margaridas sobre as roupas de cama, sinto cada fibra de meu corpo se aliviar, como se clamasse por descanso á tempos, fora um dia puxado, mas finalmente estava chegando a seu fim. Zodick senta-se sobre a cama, posso notar seu olhar recair sobre mim, até que finalmente ele fala.

— Luke, tem algo que têm me incomodado. – em um movimento rápido me ponho sentado, fitando-o.

— O que foi? – questiono-o.

— Durante sua luta contra o aprendiz da Marui lá no orfanato, vi uma estranha energia azulada percorrendo seu corpo, na hora, achei se tratar de uma Akuma no Mi. Mas hoje, logo após nosso barco afundar, você conseguiu nadar até a costa, mas como? – abro um largo sorriso.

— Não, não é uma Akuma no Mi, onde eu nasci, era muito comum existirem pessoas que usam essa energia, foi meu pai que me ensinou a lutar assim. – Zodick mantém os olhos em mim, parecia mais intrigado e curioso do que antes.

— Não sabia que você tinha um pai, você nunca havia mencionado nada sobre ele. – Não o culpo por achar isso, desde que a Era dos Piratas começou, é muito comum existirem crianças que nunca conheceram seus pais, sejam eles Marinheiros ou Piratas não é fácil sobreviver nos tempos atuais e, mesmo que sobrevivam, às vezes é mais arriscado para sua família voltar para casa do que permanecer sem nunca visitá-los, então muitos simplesmente acabam por não voltar, temendo algum tipo de ataque aqueles que amam vindo de seus oponentes.

— Desculpa, eu devia ter contado. – sorrio bobamente. – Nunca conheci minha mãe, meu pai me disse que ela morreu quando eu tinha alguns meses de vida, fui criado por meu pai junto de meus três irmãos, ele nos ensinou a lutar usando essa energia, assim como o pai dele ensinou a ele.

— E que energia é essa? – coço a cabeça, fazendo uma careta.

— Desculpa, eu não sei bem explicar, eu simplesmente sinto o que é pra fazer e faço. – mesmo parecendo um pouco decepcionado, Zodick não insiste, não que fosse mudar alguma coisa, eu realmente não saberia explicar a ele como funciona esse poder, eu só chego lá e soco, nada demais. 

— Você falou que tinha irmãos né? – assinto com a cabeça, confirmando. – Todos eles ainda moram no lugar que você nasceu?

— Não, tanto meus irmãos quanto meu pai partiram para o mar antes de mim, os quatro também são piratas, talvez um dia nos encontremos com eles. – Zodick abre um sorriso sem jeito.

— Seria um problema para nós se eles fossem tão fortes quanto você. 

— Na verdade, eu sou muito mais fraco do que eles no momento. – Zodick lança-me um olhar preocupado, talvez eu não devesse ter dito isso. – Mas enfim, vamos mudar de assunto. – ele assente, receosamente.

— Sabe, eu estive pensando. – ele começa. – Existe uma ilha aqui no East Blue chamada Ulzah. – ele faz uma pequena pausa antes de continuar. – Eles são bem conhecidos por fazerem vários navios de boa qualidade, principalmente para a Marinha, talvez fosse uma boa ideia passarmos lá. – sinto-me tomado por uma grande empolgação.

— Será que conseguiremos um barco por lá?

— Era isso que eu estava pensando. – Zodick fala, parecia estar bolando um plano em sua mente. – Não temos como ir para lá por nós mesmos, mas se não me engano, existe um navio de turismo que sai desta vila para lá todas as terças, hoje é quinta, então só teríamos que esperar mais ou menos uma semana, assim, daria tempo de juntarmos um dinheiro para irmos.

— Certo, está decidido então, próxima parada: Ulzah!

— - Sofie - -

Finalmente Luke e Zodick calaram a boca e foram dormir. As paredes não eram tão finas a ponto de eu escutar toda a conversa, mas era difícil não ouvir quando Luke começava sua gritaria habitual, francamente, como eles conseguem ter tanta energia depois de passarem por um naufrágio e uma luta com um bando pirata? São dois monstros.

Afundo um pouco mais dentro da banheira, a água sobe até pouco abaixo de meu queixo, meu corpo parecia se preencher com uma onda de tranquilidade à medida que eu permanecia ali dentro, meus músculos retesaram-se e sentia meu corpo como um todo muito mais leve, realmente, fora um longo dia.

Eu ainda estava pensando na conversa que tivemos com a senhora Kaya mais cedo, sobre todas aquelas histórias antigas e sobre Luffy ainda estar vivo, devo admitir que ainda estou chocada com isso, mas tem algumas coisas que me incomodavam. Se Luffy está vivo, como ninguém o vê a tantos anos? Será que a Marinha desistiu de procurá-lo e o deu como morto? Bom, isso explicaria o porquê de eles não anunciarem nada nos jornais, afinal, eles não teriam em sua posse o corpo para provar. Mas se a Marinha acha isso, por que tem sido tão cuidadosa na caça aos outros piratas, principalmente os que eram aliados ao Luffy? Muitos deles se escondem nas ilhas que pertenciam ao Rei dos Piratas e mesmo assim a Marinha nem se atreve a ir lá, mesmo supondo que Luffy esteja morto. Mas se o Chapéu de Palha está mesmo vivo, assim como Kaya disse, o que ele estará fazendo? Os rumores sobre ele sempre o descreveram como uma pessoa que odeia ficar escondida como um covarde, o que será que ele está fazendo até hoje? Mas mais importante ainda, é dito que os membros de sua tripulação são tão lendários quanto o próprio capitão, mas assim como ele nenhum dá notícias há décadas, onde será que todos eles estão?

Acho que pensar muito sobre essas coisas só vai fazer eu ficar com dor de cabeça. Ergo-me rapidamente, sentindo a água deslizar por todo meu corpo, enrolo-me em uma toalha, indo até a pia escovar os dentes, meus olhos azul-safira fixam-se em um ponto sobre meu ombro direito, uma profunda cicatriz que, quase que inconscientemente, vivo deixando coberta.

Ao observar aquela cicatriz sinto-me novamente com doze anos de idade, minhas pernas já não aguentavam mais o peso de meu próprio corpo, minha adaga, banhada em sangue, parecia inofensiva entre minhas mãos trêmulas, minhas costas contra o parapeito do navio, meu ombro com um profundo corte feito a espada sangrava incontrolavelmente, o navio inteiro estava em chamas, a fumaça e a fuligem adentravam bruscamente minhas narinas, minha respiração e meus pulmões queimavam como brasas acesas, minha visão turvava e meu coração enchia-se de medo com todos os gritos de desespero das pessoas que foram minhas companheiras por tanto tempo, mas mesmo assim, ela ainda estava lá, suas costas se erguiam à minha frente enquanto ela se colocava entre mim e os invasores, seu sorriso trazia novamente o conforto que tantas vezes já me dera. Suas palavras ainda me lembro até hoje.

— Viva hoje. O propósito dos deuses para você sobre estes mares ainda não foi cumprido, por isso não posso deixar que você morra aqui. – meu coração aperta-se enquanto as memórias continuam fluindo em minha mente. – Meu tempo acabou, mas você ainda tem muito a fazer, um dia você encontrará alguém que trará significado á sua vida, até que este dia chegue, apenas viva.

Meneio a cabeça negativamente, afastando esses pensamentos de minha mente. Dou um longo suspiro enquanto saio do banheiro da suíte e sento-me na cama, pego minha mochila que estava jogada aos pés da mesma e vasculho-a, tirando de lá uma calça comprida e uma blusa laranja de alcinhas, sinto-me cansada, mas sem um pingo de sono, então resolvi sair de meu quarto e dar uma volta por aí.

A mansão estava em completo silêncio, só sendo possível ouvir os diversos sons produzidos pelos animais do lado de fora da mesma, enquanto andava, noto uma porta aberta e uma fraca luz vinda da mesma, tomada pela curiosidade, me aproximo, vendo se tratar da porta do quarto da senhorita Kaya. Me aproximo devagar, dando dois toques na porta entre aberta ao chegar no local.

— Entre. – A voz de Torui chama lá de dentro, abro a porta devagar e vejo a senhora Kaya, ainda em sua cadeira de balanço, desta vez sentada na varanda, a prateada luz do luar incidia sobre sua pele pálida, ela fitava o horizonte e tinha um objeto que, á essa distância, não consegui reconhecer, ao seu lado, sentado calmamente no chão, estava Torui, os cabelos desgrenhados estavam levemente molhados, provavelmente também acabara de sair do banho. – Oh, é você Sofie, chegue mais perto, a senhora Kaya acabou de acordar e estava prestes a me contar algumas histórias quando você chegou. – Assinto com a cabeça, me aproximando, paro ao lado deles e vejo que o objeto que tinha em mãos se tratava de um estilingue verde que possuía alguns esparadrapos velhos ao redor de sua empunhadura e um elástico marrom, a velha senhora olhava afetuosamente para o estilingue, provavelmente lhe era uma memória importante; sento-me no parapeito da varanda, meus cabelos rubros esvoaçando ao vento noturno.

— Essa foi uma história que me foi contada pelo próprio Luffy, pouco antes de ele sumir e ir pra Raftel, logo após o fim da guerra. – Uma história trazida pelo próprio Rei dos Piratas? Isso é realmente empolgante, devo admitir. – Usopp sempre foi um homem covarde, mesmo que seu sonho fosse se tornar um bravo e corajoso guerreiro do mar, por muitas viagens ele era o primeiro a evitar perigos e se esconder atrás de seus companheiros, mas houve uma vez em que isso não aconteceu. – a senhora Kaya acariciava o estilingue em suas mãos como se o fizesse com um gato ou outro animal de estimação. – Durante a Guerra dos 100 Dias houveram muitas mortes de ambos os lados, Marinha e piratas inimigos e aliados sofreram graves baixas à medida que a guerra continuava. – seus olhos pareciam melancólicos, quase chorosos. – Luffy finalmente encontrou Barba Negra e eles começaram um combate de proporções inimagináveis. – engulo em seco, quase sem respirar, fico me perguntando o quão poderoso era Luffy nessa época, o quão forte era o Rei dos Piratas durante seu auge. – Luffy usava seus Gears de borracha pra ficar cada vez mais forte enquanto, pouco a pouco, superava os poderes das duas Akumas no Mi de Barba Negra, dizem que até hoje ele foi o único que sobreviveu a dois poderes distintos habitando dentro seu corpo. – Ao que parece, as lendas realmente eram verdadeiras, sempre ouvi falar que Barba Negra era um demônio impiedoso com o poder da Paramecia e Logia mais fortes dentro de seu corpo, nunca achei que fosse verdade, mas agora que estou ouvindo esse relato, fico me imaginando que o verdadeiro demônio era Luffy por conseguir enfrentar sozinho tamanho poder. – O combate durou dez dias até que finalmente Luffy saísse vitorioso. – ela faz uma pequena pausa, noto suas mãos apertando mais forte ao redor do cabo do estilingue. – Ele estava exausto, por isso não notou que naquele momento apontavam para ele uma arma que continha uma bala de Kairoseki.

— Kairoseki? – Questiono-a, sem ter a mínima ideia do que se tratava.

— É um minério raro que dizem emitir uma energia semelhante à emitida pelo mar, desse modo sendo a matéria-prima de armas anti-usuários de Akuma no Mi. – Eu não fazia ideia de que existia algo assim, o mar é realmente um lugar impressionante. – É muito comumente usada como revestimento de barcos, pois é leve e ao mesmo tempo quase tão resistente quanto um diamante, mas também é possível forjá-lo para fazer armas e até balas com ela. – a senhora Kaya assente, logo em seguida continuando sua história.

— O corpo de Luffy já havia passado dos limites a muito tempo, seus outros companheiros ainda estavam distantes, nada poderiam fazer, mas havia alguém que poderia. – sinto um grande peso tomar conta de sua voz, como se ela temesse as palavras que estava prestes a dizer. – Usopp vira tudo, naqueles momentos seus joelhos não tremiam, sua voz não gaguejava, seu corpo não se paralisou, seu capitão e melhor amigo estava indefeso e em perigo e ele era o único que poderia ajudá-lo. – engulo em seco, já imaginando qual seria o final. – Usopp jogou-se na frente e tomou a bala por Luffy... Lembro de, logo após nocautear o inimigo que realizou o disparo, Luffy pegou seu amigo nos braços e correu o máximo que podia para achar alguém que pudesse tratá-lo... Ele trouxe Usopp até a mim. – ela abre um sorriso triste. – Como o destino é irônico, não? A pessoa que mais me ajudou quando eu mais precisava estava ali, em uma maca, precisando da minha ajuda. – uma lágrima solitária escorre pelo rosto enrugado, suas mãos estavam trêmulas. – E justo quando ele mais precisou, não havia nada que eu pudesse fazer... Luffy tinha esperanças, mas ele sabia que ali era o fim de seu melhor amigo, por isso ele disse aquelas palavras que posso me lembrar até hoje. – ela enxuga as lágrimas com as costas da mão. – “Pode dormir, Usopp. A guerra acabou. Pare de se esforçar. Estará tudo bem quando você acordar, afinal, a partir de hoje, seu sonho se realizou, você é o mais bravo de todos os guerreiros do mar. ” – Kaya parecia visivelmente triste enquanto nos relatava tudo, deve ter sido extremamente traumático para ela ver seu melhor amigo morrer ali em sua frente. – Usopp morreu com um sorriso no rosto, seu melhor amigo estava salvo e seu sonho realizado, ele tinha conseguido tudo o que queria deste mundo e então partiu.

Um silêncio desconfortável se instala diante o céu noturno, só sendo quebrado pelo bater de asas de aves noturnas em plena revoada.

— Sinto muito por sua perda. – falo respeitosamente, tentando quebrar o clima estranho que se instalara.

— Não se preocupe. – ela responde baixinho. – É verdade que ainda dói lembrar, mas sei que ele morreu fazendo o que queria, não se pode querer nada da vida além disso. – ela ergue um pouco o estilingue. – Esta era uma das armas dele. Apesar de ser um atirador, Usopp usava quase sempre estilingues dos mais variados, este foi o primeiro deles que resolvi ficar como uma recordação e Luffy concordou.

— Eu... Posso vê-lo? – ela assente meigamente, entregando-me o estilingue, parecia leve e fácil de se usar, não deveria ter nenhum tipo de segredo e, apesar de muito desgastado, parecia uma arma confiável nas mãos da pessoa certa.

Kaya passou a noite inteira contando histórias de suas aventuras e de algumas das histórias que lhe foram contadas por Luffy, ficamos tão entretidos que não notamos quando o dia finalmente começou a amanhecer.

— - Lenny - -

O sol começava a aparecer em meio às árvores quando finalmente consigo sair de dentro da floresta. A caçada de hoje foi boa, consegui pegar um elefante do tamanho de uma vespa, os animais da floresta são muito astutos em se esconder durante a noite, o que torna difícil achar qualquer coisa além de plantas. Parece que hoje dei sorte grande.

Percorri calmamente meu caminho de volta ao orfanato quando me deparo com um homem sobre a ponte que passava por sobre o rio, seus cabelos eram verdes e ele usava um manto vermelho muito legal, os longos fios estavam presos em um rabo-de-cavalo. Ao me aproximar vejo que ele parecia estar me esperando.

— Você é Lenny, não é mesmo? – seu tom indicava que era uma pergunta retórica, ele deveria ter plena certeza de quem sou. – Eu gostaria de falar um pouco com você.

— Quem é você e o que quer? – respondo com rispidez, ele poderia ser algum dos enviados da Marui, não posso baixar minha guarda.

— Não se preocupe, eu me chamo Kinoko. – um sorriso se abre em seus lábios antes que ele prossiga. – Eu queria te fazer algumas perguntas a respeito de um homem chamado Luke Hardy, você teria como me ajudar?

— - Continua - -




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Notas finais do capítulo

E aqui estamos nós novamente, como sempre, agradeço aqueles que tem acompanhado nossa história, cada leitor significa muito para mim, se puderem, deixem suas dúvidas/quesionamenos/comentários/reviews sobre o que tem achado, espero vê-los novamente semana que vem e até a próxima.



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