Keybringer Pirates escrita por Kardio


Capítulo 10
Capítulo X


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos! Como estão? Espero que bem! Trago-lhes hoje a continuação do arco da vila syrup, espero que gostem



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/797779/chapter/10

Capítulo X – Histórias sobre o Rei.

— - Lyon - - 

— Seu ticket, por favor. – o funcionário inquire com tom severo e cara de pouquíssimos amigos, vasculho meus bolsos e tiro de lá um papel surrado, papel esse que consegui ao gastar as últimas economias que tinha, entrego ao homem que examina-o com olhar duro, rasga o papel e me dá passagem. 

Passo por ele, começando a subir as escadas que me levariam ao navio atracado mais á frente, minha mente começa a vaguear sobre todas as coisas que me levaram a tomar a iniciativa que eu estou tomando. 

Desde pequeno sempre tive centenas de sonhos, todos eles envolvendo o mar e toda a sua grandeza, em alguns eu descansava em desertas praias paradisíacas, em outros eu enfrentava terríveis tempestades e bestas marinhas, devo admitir que estes sempre me pareceram mais emocionantes e atraentes, mas ainda eram sonhos. Minha doença e estado de saúde frágil acompanharam-me durante toda a minha vida, enchendo meu coração de enorme tristeza. Meu pai sempre tentou me alegrar me levando em cruzeiros luxuosos por todo o East Blue, mas nada adiantava, o máximo que eu fazia era fingir estar me divertindo para não chateá-lo, eu não sabia ao certo o que eu queria, mas com certeza não era aquela tranquilidade comprada com algumas Berries ou favores políticos, eu queria algo mais. Foi então que conheci Luke. Quando vi Luke lutando, não só uma, mas três vezes, meu corpo inebriou-se com toda aquela adrenalina, soube na hora que era aquilo que procurei durante toda uma vida, eu não queria mais que ninguém me protegesse, eu queria ser forte o suficiente para proteger a mim mesmo e aos outros.

Durante muito tempo pensei no que eu queria me tornar e, quase sempre, a resposta imediata de minha mente era: Pirata. Mas isso mudou. O mundo é um lugar diferente daquilo que lemos em livros, é um lugar sujo e cruel, os piratas, em sua grande maioria, são maus e só se importam com as próprias vontades, eles não estão nem aí para quem machucam contato que consigam o que querem. Ao menos era isso o que eu pensava. Luke me mostrou que ainda podem existir aqueles piratas que eu tanto admirava. Ele pegou todas as opiniões pré-formadas que eu começava a ter e as esmagou em seus punhos, ele provou que ainda existem piratas que valorizam um sonho acima de sua própria vida, mas que ainda se importam com os sonhos dos outros. Ele se importou com meu sonho. Ele se importou com o sonho de Sofie. Em seu rosto não era possível ver maldade, mas sim o mais puro desejo de se divertir e conquistar seu sonho. Mas, acima de tudo isso, ele acreditou em mim. Eu não acho que eu tinha alguma esperança, mas quando ouvi-lo dizer que eu poderia sim me tornar forte, até mesmo mais forte que ele, eu simplesmente senti que poderia ser capaz de tudo, e foi nessa hora que decidi: Eu vou me tornar um Marinheiro. Não posso tolerar um mundo onde piratas fazem o que querem, vou caçar e parar todos esses piratas que fogem do ideal que tenho, o ideal de pirata que é Luke, e, além de tudo isso, vou caçar o pirata que tanto causou problemas ao meu pai, aquele que quer transformar minha terra natal em seu território por causa de algum jogo de poder inconsequente.

Pelo menos foi isso que mantive em meu coração, mas após a partida de Luke, me acovardei. Eu estava muito doente, o que eu poderia fazer? Eu não tinha a coragem necessária para fazer o que tinha que ser feito, e talvez eu fosse continuar minha vida toda assim. Mas, em uma noite fria, surgiu Kinoko, ele ouvira falar de Luke e parecia procurá-lo, não posso garantir ao certo, mas a sensação que emanava dele... Era de uma força pura e determinada. Conversamos pouco, mas ele passava uma sensação de conhecimento ilimitado, sua voz era convicta em tudo o que dizia e foi por isso que tomei uma injeção de confiança quando ele disse que nos encontraríamos novamente, desta vez em outro lugar. Após isso, não consegui resistir.

Essa doença vai me matar um dia? Sim, irá, mas quem morrerá será um homem que não teve medo de acreditar e lutar por seu destino, pois aquele menino fraco, covarde e chorão que eu costumava ser já está morto. Dou uma última olhada para a ilha, havia chegado a hora de partir, mas ainda havia uma dor em meu peito. Sei que eu não deveria ter fugido de casa, sei bem que eu deveria ter contado á meu pai sobre minhas intenções... Mas como eu poderia fazê-lo? Ele nunca me deixaria partir. Não podia deixar que ele me impedisse. Sei que é egoísmo de minha parte, mas não posso mais ficar em um lugar onde todos me protegem. Eu fiz uma promessa com Luke de que eu o encontraria novamente e que, quando isso acontecesse, lutaríamos. E se eu não me tornar um Marinheiro, meu sonho e minha promessa não fazem sentido. Não existem bases da Marinha aqui, então preciso partir, mesmo que isso signifique abandonar todos aqueles que conheço.

— Adeus, pai. – murmuro para mim mesmo, dando as costas para a ilha e adentrando o interior do navio. – Luke... Espere por mim.

— - Zodick - -

Já começava a anoitecer quando chegamos ao lugar, o terreno se localizava aos fundos da vila e era simplesmente enorme. A grama verdinha se fazia presente por todo o caminho, apenas ausente no trajeto de terra batida que seguíamos, pequenos arbustos ladeavam a trilha enquanto flores silvestres lançavam suas fragrâncias irresistíveis pelo ar e abelhas, borboletas e joaninhas iam e vinham de seus pousos sobre as pétalas multicoloridas. Seguimos a trilha até nos depararmos com um extenso muro, ele possuía aproximadamente 2,80m. Ele era pintado de marrom desde o chão até uma altura de aproximadamente 70 centímetros, sendo branco acima disso. Pilastras quadrangulares erguiam-se a cada três metros de muro. Seu portão era ricamente trabalhado e pintado de azul-claro, era guardado por dois homens troncudos usando ternos e óculos escuros, mas o que mais chamava a atenção estava um pouco mais atrás.

Uma enorme mansão se erguia imponentemente abaixo do céu noturno, devia ter em torno de três andares, suas paredes eram de uma coloração amarelo-carmim e seu telhado de um profundo azul-celeste, as pilastras brancas, desta vez redondas, erguiam-se na frente da casa sustentando uma coberta que, em sua parte superior, formava uma bela varando em pleno segundo andar, nesta varanda havia uma larga porta de vidro. Era possível ver que em cada andar havia quatro janelas, duas à esquerda e duas à direita das paredes, em cada lateral da casa havia mais um janela, no teto havia um brasão de uma árvore destacada por uma estrutura em meia-lua, como se fosse uma placa, havia também algumas clarabóias na parte do teto que correspondia ao sótão.

Algumas árvores cercavam a casa, haviam duas de uns 3,5 metros próximas ao portão, um pinheiro de quatro metros na extremidade direita do mesmo, algumas árvores de dois metros faziam fila por toda a extensão esquerda da propriedade e, próxima ao fundo da casa, uma macieira com mais de dez metros erguia-se imponentemente. Não posso evitar me sentir perdido e intimidade quando chegamos ao portão.

— Essa casa é sua? – Luke pergunta impressionado ao jovem de cabelos loiros de nome Torui, o mesmo o fita com uma risadinha descontraída.

— Bem... Não, mas eu moro aqui por enquanto. – vejo a sobrancelha de Sofie erguer-se em resposta, surpresa ou desconfiança? Não faço ideia. Ao se aproximar do portão, Torui identifica-se e os homens de terno abrem-lhe o portão, dando-lhe passagem, seguimos o caminho que nos levaria até a porta de entrada da casa. – Acho que lhes devo um agradecimento pela ajuda com o bando do “Naja” lá no restaurante, aqueles caras vêm fazendo bagunça na cidade já faz um tempo, a Marinha vive os perseguindo, mas eles sempre dão um jeito de voltar, muito obrigado.

— Nós que agradecemos. – Sofie responde prontamente, apesar da educação, mantinha-se alerta a cada mínima reação do loiro. – Você que veio em nosso socorro quando ele começou a nos incomodar.

— Pode até ter sido, mas vocês não fugiram quando a situação apertou, nem todos têm essa coragem. – posso ver um sorriso aberto se formar em seu rosto enquanto ele caminhava, ele vira-se, andando de costas em direção a porta enquanto continua nossa conversa. – A maioria das pessoas fugiria daqueles piratas malditos sem nem pensar duas vezes. – conclui ele.

— Você não gosta de piratas?-questiono-o e ele nega com a cabeça.

— Não é bem isso, eu os adoro. – o loiro faz uma pequena pausa antes de continuar sua explicação. – Mas usar sua força para atacar civis inocentes? Aí é outra história. – suas feições eram duras, diferente do garoto de sorriso fácil que havíamos visto até agora. – Desde pequeno sempre escutei histórias da bravura e coragem dos piratas, mas atacar pessoas que não podem se defender é a ação mais covarde que pode ser tomada.

— Ei, ei, Sofie! – Luke clama empolgado, seus olhos brilhavam. – Olha só o tamanho daquela macieira! Um suco daquelas maçãs deve ser uma delícia. – ele parecia salivar enquanto pensava no gosto do suco e apontava para a frondosa macieira nos fundos da casa.

— Se controla. – murmura Sofie, irritada, arrancando novamente um sorrisinho de Torui.

— Desculpe a intromissão, mas não me lembro de já tê-los visto por aqui. – comenta o loiro. – São viajantes? – antes mesmo que eu ou Sofie conseguíssemos pensar em algo para responder, Luke se precipita.

— Partimos em uma jornada para que eu me torne o Rei dos Piratas. –Luke sorria aberta e despreocupadamente, quase fazia parecer que ele tinha dito que iria se tornar um exemplo para as próximas gerações e não o maior criminoso do mundo. – Estes são Sofie e Zodick, meus companheiros. – E como se não bastasse, ele nos delatou junto, empolgante, não?

— Uau. – Torui responde com um simples sorriso. – Gosto do seu espírito, Luke. – vejo a navegadora ao meu lado erguer a sobrancelha.

— Essa não é exatamente a reação que eu esperava de um cara que acabou de surrar vários piratas. – o tom sério da ruiva servia também para disfarçar o relaxamento de sua mão ao redor do cabo de sua Kukri. – Esperava algo mais como tiros e investidas agressivas.

— E porque eu faria isso? – o rosto de Torui assume uma expressão cheia de dúvidas, apesar de ser quase da nossa idade, vez ou outra ele parecia ser mais novo do que realmente era. – Durante toda aquela confusão, em nenhum momento vocês atacaram os civis, muito pelo contrário, vocês é que estavam os protegendo; Não tenho motivo algum para atacá-los. – ele vira novamente para frente ao notar que havíamos chegado à porta, suas mãos pousam sobre o metal frio das maçanetas. – Se não fosse esse o caso... Eu simplesmente teria que dar um jeito em vocês. – seu tom, por um momento, tornara-se frio, sua voz não soava como uma ameaça, mas sim... Receio? Como se na nossa frente não tivéssemos um homem, mas sim uma besta selvagem prestes a atacar. – Mas deixa isso pra lá. – sua voz volta ao tom alegre e brincalhão de antes, mas o arrepio em minha pele prova que aquilo não foi apenas impressão minha.

As mãos do loiro giram as maçanetas e as portas se abrem revelando um grande, belo e simples hall de entrada, o branco era predominante por todos os lugares que se olhasse, com detalhes em azul-celeste e púrpura aqui ou ali, nas paredes haviam alguns diplomas de medicina e quadros variados, cada um deles continha uma jovem loira sorridente vestida em um jaleco cuidando de algum paciente.

— Wow! Que casa maneira! – Luke, barulhento como sempre, fala em voz alta.

— Obrigado, eu acho. – Torui sorri sem jeito, fechando a porta atrás de nós, ouço o som de passos se aproximando.

Um garota adentrou o hall de entrada vinda de uma porta à esquerda, pelos trajes que usava ela era uma das empregadas da mansão, talvez até a governanta, usava sapatilhas pretas, longas meias brancas, vestido preto rendado que chegava até pouco abaixo dos joelhos e um avental branco com babados por cima do vestido, seus olhos eram de um azul claro, tinha cabelos pretos e curtos cortados em estilo Chanel, o corte era irregular em sua testa onde da direita pra esquerda ficava cada vez menor até chegar pouco acima da sobrancelha esquerda, onde voltava ao tamanho normal.

— Você trouxe visitantes, senhor Torui? – a jovem aparentava ser um pouco mais velha do que nós, mas ainda sim tratava o loiro com muito respeito.

— Trouxe sim, Joy. – ele sorri abertamente. – Como está a senhorita Kaya?

— Está em seus aposentos. – responde Joy. – Ela pediu que fosse vê-la quando retornasse. – o loiro assentiu com a cabeça.

— Tudo bem, estou indo. – ele dá dois passos e para, virando-se novamente para a governanta. – Você poderia pedir para preparar uma refeição para mim e meus convidados? Não tivemos a chance de comer algo mais cedo. – a jovem dirige seu olhar para nós. 

— Gostariam de pedir algo em especial? – sua voz era séria e polida, mas ao mesmo tempo reconfortante e hospitaleira.

— Suco! – Luke responde sem nem pensar. – Muito suco! Todo o suco que você conseguir fazer! – ela assente respeitosamente.

— Como quiser. – ela dá meia volta, saindo pelo caminho que entrou, provavelmente indo para a cozinha, Torui acena com a mão para que o seguíssemos enquanto ele iniciava sua trajetória através de um lance de escadas. Um silêncio desconfortável se instala no local, então tento quebrá-lo.

— Você disse que essa casa não era sua, então... De quem seria? – ele responde enquanto continua a subir os degraus calmamente.

— Senhorita Kaya, ela é uma médica herdeira de uma grande fortuna, já ajudou muitas pessoas durante sua vida, principalmente durante a época das “Atrocidades do Barba Negra”. – eu me lembro de já ter escutado algo a respeito, muitos anos atrás, na época da ascensão de Luffy do Chapéu de Palha, havia um poderoso pirata conhecido como Barba Negra, ele tinha um grande poder em mãos e uma forte tripulação, mas Luffy era uma grande ameaça à ele e a aliança pirata do Chapéu de Palha com Shanks, o Ruivo, piorava ainda mais sua situação, Barba Negra então bolou um plano de enfraquecer ambos os piratas atacando as ilhas que estavam sobre o domínio deles, consequentemente, machucando amigos e familiares de ambos. Isso gerou uma grande fúria tanto em Luffy quanto em Shanks que começaram a revidar os ataques com ainda mais forças e aliados, com a intervenção da Marinha logo após, deu-se início aquela que ficou conhecida como a “Guerra dos 100 dias” que culminou na morte de muitos piratas e marinheiros e também na coroação de Luffy como o Rei dos Piratas, após isso o Chapéu de Palha rumou para a última ilha da Grand Line, Raftel, e nunca mais se soube nenhuma notícia dele. – Naquela época a senhorita Kaya ajudou muitas pessoas, mas agora ela já está velha, então é minha vez de retribuir os cuidados dela por todos cuidando dela um pouco.

— Ela cuidou de você também? – a pergunta de Luke, apesar de parecer boba, parece ter tocado em uma ferida de Torui, o loiro manteve-se em silêncio quanto à ela, mas posso perceber certa tensão em seu corpo, como que para aliviar isso, Sofie faz outra pergunta.

— E porque você nos trouxe aqui? – questiona a ruiva, ela ainda não parecia confiar em Torui, e a hesitação do loiro em falar sobre Kaya á pouco não parece ter melhorado sua situação, na verdade, eu nem mesmo sei se Sofie confia realmente em mim ou Luke, mas não acho que seja a melhor hora pra levantar essa questão. 

— É simples, quando escutei Luke dizendo que queria ser o Rei dos Piratas, algo simplesmente me disse pra trazê-los aqui. – ele finalmente para em frente á um grande porta de madeira, apesar de seu tamanho, ela não possuía nenhum tipo de ornamentação, sendo algo bem simples, a tal Kaya não deve gostar muito de coisas luxuosas e espalhafatosas. O loiro dá dois toques na porta antes de se pronunciar. – Senhorita Kaya? Eu trouxe visitas.

— Entre, por favor. – uma rouca voz feminina se faz ouvir do outro lado.

Ao abrir a porta posso me assegurar que ela realmente não gostava de muitas luxuosidades apesar do tamanho e beleza de sua mansão, as paredes brancas traziam certa paz ao ambiente e as fotos, provavelmente doces recordações dela, tomavam conta da maioria do cômodo, em uma das pontas do quarto havia uma grande porta de vidro, provavelmente levaria á aquela varanda que vimos ao entrar, próximo á porta de vidro havia uma cadeira de balanço e uma senhora sentada sobre ela, sua pele era pálida e enrugada pela ação do tempo, ela devia ter por volta dos seus 80 ou 90 anos, seu corpo era magro e ossudo, seus fios de cabelo grisalho desciam repartidos sobre os ombros, era possível ver um ou outro fio loiro em meio a floresta branca de cabelo, seus olhos castanhos nos observavam cansadamente por trás dos óculos de grau, ela possuía um sorriso pequeno e acolhedor.

— Sejam bem-vindos. – sua voz era rouca, provavelmente por tossir demais, porém acalentadora e convidativa. – Aproximem-se, por favor. – com seu pedido, chegamos alguns passos mais próximos e vejo seus olhos arregalaram-se ao verem Luke, na verdade, o único que parece não ter notado o olhar de Kaya foi o próprio capitão que estava muito distraído olhando pra qualquer coisa do outro lado da janela.

— Algo errado, senhorita Kaya? – Torui pergunta à senhora ao notar o espanto dela com Luke.

— Esse garoto... – a expressão dela era confusa, como se já tivesse o visto em algum lugar, mesmo que, provavelmente, essa fosse a primeira vez que estivesse o encontrando. – Jovem, qual seu nome? – o capitão ainda olhava para o lado de fora da janela, tão distraído que foi preciso um cutucão de Sofie para fazê-lo voltar a realidade, ao notar o olhar da velha senhora ele, como que por reflexo, falou.

— Meu nome é Luke Hardy, sou o homem que se tornará o Rei dos Piratas. – será que essa frase é um tipo de secretária eletrônica que ativa toda maldita vez que perguntam quem ele é ou qual o nome dele? Os olhos da senhora mantinham-se fixos nele, seu sorriso era nostálgico, como se estivesse se lembrando de tempos que não voltam mais.

— Entendo... Mesmo que por um momento, pude ver Luffy em você, e agora eu entendo o porquê. – Torui arregala os olhos, levando-os de Kaya para Luke e então Kaya de novo.

— Com Luffy... A senhorita Kaya quer dizer Luffy do Chapéu de Palha? Tipo, o Rei dos Piratas? – Kaya meneia a cabeça positivamente enquanto a sobrancelha de Sofie se ergue. – Tipo, o Luke, esse cara que tá aqui, é parecido com o Rei dos Piratas? Tipo, sério mesmo?

— Nunca me acostumo com esse jeito que vocês, jovens, se referem ao Luffy. – ela dá uma risadinha, sendo interrompida por uma pequena crise de tosse.

— Espera aí. – interrompo-a, não que fosse necessário já que a tosse já havia feito isso por mim. – A senhora conheceu o Rei dos Piratas?

— Sim, o conheci há muito tempo, antes mesmo de ele ter sua primeira recompensa anunciada ao mundo. – tanto eu quanto Sofie pareciamos abismados, completamente sem reação, por isso Luke foi o primeiro a falar.

— Eu quero ouvir sobre ele! – exclama o capitão e a senhora fala com voz fraca.

— Não tenho problemas em contar a vocês algumas velhas histórias, sentem-se, por favor.

— - Sofie - - 

Cada um de nós toma assento em uma das poltronas localizadas próximas à porta de vidro, por falta de cadeiras, Luke senta-se ao chão, seus olhos brilhavam de expectativa, parecia uma criança prestes a ganhar um doce de seu pai. Torui, antes de se sentar, traz um casaco feito de crochê para Kaya que se agasalha com ele, finalmente começando a contar sua história.

— Tudo aconteceu quando eu tinha 17 anos. – começa ela, seus olhos pareciam distantes, como se reassistisse todos os momentos que agora nos contava. – Nessa vila vivia um garoto chamado Usopp, vocês devem conhecê-lo hoje em dia como Sogeking. – Luke a olha confuso, parecia nunca ter escutado esse nome, a cada dia que se passa me impressiono como ele não sabe absolutamente nada sobre o mundo em que vive, na verdade, acho que o mais surpreendente de fato é ele lembrar o próprio nome.

— Usopp era o atirador do bando do Chapéu de Palha. – é Torui quem resolve esclarecer as dúvidas na mente de Luke, os olhos do loiro emitiam um brilho maravilhado. – Sua alcunha era Sogeking, que significa o Rei dos Atiradores, dizem que nada podia escapar de sua mira em um combate. – os olhos de Luke acendem-se em empolgação.

— Ele era um garoto alegre e gentil. – continua Kaya. – Mas um grande mentiroso. Todos os dias ele vinha até aqui, subia naquela macieira. – a senhora aponta para a imensa árvore que vimos desde a entrada, seus galhos grossos facilmente aguentavam um ser humano e chegavam próximos à janela. – Na época eu era muito doente, e vivia em casa, trancada e triste. – ela abre um sorrisinho feliz. – Ele, dia após dia, vinha aqui e inventava histórias incríveis sobre aventuras que ele dizia ter tido. – ela faz uma pequena pausa, atacada por outra crise de tosse. – Eu sempre soube, lá no fundo, que todas as histórias eram mentira... – continua ela. – Mas ele fazia todo esse esforço apenas para me alegrar... Como eu poderia simplesmente não acreditar nele, entende? – não consigo evitar de abrir um sorrisinho bobo em meus lábios, era bonito ver que naquela época ainda existiam pessoas que se importavam tanto assim com os outros. – Naquela época meu antigo mordomo, Kurahadol, não gostava dele e vivia o enxotando da propriedade, mesmo que no dia seguinte ele sempre voltasse.

— Tá, mas e o Luffy? – a curiosidade e ansiedade de Luke eram quase palpáveis, meus olhos, porém, fixam-se no colar em seu pescoço. Ele estava com aquilo antes? Lembro-me de ter visto-o na primeira vez que nos encontramos, na mansão do Lyon, mas depois disso eu nunca mais tinha notado. Ele tinha o tirado? Ou simplesmente passou despercebido em meus olhos? Se parece com uma chave... Será que abre alguma coisa? Mas acima de tudo, parece ser feito de algo estranho... Qual será o material?

— Perdão, irei me apressar. – a continuação da história de Kaya tira-me de meus devaneios sobre vender o colar a um alto preço. – Um dia, Luffy desembarcou nessa ilha, naquela época ele tinha a idade de vocês. Em sua companhia vinham Zoro, o Caça-Piratas, e Nami, a Gata Ladra. Usopp era filho de um pirata e os admirava muito, logo tornando-se amigo de Luffy e dos outros. Isso acaba por fermentar ainda mais a repulsa de Kurahadol que odiava piratas, chegando ao ponto de insultar Usopp por causa de seu pai. Usopp revoltou-se e atacou Kurahadol, logo em seguida sendo expulso da propriedade. Foi então que eles descobriram que Kurahadol era, na verdade, Kuro, um capitão pirata extremamente traiçoeiro e famoso por todo o East Blue. Eles também descobriram que ele tinha um plano para me matar e ficar com toda a minha herança. – a curiosidade na voz de Luke era quase gritante quando ele questiona.

— E o que eles fizeram?

— Contaram para toda a vila, mas ninguém acreditou neles. – Era a palavra de um mordomo aparentemente honesto, gentil e trabalhador contra a de três piratas e um garoto que mentia sobre tudo para todo mundo, eles não tinham a menor credibilidade.

— E o que aconteceu após isso? – até mesmo Zodick parecia concentrado na história.

— Bom... Sabendo que eles não teriam qualquer tipo de ajuda, eles mesmos ergueram-se para lutar contra Kuro e seu bando. – vejo Luke engolir em seco.

— A senhora viu o Rei dos Piratas lutar? – a senhora sorri e responde.

— Sim, e posso te dizer com toda a certeza: Mesmo naquela época ele já era muito forte, embora não fosse nada comparado com sua força de agora. E seus companheiros não ficavam para trás, visto que eles quatro foram capazes de derrotar todo o bando e o próprio Kuro. – Um silêncio quase sólido se instala no local, a admiração de Luke pelo que acabara de ouvir era simplesmente fascinante, ele realmente parecia mais empolgado do que nunca.

— A senhora disse que o Luke se parecia com o Rei dos Piratas... Quer dizer... Fisicamente? – questiono-a apenas para vê-la menear negativamente a cabeça.

— Não, fisicamente eles são bem diferentes, mas... – ela fixa novamente seus olhos em Luke. – Quando conheci Luffy, ele era um homem que exalava coragem e determinação para obter seu sonho, e eu vejo essa coragem e determinação por seu sonho de maneira idêntica em Luke, por isso tive a sensação de estar na frente daquele garoto sonhador de 60 anos atrás. – Luke a olha confuso, como sempre ele não deve ter entendido o que ela quis dizer, mas isso é padrão dele mesmo.

— Com licença. – desta vez é Zodick quem se intromete no assunto. – A senhora mencionou que naquela época Luffy era mais fraco do que era agora, mas... – ele faz uma pequena pausa, engolindo em seco antes de fazer a pergunta que tanto o incomodava neste momento. – Ele está morto, não está? Como ele poderia ser mais forte hoje se ele está morto? – sinto como se a temperatura dentro da sala tivesse caído uns bons dez graus de uma vez, um silêncio incômodo paira no ar enquanto o vento sopra lá fora, balançando os galhos que começam a "arranhar" o vidro da porta, após alguns segundos que mais pareceram horas, Kaya responde.

— Não, Luffy do Chapéu de Palha não está morto. – sinto uma onda de adrenalina se espalhar por todo o meu corpo, tamanha surpresa invade minha mente, essa notícia muda tudo. A Era dos Piratas e toda a hostilidade que ela traz têm sido sustentada sobre a premissa de que o Rei dos Piratas está morto, mas ele não estando só torna as coisas mais difíceis. É claro que algumas pessoas desistiriam de qualquer coisa ao saber que Luffy está vivo, mas isso poderia deixar os piratas ainda mais agressivos e gananciosos, visto que tudo que pudesse ser relacionado á mais poder seria um alvo na busca por destronar o homem mais forte que já existiu, e isso acabaria envolvendo muitas pessoas inocentes também, isso também torna nosso caminho muito mais complicado, visto que além de todos os piratas e marinheiros que temos no caminho, também teríamos que superar o Rei dos Piratas e todo o seu bando... Parando pra pensar, desde quando essa história de ser Rei dos Piratas me interessa em algo? Acho que viajar tanto tempo com Luke está me deixando com uns parafusos a menos.

— Mas... Como a senhora pode dizer com tanta certeza que ele está vivo? – Zodick questiona-a, parecia tão preocupado e surpreso quanto eu, mas tentava se manter racional. – Ninguém o vê a mais de 20 anos.

— Bem... Se ninguém o vê, é por que ele não quer ser visto. – ela tem uma pequena crise de tosse antes de continuar. – Mas ele esteve aqui alguns meses atrás. – até mesmo Torui parece ficar surpreso com a notícia, mas escolhe não falar nada. – Mas pensem bem, se Luffy estivesse morto, não acha que isso estaria na primeira página de todos os jornais? Por que crêem que o Governo Mundial nunca fala nada a respeito? – ela estava certa, a morte de Luffy seria o carro-chefe de todas as notícias do Governo caso tivesse acontecido, mas o nome dele não é mencionado em lugar nenhum há anos, a Marinha e o Governo nunca deixariam isso acontecer, a menos que soubessem de algo...

— Senhora Kaya, eu ainda tenho uma dúvida. – ela acena com a cabeça para que eu a questionasse. – Se o Rei dos Piratas está vivo... Porque ele nunca mais deu as caras? – vejo Zodick, Torui e Luke dirigirem seu olhar á ela, sinto como se inconscientemente eu estivesse prendendo a respiração, Kaya abre um sorrisinho, como se soubesse de algo, seus lábios rachados abrem-se para me responder.

— Senhorita Kaya. – é a voz da governanta, Joy, que se faz ouvir. – Com licença, mas o jantar de Torui e seus convidados já está pronto. – a voz ecoa abafada do outro lado da porta, sinto o ar voltar a correr por meus pulmões com a quebra da tensão e Kaya fala.

— Torui, acompanhe-os até a sala de jantar, continuamos nossa conversa em outro momento. – o loiro assentiu, mesmo que contrariado, e nos guia para fora do quarto.

— - Eagle - - 

— Ei, maldito, acorda. – ouço o som de algo metálico se chocando contra as grades onde estou preso, me acordando, abro os olhos lentamente, meu corpo ainda estava doído, meus braços, mesmo ainda quebrados por causa da luta contra Zodick, estavam algemados, a Marui é muito precavida então não era uma grande surpresa, meus pés estavam acorrentados em pesados grilhões, cada um contendo uma bola de ferro de uns 20 kg. Não creio que eu pudesse escapar, não importa o que eu tentasse.

O guarda abre a porta da cela, ele fala algo sobre o Pai querer ter uma palavra comigo e me levanta. O que o Pai iria querer dizer pra mim além de minha sentença? Bom, tanto faz, a morte é meu único destino desde que Zodick utilizou seu estilo do Leão da Marui mais uma vez.

Percorremos um longo caminho até chegar à sala principal, um longo pátio de pedra com 26 tronos de pedra, um ao centro, onde posso ver, ou melhor, deduzir que é o vulto do Pai, ao redor dele 25 outro tronos formavam um círculo, cada um deles deveria ser ocupado por um dos mestres Marui, cada um para um estilo diferente, destes 25, apenas 8 estavam presentes, outros 14 deviam estar em missões ao redor do mundo, o trono do Leão estava vazio desde a partida de Zodick, o outro estilo Suserano de assento vazio estava assim há mais tempo do que os documentos datam, dizem que, com exceção do Pai, não há outro mestre do terceiro estilo Suserano, ou seja, o terceiro estilo mais forte da Marui, á algumas centenas de anos, o último trono vazio era o da Águia, aquele em que eu costumava me sentar, eu queria muito que ele estivesse me trazendo aqui para me devolver á meu trono, mas não acho que uma Águia com asas quebradas e penas velhas pode fazer alguma coisa, as algemas em minhas mãos e pés dizem bem o que sou no momento: Um prisioneiro no corredor da morte, não um Rei com sorte.

— Eagle. – a voz do Pai rasga em meus ouvidos como navalhas afiadas, tudo o que posso fazer é baixar minha cabeça diante de sua presença. – Quero que repita, desta vez diante de todos os mestres Marui aqui presentes, o relatório que deste quando chegou á dois dias atrás. – engulo em seco, pensei a me negar, mas tortura antes de morte não é exatamente algo que quero para meu fim, então faço questão de desembuchar.

— Parti como ordenado para convencer Zodick á retornar, como ele é filho de nosso grandioso Pai, não deveria ser forçado a nada, apenas convencido, e foi isso que fizemos... Tudo estava indo bem, até que apareceu um pirata... Seu nome era Luke... Luke... Bom, não lembro seu sobrenome. – faço uma pausa, quase engasgando em minha própria saliva. – Ele ajudou Zodick á derrotar os aprendizes Marui sobre meu comando e inspirou Zodick á usar novamente seu estilo do Leão, bem... Esse foi o estado que fiquei após isso. – meus braços quebrados e roupas esfarrapadas eram um aviso claro para a Marui daqui em diante: Zodick não se entregaria sem lutar, e numa luta ele sempre venceria, a menos que um dos três estilos Suseranos fosse mandado.

— Entendo. – a voz do Pai era imponente e dura. – Você já cumpriu sua missão. – Aí estavam, as palavras que um Marui nunca esperava ouvir, quando conseguimos completar uma missão, nunca escutamos essa frase, normalmente escutamos algo como “Tenho outra missão para você” ou “Descanse um pouco”, as vezes até “Teremos uma reunião em breve”, mas quando se escuta que sua missão está cumprida, só significa que, para a Marui, você não tem mais serventia, e quando você não tem serventia pra Marui, eles simplesmente põem o lixo pra fora.

— - Pai - -

A execução foi rápida.

Crisaor, Mestre do Estilo Marui do Caranguejo rapidamente o guilhotinou com suas poderosas “pinças” de Caranguejo e deu-se fim à reunião, o corpo fora retirado e os mestres começaram a se retirar, menos um deles, que atendeu a meu pedido para que ficasse.

Lynnx, Mestre do Estilo do Lobo.

Dominador de um dos Três Estilos Suseranos da Marui, ele se formou apenas um ano depois da fuga de Zodick e, desde então, tem sido meu Mestre mais confiável, seu estilo, além de bater de frente com o estilo Leão de Zodick, é considerado o mais difícil de se aprender, mas ao mesmo tempo é quase invencível.

— O que desejas de mim, Pai? – Lynnx ajoelhava-se diante de mim, provavelmente ele era o único que me mostrava tamanho respeito e submissão, verdadeiramente um servo fiel.

— Tenho uma missão para ti.

— Á suas ordens, Pai. – ele responde prontamente, seu corpo ainda estava escondido nas sombras, mas eu podia ver seus olhos, intensos como um lobo em plena caçada. – Do que se trata?

— O Governo Mundial me enviou uma carta. – começo a falar, sinto seus olhos estreitaram-se um pouco. – Eles solicitam um de meus Mestres para adentrar em sua organização, para somar forças a seus membros.

— Como um Shichibukai, o senhor diz? – ele questiona apenas para receber um não como resposta.

— Creio que não, o grupo dos Shichibukais está completo novamente após um longo tempo, não acho que eles queiram retirar alguém daquele grupo justo agora. – cruzo minhas mãos, entrelaçando os dedos uns nos outros. – O que eles querem é algo muito mais... Secreto.

— - Continua - - 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Venho por meio dessa nota desejar a todos um bom "feriado de carnaval", se cuidem e cuidem de seus próximos. Sobre o capitulo, espero que tenham gostado, deixem seus reviews/dúvidas/pensamentos/comentários e até a próxima!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Keybringer Pirates" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.