Pétalas do Caos escrita por BellatrixOrion


Capítulo 4
Capítulo 3 – Depois da Tempestade




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/797635/chapter/4

Capítulo 3 – Depois da Tempestade

Vento.

Cortante e gélido.

Iniciava aquela manhã pós tempestade.

— Ino! Karin! Vou ir ver como está a horta e os animais! – Sakura gritou da porta da mansão antes de sair e se deparar com a neve afundando seus pés.

A nevasca da noite anterior havia sido muito pior do que elas conseguiram mensurar de dentro da casa, para falar a verdade, todos foram pegos de surpresa. O inverno chegou mais cedo que o esperado naquele ano, e Sakura e suas irmãs precisaram correr e armar uma tenda para proteger a pequena horta da família e os animais.

Apesar das condições adversas, as meninas Haruno conseguiram protege-los do temporal furioso, mas isso só foi possível a penosas custas, pois Ino e Karin acabaram ficando de cama, tiveram febre durante boa parte da noite e Sakura acabou por ficar acordada cuidando das irmãs.

Se ela tinha dormido mais de duas horas, era muito.

Ainda antes de sair de casa a menina sentia-se terrivelmente sonolenta, foi uma verdadeira luta arrastar-se para fora do conforto de sua cama e abandonar os quentes cobertores que a embalaram na sua sucinta soneca, vestiu-se lenta e preguiçosamente, permitindo-se colocar calças grossas, botas pesadas de couro e um longo casaco de lã ao invés dos costumeiros vestidos que todas as mulheres deveriam usar mesmo naquele frio invernal. Algumas boas vantagens em se viver tão reclusos dentro da floresta era não ter o infortúnio de olhares inconvenientes lhes cercando o tempo todo, a paz era uma dádiva que Sakura definitivamente estava mais que preparada para apreciar naquele dia esbranquiçado, mas, certamente, não esperava ser despertada tão bruscamente ao sair e receber a rajada de vento glacial e incisivo que veio ao seu encontro.

— Espero que papai tenha conseguido um lugar para se abrigar... – Pensou consigo mesma, não conseguindo deixar de se preocupar com Kisashi ao analisar a paisagem ao seu redor.

O comerciante deveria ter voltado no dia anterior, fato esse que preocupou as três garotas, mas ao serem surpreendidas pela forte tempestade logo deduziram que o pai deveria ter ficado na cidade para se abrigar, pois ninguém em sã consciência desbravaria a floresta em um tempo tão perigoso e instável.

Entretanto, Sakura não conseguia deixar de se preocupar. Por alguma razão desconhecida seu interior lhe dizia que algo não estava certo, mas não conseguia explicar para si mesma o que a levava a sentir isso.

Enfim, chegando a lateral da grande residência, a menina suspirou aliviada ao constatar que a estrutura que montaram no dia anterior havia aguentado firmemente. Os animais estavam bem protegidos por um amontoado de cortinas que elas precisaram pegar da casa, o vento não podia alcança-los, mas certamente precisariam construir algo mais resistente quando o tempo melhorasse. A horta igualmente resistiu bem, mesmo que nada viesse a nascer enquanto o inverno não passasse, ao menos as plantas não morreriam e todos eles não precisariam se preocupar com mais um desfalque em seu, já escasso, orçamento.

Desta forma, alimentou os animais, reforçou a estrutura por precaução e preparou-se para voltar para o conforto de sua amada casa.

Isto se não tivesse ouvido seu nome ser chamado...

Justamente pela voz da única pessoa que ela não gostaria ter de encontrar a àquela hora da manhã.

— Bom dia, Sakura! Como tem passado?

— Bom dia, Sai... – Respondeu desgostosa ao virar-se e ver, o agora jovem homem, aproximar-se de si, carregando sobre um dos ombros uma pequenas raposa, provavelmente abatida, e no outro uma espingarda.

Sai.

O mesmo delinquente que tanto adorava perturbá-la em sua infância, havia crescido muito bem.

 Era um belo homem de cabelos e olhos negros, com a pele tão pálida quanto a neve, e o porte físico mais invejado daquela região. As mulheres de Konoha faltavam beijar os pés do jovem e bonito caçador, ele realmente havia se tornado alguém famoso na cidade, cortejado por muitas, odiado por poucos e amado pela maioria.

A única parte trágica, era que agora, ao invés de lhe atormentar, ele a cortejava.

Obstinadamente.

— Sr. Haruno está? – Questionou, mas não antes de dar uma boa olhada na figura da menina, enrugar levemente as sobrancelhas e torcer o nariz ao constatar que Sakura vestia calças. Mas, sabiamente absteu-se de qualquer comentário.

— Não, ele foi até a cidade resolver alguns assuntos – Não se preocupou em dar os detalhes, sabia que ele tentaria pedir sua mão novamente a seu pai se o encontrasse – Mas, o que fazes por aqui? – Tentou mudar de assunto – Rondando pela floresta depois da tempestade?

— Oh, fui caçar! – Indicou a raposa sobre o ombro – Estava sedento por um bom ensopado de raposa!

— Achei que não iria querer pisar no solo desse lado da floresta depois do que aconteceu quando éramos crianças... – Sakura alfinetou, com seu ar inocente e polido, mas já muito ciente do quanto ele detestava falar sobre o assunto.

Na época, o boato de que uma criatura diabólica rondava as profundezas daquela floresta espalhou-se como fogo em palha por toda cidade. Muito homens foram até lá para procura a dita cuja, foram dias e dias de incessante busca no frio gélido, mas nunca chegaram a qualquer pista ou suspeita de seu paradeiro ou existência, a única coisa que tinham era o depoimento das crianças, o que os levou a acreditar que não passava de uma brincadeira de mal gosto no fim das contas. Sai acabou muito mal visto aos olhos da população por sua insistência no assunto, demorou um bom tempo até que ele apenas deixasse de falar sobre aquele dia como todas as outras crianças fizeram, conformadas de que tudo não havia passado de um fruto de suas férteis imaginações.

Mas, para Sai, a cicatriz em sua testa era a mais verdadeira prova de que algo realmente havia acontecido naquela floresta... E também o estopim para despertar em si o desejo de se tornar um caçador.

A própria Sakura suspeitava que ele ainda estava a procura daquele garoto... O que não deixava de preocupar seu coração.  

— Não há nada nessa floresta que seja páreo para mim... – Retrucou, quase sombrio, como se o que disse não era direcionado a Sakura, mas sim, a si mesmo.

Um silencio desconfortável os cercou por alguns instantes, com o jovem homem perdido dentro de si e Sakura sem saber como colocar um fim naquela interação indesejável.

 – Mas, enfim! – Finalmente se pronunciou – Se for do seu agrado, poderia se juntar a mim com sua família num jantar hoje a noite, o que acha?

“ Então o motivo de sua vinda era esse...” – Sakura pensou, esforçando-se para apenas sorrir falsamente e não revirar os olhos no processo.

— Agradeço o convite... Mas minhas irmãs não estão muito bem...

— Venha então você! – Precipitou-se agarrando as duas mãos da grota, que não conseguiu esconder sua cara desgostosa e irritada com tamanha falta de respeito com seu espaço pessoal – Certamente minha mãe ficaria encantada em recebe-la e...

— Obrigada, Sai – O interrompeu – Mas hoje não – Disse firme, puxando suas mãos de volta sem qualquer delicadeza desejando encerrar logo aquela conversa que já estava tornando-se longa demais – Tenha um bom dia.

Assim, Sakura virou-se para prontamente entrar dentro de sua querida casa e abandonar o homem aos pés da escada.

Bastou fechar a porta para que ela pudesse respirar mais aliviada.

— Finalmente, poderei dormir um pouco mais.

}|*|{

 - Vamos, vamos... Estamos quase lá!

Kisashi continuava sua fuga desesperada pela floresta. Apesar da claridade do dia, a grande quantidade de troncos persistia em confundir sua mente, parecia que estava correndo em uma espiral infinita que não o levava a lugar algum, e aquilo só o estava deixando ainda mais angustiado.

 “Quanto tempo mais eu terei até que a criatura me alcance?” – pensava com medo.

Os galopes do cavalo eram abafados pela neve, mas o som do vento sobre os galhos já ressequidos das árvores zunia através dos ouvidos de Kisashi. Seu rosto retorcia toda vez que era pego por uma nova rajada cortante e gélida, a temperatura parecia cair um pouco mais a cada metro percorrido, seus membros estavam fracos e sua cabeça ameaçava tombar a qualquer momento.

E se tudo o que aconteceu até aquele momento já não bastasse, Kisashi começou a perceber algo de estranho por trás das árvores, vultos surgiam e desapareciam do seu campo de visão muito rapidamente,  até chegou a cogitar que era sua mente cansada tentando o enganar, mas quanto mais o tempo passava mais frequentes os vultos ficavam...

Além de também parecer que eles estavam se aproximando cada vez mais.

A essa altura, não era mais o vento que lhe arrepiava a espinha.

E as últimas palavras que ouvira do mostro tornaram a assombra-lo como um véu flutuando por sua mente.

“A magia do caos só funciona com trocas equivalentes... Ao roubar da árvore... Ela também lhe tirou sua liberdade.”

Estaria ele eternamente condenado por causa de um ramo de flores?

Mas, mesmo antes que pudesse se dar conta, uma gigantesca sombra negra emergiu diante de seus olhos, fazendo o cavalo empinar imediatamente, derrubando o comerciante no processo.

A neve amorteceu sua queda, e o casaco grosso que havia ganhado no grande castelo também evitou que suas roupas se encharcassem, porém as boas notícias acabavam ali, os segundo que levou para recobrar a consciência pareceram uma eternidade, o mundo ao seu redor estava lento e desfocado, nada realmente parecia fazer sentido dentro de sua cabeça.

Não saberia dizer se era o frio, o estresse, o medo ou algo pior.

Só sabia que estava cansado.

Terrivelmente cansado.

Estava prestes a fechar os olhos e se render aquela luta perdida quando ouviu o rugido bestial inundar toda a floresta.

Do meio das árvores, a criatura do castelo surgiu em um voo rasante, chamando a atenção das sombras escuras para sua direção.

O barulho foi o suficiente para despertar Kisashi do seu estado de torpor, o permitindo enxergar melhor o que na verdade o esteve perseguindo desde que abandonou as terras do castelo, as sombras negras tinham a forma de grandes lobos, muito maiores que qualquer lobo que o homem tenha visto na vida, eram amedrontadoras, diabólicas, os sons grutais permeava seu interior com arrepios e a sinistricidade tomava sua alma por completo. Mesmo que o tempo estivesse quase congelante, o comerciante pode sentir um suor escorrer por suas omoplatas, estendendo-se por todo o comprimento de suas costas, e arrepiando cada pelo existente em seu corpo.

Definitivamente, nunca antes cogitou presenciar uma cena como aquela.

— SAI DAQUI OU ELAS TE PEGARAM! – O mostro gritou enquanto encarava as figuras negras mudarem o foco do senhor Haruno para ele – LEVANTE-SE, HOMEM! FUJA!

Tudo ainda parecia surreal de mais para se acreditar, porém, Kisashi reuniu toda força que pode, barrando as dúvidas e questionamentos que teimavam surgir naquela hora inoportuna, e se levantou num pulo.

Seu cavalo já não estava mais lá, por isso precisou se apressar e começar a correr, toda sua movimentação não passou desapercebida pelos lobos negros, que tentaram novamente o seguir. Entretanto, foram imediatamente parados pela criatura que se pôs no caminho que Kisashi havia escolhido percorrer.

Não importava o quanto se afastasse, o barulho da batalha continuava a espreitá-lo, poderia jurar que tudo estava acontecendo exatamente a poucos centímetros de suas costas, mas o homem não atrevia-se a olhar para trás.

Seu único objetivo era sair daquele pesadelo sem fim... Antes que chegasse ao seu próprio fim.

}|*|{

Sakura estava diante da porta de seu quarto, com o seu grosso casaco de frio já pronto para ser colocado em seu cabideiro, para que então finalmente pudesse voltar ao conforto de sua cama e dormir mais algumas horas antes de acordar as irmãs para se alimentarem e serem medicadas, porém o som de relinchos alcançou seus ouvidos, fazendo-a parar tudo o que estava fazendo imediatamente.

A primeira coisa que pensou foi que seu pai finalmente havia retornado, o que trouxe até uma certa leveza sob seus ombros já que passara a madrugada aflita pensando que ele tinha sido pego pela terrível tempestade. Nem preocupou-se em vestir o casaco, desceu os degraus da escadaria de dois em dois, quase escorregando no ultimo por causa de suas meias.

Entretanto, o que ela definitivamente não esperava, foi abrir as grandes portas de madeira e se deparar com o cavalo sem seu cavaleiro.

— Hey! Hey! O que aconteceu? – Ela disse exacerbada, descendo os degraus de pedra às pressas e tentando custosamente controlar o cavalo que parecia muito assustado – Acalme-se! Acalme-se! – Com destreza a menina puxou as rédeas do animal, enfim alcançando sua cabeça e a acariciando com cuidado, instantes depois o cavalo já parecia mais controlado e calmo, mesmo que a agitação persistisse em acompanha-lo.

Com os olhos atentos, Sakura averiguou minuciosamente para tentar descobrir o que havia acontecido, o animal não parecia machucado, ou ao menos não apresentava ferimentos visíveis, sua sela ainda estava firmemente atada ao seu corpo e as coisas de Kisashi permaneciam intocadas no pequeno bagageiro de trás.

Direcionou um olhar temeroso para a floresta.

Seus dedos formigavam pelo medo de que algo realmente ruim tivesse acontecido.

A garota pensou seriamente sobre o que deveria fazer, será que conseguiria alcançar Sai a tempo para lhe pedir ajuda? Somente ela seria o suficiente para proteger o pai se ele estivesse em perigo?

Sua ponderação, entretanto, durou apenas um pequeno momento, seu instinto dizia que não havia tempo hábil para pedir ajuda, seja lá o que estivesse acontecendo com Kisashi não poderia esperar, e ela definitivamente não ficaria parada vendo outro alguém querido ir-se por entre seus dedos.

Tão rápido quanto pode, calçou suas grossas botas de neve, agarrou um pedaço de galho grosso que havia caído na noite passada e montou na sela do cavalo.

Um arrepio percorreu seu corpo ao sentir a baforada gélida do inverno.

Seria loucura enfrentar aquele tempo sem seu casaco, é verdade.

Mas não perderia nenhum pequeno segundo precioso apenas para isso.

Ela estava determinada a encontrar seu pai.

Custe o que custar.

}|*|{


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Feliz Ano Novo pessoal! ^^
Espero que tenham tido boas festas!

E hoje vos trago mais esse capítulo. Não ficou tão grande, mas é aquele velho capítulo de transição.
O próximo dará aquela engrenada na história.

Espero que estejam gostando! E não deixem de dizer o que estão achando!

Beijinhos estelares e até logo.

~Bellatrix ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Pétalas do Caos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.