A Criança do Labirinto escrita por Daniela Lopes


Capítulo 7
Os servos do castelo


Notas iniciais do capítulo

O Labirinto de Jareth é povoado por criaturas de todos os tipos e naturezas. Helen vai aos poucos se familiarizando com elas e criando estranhos laços, tornando sua estadia no castelo menos solitária e opressora.



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Helen saiu do banho, secou-se e vestiu as roupas escolhidas pelas servas do castelo. Elas quiseram pentear seus cabelos, mas Helen pediu que a deixassem fazer isso. Não estava acostumada a ter sua privacidade tão invadida daquela forma e com alguma dificuldade, conseguiu tomar a escova e adereços das mãos da duende . Então escutou um som parecido com o de asas batendo e virou-se para a janela do aposento.  Num canto havia criaturinhas aladas, escondidas, observando-a a distância. Elas cochichavam e riam baixinho, fazendo Helen sorrir:

—Vão ficar aí me espionando?

            Os seres voadores saíram do esconderijo e voaram até a mulher. Eram pequenas e pareciam as fadas das histórias que a avó de Helen contava, porém não possuíam brilho ou soltavam purpurina dourada por onde passavam. Tinham as vestes encardidas, algumas estavam nuas, asas semelhantes às de libélula e o rosto engraçado.

             Helen abandonou a escova e suspirou:

—Olá... Sou Helen McVeigh.

         As servas-duende se aproximaram também e ficou aquele grupo de seres peculiares balbuciando o nome de Helen como se tivesse algo mágico nele. Então uma serva tocou a barriga de Helen com um dedo magro e comprido e escondeu-se atrás de outra. Surpresa, a mulher tocou a barriga também:

—O que...

            A que parecia liderar as demais servas falou:

—Um pequeno mestre está aí dentro...

—Pequeno... Como sabem que é um menino?

—Seu cheiro... A cor da sua pele... Essas coisas!

            Helen analisa aqueles rostos diferentes de tudo que já vira em vida. Parecia estar num sonho bizarro e suspirou:

—Certo, certo! Como faço pra sair daqui?

            As duendes se entreolham e a principal fala:

—Não sai. Você não pode desobedecer o mestre! Ele fica bravo demais! Bravo demais!

            Havia medo na voz delas e Helen concordou:

—Entendi! Não tem como sair, não é? O que preciso fazer agora?

—Comer... O mestre espera no salão do trono.

            Helen segue para fora do quarto junto à duende responsável por sua estadia e bem estar. Os corredores eram empoeirados, cheios de teias de aranha indicavam que aquele lugar recebia pouca ou nenhuma atenção e cuidado. Salões às escuras se alternavam a outros mal iluminados com archotes e sempre se via uma ou mais criaturas circulando por eles.

            Após uma escadaria que parecia nunca acabar, Helen atravessou um pequeno hall e entrou num salão amplo, iluminado, cuja janela estava voltada para o labirinto abaixo. Um trono de madeira e pedra, adornado com tecido rústico, cordas e chifres jazia no centro desse salão e sentado nele, a figura exótica e sombria do Rei goblin parecia uma estátua.

            Pouco à frente do trono, uma mesa de madeira sólida e escura estava coberta com um tecido branco, onde estavam dispostas travessas e cuias cheias de comida, frutas estranhas e botijas de cerâmica cheias de vinho e água fresca. O cheiro do alimento mostrou à Helen que ela estava faminta, então a voz de Jareth a trouxe de volta de seus devaneios:

—Sirva-se à vontade. Pode não considerar minha hospitalidade, mas não morrerá de fome enquanto for mantida aqui.

            Helen aproximou-se da mesa e montou um prato com um pouco de cada coisa ali oferecida. Ela tomou longos goles de água e comeu com as mãos, pois não achou talher em lugar algum. Jareth a observava até que ela terminou, colocou o vasilhame sobre a mesa e afastou-se rumo à porta de saída. O Rei goblin falou:

—Não vá ainda. Preciso falar com você...

            Helen fica parada, de costas, silenciosa. Jareth sente a tensão no corpo dela:

—Helen... Não quer saber por que eu a escolhi?

—Faz alguma diferença agora? Você usou de mentiras para se aproximar de mim. Não me interessa o que tem a dizer. Não sou sua hóspede, sou prisioneira nesse lugar terrível!

            E sai dali rumo à escadaria, onde esperava a duende responsável por suas necessidades. Helen cambaleou e sentou-se de uma vez na escada. Estava zonza e sentia uma terrível pressão no peito. A duende tocou o ombro dela:

—Você está bem?

—Eu... Acho que fiquei em pânico, mas estou melhorando... Só me dê um tempo para respirar e me acalmar...

—Quer ver um jardim?

—Tem jardim nesse... Lugar?

—Sim... Hoggle cuida dele! Venha comigo!

            Helen segue a duende por algum tempo pelos corredores mal iluminados do castelo. Ao descerem uma escada, chegam até um pátio onde um pequeno jardim contrastava com a aridez das pedras cinza amarelado que cobriam o chão e as paredes. Havia uma quantidade de flores considerável e ervas perfumadas naquele espaço e Helen ajoelhou-se para cheirá-las.    

            Era um pequeno oásis para os olhos e mente e a mulher ficou ali por algum tempo, pensativa. Então ouviu passos e virou-se para conhecer o responsável por aquele lugar, sorrindo e dizendo:

—Então você é Hoggle!

            O anão olhou Helen ali, perto de suas plantas e encarou a serva-duende:

—O que ela faz aqui?

            A duende percebe o tom mal humorado de Hoggle e diz:

—Ela pediu pra ver!

            Helen virou-se para a serva:

—Ei! Eu não pedi...

            Então suspira e fala derrotada:

—Esqueça. Não vai adiantar eu explicar mesmo... Sou Helen McVeigh.

            Hoggle aproximou-se do jardim e avaliou se tinha alguma coisa fora do lugar:

—Ouvi falar de você. A humana que carrega um pequeno mestre dentro de si.

            Helen suspirou de novo:

—Uau! As notícias realmente correm por aqui, não? Certo. Eu... Não mexi em nada. Eu só estava admirando! Seu jardim é tão diferente desse lugar! Eu estou curiosa como conseguiu fazê-las florescerem aqui, nesse lugar seco.

            Hoggle se abaixa e mexe com a terra:

—A terra daqui é boa. As plantas do seu mundo gostam dela...

            Helen exclama, surpresa ao saber que aquelas plantas eram da terra e não do mundo mágico. Ela se senta no chão, frente ao pequeno jardim e fica ali, mergulhada em pensamentos. A serva se aproxima:

—Senhora deseja algo?

—Não, obrigada... Só ficar aqui um pouquinho.

            Hoogle e a serva se entreolham. O anão conhecera e se afeiçoara a Sarah Williams, admirando sua coragem e inteligência. Helen era uma total estranha, uma prisioneira de seu rei e sua estadia ali com certeza não seria tranquila. Desde a partida de Sarah, Jareth havia mudado. Seu humor oscilava mais do que o normal e isso desequilibrava o reino mágico. As criaturas estavam em constante apreensão, temerosas pelo que podia acontecer caso seu mestre ficasse aborrecido ou entediado. Até mesmo o labirinto estava diferente.

            Hoggle escutava das outras criaturas mágicas que seres estranhos se esgueiravam entre as sombras. Duendes desapareciam sem deixar rastro, mas Jareth parecia não tomar conhecimento disso ou se importar. As fadas não tinham coragem de voar até lá, temendo serem capturadas por coisas que não tinham nome. Diante disso, todo o reino estava à mercê do que estava acontecendo.

            A vontade de Jareth era a vontade do reino. O labirinto era um espelho do que acontecia dentro do Rei goblin.

        A serva de Maria Tyton apareceu no jardim de Hoggle algum tempo depois. Ela esgueirou-se por entre os bancos e vasos, aproximando-se para ouvir a conversa do trio. Helen viu a sombra da pequena criatura e virou-se. Olhou a duende escondida e acenou:

—Vem aqui. Não precisa se esconder!

            Hoggle e a serva duende olharam para a outra criatura. Esta pestanejou, incerta se deveria atender ao chamado da estranha humana. Caminhou rapidamente até um vaso de pedra próximo e esperou. Helen sorriu-lhe:

—Sou Helen. Qual o seu nome?

—Maddy.

—Maddy? Bonito nome... Você... Precisa de alguma coisa?

            A duende olhou Hoggle e a serva, curiosos sobre a presença dela ali. Sabiam que ela atendia diretamente a Maria Tyton e sabiam que não estava ali por conta própria. Maddy olhou as fadas que voavam sobre as flores do jardim e Helen falou:

—Acho que vou me recolher agora. Maddy? Que tal se vier me visitar amanhã nesse jardim? Talvez queira conversar sobre alguma coisa...

            A duende fungou e falou:

—Porque seu cheiro é tão bom?

            Helen ficou surpresa e olhou Hoggle. Ele bufou e falou, impaciente, para a pequena criatura:

—Porque ela espera um bebê, sua tonta!

            Maddy cobriu a boca com as mãos pequenas e abriu muito os olhos:

—OOh!

            E saiu dali correndo como se tivesse visto um fantasma, deixando os outros presentes mais do que confusos. Helen coçou a nuca e falou:

—Como eu decidi não tentar entender nada por aqui, estou voltando pro quarto... E Hoggle? Adorei o que fez nesse jardim. É um oásis no meio de todas essas pedras e aridez. Obrigada.

            Surpreso, ele viu a mulher se afastar para dentro do castelo, seguida da serva que a atendia. O anão ficou parado ali, percebendo que ela não havia errado o nome dele e ainda fez um elogio ao jardim que ele criou. Sorriu para si mesmo e olhou Helen já subindo as escadas. De fato, ela era uma pessoa estranha.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Como eu disse antes, as criaturas que vivem no castelo são, para mim, um encanto à parte. Baseado no que vi no filme e li nos quadrinhos, elas tem suas particularidades e foi muito divertido dar voz e personalidade ao grupo que interage com a protagonista. Como um duende pensa? O que ele faz no dia a dia? Vamos descobrindo aos poucos.
Boa leitura.



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