A Criança do Labirinto escrita por Daniela Lopes
Notas iniciais do capítulo
Jareth ainda guarda sentimentos fortes e contraditórios em relação à Sarah Williams. Ela por sua vez, segue a vida e investe em seu namoro com um rapaz normal, Edward.
Quem teria conselhos valiosos para um rei tão orgulhoso e arrogante?
Em seu trono, Jareth movia as esferas de cristal com o pensamento. As palavras de Helen ecoavam em sua mente. Ele recordava-se de cada dia passado com ela em sua casa, no mundo humano, mas agora estava de volta e o equilíbrio devia ser restaurado. Sua natureza mística precisava ser limpa das influências que sofrera lá. Uma das esferas brilhou e Jareth segurou-a entre os dedos. A imagem de Sarah Williams surgiu para ele e o Rei goblin ergueu-se de uma vez.
A jovem estava ao lado de um rapaz que sorria para ela e segurava sua mão, conduzindo a jovem ao que parecia um salão de festas. Sarah sorria e inclinava o corpo na direção do rapaz. Jareth murmurou entredentes:
—Edward...
Sarah segurou o braço de Edward Hayes, um estudante universitário que a jovem conheceu durante um ensaio de teatro na faculdade. Ele não atuava, mas gostava de escrever roteiros. Ficou impressionado com a beleza e talento da jovem e tentou se aproximar dela, mas sem sucesso na primeira tentativa. Um dia, Sarah leu um texto escrito por ele e quis conhecer o autor do mesmo. Conversaram sobre muitos assuntos relativos a teatro, artes cênicas e produções cinematográficas. Edward descobriu que a mãe de Sarah era uma atriz famosa e achou interessante a moça não se gabar por isso.
Desde esse dia, os dois passaram a se encontrar com frequência, sempre usando um livro, filme ou ensaio como pretexto para se verem. E nessa noite, Edward convidou Sarah para o baile anual de atores veteranos da cidade, onde música boa tocava todo o tempo e muitas pessoas participavam para conhecer atores famosos já aposentados.
Após dançarem um pouco, o casal saiu para a varanda do salão e ficaram olhando a noite clara que cobria a cidade. Edward segurou as mãos de Sarah e falou:
—Eu me formo daqui a um ano e meio... Quero pedir sua mão no...
—Tão rápido, Ed? Eu quero me formar também... E quero ir para Nova York tentar o curso de artes no New York Film Academy.
Ele sorri:
—Tem razão. Estou me precipitando. Cada dia é mais difícil ficar longe de você. Sei que é uma garota independente e...
Ela se aproxima e envolve o pescoço dele com os braços:
—Estou lisonjeada por me fazer uma proposta como essa. Sei que também tem seus projetos para quando se formar... Então vamos fazer isso? Realizamos esses sonhos e depois pensamos no que fazer depois, ok?
Ele suspira e baixa o olhar:
—Ok.
Ela sorri e beija o rosto dele por um longo tempo, desfrutando do calor do corpo dele junto ao seu, a sensação de segurança que ele transmitia, a calma dele que a deixava calma também. Ele virou o rosto na direção do dela e beijou-a, estreitando a jovem nos braços, demonstrando a ela o quanto estava apaixonado. Era uma emoção nova para a jovem, estar apaixonada daquela forma. Sua vida seguia o caminho que ela havia escolhido.
Jareth olhava o labirinto em silêncio. A imagem de Sarah nos braços de Edward ainda estava estampada em sua mente e ele estava furioso. Seus duendes sentiam a aura sombria ao redor dele e evitavam ficar próximos ou fazer qualquer barulho. Seu mestre estava diferente desde que a jovem humana conseguiu vencê-lo e escapar do reino com o irmão pequeno.
O Rei goblin saiu dali rumo ao corredor, pisando duro, a capa esvoaçando violentamente e os punhos fechados, tensos. Ele parou diante de uma porta e bateu três vezes, impaciente. Uma duende serva abriu e inclinou-se, dando-lhe passagem. Ele ergueu os olhos e viu uma mulher trajando um belo vestido de festa, os cabelos ornados com flores e fios de prata formando arabescos graciosos, as mãos enfeitadas com pulseiras e anéis de pedras preciosas. Ela estava sentada numa récamier azul marinho, olhando a paisagem ao longe, tendo ao lado dela, um homem vestido com roupas antigas, renascentistas, o simulacro do Conde Albert Tyton. Ela virou-se ao sentir a presença de Jareth:
—Olá, meu querido.
Ele se inclina:
—Maria...
Ela sorri e acenou para que ele se aproximasse. Jareth seguiu até lá e Albert beijou Maria na testa:
—Vou deixá-los a sós, minha querida. Vejo que seu filho tem algo sério a conversar...
Jareth acenou com a cabeça para o Conde e sentou-se ao lado da dama. Ela sorriu e falou:
—Eu gostaria de proibi-lo de usar as esferas de cristal, mas seria o mesmo que tentar endireitar seu labirinto...
O Rei goblin sorri para ela, a única pessoa que conseguia acalmar seu coração inquieto. Ela estava tão bonita quanto no dia que passou a viver ali, naquele reino e permaneceria daquele jeito, indefinidamente, por causa de seus poderes e da magia daquele mundo.
Maria tocou o rosto dele:
—Meu querido... Sarah Williams tem seu próprio caminho a trilhar, sua própria história para viver. Ela jamais entenderia esse lugar, era jovem demais quando fez o pedido, jovem demais para aceitar sua oferta. E acho que você também ainda é jovem e imaturo para entender como o coração humano funciona...
Jareth faz uma careta, desgostoso:
—Esqueceu que parte de mim veio de você? Então eu também possuo essa coisa de humanidade em meu coração. Mas o Rei goblin não pode ser assim! Eu não aceito que...
Ela segura o rosto dele com as duas mãos e beija-lhe a testa:
—Não lute contra sua natureza, Jareth. Isso só causará sofrimento a você. Pense em tudo que aconteceu! Vá devagar... Foram três anos desde que tudo se resolveu, então todo esse tempo deveria ser suficiente para sanar qualquer ferida, não?
Ele suspira e fecha os olhos:
—Eu não sei... Nunca senti nada parecido. Nunca ninguém me enfrentou daquela forma e...
Maria sorri:
—Entendo. Ela foi um desafio também e você sentiu-se em desvantagem com isso. Foi você quem fez dela o que ela se tornou, Jareth. Ao chamar você, ela te trouxe para a vida dela. Ao deixá-la entrar no labirinto e desafiá-la a recuperar o irmão no tempo previsto, você a trouxe para sua vida. Estarão ligados para o resto de suas vidas, mas seguindo caminhos separados.
Ele olha o horizonte e passa a mãos pelos cabelos:
—Como tem palavras tão sábias?
Ela sorri:
—Se eu não puder te entender em trezentos anos, não faria sentido estar aqui, não é?
Ele sorri:
—Touché, mama!
Ela parece pensar um pouco e diz:
—Quando vai trazê-la até mim?
—Do que está falando?
—A mulher na ala oeste do castelo...
Jareth se levanta e se vira para sair:
—É assunto meu...
—É meu também... Recorda-se que minha estadia aqui foi a contragosto? Que só aceitei viver no Reino dos goblins porque você não podia mais deixar esse lugar?
—Então porque ficou? Não era obrigada...
Ela se levanta e vai até ele:
—Oh, querido! Não entendeu ainda? Foi o amor que sinto por você que me deu forças para permanecer ao seu lado e cuidar que ficasse bem! Eu era feliz por que você estava feliz sendo o Rei desse lugar, mas agora...
Jareth suspira:
—A estadia dela será temporária...
Maria fecha o semblante enquanto vê o filho sair pela porta. Jareth não estava lhe contando tudo. Ela precisava descobrir o que o motivou a sequestrar uma pessoa do mundo dos homens e mantê-la ali, sem razão aparente. Chamou a serva duende e pediu:
—Siga seu mestre. Descubra com os outros servos o que essa mulher faz aqui e por que. Seja discreta para que ele não fique bravo com você!
A duende concorda com a cabeça e sai dali rapidamente. Nisso, o falso Conde Albert entra e se aproxima da mulher:
—Minha querida. O Rei goblin saiu daqui com os olhos em chamas... Ele... Está bem?
Maria abraça o homem e pousa a cabeça no peito dele:
—Ah, meu amor... Não sei ao certo o que se passa no coração do meu filho, mas pretendo descobrir...
Continua...
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Nesse capítulo, Maria é apresentada. Ela é a mãe do Rei goblin, cuja história é muito parecida com a de Toby, irmão de Sarah. Mas Toby teve um final feliz, enquanto Jareth não teve como fugir.
Ao longo da trama, pequenas dicas sobre Maria e Albert vão surgindo. Creio que isso possa tornar a história mais inteligível.
Boa leitura!