— E falando em animais — Elijah diz — eu não vi nenhum até agora.

— Nós não costumamos ter por aqui  — falo.

— Nenhum? — ele insiste, surpreso.

— Esse mundo não precisa de animais para funcionar — explico — mas você pode ver alguns por aí. Se desejar, um animal pode aparecer e ele será seu.

— É fofo. Estou pensando em ter um tigre — comenta Gianna.

— E eu insisto que um gato é o suficiente — dou um sorriso falso.

— E qual seria a graça de uma animal de estimação normal? — ela sorri tão falsamente quanto.

— Continuamos essa conversa depois — desvio o olhar para os irmãos — creio que Hay não explicou muito sobre esse lugar para vocês.

— Quase nada  — concorda Elijah e Niklaus assente.

— Banhos são meros caprichos, já que podemos desejar ficar limpos. Mas talvez isso relaxe vocês — me levanto — podem ficar a vontade e usar seus antigos quartos. Só falem em voz alta que querem suas roupas e o closet irá providenciar.

— Parece bom — Elijah mais uma vez responde e Niklaus assente. Eles se levantam e sobem as escadas juntos, em velocidade humana.

Eu e Gianna vamos para cozinha.

— Eles são legais, né? Eu não esperava isso — ela comenta.

Contenho um suspiro, mas não resisto em revirar os olhos. Ela sabe bem que eles podem ouvir e, apesar disso me deixar desconfortável, não a impeço.

— São sim — concordo apenas.

— E bastante gostosos...

— Eu não vou discordar disso — mantenho meu tom relaxado.

— E você e o Klaus, hmmm — insinua.

Sinto minhas bochechas esquentarem.

— Nos demos bem — tento desviar das suas gracinhas. Pego um dos livros de receitas e começo a folhea-lo.

— Tenho certeza que vocês vão se dar profundamente muito bem logo. É uma questão de tempo — ela nem mesmo abaixa o tom de voz — Vocês tem química, dá para ver de longe.

— É o bastante! — sussurro, apontando a mão para ela. Em um piscar de olhos uma faca se move até ela, mas para bem a frente do seu rosto, entre os seus olhos.

— Você fica adorável com vergonha — ela ri e sai da cozinha em velocidade sobrenatural.

— Insuportável — comento para o vazio, a faca indo para o seu lugar em um aceno e eu voltando ao livro.

Mas o silêncio não dura muito, já que é quebrado por uma voz baixa e agradável.

— Precisa de ajuda?

— Oh — me surpreendo por ser Elijah — claro. Algo aqui é do seu agrado?

Antes que eu possa esticar o livro para ele, o vampiro está ao meu lado. Perto o suficiente para sentir o cheio do seu perfume: refinado e marcante. Combina com ele.

— Você gosta de cozinhar? — pergunta enquanto folheia o livro. Observo que seu cabelo ainda está úmido.

— Às vezes, — recuo um passo, esperando ter parecido casual. Apoio meu braço na bancada, ficando de frente para ele — quando me sinto solitária.

— Eu nunca fui muito de cozinhar — comenta — mas gostaria de ter feito mais enquanto era vivo — a hesitação na última parte não me passa despercebida.

— Vai poder praticar bastante agora — dou um sorriso reconfortante — é realmente bom para passar o tempo.

— Posso ajudá-la? — ele sorri gentil. Isso causa algo em meu estômago. Quando alguém além do meu círculo íntimo foi gentil comigo?

— Claro, — pisco surpresa — mas aqui temos a escolha de só pedir a comida e ela aparecer pronta.

— Mas isso tiraria toda a graça, certo? — rebate.

— Se você diz — sorrio um pouco, sem saber exatamente como me sentir.

Arregaço as mangas da minha camiseta e lavo as mãos, sendo seguida por ele.

— Toque a playlist Cozinhando com Clássicos — peço. Automaticamente uma jazz suave começa a tocar por todo o cômodo.

— Desculpe? — Elijah me olha confuso.

— Oh, não, eu estava falando com você, estava falando com o... — faço uma careta frustrada — o ar? Não tem nome. Não é uma coisa. É que esse lugar... — paro um pouco, olhando para ele, que me encara curioso — O Outro Lado nos dá o que queremos. É só pedir em voz alta ou pensar, mas nesse último é preciso concentração e poder.

— Impressionante — comenta.

— É um lugar cheio de surpresas — resmungo.

— Nem sempre boas, certo? — sugere, pegando no ar meu tom insatisfeito.

— Absolutamente certo — respondo.

Começamos a trabalhar com a música de fundo. Elijah é uma boa companhia, então é fácil.

— Que cheiro delicioso — Gianna surge.

— Sou eu — brinco, piscando para ela.

— Achei que fosse o Elijah — ela brinca, fazendo o moreno sorrir. Mesmo que seja algo discreto e breve.

— É a pasta — ele abre a panela e mostra para ela.

— Muito bom — comenta a loira depois de inspirar fundo.

— Eu estava pensando... — me interrompo, a imagem de Hayley chegando surgindo em minha mente. Pisco algumas vezes, tentando retomar o foco.

— Tudo bem? — Elijah de aproxima, parecendo preocupado.

— Ela viu algo — avisa Gianna — algo ruim, irmã?

— Não — sorrio tranquilizadora — Hayley está chegando. Que tal ir recebê-la, Elijah? Eu e Gianna podemos organizar o resto.

Ele hesita por um momento, mas assente e sai. Ao mesmo tempo, Niklaus entra.

— Eu posso ajudar? — fico surpresa com a proposta. Desde quando os originais são tão solícitos? As histórias dizem que eles são... Monstros.

— Totalmente! — Gianna responde imediatamente, sorrindo animada e indo até seu lado  — ajude Elle enquanto eu vou ao banheiro.

E então ela sai. Desgraçada. Ela não precisa ir ao banheiro. Só vai para nos... Juntar.

— Ei — forço um sorriso, desviando minha atenção para a travessa que estou montando — como está se sentindo depois do banho?

— Muito bem. Estou melhor — ele se aproxima e lava as mãos, ficando atrás de mim. Próximo o bastante para o meu coração se acelerar. Respiro fundo.

— Fico feliz — murmuro — pode colocar aquilo — aponto para as panelas e depois paras travessas — ali.

— OK — sinto minha nuca se arrepiar quando ele fala tão perto que quase toca meu corpo. Não é desagradável. Niklaus é lindo. Mas me deixa... Arisca.

Noto ele tentando esconder um sorriso enquanto se afasta e cerro o olhar em sua direção. Ele é um provocador, então? Bom saber.

Quando tudo já está devidamente pronto e organizado, sorrio agradecida para Niklaus, que surpreendentemente, sorri de volta.

— Não precisamos levar nada — explico — a comida vai parar lá quando nós sentarmos.

— Incrível — ele comenta e eu assinto, deixando meu avental de lado e sendo seguida até a sala, onde os outros estão conversando. Na verdade, parece haver uma certa tensão, mas atribuo isso a Gianna. É quase sempre culpa dela.

— Vou tomar um banho antes do jantar — aviso, subindo as escadas com pressa. Um banho frio vai me ajudar depois da pequena cena que o híbrido fez.

Após um rápido momento para mim, visto uma roupa casual e desço para sala, mas há apenas silêncio agora.

— A conversa morreu por que eu cheguei? — sorrio bem humorada, olhando para eles, que se entreolham. Há certa culpa nos olhos de Hayley. Talvez realmente a conversa tenha parado porque eu cheguei.