Emma & Jake escrita por Almofadinhas


Capítulo 6
Capítulo 6 ❄ Jake




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Eu passo a manhã toda trabalhando nos vídeos do Especial de Natal de ontem a noite. Quando eu entrei na faculdade e comecei a fazer edições de vídeo com uma qualidade maior, meus pais me deixaram trabalhar com todo o material de mídia do Centro. Em geral, são vídeos para as redes sociais, já que o Centro tem uma equipe de publicidade para tudo o que é importante.

Desde que meu pai me deu uma câmera de aniversário aos 8 anos, eu me apaixonei por esse universo da gravação e edição de vídeos. No início eles eram péssimos, mas com o tempo fui ficando melhor e, hoje em dia, acho que são bem bons. Eu tenho inúmeros vídeos aleatórios guardados. De vez em quando gosto de rever alguns deles, dá uma certa nostalgia poder assistir de novo momentos da minha infância, com minha família, jogos antigos que participei quando era menor e também um compilado de vídeos do meu antigo cachorro.

 Assisto todo material bruto do evento, cortando as partes desnecessárias e separando o que preciso. Isso toma um bom tempo da minha manhã e, quando vejo, meus pais já estão em casa para o almoço. Minha mãe me lembra umas cinco vezes que eu tenho que estar no Centro antes das 16h para ajudar no Especial. Por via das dúvidas, ativo um despertador para as 15h.

Tiro um cochilo depois do almoço e continuo mexendo nos vídeos das apresentações. Quando percebo, meu celular já está apitando, marcando 15h. Tomo um banho rápido e me arrumo para ir ao Centro. Esse ano, fiquei responsável em ajudar na venda de doces das 16h até as 18h.

Depois de terminar meu turno, vou direto para o escritório do Centro. As apresentações começam às 19h, então tenho uma hora para ficar aqui. Uso o computador para tentar terminar uma pesquisa que preciso fazer para a faculdade, mas logo desisto. 

Como o escritório fica praticamente acima das arquibancadas, consigo ver o que acontece no rinque pelas enormes janelas. É realmente difícil se concentrar quando muitas pessoas estão se divertindo logo abaixo de onde você está. Pela hora, entretanto, sei que o rinque já vai ser esvaziado, para dar tempo de ajeitarem as coisas para as apresentações de Natal.

Hoje, dois amigos meus de infância virão assistir o Especial de Natal. Luke eu conheci aqui no Centro, quando treinamos hockey juntos. Ele acabou mudando de cidade há uns 5 anos, mas eu ainda o vejo com certa frequência quando jogamos um contra o outro pelas nossas universidades ou então quando ele vem para cá visitar seus avós. Já Michael eu conheci no jardim de infância, fomos colegas durante todos os anos de escola e acabamos sendo aceitos na mesma universidade, porém em cursos totalmente diferentes.

Pego meu casaco e desço para esperar os dois chegarem. Pegamos lugares na última fileira da arquibancada, bem no alto. Luke nos conta como estão as coisas em sua cidade e no seu time de hockey, que recentemente ganhou um jogo contra a Universidade da Colúmbia Britânica.

As luzes do Centro se apagam e dão lugar a luzes coloridas que iluminam o gelo. Enquanto meu pai fala alguma coisa no microfone, nós terminamos de discutir sobre um novo jogo de videogame que lançou há alguns meses e que estamos um pouco viciados.

Michael e Luke se divertem com as crianças. O meu programa favorito é, com certeza, o que tem um garotinho patinando vestido de rena. Conforme o Especial vai seguindo, os patinadores vão ficando mais velhos e apresentações mais sérias.

Sendo filho de dois campeões olímpicos e praticamente crescendo aqui no Centro, eu desenvolvi uma boa noção sobre as normas da patinação, então (querendo ou não) sempre acabo julgando os programas que assisto. Julie e Peter, uma dupla da dança, apresentam uma coreografia do Cisne Negro que eu achei muito bem executada.

Quando meu pai anuncia Emma no microfone, meus amigos se ajeitam para enxergar melhor. Eles a conhecem por duas razões: primeiro porque já me ouviram falar dela ao longo dos anos e sabem que ela é treinada pela minha mãe, segundo porque ela foi conquistando muitos títulos importantes ao longo desses anos. 

A música de Emma começa a tocar e nós a observamos patinar. Não há como negar que ela é uma patinadora excelente. É só parar para assisti-la que você percebe o quanto ela é fodona. Emma desliza graciosamente pelo gelo, fazendo o esporte parecer mais simples do que realmente é. Seus movimentos são delicados e firmes ao mesmo tempo; é fascinante vê-la patinar.

Ela patina de costas perto das bordas do rinque e vai em direção ao centro, trocando de pé. Sei que ela está fazendo a entrada clássica de um Salchow. A saia de seu figurino flutua junto com ela, que estica a perna e salta, girando três vezes antes de pousar no gelo. 

Sua apresentação toda é muito bem executada, o que me faz pensar que se valesse pontos ela talvez estivesse na primeira posição do ranking.

Mesmo não enxergando minha mãe daqui, tenho certeza de que ela deve estar toda orgulhosa da aluna. Emma sorri para as pessoas que a aplaudem ao final da apresentação, esticando os braços e se curvando para agradecer.

— Ela é boa mesmo, né? – Luke comenta – Eu não entendo nada, mas achei muito foda.

— Ela é – concordo.

Meu olhar cruza com o de Emma por um breve momento, mas ela logo desvia o olhar.

Seus olhos me fazem lembrar da última vez que eu a vi: no jantar do Centro, no elevador. Teve um momento em que minhas mãos estavam suadas e eu não conseguia me livrar de tudo o que apertava meu pescoço, então ela se aproximou de mim e me ajudou. Seu rosto ficou próximo do meu e eu pude observar melhor suas íris, coloridas num verde único e tão intenso que eu tenho certeza de que nunca vi nos olhos de mais ninguém.

Aviso meus amigos que preciso ir ao banheiro e saio da arquibancada, seguindo pelos corredores que me levam aos vestiários. 

Não demora muito tempo para a porta abrir, balançando o Papai Noel de patins que está pendurado nela. Emma sai do vestiário mexendo no celular, sem notar a minha presença.

— Bela apresentação, Elza — digo, tentando chamar sua atenção.

Eu deveria ter planejado alguma coisa melhor para dizer a ela, definitivamente. O problema é que eu não pensei em nada, simplesmente vim até aqui na esperança de conseguir falar com ela.

— Era Cinderela – Emma responde, tirando os olhos do celular e me encarando.

— Sendo sincero, parecia mais com Frozen. Deve ser por causa do vestido azul e todo aquele gelo em volta de você.

Meu Deus, qual é o meu problema? “Aja como um adulto”, tento dizer ao meu cérebro.

Emma revira os olhos.

— Mais algum comentário genial sobre meu programa ou eu posso ir embora? – ela pergunta.

Eu hesito. Por que diabos eu hesito? Emma lança um olhar irritado na minha direção e volta a caminhar, enfiando o celular no bolso do casaco e se afastando de mim.

— Wright? – chamo.

— O que?

Ela para de andar e vira o corpo, ficando de frente para mim. Sei que ela está irritada comigo.

— Eu estava pensando e eu acho que eu nunca te disse uma coisa.

— Se você for fazer alguma piadinha sem graça ou me chamar de Elza de novo, eu juro que te deixo aqui falando sozinho, Stepanova.

— Não, não é isso.

— O que é, então?

— Obrigado.

Ela franze as sobrancelhas, me olhando confusa.

— Eu acho que eu nunca te agradeci por aquele dia no hotel – explico.

Ah, não foi nada.

— Não, é sério. Foi legal da sua parte, obrigado.

— Eu só fiz o que tinha que fazer, Jake – Emma responde – Faria isso por qualquer pessoa.

— Tudo bem, eu só estou fazendo a minha parte, te agradecendo.

Emma assente, encerrando o assunto. Nós não temos mais nada para conversar.

— E eu entendi que era Cinderela! – falo, assim que ela dá alguns passos para longe, seguindo seu caminho pelos corredores – Só acho que um programa da Docinho fosse ficar muito mais fidedigno.

Emma nem se preocupa em responder meu comentário, só balança a cabeça e continua indo embora. Aguardo alguns segundos e sigo o mesmo caminho, voltando para meu lugar na arquibancada.

O último patinador da noite está se apresentando e, logo depois dele, meus pais fazem o encerramento do Especial de Natal desse ano. O balanço total das verbas ainda não foi concluído, mas pelo visto um valor bem expressivo foi arrecadado no evento. Todo o valor é doado para alguma instituição ou projeto social, por isso fico feliz por termos conseguido uma boa quantia.

Quando o evento encerra de fato, ajudo meus pais a arrumarem algumas coisas antes de irmos para casa, onde durmo quase instantaneamente assim que deito na cama.   


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