Emma & Jake escrita por Almofadinhas


Capítulo 29
Capítulo 29 ❄ Jake


Notas iniciais do capítulo

“A longa distância apenas serve para unir o nosso amor.
A saudade serve para me dar
a absoluta certeza de que ficaremos para sempre unidos...”
(William Shakespeare)



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Estou tentando organizar as minhas roupas em cabides.

Eu não fazia ideia de quantas roupas eu tinha até precisar ajeitar a maioria delas em um novo guarda-roupa. Muitas peças eu doei ou deixei na casa dos meus pais, afinal não faria sentido eu trazer tudo, já que pretendo voltar para lá sempre que puder.

Desisto da organização na metade do caminho. Acho que posso adicionar “organizar o guarda-roupa” na minha lista de tarefas monótonas e sem graça.

Volto para a sala e me jogo no sofá. Ajeito uma almofada embaixo da minha cabeça e observo Emma arrumar os enfeites no rack da televisão.

Eu não havia reparado na falta de objetos decorativos no meu novo apartamento até Emma chegar aqui nesta manhã. Apenas quando ela comentou que o apartamento ainda parecia muito impessoal e vazio, foi que eu prestei atenção.

Como ela tinha razão, nós saímos comprar algumas coisas para decorar a sala de estar, pelo menos. Agora ela está ajeitando tudo de modo que fique bom, pois nós dois concordamos que eu não tenho a menor experiência no quesito “decoração”.

— Você acha que essa plantinha fica melhor aqui... – ela me pergunta, indo ajeitar a planta em outro lugar do móvel para me mostrar – ou aqui?

— Aí – respondo, apontando para o local onde ela está.

— Sério? Eu acho que aqui pega sol demais. Vou colocar ali.

E então a planta volta para o ponto de partida. Não sei porque ela me perguntou se já planejava deixar a planta daquele lado.

Enquanto eu a observo arrumar os enfeites no rack, penso em como a vida é engraçada.

Há dois anos, nós ainda éramos “inimigos” de infância. Sempre que nos encontrávamos, trocávamos farpas. Hoje, ela está sentada no chão da minha sala, arrumando os enfeites que compramos juntos pela manhã, e tudo o que eu consigo pensar é no quanto eu a amo. Acho que nem nos meus sonhos mais bizarros eu conseguiria imaginar uma coisa dessas acontecendo com nós.

Mas o que eu acho mais engraçado, é em como a vida pode pegar as nossas antigas opiniões e/ou atitudes e jogar na nossa cara.

Eu nunca fui do tipo que acredita em relacionamentos a distância. Para mim eles quase sempre estão fadados ao fracasso; é adiar o inevitável. 

Porém aqui estou eu, prestes a descobrir como manter um relacionamento com alguém que está a 300km de distância.

Mas podia ser pior, certo? Poderiam ser 3000km de distância. Oceanos e continentes de distância. Pelo menos nós ainda estamos na mesma província, no mesmo país.

Percebo que Emma deixou os enfeites de lado e agora está me encarando com uma expressão engraçada no rosto.

— O que foi? – ela questiona, levantando o queixo.

— O que foi, o quê?

— Você. Está pensando no que?

Não tem como enganá-la. Ela e minha mãe sempre sabem quando eu estou com alguma coisa na cabeça.

— Em nós – admito.

Emma solta um suspiro e fica em silêncio. Ela se levanta do chão e para em frente ao sofá, me encarando.

— Levanta a cabeça.

— O quê?

— Vai, Jake – ela diz, tentando puxar meus ombros para cima, numa tentativa inútil de me levantar – Anda, eu quero sentar aí.

— Senta pra lá.

— Não.

Ela me puxa de novo, mas dessa vez eu me sento, virando a cabeça para trás para tentar enxergar o que ela quer fazer.

Emma tira a almofada que estava debaixo da minha cabeça e senta, colocando a almofada no colo e me puxando de volta para trás, delicada como um trator. Eu apoio minha cabeça no seu colo e ela começa a passar seus dedos pelo meu cabelo, brincando com os fios.

Eu adoro quando ela faz isso. É tão bom, reconfortante e relaxante; acho que essa é uma das coisas do dia-a-dia que eu mais vou sentir falta. Não tinha percebido o quanto eu precisava do seu cafuné até ela começar a fazer isso.

— Às vezes você é um bebezão, sabia? – ela comenta.

— Eu?!

— É.

— Por que?

— Porque sim.

— “Porque sim” não é resposta.

Emma revira os olhos, porém os cantos de sua boca estão curvados num sorriso. Aposto que ela também reparou em como a nossa discussão parece de duas crianças de oito anos. Como sempre é. Como sempre foi.

— Viu? Um bebezão.

— Pare de ser chata comigo.

— Eu nunca vou parar de ser chata com você, Stepanova. Acostume-se.

— Eu sei.

Emma continua brincando com os fios do meu cabelo, enrolando-o em seus dedos. Eu fecho os olhos, aproveitando o momento, e nós permanecemos em silêncio por um tempo até ela perguntar:

— Você estava pensando em como nós vamos sobreviver a isso, não era?

— Era – admito, soltando um suspiro.

— Vai dar tudo certo, Jake – ela diz, batendo com o indicador na minha testa – Relaxe.

Nós já tivemos essa conversa milhares de vezes, mas pensar sobre isso é inevitável, ainda mais agora. Emma vai embora amanhã e tudo será novo e diferente para nós.

 A partir de amanhã não haverá mais encontros à noite, almoço entre os treinos, esbarrões ocasionais (e propositais) no Centro ou filmes no meio da semana. Tudo o que nos restará serão os finais de semana, feriados ou qualquer folga que apareça – isso quando der tempo, porque aposto que não teremos todos esses dias disponíveis.

— Não foi você mesmo quem me disse que nós daríamos certo? Mesmo com as agendas lotadas e tudo mais?

— Sim, mas é diferente.

— Nem tanto. Nós nunca precisamos ficar grudados para fazer isso funcionar – ela continua, me fazendo lembrar do diálogo que tivemos antes de ficarmos juntos – Deu certo à nossa maneira. Embora eu deva admitir que achei que não duraríamos mais de dois meses.

— Uau, Emmys. Quanta confiança em nós!

— É sério. Mas, ei, nós somos Emma e Jake! Se alguém pode fazer um relacionamento a distância durar, somos nós.

Eu a encaro e sei que ela está falando sério; que realmente acredita no que está me dizendo. Observo atentamente os detalhes do seu rosto acima do meu, querendo guardar todos eles na minha memória: seus olhos verdes acinzentados; seus lábios macios e rosados; as sardas salpicadas pelo rosto que ela detesta, mas que eu acho lindo; as sobrancelhas que ela franze de um jeito bonitinho ou arqueia quando me desafia; o cheiro de frutas vermelhas do seu cabelo escuro...

Suas bochechas começam a ficar rosadas, como acontece todas as vezes em que ela fica com vergonha.

— Pare de ficar me encarando, estranho – ela diz, colocando uma das mãos sobre os meus olhos.

— Não estou encarando.

— Está sim.

Tiro a sua mão dos meus olhos e eu digo:

— Aposto que você vai sentir tanto a minha falta que vai se arrepender por ser tão má comigo.

Emma me encara boquiaberta, como se estivesse ofendida, e retruca:

Eu vou sentir sua falta? Conte uma piada melhor, Jacob. Estou dando graças a Deus que você mudou de cidade.

— Eu prometo te ligar todos os dias, então não se preocupe.

— Eu não estou preocupada.

— Você vai morrer de saudades dos meus beijos, pode dizer.

— Ah, tá! – ela exclama, dando um riso debochado – Pare de ser tão convencido. Você nem beija tão bem assim.

— Ah, não?

— Não.

Eu me levanto tão rápido, saindo do seu colo, que Emma se assusta. Eu puxo suas pernas para cima do sofá e ela começa a rir quando eu começo a fazer cócegas nela.

— Você sabe que... eu odeio... cócegas... Jake! – ela fala entre os risos, se contorcendo e tentando se esquivar os meus dedos – Você é cruel.

— Eu não – respondo, parando de fazer cócegas nela – Você foi cruel quando disse que eu não beijo bem.

— Awn, eu feri a sua masculinidade? – ela diz, fazendo uma falsa cara de dó.

Eu volto a cutucá-la e Emma ri.

— Ok, chega! – ela arfa, tentando recuperar o fôlego.

— Acho que precisamos tirar essa história a limpo – eu falo, apoiando meu peso nos antebraços para não esmagar Emma embaixo de mim.

Eu esfrego meu nariz contra a pele exposta em seu pescoço e ouço ela resmungar:

— Ande logo, então.

Pressiono meus lábios contra os seus e a beijo com urgência. Quando sua mão desliza pelas minhas costas, debaixo da blusa, eu a interrompo. Emma solta um suspiro frustrado.

— E aí? Vai dizer que eu não beijo bem? – pergunto, apenas para provocá-la.

— É... foi bem mais ou menos. 

— Mais ou menos, é? Sei.

— Ah, cale a boca – ela responde sorrindo, me puxando pela camiseta e me beijando de novo.

✦✦✦

À noite, eu e Emma compramos lanches no Tim Hortons e precisamos passar na farmácia antes de voltarmos para casa. Acho que a menstruação de Emma veio e trouxe uma cólica como brinde. É nesses momentos que dou graças a Deus por ter nascido homem.

Pela primeira vez, uso o elevador do prédio (eu ignoro elevadores desde o jantar de Natal no ano retrasado). O apartamento fica no terceiro andar, por isso é simples utilizar as escadas, mas eu não iria fazer Emma subir as escadas comigo; não quando sua barriga está doendo. Ainda bem que o elevador chegou rápido no meu andar.

Depois de tomar banho, Emma espalha uma máscara verde que comprou na farmácia no rosto (pois sua pele estava feia e sebosa – palavras dela, não minhas) e me convence a passar também. Enquanto esperamos a máscara secar, colocamos um filme no computador, assim podemos ficar no quarto ao invés de ir assistir ao filme no sofá da sala.

Precisamos pausar o filme ainda no início para lavar o rosto. Eu não esperava notar nenhuma diferença após tirar a máscara, mas parece que a minha pele ficou mais refrescante. É uma sensação boa, por isso digo a Emma para comprar mais dessas máscaras.

— Você vai virar adepto do skincare agora? – ela me pergunta, sorrindo.

Não sei direito o que isso quer dizer, por isso respondo:

— Se isso deixar a minha pele boa assim sempre, então sim.

Emma ri.

— Ok, então, sr. Vaidoso. Comprarei mais máscaras para você. E uma argila, talvez.

— Argila?

— É.

Não discuto sobre a argila. Talvez eu pesquise sobre isso mais tarde.

Nós voltamos para a cama e terminamos de assistir ao filme. Ou eu termino, pelo menos, porque tenho certeza que Emma cochilou em algumas partes. Preciso cutucá-la mais de uma vez para fazê-la acordar e ir ao banheiro.

Eu sou o último a escovar os dentes, por isso fico encarregado de desligar a luz do quarto quando volto.

Emma já está enfiada debaixo das cobertas, em posição fetal, mas ainda acordada. Eu me ajeito no lado esquerdo da cama e a abraço, a envolvendo numa conchinha e apertando sua barriga com meu braço, porque uma vez ela me disse que isso ajudava a aliviar a cólica (embora o remédio já deva ter começado a fazer efeito). Emma encontra minha mão e entrelaça os dedos nos meus.

Aos poucos a sua respiração começa a ficar mais pesada e eu acho que ela voltou a adormecer, mas então ela diz:

— Jake?

— Hm?

— Algum dia você imaginou que estaria aqui?

— Para ser sincero, não – respondo depois de um tempo.

— Eu estou feliz por você. Você é um jogador excelente, vai crescer muito aqui.

— Obrigado, Emmys.

— Só não se empolgue muito com as suas fãs, ok? Aposto que você vai ganhar inúmeras seguidoras interessadas em você como um todo, não só como jogador.

Eu rio contra o seu pescoço.

— Não se preocupe, eu não estou interessado.

— Sabe, você facilitaria tanto a minha vida se tivesse nascido menos atraente. Mas tudo bem, eu confio em você – ela fala, apertando mais forte a minha mão.

Eu não sei o que responder, mas acabo não precisando me preocupar com isso, pois Emma me chama de novo.

— Jake?

— Fala.

— Me promete uma coisa?

— O que?

Eu espero Emma dizer algo como “não quebre o meu coração”, “não se esqueça de mim enquanto estiver aqui”, “não deixe a nossa relação morrer” ou qualquer outra frase de efeito que apareça nas promessas feitas em livros de romance; mas é claro que ela não se parece nem um pouco com as mocinhas doces e meigas dos romances. Ao invés disso, ela me diz:

— Eu sei que o hockey é um esporte meio perigoso e tal, mas me prometa que, mesmo se você entrar em alguma briga, vai manter todos os dentes dentro da boca. É sério, eu já vi mais de um jogador sem os dentes da frente e eu não quero ter que namorar um banguela.

Eu começo a rir. É essa a promessa? Manter todos os dentes no lugar?

— Tô falando sério, Stepanova. Eu não quero te beijar se você estiver sem os dentes. Vai ser esquisito demais.

— Tudo bem, eu prometo não perder os dentes. Ou, pelo menos, prometo ir no dentista antes de visitá-la, caso alguma coisa aconteça.

Emma se solta do meu braço e se vira, ficando de frente para mim. Ela passa os dedos pelo meu rosto, acariciando minha bochecha, e eu volto a colocar meu braço em torno da sua cintura, a puxando para perto.

— Seu sorriso é bonito demais para ser arruinado tão cedo.

— Isso quer dizer que eu posso perder os dentes mais tarde, então? – eu provoco.

— Não! – ela responde, dando um peteleco no meu nariz – Eu também não quero um velho banguela do meu lado.

— Vou providenciar vários protetores bucais, então. Só por garantia.

Ela sorri e murmura:

— É uma ótima ideia.


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