Emma & Jake escrita por Almofadinhas


Capítulo 27
Capítulo 27 ❄ Jake




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Os últimos minutos do jogo são tensos.

O placar está 7x5 e nós precisamos mantê-lo desse jeito (ou marcar mais, na melhor das hipóteses).

Quando o apito soa, dando fim a partida, suspiro em alívio. Eu e os outros caras do time nos esbarramos no gelo, comemorando nossa vitória. Na arquibancada, o pessoal da minha universidade está eufórico.

Ao final do jogo, eu sigo com o resto do time para o vestiário. Passo na ducha antes de colocar minhas roupas normais e sair da arena, acompanhado por Alex e Connor.

Ainda na saída, encontramos torcedores querendo nos parabenizar pela vitória de hoje. Já estou quase indo embora quando três universitárias bloqueiam meu caminho.

— Ótimas defesas hoje, Stepanova – uma delas diz, piscando para mim.

— É! Você estava ótimo – a outra concorda, passando a mão pelo meu braço e ficando próxima demais de mim.

Eu dou um sorriso, sendo simpático e, educadamente, me afasto. Eu não sou mais solteiro. Antigamente não me importaria com esse contato físico direto, mas agora fico desconfortável.

Enquanto agradeço e tento me desvencilhar de suas mãos, focalizo um pontinho de um metro e sessenta e três mais à frente, afastada da confusão de jogadores e torcedores empolgados.

Emma está me observando com os braços cruzados, emburrada. Dou um sorriso para ela e consigo me afastar das garotas. Aceno em despedida para meus amigos e ajeito a mochila no ombro, indo na direção de Emma.

 Ela veio ao jogo com Lily, mas ficou de ir embora comigo.

— O papinho estava legal? – ela pergunta assim que eu me aproximo.

Sorrio para ela e deixo um beijo em sua bochecha, esfregando meu nariz gelado conta sua pele, o que sei que vai irritá-la. 

— Nunca pensei que você fosse do tipo ciumenta, Wright – eu a provoco.

— Quem está com ciúmes aqui, por acaso? – ela retruca, num tom entre brincadeira e irritação.

— Ah, certo. Ninguém está com ciúmes, perdão pelo erro.

Passo meu braço pelos seus ombros e Emma descruza os braços. Juntos seguimos em direção ao meu carro.

✦✦✦

Antes de passarmos na casa de Emma, fazemos um desvio até a minha.

Com meus pais fora da cidade durante esse final de semana, os Wright me convidaram para almoçar com eles. É claro que eu não poderia ir com qualquer roupa encontrar os pais de Emma; muito menos com um banho meia boca tomado no chuveiro da arena. Precisava passar em casa antes de ir para lá.

Assim que chegamos, brincamos por alguns minutos com os meus cachorros e o único gato, antes de subirmos para o meu quarto. Largo minha mochila na cadeira da escrivaninha e vou até o closet.

Encontro duas camisas sociais boas e as seguro pelo cabide, indo perguntar a Emma qual ela acha melhor. Ela sempre toma as melhores decisões (sobre tudo, inclusive sobre as minhas roupas).

— Essa ou essa? – questiono, mostrando as duas opções.

— A cinza.

— Tem certeza? A azul não é melhor?

— Não – ela responde com firmeza.

Decido seguir sua opinião e volto para guardar a camisa azul e encontrar as outras roupas de que preciso. Coloco o cabide com a camisa em cima da cama, tomando cuidado para não amassar e, antes de seguir para o banheiro, seguro o queixo de Emma e a beijo, murmurando um “já volto”.

 Aproveito para fazer a barba antes do banho. Ela estava nascendo e já estava me incomodando. Tomo um banho decente dessa vez e visto a minha calça, pronto para voltar ao quarto atrás da camisa.

Abro a porta do banheiro e paro no batente, esfregando a toalha no meu cabelo. Emma está sentada na minha cama, observando um novo porta-retrato que coloquei na minha mesa de cabeceira.

Ao lado de uma foto de infância, em que estou abraçado com meus pais numa viagem que fizemos à Alemanha, está uma foto tirada recentemente – mais precisamente no dia 31 de outubro, após a cerimônia de entrega das medalhas do Skate Canada International. Emma tinha acabado de sair do gelo, com a medalha pendurada no pescoço e um buquê de flores na mão, quando minha mãe (como treinadora e mãe orgulhosa que ela é), fez questão de tirar uma foto nossa. “Para registrar esse momento especial” ela disse.

— Esse foi um bom dia, não foi? – eu pergunto.

Emma devolve o porta-retrato na mesa de cabeceira e se ajeita na cama, sentando com o corpo virado na minha direção.

— Foi um excelente dia – ela concorda, com um sorriso sincero no rosto.

Volto para o banheiro e deixo a toalha lá. Conforme caminho pelo quarto, reparo que Emma está encarando meu abdômen com a testa franzida. Merda.

— Jake, o que é isso na sua barriga? – ela indaga.

— Não é nada.

Tiro minha camisa do cabide e começo a passar o braço pela manga quando Emma se aproxima, encarando o meu lado esquerdo. Tento vestir a camisa rapidamente, mas Emma é ligeira.

— Não é nada, Jake?!

Ela pressiona os dedos num ponto acima do meu quadril e um gemido de dor escapa da minha boca.

— Está tudo certo, Emma – tento dizer para tranquilizá-la, ignorando a dor latejante que ficou após seu cutucão – Foi só uma batida durante o jogo.

— Isso vai ficar um roxo enorme! Já está maior do que a minha mão.

Olho para baixo, analisando o hematoma. De fato, minha pele está vermelha e começando a ficar azulada num diâmetro de pelo menos 15 centímetros. Não me preocupo tanto porque estou mais do que acostumado com esse tipo de coisa. Sério, um hematoma não é nada. Existem tantas opções piores como lesão muscular, tendinite, fratura por stress, laceração e problemas nos ligamentos ou articulações, que um simples “roxo” é quase um alívio.

Emma, por outro lado, não parece concordar comigo – que é engraçado, considerando que ela se expõe à riscos semelhantes todos os dias. Ela pode torcer o tornozelo e agir como se não fosse nada demais, porém, um simples hematoma na minha pele a faz agir como se eu tivesse um sangramento no meio da testa.

É por isso que eu tento disfarçar a maioria das dores ou lesões bobas que ganho durante treinos ou jogos. Não quero que ela fique se preocupando com coisas assim; eu sei me virar sozinho.

— Coloque gelo nisso daí – Emma pede.

— Depois eu coloco.

— Depois nada. Quanto mais você demorar, pior vai ficar.

— Relaxe, Emma. Nós precisamos ir para a casa dos seus pais agora e eu não quero me atrasar.

Ela olha as horas no celular e me avisa:

— Ainda temos mais de meia hora. Vou buscar gelo para você.

Sem mais nem menos, ela sai do quarto.

Solto um suspiro e deixo a camisa de volta na cama, para que ela não amasse ou molhe com o gelo. Pego um spray para contusão muscular (porque eu sei que Emma vai perguntar sobre ele) e deixo do lado da cama.

— Pronto – ela diz quando volta, me mostrando o gelo dentro de uma toalha – Deita aí.

Eu me ajeito na cama, deitando meio de lado (longe da camisa) e Emma senta próximo a mim, segurando o gelo sobre a minha pele. A sensação gelada desagradável logo passa.

— Você não precisa ficar segurando o gelo – digo a ela – Eu já sou bem grandinho.

— Fique quieto – ela murmura de volta, acrescentando quase silenciosamente – Eu gosto de cuidar de você, ok?

Pego sua outra mão e seguro junto a minha, fazendo carinho com o polegar. Nós ficamos em silêncio até ela disparar:

— Tinha um olheiro no jogo de hoje. O sr. Chen.

— Quem?

— Eu sentei ao lado dele durante o jogo – Emma continua – Tinha mais um homem com ele lá. Eles tinham uma prancheta com o nome de vocês, acho que estavam avaliando os jogadores. É isso que eles fazem, não é?

— É.

— Ele foi tão fofo. Me contou que tem duas filhas que gostam de mim e que agora fazem aulas de patinação.

Ela dá um pequeno sorriso e arruma o gelo num ponto abaixo das minhas costelas.

— Enfim, eu tentei dar um jeito de saber o que ele estava achando do jogo. Segundo ele, vocês estavam fazendo ótimas jogadas. Acho que isso é bom.

— É ótimo – eu concordo – Ninguém quer fazer feio na frente dos olheiros.

— Tomara que você tenha uma boa avaliação.

— É o que eu espero.

Apesar de amar o universo da produção audiovisual (meu hobby de infância e meu curso na universidade) e querer trabalhar com isso algum dia, eu também pretendo continuar jogando. O hockey é o principal esporte do meu país e eu não me vejo o abandonando tão cedo. Para isso, a melhor oportunidade que tenho é seguir carreira num time profissional, quem sabe fazendo parte da maior liga de hockey do mundo – a NHL.

Emma solta um suspiro quase imperceptível e volta a encarar o gelo que está segurando.

— O que foi? – pergunto.

— Hm?

— Eu te conheço, Emmys. Está pensando no que?

Ela volta a focalizar seus olhos verdes em mim.

— Em você.

— Em mim? O que eu fiz?

É difícil saber o que se passa exatamente em sua cabeça. Eu consigo identificar suas emoções, mas nunca sei, por exemplo, se ela está irritada comigo por algo que fiz agora ou em 2010.

— Nada. É que agora eu estou começando a me dar conta do quanto os olheiros significam para você.

— Como assim?

Emma suspira, dando de ombros.

— Você se forma em menos de cinco meses, Jake, o que significa que depois disso você está livre. Acho que o sr. Chen fez a minha ficha cair, de fato... Depois que você assinar contrato com um time, adeus Edmonton.

Respiro fundo. Essa não é uma conversa que eu gostaria de ter agora. Eu pretendia adiá-la até o dia em que eu tivesse certeza absoluta do que vou fazer depois de formado.

— Eu não vou, necessariamente, embora. Aqui é a casa do Edmonton Oilers, lembra? Quem sabe eu tenha alguma chance lá.

— Tá, mas existem várias outras oportunidades maravilhosas no país todo, entende? Você teria que ser muito burro para não aceitar – ela fala, tentando disfarçar que está chateada – E não só no Canadá! Vai que algum time dos Estados Unidos te seleciona. Eles têm times excelentes lá. 

Eu sei que Emma está certa. As chances de eu sair de Edmonton são altíssimas, porém não quero ficar discutindo sobre algo que ainda nem aconteceu. Não quero especular sobre uma possível partida minha logo agora, que estamos tão bem.

Tiro o gelo de sua mão e me ajeito na cama, sentando ao seu lado. Volto a colocar o gelo sobre o hematoma e digo:

— Agora você está pensando longe demais, não acha? Ainda temos até junho juntos, pelo menos. E falando assim, parece que você está ansiosa para eu ir embora. 

— O quê?! – ela exclama, atônita – Eu nunca disse isso.

— Mas pareceu.

— Não.

— Sim. Para mim soou como “ei, já que você vai embora, tomara que te selecionem para um lugar bem longe, tipo os Estados Unidos”.

Emma me encara com a boca entreaberta, perplexa.

— Jake, eu nunca diria isso! Só estou tentando dizer que as coisas acontecem assim, de um jeito ou de outro. Oportunidades maravilhosas vão aparecer para você, independente de ser aqui ou no Japão, e você precisa agarrá-las com unhas e dentes! – ela exprime – Nós dois sabemos que em menos de cinco meses a sua vida vai mudar muito. Os seus objetivos provavelmente estarão a vários quilômetros daqui. E está tudo bem; eu entendo!  

Emma parece estar mais desesperada para me fazer entender as suas falas do que brava. É aí que eu me arrependo por ter falado dessa maneira com ela. Por mais que eu tenha o seu apoio, Emma só estava chateada com a ideia de eu precisar ir morar em outro lugar. Longe daqui. Longe dela.

— Japão? – eu pergunto, dessa vez num tom mais brincalhão, para ela saber que não estou falando sério – Por que eu tenho a impressão de que você está sempre tentando se livrar de mim? E será que a liga japonesa escala atletas internacionais?

Ela bate o dorso da mão no meu braço e eu sei que estamos bem. Mini discussão resolvida.

— Você não vai se livrar de mim tão cedo, Stepanova. Nem ouse tentar.

— Eu não tentaria. Não sou maluco.

— Na verdade, eu acho que é ao contrário.

— O que?

Eu é que não vou me livrar de você tão cedo. Aposto que você seria um pé no saco mesmo com oceanos entre nós.

Eu sorrio porque sei que é verdade.

— Desculpe, Emmys – digo com sinceridade.

— Tudo bem – ela pega de volta o gelo da minha mão, encerrando o assunto “meu futuro” por enquanto – Acho que já está bom, depois a gente coloca mais.

Eu alcanço o spray e passo no hematoma, sentindo o cheiro familiar de algo que me lembra menta invadir minhas narinas. Olho as horas no celular e me levanto.

— Melhor a gente ir logo.

— Sim – Emma concorda – Vamos.


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