Emma & Jake escrita por Almofadinhas


Capítulo 25
Capítulo 25 ❄ Emma




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Eu sabia que as pessoas comentariam sobre meu relacionamento com Jake a partir do momento em que tornássemos público – o que aconteceu momentos antes do meu programa livre no Skate Canada International.

Eu sei que o evento é gravado por milhares de câmeras (profissionais e de celulares), por isso não me surpreendi quando comecei a ser mencionada em fotos e vídeos daquele dia, especialmente do meu abraço em Jake antes de entrar no gelo.

A maioria dos comentários era positivo, o que me deixou muito feliz. O problema mesmo era no Centro, onde eu ouvia fofocas e algumas coisas maldosas sobre meu relacionamento com o filho dos donos e filho da minha treinadora. Por mais que eu os ignorasse, era chato perceber que as pessoas me olhavam e comentavam sobre a minha vida. Eu detestava isso.

 Por sorte, o assunto foi esfriando e perdendo a graça conforme as semanas passavam.

✦✦✦

Saio da minha aula de yoga e dirijo até o Centro.

Eu combinei com Maggie que voltaria à noite para buscar meus ingressos de Natal, assim poderia ver Jake também. Ele acabou se apegando às crianças e, mesmo com um novo professor/treinador contratado, Jake deu um jeito de continuar dando aulas de hockey pelo menos nas sextas-feiras.

Quando chego no Centro, as crianças estão divididas em dois times, jogando uns contra os outros. Jake faz o papel de treinador e árbitro ao mesmo tempo. Cumprimento alguns pais que estão ali vendo seus filhos e subo a arquibancada, sentando num banco mais afastado.

Observo o jogo com atenção. Não entendo muita coisa de hockey (embora tenha aprendido bastante nesses últimos meses), mas tenho quase certeza de que algumas das crianças ali já são excelentes jogadores.

Jake apita, encerrando não só o jogo como também a aula. A única coisa que eu consigo reparar é em como ele fica espetacular quando está dentro do gelo, rodeado de crianças que o admiram.

Seu cabelo loiro está bagunçado, caindo sobre os olhos e me fazendo querer arrumá-lo. Ele patina próximo às crianças, conversando alguma coisa com elas. Provavelmente está dizendo algumas palavras de incentivo ou elogiando o desempenho delas, se despedindo logo em seguida. Somente quando o rinque está praticamente vazio é que ele me vê.

— Chegou atrasada para aula, não acha?

Eu desço da arquibancada e paro na borda do rinque, o cumprimentando com um beijo rápido. Aproveito para passar a mão pelo seu cabelo, ajeitando os fios cor de mel.

— Eu não preciso de aula, treinador. Meu talento no hockey é natural – brinco.

— Ah, claro. Eu me lembro bem – ele diz com um sorriso e então patina para trás, recolhendo suas coisas de dentro do rinque – E aí, o que veio fazer aqui?

— Buscar meus convites do jantar e do Especial de Natal. Também foi a desculpa que eu arranjei para vir te ver.

Jake sai do gelo e começa a arrumar suas coisas na mochila. Imagino que hoje ele não tenha espalhado tantas tranqueiras pelo rinque, pois tudo o que ele carrega é uma única mochila.

— Parece que foi ontem que você veio buscar seus ingressos e deu de cara comigo no escritório – Jake comenta, puxando o zíper da mochila.

— Nossa, verdade – eu falo, me recordando desse dia – Nem lembrava mais disso.

— Eu nunca vou esquecer a sua cara de desprezo naquele dia.

— Eu não fiz cara de desprezo.

— Fez sim, Docinho – ele afirma com um sorriso, me provocando.

Eu reviro os olhos. Idiota. Ele ajeita a mochila nas costas e nós seguimos pelos corredores em direção aos vestiários.

— Já subo lá pegar seus convites – ele me diz – Só preciso guardar meus patins.

— Tudo bem, eu espero.

Jake entra no vestiário e sai pouco tempo depois, parando com a cabeça para fora da porta e me encarando com expectativa antes de perguntar:

— Ei, você tem seus patins aí?

Ergo a sobrancelha, desconfiada.

— Sempre. Por quê?

— Você viu que está nevando?

— Sim, e daí?

— E daí que nós podíamos ir patinar – ele responde, me mostrando um par de patins preto que estava escondido atrás de seu corpo – Sei que você patina todos os dias, mas estou dizendo de patinar ao ar livre, por pura diversão, não para treinar num nível olímpico.

— Jacob Stepanova, não me diga que você tem um patins de patinação artística escondido aqui do qual eu nunca soube da existência – eu exclamo, surpresa ao ver as botas pretas em suas mãos.

— Tenho – ele fala sem entender – Por quê?

— Eu preciso ver você usando isso ao invés dos patins horrorosos que você usa para jogar.

— Ei, não fale mal dos meus patins de hockey. Eles foram projetados para serem úteis durante o jogo.

— Fala sério, eles são feios, Jake. Agora olhe a beleza destes aí – eu digo.

— Isso é uma espécie de fetiche ou o quê?

— Cale a boca – respondo, contendo a risada – Só pegue os patins e vamos.

— Vamos?

Eu balanço a cabeça positivamente.

— Vamos. Você sabe que eu nunca nego uma oportunidade de patinar e agora eu estou morrendo de curiosidade para ver você em patins decentes.

Ao sair do vestiário, nós subimos para o escritório, onde Jake vai até a mesa de seu pai e procura meus ingressos para o jantar do Centro e para o Especial de Natal.

— Você não vai me dizer mesmo qual é a sua apresentação no Especial desse ano? – Jake pergunta enquanto eu assino a lista confirmando que retirei meus convites.

— Não. Você vai ter que descobrir com o resto das pessoas.

— Vai ser uma música de Frozen de novo?

— Era Cinderela, ok? E não, não será nada da Disney.

Para este ano, nós montamos uma coreografia com a música Nothing Else Matters. A ideia foi minha, mas indiretamente influenciada por Jake – por isso não contei para ele ainda. Essa música toca constantemente em sua playlist (porque ele a ama), então, ao ouvi-la pela trigésima vez eu me vi pensando “por que não? Isso daria um programa incrível”.

E eu estava certa. O resultado está ficando tão bom que nós pensamos em transformá-lo num programa para a próxima temporada.

Devolvo a lista assinada para Jake e seguro firmemente meus ingressos nas mãos. Espero ele terminar de guardar as coisas de volta na escrivaninha do Sr. Stepanova para irmos embora do Centro.

✦✦✦

Com a proximidade do Natal e o inverno chegando com tudo, é comum encontrar rinques a céu aberto funcionando a noite pela cidade.

Nós paramos num rinque montado próximo a um dos parques que costumamos frequentar. A decoração de Natal, incluindo as árvores decoradas por inúmeras luzinhas de led, dá um aspecto único e quase mágico à pista de patinação montada ali, no coração da cidade.

Casais patinam de mãos dadas, crianças se divertem em cima dos patins sob o olhar atento dos pais, os mais medrosos patinam desajeitados com a mão agarrando a borda do rinque, alguns se arriscam em giros... é uma atmosfera bem diferente da qual estou acostumada a ver no Stepanova Ice Center.

Jake entra no gelo logo atrás de mim, mas logo patina para longe, se acostumando com as lâminas sob seus pés. Nos patins de hockey, além da bota ser diferente (e mais feia), a lâmina é mais fina, curta e curva nas pontas, além de não ter o toe pick. Visualmente pode não parecer tão discrepante para quem vê, mas faz bastante diferença para quem está acostumado com um e depois calça o outro.

Eu o observo patinar por alguns instantes. O cabelo loiro escondido sob o gorro, o cachecol enrolado em seu pescoço sobre o casaco enorme de inverno, as bochechas coradas pelo frio, o sorriso divertido no rosto e os olhos brilhando... eu poderia passar horas e horas o observando. Me pergunto como eu pude passar tanto tempo sem conhecer o verdadeiro Jake. Ele é incrível, caramba! 

Jake acena para mim, como quem diz "você vai ficar parada aí? Venha aqui" e eu deixo meus devaneios de lado.

— Bem mais bonito, não acha? – comento assim que o alcanço, apontando para seus patins pretos.

Ele ri.

— Juro que ainda não entendi qual seu lance com os meus patins.

— Estética – respondo, dando de ombros.

Seguro sua mão e patinamos pelo rinque de uma maneira mais sincronizada do que eu esperava que fosse acontecer. Me dou conta de que gosto da sensação de patinar de mãos dadas com ele, observando nossas lâminas deslizarem de maneira igual – o que me faz pensar que talvez seria legal patinar em dupla com ele (se ele fosse patinador e se isso não envolvesse eu sendo erguida acima do gelo, é claro).

— Sabe, se hockey não fosse a sua paixão, eu acho que você daria um belo patinador – eu digo, observando a maneira como ele desliza pelo gelo sem dificuldades, de uma maneira bem mais graciosa do que quando está jogando. Como alguém que patina há 15 anos, estou bem certa quando digo que ele seria um excelente patinador se tivesse continuado no esporte.

— E precisar usar aqueles figurinos? Dispenso.

— Qual o problema? Eles são lindos, aposto que você ficaria uma gracinha usando eles.

— Eu ainda prefiro meu uniforme, obrigado.

Solto a sua mão e me viro, patinando de costas. Me certifico que não tem ninguém no meu caminho e faço um Double Loop.

Sorrio para uma garotinha que me encara com a boca aberta, como se eu tivesse acabado de realizar a coisa mais incrível do mundo. Eu não tenho muitas memórias de quando era bem criança, mas me lembro de admirar os patinadores fazendo suas “acrobacias” no gelo e achar o máximo. Meu sonho era ser como eles algum dia.

Balanço a cabeça, afastando a nostálgica lembrança e me viro para procurar Jake.

Para a minha surpresa, ele se prepara e faz um Axel simples, seguido de um único Toe. Não me restam dúvidas: eu amo esse garoto.

— Uau, um combo?!

— Estou só me aquecendo, querida – ele brinca ao passar por mim, patinando de costas.

Jake estende a mão para mim, a qual eu seguro sem a menor hesitação. Enquanto patinamos parecendo uma versão desajeitada de Peter e Julie, eu pergunto:

— Por um acaso você tem mais alguma habilidade secreta que eu não saiba?

— Talvez – ele sorri para mim – Você sabe fazer uma espiral da morte?

Você sabe fazer uma espiral da morte?! – exclamo, surpresa.

— Meus pais faziam isso o tempo todo. Não é tão difícil depois que você pega o jeito, pelo menos eu não achei a parte masculina da espiral tão complicada.

Por um segundo fico irritada imaginando-o patinando com outra, fazendo espirais da morte e outras coisas. Respiro fundo, tirando a ideia da minha cabeça. Eu não sou do tipo ciumenta... eu acho. Sou?

— Devo me preocupar com a quantidade de informações que eu não sei sobre você, Jake?

— Você sempre soube que eu patinava.

— Sim, mas nunca te imaginei fazendo esse tipo de coisa. Preciso estar preparada para o dia em que eu o ver praticando saltos quádruplos por aí.

— Isso não aconteceria, é muito difícil. Um é tranquilo, dois é o ideal, três é demais e quatro é impossível – ele responde, explicando logo em seguida – Enfim, eu nunca deixei de patinar, na verdade. Sempre achei a patinação artística fascinante e acho que foi por isso que eu continuei treinando o que aprendi, mesmo depois de mudar para o hockey. Apesar de não querer seguir carreira, acho legal saber fazer o básico.

— Você chama saltos duplos de básico?

— Se você considerar quem são meus pais, acho que podemos dizer que saltos duplos são o básico.

— Nem vou comentar quantos anos demorei para fazer um salto “básico” decente.

— Você me entendeu, bobinha – ele diz, me cutucando com o ombro.

— Quer fazer um Double Flip lado a lado, então?

— Vamos lá.

Jake solta a minha mão e eu me afasto, deixando um espaço suficiente entre nós para não nos atingirmos enquanto saltamos. Tomando cuidado para não atropelar ninguém, fazemos um Double Flip sincronizado.

Eu emendo o salto em outros dois, num combo, e entro direto em um giro. Em algum lugar ao meu redor, escuto Jake dizer:

— Agora você só está se exibindo, Emmys.

Saio do meu giro, feliz, me sentindo mais leve depois da semana intensa que tive. Recebo alguns aplausos, principalmente de crianças admiradas, e agradeço.

— Você estava certo – digo à Jake, que me espera com um sorriso no rosto – Patinar aqui pode ser bem divertido.

— Eu sempre estou certo.

Hahaha, convencido – digo com ironia, segurando sua mão de volta e entrelaçando seus dedos nos meus.

Juntos, patinamos sob a neve, iluminados pelas luzes natalinas que enfeitam a nossa noite.


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Notas finais do capítulo

Quero agradecer a vocês que estão me acompanhando, isso me incentiva muito!
Ainda hoje devo postar mais um capítulo... já estamos chegando aos últimos capítulos dessa história.

*espiral da morte: https://www.youtube.com/watch?v=xBpCZZxbIJQ

Para ouvir as músicas citadas e relacionadas à história: https://playlistonline.net/playlists/626/emma-e-jake



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