Emma & Jake escrita por Almofadinhas


Capítulo 23
Capítulo 23 ❄ Jake




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— Jake, presta atenção – Emma me avisa, olhando a rota no mapa em seu celular – Você precisa ir na saída 450B pra chegar na rodovia 53.

— Eu não faço ideia de qual saída seja essa, Emma.

— É só ler a placa, gênio.

Lanço um olhar irritado para ela, apenas para descobrir que ela está sorrindo.

— É uma das saídas à direita. Sabe diferenciar esquerda e direita?

— Muito engraçado, Emma.

— O lado direito é o que eu estou sentada, só para relembrar.

Encher o meu saco é uma das especialidades de Emma. E eu não posso nem reclamar, pois faço exatamente a mesma coisa com ela. Um relacionamento super maduro, não?

Depois daquele dia no Centro, quando nos acertamos, Emma e eu chegamos a uma conclusão – apelidada de “fase de testes” por ela.

Como tudo entre a gente é complicado, nós decidimos usar o tempo que for preciso para ver como nos saímos. Obviamente nenhum de nós é expert em relacionamentos sérios, por isso estamos aprendendo a lidar juntos um com o outro, vendo como nossa relação se encaminha antes de darmos algum passo a mais.

Apesar da nossa vontade de querer fazer as coisas darem certo entre nós, sempre tem a possibilidade de dar tudo errado. A decisão de não querer precipitar nada e deixar nossa relação fluir naturalmente foi unânime. Por enquanto, ninguém além da nossa família (e a melhor amiga da Emma, claro) sabe sobre nós – e pretendemos manter tudo assim até acharmos que é a hora certa.

Pode parecer sem sentido, mas essa “fase de testes” está funcionando para nós. É até que divertido ter um relacionamento às escondidas.  

Quando nos aproximamos das saídas para demais rodovias, Emma aponta para a placa.

— Viu? Saída 450B, a segunda à direita.

— Já vi.

— Então cuidado para não entrar errado.

Eu dou seta e, corretamente, entro na saída para a rodovia 53, sentido oeste. Já estamos no fim da viagem, agora só falta meia hora para chegarmos na área de camping.

A ideia de acampar não foi minha, até porque eu nunca acampei na vida. Emma ficou chocada quando soube disso. Aparentemente, o Sr. Wright levava os filhos acamparem durante as férias escolares de verão. Assim que surgiu um final de semana livre para nós, Emma fez questão de vir para cá e me trazer junto.

Depois de meia hora, nós chegamos ao campground. Eu imaginava que tudo seria um grande mato, onde as pessoas armam as suas barracas, fazem fogueiras e dormem, mas o lugar é bem diferente.

Para início de conversa, tem funcionários trabalhando aqui. Um deles nos mostrou onde era a nossa área e contou sobre como funciona o local. Eles têm parques infantis, cozinha, área para piquenique, banheiros (graças a Deus) e umas trezentas coisas para quem quiser usar os barcos e/ou pescar.

— Por que você não me contou antes que aqui era assim? – pergunto à Emma.

— Assim como?

— Civilizado.

Ela ri.

— Você estava esperando o que, Jake? Um grande bosque onde nós usamos o mato como banheiro?

— Algo assim – respondo, dando de ombros.

Nós tiramos as coisas do carro e eu ajudo Emma a montar nossa barraca. De início parece complicado, já que a barraca é grande o bastante para acomodar os três irmãos – Emma, Lily e Daniel – nas férias escolares de vários anos atrás, mas eu logo descubro que tenho alguma habilidade secreta de ser bom montando esse tipo de coisa. Fico feliz em, pelo menos, ser bom nisso.

Terminamos de ajeitar tudo e Emma me leva conhecer o local, contando histórias antigas de quando vinha para cá com sua família. Acho graça ao imaginá-la aqui quando criança, caindo nas pegadinhas armadas pelos seus irmãos.

Depois do almoço, após um merecido descanso, nós saímos para uma caminhada ao longo da trilha que corta o bosque. É meio cansativo e tem alguns insetos pelo caminho, mas vale muito a pena.

Quando voltamos para o local do acampamento, Emma pega uma cesta que trouxe de casa, toalhas de banho e o que parece ser um lençol. Nós carregamos tudo até a “praia”, na beira do lago Gull, onde passamos o resto da tarde fazendo um piquenique e jogando um frisbee velho que eu tinha em casa.

— Chega – Emma diz depois de um tempo, com a cara vermelha de ficar no sol e correr atrás do frisbee – Eu cansei.

— Mas já?

— Não me venha com essa de “mas já?”, Jake. Consigo ver o suor nessa sua cara.

Ela está certa. Puxo a barra da camiseta para cima, limpando o suor que estava em minha testa. Reparo que Emma esteve me encarando enquanto eu fazia isso, pois seus olhos ainda não desviaram do meu abdômen e sua boca está levemente aberta, como se estivesse impressionada. 

— Pode tirar uma foto se quiser, assim você pode analisar por mais tempo – eu a provoco.

Ela pisca, voltando a encarar meus olhos.

— Eu não preciso disso. De qualquer modo, é só entrar no seu Instagram que tem um monte de fotos sua sem camisa. Sua autoestima é realmente elevada, sabia?

Que mentirosa, eu nem posto tantas fotos assim. Se tiver umas duas é muito.

— Emma, não sabia que você andava entrando no meu perfil para ver minhas fotos!

— Eu não fico vendo fotos suas! Tenho mais o que fazer da vida – ela rebate, me dando as costas e voltando para o nosso lugar na areia.  

Sigo atrás dela, sentando ao seu lado.

— Nós podemos resolver esse problema.

— Que problema?

— Esse.

Eu alcanço seu celular e deslizo o dedo para o lado, abrindo a câmera. Tiro uma selfie e entrego o celular para ela.

— Pronto, agora você pode definir uma foto exclusiva minha como papel de parede e admirá-la sempre que quiser.

— Uau, muito obrigada – Emma responde com ironia, bloqueando o celular e alcançando uma garrafa térmica para si – Tudo o que eu mais queria era uma foto sua na tela do meu celular.

— Eu sei, não precisa fingir.

— Quem sabe eu poderia usar aquela sua foto vestido de leão para a peça do Mágico de Oz da sua escola – ela diz, antes de começar a beber água.

— Você viu aquilo?! – pergunto, surpreso com o fato de ela saber que eu apresentei essa peça e mais surpreso ainda com o fato de que ela possa ter visto aquela foto.

— Sua mãe me mostrou um dia desses.

Quem precisa de inimigos quando se tem uma mãe dessas, não é? Imagino que as duas devam rir às minhas custas quando não estou presente.

— É brincadeira – Emma fala ao ver a minha cara – Nunca vi foto nenhuma, só sei que você apresentou a peça. Embora agora eu tenha ficado curiosa para ver tal foto.

Ela devolve a tampa da garrafa e estica o braço, me oferecendo o restante da água. Eu pego de sua mão e enquanto desrosqueio a tampa, respondo:

— Você nunca vai ver aquilo, pode esquecer.

— Ah não! Eu preciso ver o quão ruim estava.

— Muito ruim, pode acreditar.

— Pela sua cara, eu imagino que estava péssimo mesmo – ela diz.

Enquanto eu me ocupo em matar a minha sede, Emma se levanta, observando o lago a nossa frente.

— Vamos entrar?

— Nessa água gelada?

Apesar de ser verão, nunca é quente demais no Canadá a ponto de as águas ficarem quentes. Tenho certeza de que o lago está gelado demais para nadar.

— Sim. Eu não quero ir até o fundo, podemos ir só até a altura dos joelhos – ela responde, estendendo a mão em minha direção – Vem comigo?

Estico o meu braço e seguro sua mão, me levantando. Nós seguimos de mãos dadas até o lago. Eu imaginava que a água estivesse bem mais gelada do que está, mas até que é suportável ficar com as pernas dentro dela – traz uma sensação refrescante após passar tanto tempo no sol.

Estou distraído, observando os barcos mais adiante, quando sou pego de surpresa com a água gelada me atingindo bem no centro das costas.

— Ai! – exclamo, acrescentando um palavrão logo após.

Escuto Emma soltar um risinho atrás de mim e me viro para revidar. Ela é mais rápida e acaba me acertando no rosto dessa vez.

— Ah não. Agora você vai ver, Wright! – eu aviso, passando o dedo nos olhos para retirar o excesso de água.

Eu faço uma concha com a mão e tento jogar água nela, mas ela solta um gritinho e sai correndo pelo lago, em direção à areia. Eu corro atrás dela, porém nem preciso fazer nada. Minha “vingança” vem sozinha, quando Emma tropeça ainda dentro do lago e cai de cara na água. Agora eu entendo o que é o tal do karma que as pessoas tanto falam.

Assim que eu percebo que ela está bem, começo a gargalhar. Ela me fuzila com os olhos e estende a mão, ainda sentada na água.

— Pare de rir e seja cavalheiro, pelo menos.

Ofereço minha mão a ela e, como resposta, sinto um puxão para baixo. Perco o equilíbrio e caio bem ao seu lado. Dessa vez, é Emma quem ri. Eu deveria ter previsto que algo desse tipo aconteceria.

Eu me recupero, ajeitando a postura, e roubo um beijo seu, fazendo-a parar de rir conforme ocupo seus lábios com os meus.

— Já te disseram que você joga muito sujo? – eu pergunto, me afastando e levantando.

— Eu jogo sujo? Você é quem joga sujo, Jake.

Estendo minha mão (de novo) a ela, que dessa vez segura e se levanta, sem tentar me derrubar. Dou uma olhada rápida em Emma. Sua roupa ficou inteira encharcada, fazendo com que sua blusa aderisse ao seu corpo. Preciso de toda a minha força de vontade para desviar o olhar de volta para seu rosto. Ela me encara de volta, me fazendo morrer de vontade de beijá-la novamente.

Imagino que Emma esteja pensando o mesmo que eu, pois me puxa pela mão, nos levando cada vez mais para dentro do enorme lago de 80.6 km² e nos afastando da área rasa do lago, onde as crianças estão brincando.

Quando estamos em Edmonton, são raros os momentos que compartilhamos sozinhos, antes de sermos interrompidos por alguém. A maior parte dos nossos momentos são minutos roubados e escondidos no Centro ou então em casa, quando assistimos filmes, passeamos com os cachorros, testamos receitas ou ficamos simplesmente jogando conversa fora.

Um final de semana sozinho com ela era como um sonho.

✦✦✦

Para alguém que passou a vida toda na cidade, acampar estava sendo melhor do que eu esperava.

Emma e eu conseguimos fazer uma pequena fogueira próximo à nossa barraca e agora estávamos sentados em frente a ela, assando marshmallows e observando o sol se pôr – o que demora a acontecer, na verdade, é só por volta das 21h.

Mesmo sendo verão, a temperatura cai consideravelmente a noite. A sensação térmica aqui, no meio das árvores, é ainda menor. Ter conseguido fazer uma fogueira foi um alívio. 

— Seus pais concordaram com isso? – eu pergunto, curioso para saber sua resposta – Digo, sobre você estar aqui. Comigo.

Observo Emma sentada num banquinho próximo ao meu. A noite já tomou conta do céu e o fogo é a fonte de iluminação mais próxima que temos, criando sombras em seu rosto e iluminando seus olhos num brilho alaranjado. Por um segundo me distraio com sua beleza, pensando no quão sortudo eu sou para estar aqui, acompanhado por uma garota maravilhosa em vários sentidos.

— Eu tive que insistir bastante – ela responde, suspirando – Por fim, minha mãe concordou e convenceu meu pai. Não que eu precise de alguma aprovação, já sou maior de idade há um bom tempo, é só que... sei lá, eu os respeito demais. Não consigo ser como Lily, que faz o que bem entende.

— Fico feliz por estarmos aqui – digo depois de um tempinho, tirando meu marshmallow do fogo e o assoprando antes de comer.

— Eu também.

Um silêncio paira entre nós, sendo preenchido por vozes de outras pessoas acampando mais adiante, corujas e insetos fazendo seus barulhos.

— Eu estou com medo, Jake – Emma confessa. 

Franzo a testa. Achei que ela estivesse acostumada a acampar.

— Do quê? De ter bichos aqui? 

— Não – ela solta um risinho – De nós. 

— Como assim? – pergunto, sem entender.

Ela solta um suspiro lento antes de continuar. 

— Sei que já tivemos essa conversa inúmeras vezes, mas a realidade começou a me atingir de fato agora. Suas aulas já voltam na semana que vem, assim como seus treinos e jogos de hockey. Eu também estou começando a ficar enrolada nos meus compromissos. As coisas vão começar a apertar para nós, entende? Tenho medo de que a nossa relação acabe ficando em segundo plano e dando errado.

— Nós só vamos ficar em segundo plano se deixarmos que isso aconteça.

— Eu sei – ela diz, espetando outro marshmallow e colocando ele no fogo – Só não quero que isso aconteça sem que a gente se dê conta.

— Nós não precisamos nos preocupar com isso agora. Vamos ver como as coisas vão indo – sugiro – Não é esse o nosso lema?

— É. Eu só precisava desabafar antes que ficasse louca pensando nisso. 

Olho para Emma, sentada num branquinho em frente ao fogo com seu marshmallow e vestindo um moletom meu da Universidade de Alberta, com o cabelo preso num coque bagunçado. É engraçado como esses momentos de simplicidade me fazem pensar sobre o quanto ela é fascinante. 

Minha única vontade é abraçá-la e mantê-la próxima de mim para sempre. Sei que não é possível, mas também não me vejo ficando tanto tempo ocupado a ponto de me afastar dela. Ela é sempre tão preocupada com essa possibilidade de não termos tempo para nós que eu me questiono se algo relacionado a isso aconteceu em seu último relacionamento. 

— Se depender de mim, você ainda vai ter que me aguentar por muito tempo – garanto – Independente de quantas horas na semana a gente se veja pessoalmente.

Vejo um sorriso passar pelos seus lábios.

— Que bom, porque eu não estou nem um pouco afim de te deixar sair da minha vida. 

Sorrio de volta para ela, garantindo silenciosamente que eu sempre estarei aqui.

Eu sei que nós podemos fazer isso funcionar.

Já estamos fazendo. 


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Notas finais do capítulo

Um capítulo mais light para vocês



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