Emma & Jake escrita por Almofadinhas


Capítulo 22
Capítulo 22 ❄ Emma


Notas iniciais do capítulo

Olá!! Espero que todos estejam bem.
Antes de tudo, queria avisar que meu computador pifou (rindo de nervoso), então se atrasar um pouquinho, é por isso.
Vou tentar seguir no mesmo ritmo, mas caso demore um pouco mais, é porque estou refazendo o que sumiu.
Enfim, boa leitura a todos!



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Quando meu treino da tarde termina, Julie me faz esperá-la. Eu paro perto da borda do rinque e observo minha amiga e Peter treinarem. Enquanto eu bebo água, os dois patinam em perfeita sincronia, movendo seus patins pelo gelo de uma forma estranhamente satisfatória.

Não é porque são meus amigos, mas os dois são tão bons e talentosos juntos que morro de amores toda vez que paro para vê-los patinando. Observo Peter segurar Julie pela cintura e a elevar para trás de seu pescoço, passando ela de volta para frente e a segurando apenas com uma mão; tudo em questão de segundos.

Esse é um dos motivos de porque eu nunca quis patinar em dupla. Não sei se gostaria de ter outra pessoa me tirando do chão e deixando a minha cabeça prontinha para receber o impacto do gelo caso nos desequilibrássemos. Patinando sozinha, a responsabilidade é toda e apenas minha, não preciso confiar em ninguém.

Assim que os dois terminam, eu sigo com Julie para o vestiário feminino e depois para a cafeteria. Não sei qual é o problema de Julie hoje, mas ela parece mais agitada do que o normal, como se estivesse aguardando alguma coisa.

— O que há com você? – pergunto.

— Hm? – minha amiga resmunga, mastigando um pedaço de fruta.

— Você está esperando alguma coisa?

— Esquece, ela também não me contou o que é – Peter diz para mim, lançando um olhar indignado para sua parceira.

— Eu não estou esperando nada – Julie rebate – Parem de ser doidos.

Conheço Julie por tempo suficiente para saber que ela não está sendo 100% sincera. Penso em como posso fazê-la dizer o que está a deixando assim, quando Tom, funcionário do Stepanova Ice Center, entra na cafeteria e vem até a nossa mesa.

— Emma – ele me chama e avisa – Estão te chamando na sala de reuniões.

Não me lembro de ter nenhuma reunião ou conversa agendada para hoje.

— Tem certeza?

Tom assente, confirmando.

— Que estranho – murmuro – Eu já vou indo lá, Tom. Obrigada por me avisar!

Tom deixa a cafeteria e eu ajeito as minhas coisas, jogando os papéis no lixo e fechando meus potes.

— Leva isso no meu armário para mim? – pergunto a Julie, apontando para meus potinhos de comida na mesa.

— Levo. Agora vai lá – ela responde – E depois me conta todos os detalhes.

Julie finaliza com uma piscadinha, me dando a certeza de que ela sabe alguma coisa que eu não sei. Depois vou ter que verificar muito bem essa história com minha amiga. Saio da cafeteria e ajeito meu cabelo, dando uma última checada nos meus dentes pela tela do celular.

Subo as escadas do Centro, mas ao invés de ir em direção ao escritório, sigo para a sala de reuniões.

Bato umas três vezes antes de entrar e fechar a porta atrás de mim.

A primeira coisa que vejo, no canto oposto da sala, é Jake. Ele está parado de pé, parecendo nervoso, ajeitando (ou bagunçando) o próprio cabelo. Por alguns milissegundos, eu fico em choque. O que ele está fazendo aqui a essa hora?

Pisco umas duas vezes, apenas para confirmar se não estou tendo alguma alucinação, antes de correr até ele e o abraçar pelo pescoço.

Jake me abraça de volta, apertando a minha cintura com seus braços. Eu inspiro fundo, sentindo o cheiro familiar do seu perfume e imediatamente me sentindo mais leve por vê-lo novamente. É engraçado como o simples aroma de seu perfume consiga transformar as minhas pernas em duas gelatinas.

Me afasto alguns centímetros e ergo o queixo, a fim de encarar seu rosto. Jake inclina a cabeça um pouco para baixo, me observando de volta. Nenhum de nós diz nada, apenas trocamos sorrisos e olhares tão intensos que eu sinto como se seus olhos castanhos estivessem enxergando a minha alma. É desconcertante.

Nossos olhares, entretanto, não duram muito tempo. Ao contrário da última vez, dessa vez eu estou bem certa e consciente do que quero fazer. Fecho os olhos e me inclino para frente, sentindo os lábios de Jake encostarem nos meus.

A sensação não poderia ser melhor. Seu beijo calmo e doce provoca reações por todo meu corpo. Minha pele parece estar pegando fogo, me causando arrepios e fazendo meu coração bater rápido demais em meu peito.

Jake me segura ainda mais forte em seu abraço, me trazendo para perto e reduzindo a zero o minúsculo espaço que havia entre nós. Preciso de toda a minha força de vontade para me manter sã quando sinto seu corpo junto ao meu.

Quando os lábios de Jake deixam a minha boca e descem em direção ao meu pescoço, eu me afasto. Ele mal tem tempo de raciocinar sobre o que acabou de acontecer, quando eu acerto seu braço com um tapa de força mediana.

— Nunca. Mais. Faça. Isso – eu digo, pontuando cada palavra minha com um tapa em seu braço esquerdo.

— Ai ai, Emma – ele reclama, parecendo confuso, assustado e surpreso ao mesmo tempo – Nunca mais faça o que?!

— Isso.

— Isso o que? Foi você quem me beijou primeiro!

— Sumir – eu respondo.

Sua boca se abre um pouco quando ele compreende o que eu quis dizer.

— Nunca mais suma da minha vida, bagunce meus sentimentos ou me deixe sem notícias suas por todo esse tempo. Está me entendendo?! Eu agradeço por ter me dado esse tempo para pensar, mas durante esses últimos dias, especialmente, foi cruel. Eu senti falta do meu amigo! 

Ele me olha com os olhos arregalados, piscando algumas vezes antes de dizer:

— Me desculpe, Emma. Eu tenho muito o que explicar.

Eu me afasto antes que acabe o beijando novamente e sento em uma das cadeiras que estão organizadas junto a longa mesa de reuniões.

— Seu voo não chegava só hoje à noite? – pergunto.

— Sim, mas em Moscou deu uns problemas nas conexões. É uma longa história, mas resumindo, redefiniram minha viagem de volta para casa e ao invés de chegar à noite, eu dei sorte e consegui chegar ainda de manhã.

— Ah, entendi.

Observo Jake puxar uma cadeira na minha frente e sentar. Enquanto ele se ajeita, eu pergunto, apontando para a sala de reuniões como um todo:

— Por que nós estamos aqui?

— Eu não sabia como te chamar; não sabia se você queria olhar na minha cara ou não... só sei que precisava conversar com você assim que voltasse, para me explicar pessoalmente – ele responde, ficando com as bochechas coradas – Pensei que no Centro, talvez, você conversasse comigo.

— Era só ter me mandado uma mensagem, Jake. Eu não sou tão má assim.

— Me desculpe de novo, Emma. Já te disse que sou péssimo tomando decisões?

— É, eu percebi. E você está certo, nós precisamos conversar mesmo.

Nenhum de nós diz nada. Eu respiro fundo e abro a boca para falar, ao mesmo tempo que Jake faz a mesma coisa.

— Pode falar – eu digo.

— Não, pode começar – ele responde de volta.

Eu penso sobre tudo o que preciso dizer, raciocinando sobre qual tópico abordar primeiro. Começar pelo começo me parece um bom início de conversa.

— Sabe, você sempre foi uma figura que fez parte da minha vida inteira, basicamente, Jake. É claro que de um jeito não muito positivo. Nossa relação era péssima e eu tinha uma certa de inveja de você. Acho que justamente por isso, eu nunca esperei muita coisa de você. Sempre te vi como o filho irritante da minha treinadora. Aquele dia aqui no Centro, quando eu vim treinar para o Mundial, eu fui pega de surpresa com o seu comportamento; confesso que não esperava que você fosse agradável ou que eu poderia me divertir na sua companhia. É claro que as coisas não mudaram de um dia para o outro, você sabe disso. Você foi me conquistando aos poucos, Jake. Quando eu percebi, já estava acostumada com a sua companhia constante em minha vida, me irritando e me fazendo rir no segundo seguinte.

Eu desvio olhar para minhas mãos, prestando atenção apenas nos meus dedos. É inevitável me sentir nervosa; é a primeira vez que eu me abro desta forma com alguém. 

— Eu não sou boa lidando com meus sentimentos – continuo – Lily sempre me disse que eu estava negando o óbvio, mas eu não via as coisas dessa maneira. Demorei para lidar com tudo até imaginar que, talvez, eu pudesse estar começando a gostar de você. E então veio o dia do seu aniversário... bem, acho que você sabe o que aconteceu nesse dia.

Olho rapidamente para Jake, que assente. Ele é um bom ouvinte; não me interrompe e presta atenção em cada palavra que eu digo.

— Eu fiquei tão, mas tão confusa depois disso. Não sabia exatamente o que estava sentindo e estava com medo de ter estragado a nossa amizade – confesso, brincando com o anel de pedra verde que ganhei de aniversário – Mas daí as horas foram passando e nada de você aparecer.

— Me desculpe por isso, Emma – Jake fala, parecendo extremamente envergonhado por suas atitudes – Eu fui infantil e covarde. Jamais deveria ter feito isso.

— Só me diga que nunca mais vai sumir por um mês e me deixar apenas com uma carta.

— Eu não vou.

— Sabe, eu não sabia o que pensar até ler a sua carta. E mesmo depois de ler eu continuei confusa. Demorei para entender os seus motivos, estava irritada demais com você, mas depois eu entendi. Fiquei dias e dias pensando sobre o que você escreveu.

— Sobre que parte? – ele pergunta com curiosidade.

— Sobre tudo, mas especialmente a parte sobre mim e sobre nós. Aquilo ainda é verdade?

Dessa vez eu retorno a minha atenção de volta para Jake. Ele assente e seus olhos castanhos percorrem meu rosto antes de responder:

— Eu ainda te acho incrivelmente fascinante e maravilhosa, Emma. Eu me sinto bem quando estou com você e sim, gostaria muito que tivéssemos alguma coisa a mais. Eu amo o seu jeito, o seu sorriso e o som da sua risada, o brilho dos seus olhos extremamente verdes... o jeito como você fica vermelha quando está com vergonha, como agora – ele me dá um sorrisinho e sinto minha cara esquentar ainda mais – Por mais que eu ame a nossa amizade, sinto como se apenas ela não fosse mais o suficiente. Ficar esse mês fora me trouxe a certeza de que eu quero passar o maior tempo possível ao seu lado, de todas as maneiras possíveis.

Eu não sei o que dizer. Ler suas palavras era uma coisa. Ouvi-las era algo totalmente diferente. Fico em silêncio, encarando Jake como se o visse pela primeira vez. Pisco algumas vezes para me recompor.

— Você sabe que isso não aconteceria. Eu passo horas demais treinando e você tem a faculdade e o hockey. Nós mal nos veríamos.

— Eu não me importo – ele responde, dando de ombros – Sei como a nossa agenda é, nós daríamos um jeito. E de qualquer modo, nós nunca precisamos ficar muito tempo juntos para fazer nossa amizade funcionar, não é?

— Mas e se você cansar de me esperar porque eu passo meu dia todo ocupada, muitas vezes fora da cidade ou do país?

Solto logo essa pergunta pois foi exatamente o que meu ex me disse ao me dar um pé na bunda. Ele me traiu e ainda se justificou dizendo que eu era muito ausente no nosso relacionamento. Antes que eu tivesse a oportunidade de terminar com ele, o desgraçado fez isso. Quando nós começamos a namorar, eu estava treinando com todas as minhas forças para a temporada – e achei que ele entendesse isso. Eu tive resultados incríveis, mas estava completamente destruída por dentro. Eu era insegura demais e tinha começado a diminuir gradativamente a minha alimentação, achando que ninguém iria perceber. Ao invés de ficar ao meu lado e me apoiar enquanto eu me recuperava de um distúrbio alimentar, Paul pegou meu coração e o transformou em vários caquinhos. Graças a ele, eu passei todos esses anos negando qualquer garoto, com medo de sofrer tudo isso de novo. Não sei se iria suportar outra pessoa me magoando e usando a minha profissão como justificativa.

— Tudo bem – Jake responde – Talvez algum dia a gente termine por causa da distância, não tem como saber. Mas se tem uma coisa que eu sei, com certeza, é que eu cresci nesse meio. Eu entendo que vocês patinadores são ocupados e, se isso significa seu sucesso profissional, então eu apoiarei você todos os dias, não importa quanto tempo você precise ficar aqui.

Eu agradeço a Jake por sua sinceridade. Esse é um dos obstáculos entre nós e eu me sinto um pouco mais aliviada ao ouvir suas palavras.

— Tem mais uma coisa em relação a isso que eu preciso te dizer – eu aviso.

— O que?

— Pode parecer egoísta, mas é da minha carreira que estamos falando. O sobrenome Stepanova faz parte dela desde o início; eu não quero que tudo dê errado entre a gente e, de algum modo, isso atrapalhe a minha vida profissional com a sua família. Sei que seus pais são extremamente profissionais, mas será que você também pode ser maduro em relação a isso?

— Eu nunca prejudicaria sua carreira, Emma. Eu não tenho esse direito, independente de quão errado as coisas deem, pode ficar tranquila. Você tem a minha palavra quanto a isso. Além disso, tenho certeza de que a minha mãe me mataria se eu arruinasse algo, ela trabalha com você há tantos anos.

Respiro fundo, sentindo mais um peso sair das minhas costas. Esses eram os “obstáculos” entre nós que mais me preocupavam e que me deixavam ansiosa para esclarecer com Jake. Espero do fundo do meu coração que ele se lembre disso caso se irrite comigo algum dia. Eu posso ser profissional e manter Jake apenas na minha vida pessoal; torço para que ele possa fazer o mesmo.

— Obrigada, Jake. Me sinto melhor sabendo disso, sério – afirmo – Minha carreira era uma das coisas que eu mais temia. Confesso que estava, e ainda estou, com medo de tomar uma decisão que afete negativamente outra parte fundamental da minha vida. Sei que as coisas não serão nem um pouco fáceis para nós, mas acho que concordamos que podemos ser maduros em relação a isso. Eu tive que pensar muito sobre tudo; você não imagina o nó que isso deu na minha cabeça. Acho que agora eu percebo o que minha irmã me dizia, sobre eu negar o óbvio. Negar o que eu sentia era a maneira mais fácil que eu tinha para não precisar lidar com isso e, sinceramente, eu cansei de ir pelo caminho mais simples.

— Você está dizendo que...

— Sim. Eu estou disposta a ir pelo caminho mais difícil, cheio de empecilhos, para chegar até você, Jake Stepanova.

O sorriso que ele dá é tão bonito e sincero, que minha vontade é de tirar uma foto e guardar o momento para sempre.

Me surpreendo quando Jake levanta da cadeira e dá a volta pela mesa, empurrando a cadeira onde estou sentada para trás. Ele me oferece sua mão e eu a seguro, levantando. Mal fico de pé, quando sou agarrada pela cintura, girando no ar dentro dos braços apertados de Jake.

Eu rio, sorrindo ainda mais quando sou colocada no chão e observo a felicidade genuína no rosto do garoto à minha frente. Ele se aproxima para me beijar, mas eu afasto meu rosto.

— Tem mais duas coisas que eu preciso saber antes disso, apressadinho.

— O que?

— Você realmente gostava de mim? No passado, eu digo.

— Quem te disse isso?

— Minha irmã.

— Ah! Acho que eu nunca enganei Lily, então. Sua irmã está certa, você era minha paixão platônica alguns anos atrás. Qual a segunda coisa?

— Não precisa responder se não quiser – eu aviso – Mas fico curiosa para saber porque alguém como você está solteiro há tanto tempo.

— Alguém como eu?

— É. Bonito, talentoso, inteligente... não vou falar mais para não elevar seu ego. Ele já é gigante por conta própria.

Jake solta um suspiro antes de responder.

— Pode-se dizer que eu nunca tive muita sorte no quesito relacionamento. Tive duas namoradas e fui feito de otário nas duas vezes. Acho que isso foi o suficiente para me manter fugindo de relacionamentos durante todos esses anos. Ficar com alguém sem o menor compromisso foi o jeito que eu encontrei de não quebrar a cara novamente. Pode me julgar, eu mesmo não me orgulho muito disso, mas funcionava.

— E o que te fez mudar de ideia? – pergunto.

— Não é óbvio? Você me fez mudar de ideia – ele responde, me olhando fixamente nos olhos e devolvendo um fio de cabelo que se soltou do rabo de cavalo de volta para trás da orelha – Você é alguém por quem vale a pena se arriscar.

Sinto meu corpo se aquecer com o seu simples toque no meu rosto e com suas palavras me dizendo que eu valho a pena.

E então, pela segunda vez no dia de hoje, nós nos beijamos.


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Notas finais do capítulo

Sim, a Julie sabia que Jake ia aparecer lá para conversar com Emma. Foi ela quem ficou distraindo a amiga para ela não reparar nele entrando no Centro



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