Emma & Jake escrita por Almofadinhas


Capítulo 21
Capítulo 21 ❄ Emma


Notas iniciais do capítulo

Sim!
Mais um capítulo (dessa vez mais curtinho e complementando o anterior)



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Minha primeira reação ao ler a carta de Jake foi algo parecido com raiva. Eu fiquei tão estressada que minha vontade era de rasgar tudo e fazer ele comer cada pedacinho de papel. Sério, quem ele achava que era para ir embora e me deixar apenas uma carta? Ele pensou que algumas palavras escritas em folhas de caderno eram o suficiente para se desculpar e, ao mesmo tempo, abrir seu coração? Isso era inacreditável até mesmo para Jake.

Depois de alguns dias eu me acalmei, deixando a raiva dar lugar à reflexão. Li cada palavrinha que ele escreveu para mim e pensei muito sobre elas. A coisa mais fácil de aceitar foi o seu pedido de desculpas. No fundo eu sabia que Jake estava sendo sincero, mesmo duvidando dele no início, sei o quanto ele detesta ficar mal resolvido com alguém. Posso ter demorado alguns dias para digerir tudo isso, mas acabo acreditando e aceitando as suas desculpas. É compreensível ter ficado com medo depois de tudo o que ocorreu; só demorei para enxergar isso porque estava irritada demais com ele. E afinal, quem era eu para julgá-lo? Eu mesma fiquei confusa, com medo de ter arruinado nossa amizade e sem saber como ficaríamos depois desse beijo.

Já a parte mais difícil de aceitar, foi todo o resto. Sobre nós. Sobre como Jake gostava de mim e de nós juntos; quais eram seus próprios sentimentos e percepções em relação àquele dia; sobre como ele já havia chegado à conclusão de que nunca seria recíproco, sem ao menos me questionar de como eu me sentia em relação a ele (o que pensando bem, foi sensato, já que eu negaria tudo) e, principalmente, sua sinceridade ao dizer que estava disposto a fazer nossa relação como “algo a mais” funcionar.

Tudo isso me fez passar dias e dias pensando. Eu já tinha a sua opinião sobre o assunto, mas o que eu realmente sinto por ele? Eu gosto de Jake, isso é um fato, mas será que gosto dele a ponto de querer arriscar nossa amizade para ver como nos saímos como namorados? Será que eu estou pronta para entrar em um relacionamento? Vale a pena? Eu vou aguentar lidar com tudo isso logo agora?

Essas são questões as quais eu preciso analisar com muito cuidado. É da minha vida que estamos falando; não posso arriscar tomar decisões erradas cujo preço é tão elevado.

Já estamos na metade de julho e eu ainda não tenho certeza do que quero fazer. Meu lado emocional me diz uma coisa e meu lado racional me diz outra, embora eu tenha começado a suspeitar que minhas emoções estejam persuadindo a razão.

✦✦✦

Patino de um lado para o outro do rinque, apenas me aquecendo enquanto espero meu treino começar. Estou um pouco nervosa pois preciso conversar com minha treinadora; preciso saber qual sua opinião antes de bater o martelo acerca da minha decisão. Apesar da nossa relação ser profissional dentro do rinque, eu vejo Maggie como uma segunda mãe. Ela cuida de mim há anos e sempre esteve aberta para me ajudar e ouvir meus desabafos. E nesse caso, acho que somente ela pode entender como eu estou me sentindo. Ela já passou por algo desse tipo antes.

Assim que Maggie e minha coreógrafa chegam, iniciamos nosso trabalho. Meus novos programas curto, livre e de gala ainda estão “nascendo”, então há muito o que ser feito e aperfeiçoado até outubro. Apesar de ser exaustivo, eu não posso reclamar. Gosto de passar horas e horas dentro do rinque; quando estou no gelo, me distraio dos meus problemas pessoais e o do caos que está acontecendo na minha cabeça.

Quando meu treino da manhã termina, minha treinadora continua no rinque, acompanhando seus atletas mais jovens. Termino de beber minha água e patino até ela.

— Não me diga que vai continuar treinando até a hora do almoço? – ela pergunta com um sorriso ao perceber que estou me aproximando.

— Não – respondo sorrindo de volta – Não é isso. Na verdade, eu gostaria de saber se posso te perguntar uma coisa.

— Claro, Emma. O que foi?

— É uma questão pessoal – afirmo, me sentindo meio sem jeito.

Maggie franze a testa antes de dizer:

— Tudo bem, o que aconteceu?

Eu suspiro.

— Tem uma coisa que eu pretendo fazer, mas eu não sei como lidar com isso direito... é algo que afetará tudo – respondo, respirando fundo antes de continuar, abaixando meu tom de voz – Como você e o Sr. Stepanova fizeram a relação de vocês dar certo? Quer dizer... vocês dois trabalhavam juntos. Não foi estranho?

Maggie sorri, como se estivesse relembrando sua trajetória com o marido ao longo de todos esses anos.

— Ah, sim! Não foi nada fácil, Emma – ela me diz – Nós éramos parceiros há anos e tínhamos uma relação muito boa dentro e fora do rinque. Quando eu percebi que gostava de Vladmir de outra forma, fiquei quieta. Nós estávamos indo para uma temporada muito importante em nossas carreiras e eu não queria colocar em risco a nossa relação. Tive medo disso afetar a nossa patinação, entende?

Eu assinto.

— Logo que a temporada acabou, eu decidi conversar com ele antes de sair de férias, assim nós não teríamos que nos ver todos os dias, caso as coisas ficassem realmente estranhas entre nós – Maggie continua – Agora, imagine a minha surpresa ao falar com ele e descobrir que ele também gostava de mim. Eu pensei que tudo estava resolvido, que seria as mil maravilhas patinar ao lado do meu namorado.

— E não foi?

— Não – ela ri – No início nós não sabíamos lidar com isso, quase deixamos nosso treinador louco.

— Mas como...? – começo a perguntar.

— Eu sei onde você quer chegar, querida. Meu marido e eu tivemos que aprender a separar nossa vida profissional da pessoal. Dentro do rinque nós éramos parceiros de trabalho, nenhum problema da nossa vida como casal deveria interferir nisso. Confesso que não era fácil patinar com ele quando minha vontade era de esganá-lo, mas eu precisava agir como sua parceira, não como namorada e, posteriormente, como esposa. Nós éramos profissionais e nos respeitávamos como tal, independentemente do que quer que estivesse acontecendo em nossa vida particular. Tudo ficou mais fácil quando eu entendi isso.

Maggie respira fundo antes de continuar.

— Quer saber uma coisa que nunca saiu na mídia?

— O que?

— Algumas semanas antes da nossa primeira Olimpíada, em 88, nós terminamos nosso namoro.

— É sério isso?

— Sim. Nós éramos imaturos e terminamos por uma coisa boba. Foi um inferno aguentar os comentários sobre como éramos um lindo casal dentro e fora do gelo, quando na realidade eu tinha acabado de dar um pé em sua bunda e estava extremamente irritada com ele.

— Eu não fazia ideia disso – exclamo, um pouco chocada.

Eu já tinha assistido todos os programas olímpicos deles. Maggie e Vladmir tinham (e ainda têm) tanta química juntos que eu poderia jurar que eles estavam sendo o casal perfeito em cada um deles. Nunca imaginei que em 1988 eles estavam atuando. 

— Pois é, ninguém fazia.

Maggie desvia o olhar para seu atleta e passa instruções à ele antes de olhar para mim novamente, retomando nossa conversa.

— Minha resposta para sua pergunta inicial é essa, Emma. Saiba administrar sua vida profissional e pessoal separadamente, mesmo que elas estejam intimamente ligadas. Pode parecer difícil, mas eu te conheço; sei que você consegue fazer isso porque você faz. Tudo dará certo, confie em mim.

— Obrigada, Maggie.

— Posso te dizer uma outra coisa antes de você ir?

— Claro.

— Independentemente do que acontecer entre você e Jake, isso não afeta em nada a nossa relação, não se preocupe. Eu posso ser sua treinadora, mas você também é e continuará sendo como uma filha para mim, não se esqueça disso.

Eu quase engasgo com a minha saliva. Preciso tossir algumas vezes para me recuperar. Maggie dá um tapinha nas minhas costas e sorri.

— Vocês dois podem achar que me enganam, mas eu conheço vocês – ela diz.

— Jake falou alguma coisa? – pergunto, morta de vergonha.

— Não. Estou dizendo isso porque tenho a impressão de que sei o que está acontecendo e detestaria ver vocês tomando decisões erradas só porque acham que isso pode afetar negativamente outras áreas de suas vidas. Eu já senti na pele a sensação de que iria arruinar toda a minha carreira se seguisse meu coração, mas decidi arriscar. Às vezes tudo o que a gente precisa é dar um salto de fé e ver aonde chegamos.

Eu respiro fundo, absorvendo suas palavras. Talvez Maggie esteja certa. Talvez eu precise dar o meu salto de fé. Observo seu atleta fazer um Quad Salchow e pousar perfeitamente. Só espero que, assim como ele, eu consiga cair de pé ao final do meu próprio salto. 


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