Emma & Jake escrita por Almofadinhas


Capítulo 18
Capítulo 18 ❄ Emma




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Lily sempre participa de festas com o pessoal da sua universidade e dessa vez não foi diferente. Quando sua amiga cancelou, por um imprevisto de última hora, minha irmã pediu para que eu fosse com ela. Por mais que eu estivesse um pouco cansada do meu treino, eu nunca participei desse tipo de "coisa" que pessoas da minha idade fazem. Estava um pouco curiosa para saber como era ser como eles, por isso aceitei a oferta da Lily. Óbvio que ela teve que insistir um pouco para eu ceder, porque esse tipo de evento é totalmente fora da minha zona de conforto.

Basicamente, tudo aconteceu de última hora. Eu já imaginava que Jake estivesse na festa, considerando o que sei sobre ele, mas também achei que seria esquisito avisar que eu estaria lá. Eu não faço parte deste lado de sua vida, onde ele é universitário e popular, e não queria tornar a minha presença na festa algo estranho para ele. Por um momento, quando vi que haviam muitas pessoas na casa, pensei que talvez nem encontrasse Jake. Ingenuidade minha, eu sei.

Para ser bem sincera, eu estava com medo de encontrá-lo com outra pessoa. De maneira íntima. Mesmo não estudando na Universidade de Alberta, eu conheço a fama dele (e a de qualquer garoto que seja popular e solteiro). Sei que não tenho o direito de ficar com ciúmes, nós não somos nada além de amigos, mas só de pensar me sinto um tanto quanto irritada. Ver ele agarrando outra pessoa iria formar uma imagem na minha cabeça que seria bem difícil de esquecer. E também seria difícil de encará-lo depois sem lembrar daquilo.

Por sorte, quando nos encontramos, ele está sozinho, acompanhando seu amigo que deu um esbarrão na minha irmã. Quando Lily segue para a cozinha depois disso e me leva junto, eu finalmente entendo o porquê ela me trouxe. Estava na minha cara e eu não percebi. É óbvio que ela estava tentando dar um jeito de fazer eu me encontrar com Jake. Às vezes eu tenho a impressão de que na cabeça de Lily, a qualquer momento eu e ele vamos perceber, magicamente, que nascemos para ficarmos juntos. Sua felicidade ao ouvir que eu iria embora da festa com ele, como se isso fosse uma grande coisa, me deixou um pouquinho irritada. Não era nada demais, afinal.

— E então? Para onde vamos? – pergunto ao entrar no carro de Jake, minutos depois, e colocar meu cinto.

— Você tem alguma sugestão?

— Não, vou confiar em você hoje.

Ele me encara por alguns segundos antes de desviar sua atenção para o painel do carro, dando partida no motor.

— Eu sou péssimo tomando decisões, só para deixar claro.

— Não é tão difícil assim encontrar o que comer, Jake.

— Tudo bem, mas depois não reclame.

Nós deixamos o local da festa e seguimos em direção ao centro da cidade. Agora eu já tinha conhecimento do seu gosto musical, então não me surpreendo quando músicas que eu também gosto começam a tocar. Durante o trajeto todo nós vamos cantando empolgados, parecendo um karaokê de péssima qualidade. É uma sorte não ter ninguém conosco, porque a pessoa certamente ficaria surda.

Quando Jake estaciona, eu observo a nossa volta. É uma das ruas laterais ao parque, próximo de onde estão os restaurantes e bares.

— Onde, exatamente, você me trouxe? – pergunto.

— Não é aqui ainda, relaxe – ele explica, soltando o cinto e pegando sua carteira – A lanchonete é aqui perto, só estacionei aqui porque as ruas para lá ficam lotadas e eu odeio ter que estacionar por ali.

Ele está certo. Numa sexta-feira à noite, os estabelecimentos costumam ficar cheios e, consequentemente, as ruas também. Eu ajeito minha bolsa no ombro e desço do carro, esperando Jake para descobrir para qual lado devemos ir.

Nós andamos mais ou menos uma quadra e meia até chegarmos em uma lanchonete. Jake entra e segura a porta, me esperando passar. Assim que entro, observo os detalhes; tudo parece bem decorado, aconchegante e o cheiro que sinto é divino. Das inúmeras lanchonetes e restaurantes que têm na cidade, essa é uma que eu não conhecia.

Sigo com Jake para uma das mesas vazias ao fundo do local, bem de frente para uma janela com vista para a cidade.

— Já tinha vindo aqui? – ele me pergunta, assim que nos sentamos.

— Não – admito – Você já? 

— Meus pais me traziam aqui para comer, de vez em quando. Acho que você vai gostar... tem um monte de opções no cardápio.

Jake empurra na minha direção um dos cardápios que estão em cima da mesa. Eu folheio os papéis, vendo as opções disponíveis para comer. Realmente, tem uma variedade de comidas que agrada diferentes paladares.

— O que você costumava pedir? – questiono.

— Depende.

— Depende do que?

— Do horário que eu vinha.

— Você entendeu o que eu quis dizer.

— Só estava enchendo seu saco – ele responde, curvando os lábios num sorriso – Eu pedia e ainda peço frango frito, esse sanduíche da casa e as vezes um mac ‘n cheese.

— Parecem boas opções – concluo, analisando o restante do cardápio – Acho que vou pedir isso e uma salada.

Você vai comer frango frito?

— Sim, qual o problema?

— Nenhum. Só estou surpreso por você não optar pelas saladas e comidas light.

Eu sei o que ele quer dizer. Eu tenho a minha dieta e a sigo corretamente, mas desde que tive alguns problemas, não me sinto mal por comer aquilo que tenho vontade. Eu sei os meus limites, não vou me entupir de carboidratos e gordura, mas também não vou me privar das coisas que gosto. Não mesmo.

— E só pra deixar claro, eu gosto de salada, não fale mal dela.

— Não vou, eu também gosto. Só achei legal que você não é neurótica com isso igual muita gente que eu conheço.

Um lado imaturo do meu cérebro pensa em quantas garotas ele já deve ter trazido para comer e que ficaram só na salada. Eu mesma me ignoro. 

— Não vale a pena ficar maluca por causa de caloria, te garanto.

Volto a ler o cardápio, pensando no que vou pedir para beber, quando vejo um detalhe interessante na parte das sobremesas. Tento disfarçar minha cara ao ter uma ideia e tiro o celular do bolso, olhando as horas. 00:04h. Perfeito.

Assim que a atendente anota os nossos pedidos, eu uso a desculpa de que preciso ir ao banheiro e saio da mesa, torcendo para que Jake se distraia com alguma coisa nesse tempo.

✦✦✦

— E aí? O que está achando? – Jake pergunta, enquanto eu mastigo um pedaço do meu hambúrguer.

— Muito bom.

— Matou sua fome?

— Com certeza.

Eu passo mais molho no resto do meu sanduíche e termino de comer. Enquanto limpo os dedos no guardanapo, decido perguntar algo que está me deixando curiosa. Talvez eu não goste da resposta, mas vou arriscar.

— Posso te perguntar uma coisa?

Jake termina de mastigar um pedaço de frango e me olha, concordando com a cabeça.

— Por que você saiu da festa e veio para cá comigo? Fiquei com a impressão de que você queria sair de lá.

— Eu te disse. Também estava com fome e não me importava de ir embora.

— Tudo bem, só estou tentando dizer que sei que você gosta de festas e tudo mais... só achei esquisito esse seu “não se importar” em ir embora – eu falo, fazendo aspas com os dedos.

Jake balança a cabeça e suspira.

— Eu falei sério, Emma. Já fui em muitas festas com aquelas mesmas pessoas, meu objetivo da noite deu errado e... tinha você.

"Tinha você". Suas palavras me atingem como um balde de água fria.

Eu? Ah meu Deus, eu estraguei sua noite, não foi? Foi por isso que não comentei nada quando Lily me chamou para ir junto, eu sabia que seria est...

— O que? – Jake exclama, me interrompendo, surpreso – Não, Emma. Você não estragou nada.

— Claro que estraguei, caso contrário você ainda estaria com seus amigos ou com alguma garota, não aqui comigo.

Dessa vez, para a minha surpresa, Jake ri. É uma risada curta, mas não deixa de ser uma risada. Encaro seu rosto sorridente, sem entender o motivo da graça.

— Do que você está rindo?

— De você.

Continuo o encarando, esperando uma resposta decente.

— Você estava falando sério? – ele pergunta, ao ver que continuo séria.

Apenas balanço a cabeça, concordando.

— Por que diabos você acharia que estragou minha noite, Emma? Eu já sou bem grandinho, acho que posso tomar minhas próprias decisões. Se estou aqui com você e não na festa, foi porque eu quis. Você não estragou nada, relaxe.

— Tem certeza?

— Absoluta – ele confirma.

Eu suspiro, mais aliviada, porém não totalmente convencida de que estar aqui comigo seja uma opção melhor do que curtir sua festa de final de semestre. Como se soubesse no que estou pensando, Jake continua:

— Olhe, vou ser totalmente sincero aqui, então não me julgue – ele diz, respirando fundo antes de seguir em frente – Quando você me disse que estava com fome aquela hora, eu só uni o útil ao agradável. Eu gosto da sua companhia, Emma. Gosto da nossa amizade e de matar meu tempo com você, é divertido. Sinceramente, acho que não estou perdendo nada por ter saído da festa.

Eu pisco, tentando guardar cada palavra que ele disse na minha memória. Não sabia que precisava ouvir essas palavras até elas saírem de sua boca e alcançarem meus ouvidos. É bom saber que ele aprecia minha amizade da mesma maneira que eu aprecio a sua. Mesmo depois de anos implicando um com o outro, eu sinto como se nossa amizade fosse a coisa mais natural do universo; assim como é com Julie e também com Peter.

— Essa seria uma ótima hora para você dizer alguma coisa – Jake resmunga, me fazendo voltar a realidade – Ou eu devo ficar preocupado em ser o único que vê isso como uma amizade?

— Ah, sim! Desculpe – eu finalmente respondo – Eu também gosto de você, não se preocupe. Como amigo, quero dizer. Nós formamos uma boa dupla, quem diria, não é mesmo?

Eu rio de nervoso, sentindo meu rosto esquentar. Que merda eu acabei de dizer?! Desvio o olhar de volta para a mesa e me ocupo em beber o restante do meu suco. Por sorte, a funcionária da lanchonete aparece, me distraindo desse diálogo constrangedor.

— Jake, certo? – ela pergunta.

— Sim – ele responde, sem entender nada do que está acontecendo – Por que?

— Feliz aniversário! – a mulher diz animada, colocando um prato com uma sobremesa e uma pequena vela acesa em sua frente.

Ele franze as sobrancelhas, extremamente confuso, alternando o olhar entre a atendente e a sobremesa que ela colocou na mesa.

— Mas como... eu não... – ele começa a dizer.

Conforme ele tenta raciocinar e entender o que está acontecendo, Jake acaba encontrando o meu olhar. Eu sorrio, fazendo-o compreender o que acabou de ocorrer.

— Foi você! – ele exclama, surpreso. Para a funcionária, ele responde – Obrigado.

Ela apenas sorri e deixa a nossa mesa, indo atender outros clientes.

— Feliz aniversário, Jake! – digo.

— Você não esqueceu – ele diz com um sorriso – E que horas você armou tudo isso?! 

— Será que dá pra você fazer um pedido e assoprar logo essa vela? Vai pingar na sua comida – é o que eu respondo.

Jake parece pensar por um breve tempo e então assopra a vela. Eu observo a fumaça subir enquanto ele a tira de cima da sobremesa.

— Sério, que horas você fez isso? Eu nem percebi.

— Quando eu fui ver o cardápio para escolher a minha bebida, acabei lendo a parte das sobremesas. Se você reparar, embaixo está escrito que aniversariantes têm direito a esse brownie com chocolate e sorvete. Dei a desculpa de que iria no banheiro e fui até o balcão, perguntar como funcionava. Como já tinha passado da meia-noite, combinei com a moça para ela entregar sua sobremesa quando terminássemos de comer.

— Emma! Isso foi tão... Meu Deus. Obrigado. 

— Imagine.

Jake segura a colher e pega um pedaço da sobremesa, levando tudo à boca.

— Isso daqui é ótimo! Experimenta um pedaço – ele diz, estendendo sua colher para mim, já que a sobremesa é individual e só veio com uma colher.

Eu hesito, mas acabo pegando o talher de sua mão e provando um pedaço. É realmente muito bom.

— Nossa, é bom mesmo – concordo, devolvendo sua colher – Parece petit gateau, mas sem aquela calda.

— Pois é. Pode comer mais se quiser.

Eu nego, por educação e porque já estou cheia, e devolvo a sobremesa. Quando Jake termina de comer, nós pagamos a conta e saímos da lanchonete.

✦✦✦

— Preciso entregar seu presente – aviso quando Jake estaciona em frente à minha casa.

— Emma, não precisava.

— Você não me deu meias de aniversário? Pois então, comprei algo no mesmo estilo.

Ele me olha desconfiado, mas concorda em entrar rapidamente para buscar seu presente. Enquanto Jake espera na cozinha, onde bebe um copo d’água e brinca com Axel, eu subo silenciosamente para meu quarto buscar o que preciso. Dando uma olhada rápida pelos cômodos, percebo que Lily ainda não voltou para casa.

Volto para a cozinha e estendo o presente para Jake. Ele deixa o copo que estava em sua mão na pia e pega a embalagem.

— Pelo tamanho, tenho medo do que possa ser.

— Não é nada inútil – respondo.

Jake me encara uma última vez antes de começar a abrir o presente. Quando consegue tirar por completo a embalagem, ele ri.

— Pantufas?

— Olhe dentro.

Ele enfia a mão dentro de uma das pantufas e tira de lá um par de meias de dinossauro, muito parecida com a que eu estava usando no dia em que torci o tornozelo e que ele tirou sarro.

— Você não falou das minhas meias de dinossauro? Pois bem, agora você também tem. Combina com a pantufa de garras – eu falo, apontando para o presente em sua mão – Pode ser útil no inverno, pelo menos. Aposto que queima se você colocar na lareira.

— Tá doida? Eu vou usar minha pantufa nos pés, isso se os cachorros não comerem antes.

— Eles vão adorar.

— Obrigado, Emma – ele agradece.

— Por nada.

Ele guarda a pantufa e a meia de volta no saco e o segura.

— Acho que vou indo. Minha mãe quer fazer um almoço para minha família hoje e ainda preciso ajeitar minha mala para a viagem.

— Ah, sim. Eu te levo até a porta, então.

— Tchau, Axel – ele diz para meu cachorro e me acompanha para a sala.

Quando paramos em frente à porta, chega o momento de me despedir. Um simples “tchau” não seria suficiente, considerando que é seu aniversário e que, em um dia, ele estará indo passar um mês de férias com sua família paterna na Rússia. Sem pensar muito no que estou fazendo, eu o abraço.

Diferente do abraço desajeitado que demos no meu aniversário, dessa vez fazemos as coisas direito. Quando Jake passa seus braços por mim, me envolvendo de volta, eu sinto meu coração começar a acelerar tanto que tenho certeza de que sairá pela minha boca a qualquer minuto. Eu apoio minha cabeça em seu peito, sentindo seu coração bater tão rápido quanto o meu por debaixo da roupa.

— Feliz aniversário – digo de novo, abraçando-o mais forte antes criar coragem para soltá-lo.

Mal me reconheço quando me vejo pensando que tudo parece tão certo com os braços de Jake ao meu redor que eu simplesmente não quero deixar esse momento terminar. Sei que a partir do minuto em que eu o soltar, vou ficar muito tempo sem o ver. Não é como se nós nos víssemos todos os dias, mas também não ficamos um mês em continentes diferentes. Eu me acostumei com a sua presença, sua companhia, sua teimosia e até com o modo com que ele consegue me irritar e no segundo seguinte me fazer rir.

— Obrigado por hoje, Emma – Jake murmura acima da minha cabeça.

Respiro fundo, sentindo o cheiro do seu perfume uma última vez antes de afrouxar os braços, nos separando. Eu recuo um passo, erguendo o queixo para conseguir observar seu rosto para me despedir. Não sei se é culpa de seus olhos brilhando ou de seus lábios curvados naquele sorriso bonito; só sei que no momento seguinte me vejo inclinando para frente, deixando um beijo rápido em sua boca.

Na mesma hora me arrependo, recobrando o bom senso e a noção. Que merda eu acabei de fazer?! Jake é meu amigo. Amigos não se beijam.

— Meu Deus, me desculpe – eu começo a dizer, com vergonha de mim – Não sei o que... eu não deveria...

Minha frase morre no ar quando sou interrompida por Jake. No minuto em que me afastei, ele parecia completamente confuso. Agora, tinha largado seu presente no chão e colocado as duas mãos em meu rosto.

Sinto um calor percorrer meu corpo quando ele me toca e une nossos lábios novamente. Ele me beija intensamente, com certa urgência, mas sem ser rápido demais. Eu retribuo da mesma forma, sentindo meus joelhos quererem ceder sob todas as sensações que estou sentindo, causando um nó no meu estômago. Meu juízo me abandona e tudo o que eu mais quero é permanecer aqui, com seus lábios nos meus. 

Estou prestes a perder o fôlego quando ouço o barulho da porta se abrindo. Me afasto tão rápido de Jake que quase caio de bunda no chão – porém minha irmã já tinha nos flagrado.

Ah meu Deus! – Lily exclama, os olhos arregalados e parecendo em choque enquanto segura a maçaneta – Me desculpem, péssima hora.


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