Emma & Jake escrita por Almofadinhas


Capítulo 17
Capítulo 17 ❄ Jake




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Quando Emma se recuperou da torção no tornozelo e voltou para as suas atividades normais no rinque, nossos horários voltaram a colidir e eu mal a via pessoalmente.

Durante essas últimas semanas, enquanto ela se recuperava, nós acabamos nos encontrando algumas vezes. Sei que não deveria, mas sempre que eu tinha um tempo livre nós combinávamos algo. Em geral, eu passava alguns minutos em sua casa, fazendo companhia até alguém de sua família chegar.

Agora, nosso único contato voltou a ser pelo telefone ou por esbarrões ocasionais no Centro.

Eu não vou admitir isso para ninguém, mas sinto falta de estar com ela regularmente. Emma pode ser teimosa e irritante, mas também é uma das poucas pessoas com quem eu me divirto de verdade e sinto que posso ser eu mesmo. Eu realmente aprecio a amizade que estamos construindo em cima da nossa antiga relação catastrófica; nunca imaginei que isso seria possível. E é para manter Emma como minha amiga, apenas (o que é o certo a se fazer), que eu decido seguir em frente.

A oportunidade perfeita surge no final do semestre, com uma festa organizada pelos times feminino e masculino de hockey da universidade para comemorar o início das férias.

Apesar de ser uma dessas festas menores, na casa de um dos meus colegas, sempre há a possibilidade de encontrar alguém com quem ficar. Sei que é isso o que devo fazer; voltar à ativa com pessoas com quem eu não desejo ter o menor vínculo afetivo vai colocar minha vida amorosa de volta nos eixos.

Sem querer me gabar, mas arranjar alguém nunca foi uma tarefa difícil para mim. Logo no início da festa uma garota chamada Brianna vem conversar comigo. Ela até que é legal, porém em pouco tempo a conversa se torna maçante e eu arranjo uma desculpa para sair dali.

Continuo aproveitando a festa com os meus amigos enquanto tento prestar atenção nas garotas que estão por aqui. Apesar de muitas serem bonitas fisicamente, nenhuma delas me chama tanto a atenção como deveria. Talvez se eu bebesse isso se tornaria mais fácil, mas não vou fazer essa cagada sabendo que preciso voltar dirigindo depois.

Quando me afasto dos meus amigos e vou até o balcão procurar mais energético, uma loira aparece do meu lado e tenta puxar a conversa. Diferente da tal Brianna, essa consegue manter a conversa mais interessante. Talvez eu dê uma chance a ela até o final da noite, quem sabe.

Ela está no meio de uma história sobre sua vida, quando Connor surge do meu lado e a interrompe.

— Licença – ele diz a ela e então se dirige a mim – Jake, preciso que você veja uma coisa.

— Agora não dá, cara – respondo, apontando a cabeça discretamente para a garota, na esperança de que meu amigo entenda que eu estou no meio de um flerte.

— Não, é sério – ele insiste – Vem comigo.

Solto um suspiro. Justo quando eu encontro alguém decente ele vem e me interrompe? Muito obrigado, Connor.

— Me desculpe – digo à garota.

— Não, tudo bem. Outra hora a gente termina nossa conversa — ela fala, balançando a cabeça e piscando um dos olhos incrivelmente azuis para mim.

Assim que a loira se afasta, eu me viro para encarar meu “amigo”.

— Sério, Connor?! Eu estava no meio de uma coisa aqui.

— É, mas a sua outra coisa está aqui.

— Do que você está falando?

Connor não responde, apenas me puxa pelo braço e me conduz pela festa até parar próximo a sala, apontando o dedo para um dos sofás.

— Se você está tentando ficar com alguém, então por que ela está aqui? É um plano mirabolante para deixá-la com ciúmes?

— Do que você está falando? – pergunto sem entender nada.

— Olhe direito.

Eu obedeço e sigo a direção do olhar de Connor. O que eu vejo, me deixa surpreso. Muito surpreso. Emma Wright está no sofá, ao lado da irmã, rindo enquanto conversa com outras garotas que reconheço como sendo algumas meninas do time de hockey e suas amigas. Sinto meu queixo cair. Mas que merda ela está fazendo aqui?

— Será que ela veio para ficar com alguém? – Connor me pergunta.

— Cale a boca.

Eu não acho que esse seja o caso, mas e se ela encontrar alguém que a interesse aqui? Meu estômago se revira só de pensar na possibilidade. Não acho que eu gostaria de assistir isso acontecendo.

— Ela veio com a irmã – explico.

Lily tem muitos amigos na universidade, deve ter sido convidada e acabou trazendo Emma junto. Essa é a única teoria plausível que eu consigo formular.

— A irmã dela estuda aqui?

— Você tem memória de peixe, Connor? Eu falei para vocês que sim. É a ruiva do lado dela.

Pois bem, meus colegas de time acabaram descobrindo quem é a Emma. Posso dizer que a culpa por isso ter acontecido é minha, já que fui burro o suficiente para não tirar as notificações da tela de bloqueio do meu celular. Teve um dia após o treino em que eu deixei o celular em cima do banco do vestiário enquanto ia tomar banho e, para meu azar, Emma acabou mandando uma mensagem. Os desgraçados ligaram todos os pontos e descobriram quem era. Eu não tive como negar, estava estampado na minha cara que eles tinham descoberto a verdade. Minha única saída foi contar a história toda a eles.

— Como eu nunca a vi antes?

— Sei lá, Lily sempre está nas festas.

— Ela é solteira? – meu amigo pergunta.

— Não comece – eu aviso.

Estou me sentindo ridículo espionando a sala como se fosse algum espião meia boca, por isso ajeito minha postura e começo a recuar, saindo dali.

— Para onde você está indo? Você tem que ir para o outro lado – Connor fala, me olhando como se eu estivesse louco.

— Não, eu não vou ir lá.

— Por que não? – ele pergunta, me alcançando.

— Porque não.

— Isso não é uma resposta decente.

— Se ela quisesse falar comigo, teria me avisado que estaria aqui, não acha?

Meu amigo não responde. Eu continuo minha caminhada em direção ao quintal, seguido por Connor, onde alguns dos meus colegas estão jogando “Eu Nunca”. Dessa vez eu assisto a partida como espectador, isso porque já me expus vezes o suficiente nesse jogo, anteriormente, para querer ficar de fora. E também porque não posso beber. E talvez porque também não quero que Emma apareça enquanto estou jogando e descubra algumas coisas constrangedoras a meu respeito. 

Fico pensando no porquê ela está aqui. Pensei que nós fossemos algo parecido com amigos hoje em dia. Amigos contam que vão a festas da universidade que o outro estuda, não contam? Será que Connor está certo e ela veio porque tem interesse em algum estudante do campus?

Balanço a cabeça e tento tirar Emma dos meus pensamentos. Esse era um dos meus objetivos principais hoje, não me preocupar com ela e seguir em frente; é isso que eu deveria estar fazendo. Porém, duvido muito que vá conseguir seguir meu plano sabendo que ela está no mesmo local que eu.

Quando volto para dentro da casa buscar mais bebida com Connor, ele faz questão de esbarrar de propósito em Lily, que está de costas para nós conversando com suas amigas.

— Opa, desculpe – ele diz.

— Não foi nada – ela responde se virando. Ao me ver, ela completa – Ah, oi Jake!

Com a menção do meu nome, Emma também se vira. Ela parece um pouco surpresa ao me ver e dá um sorriso constrangido.

— Oi, Lily. Oi, Emma – eu cumprimento.

— Oi – Emma murmura.

Sinto Connor me dar um cutucão nas costas antes de seguir rumo as bebidas. Eu não sei o que fazer ou falar, então só dou um sorriso para as garotas e caminho para longe, indo atrás do meu amigo.

— Por que você não está lá? – ele diz ao me ver.

— Sei lá.

— Era para você estar conversando com a sua garota.

— Ela não é minha — resmungo – E ela está acompanhada de todas aquelas outras meninas.

— E daí? Você deveria...

Connor para de falar e desvia o olhar para seu copo, parecendo muito ocupado com a tarefa de enchê-lo lentamente.

Eu me viro para ver o motivo da interrupção de sua fala e encontro Lily entrando na cozinha, seguida da irmã. Lily para ao lado de Connor e procura (ou finge procurar) alguma coisa para colocar no próprio copo. Pelo canto de olho, observo Emma se aproximar.

— Não sabia que você participava de festas – digo, desviando meu olhar para ela.

— Claro que eu participo.

— Não estou falando dos jantares depois das competições ou qualquer outro evento que vocês patinadores tenham – respondo.

Emma suspira.

— O jantar do Centro conta? É quase uma festa.

— Bela tentativa, mas não.

— Droga. Tudo bem, eu não costumo ir a festas.

— E o que te fez mudar de ideia? – pergunto, curioso para saber o motivo de ela estar aqui.

Antes que ela possa responder, Connor e Lily param ao nosso lado.

— A gente vai lá fora. Se precisar de mim, estou ali no quintal, mas não se preocupe – Lily avisa, mais para a irmã do que para mim, e dá uma piscadela antes de sair.

Eu olho para meu amigo, que está com uma cara de criança que aprontou alguma bagunça. Sei que ele está tentando me deixar sozinho com Emma, na esperança de que alguma coisa aconteça. 

Escuto Emma soltar um suspiro ao meu lado.

— Eu vim acompanhar a minha irmã – ela diz, respondendo a minha pergunta de antes – Ela me arrastou junto quando sua amiga cancelou de última hora.

— E o que está achando?

— Ah, está legal, mas confesso que seria melhor se eu não estivesse perdida aqui no meio.

— Como assim?

Emma puxa uma banqueta e se senta, apoiando os braços no balcão da cozinha.

— Eu não estudo na UA*. Por mais que eu tenha a companhia da minha irmã e das amigas dela, eu sou uma estranha aqui.

— Sempre tem gente de fora que participa das festas, não se preocupe.

— Eu sei, Lily disse a mesma coisa.

Eu caminho para o outro lado da cozinha, pensando no que posso dizer enquanto procuro suco para encher meu copo.

— Você devia ir aproveitar a festa, Jake – Emma diz – Não quero te fazer perder tempo aqui comigo.

— Você não é perda de tempo – respondo.

Assim que as palavras saem da minha boca, eu me dou conta do que disse e me arrependo no mesmo instante. 

— Ahn, quer dizer, não tem problema – tento consertar – Posso te fazer companhia, se quiser.

— Obrigada.

Fecho a embalagem do suco que usei para encher meu copo e volto para perto de Emma.

— Você sabe o que tem para comer aqui além de salgadinho? – ela me pergunta, mudando de assunto. 

— Acho que é só isso mesmo.

— Ah – ela resmunga, parecendo desapontada.

— Você está com fome? – questiono.

— Mais ou menos. Eu comi antes de vir, mas considerando que treinei a tarde toda, não me surpreende que meu estômago esteja querendo mais comida. Acho que daqui a pouco vou avisar Lily que vou embora.

Eu analiso o cenário. Eu também estou com fome, já participei de muitas festas com essas mesmas pessoas e, considerando que meu objetivo de ficar com alguém já foi por água abaixo, decido comentar:

— Você quer ir comer?

— O que? – Emma pergunta, voltando seu olhar para mim.

— Você quer ir comer? – repito – Porque eu também estou com fome, para ser sincero.

Emma me encara com a sobrancelha arqueada, desconfiada.

— Você está falando sério?

— Sim – afirmo.

— Jake, você deveria estar curtindo a festa com seus amigos.

— Eu já curti muitas festas com eles. E meu objetivo de hoje já deu errado, de qualquer maneira. Não me importo de sair agora para comer alguma coisa decente.

Sei que ela deve pensar que estou mentindo ou tentando arranjar alguma desculpa para sair da festa, mas é verdade. Não me importo de ir embora agora. Fora isso, gosto de matar meu tempo na companhia de Emma; nós nos divertimos juntos –na minha opinião, pelo menos.

— É sério, Emma – digo, terminando meu suco e tirando a chave do carro do bolso – Se quiser vir comigo, a oferta está de pé. Eu te deixo em casa depois, sei que deve estar cansada do treino.

Ela me encara com aqueles olhos verdes acinzentados enquanto bate as unhas no balcão, provavelmente pensando se vale mais a pena esperar a irmã ou vir comigo.

— Tudo bem – ela responde depois de um tempo, suspirando – Você me ganhou com a comida e com a expectativa de ir dormir mais cedo. Vou avisar Lily que volto com você.

— Ok. Meu carro está perto da esquina, te encontro lá.

— Fechado.


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Notas finais do capítulo

*UA - Universidade de Alberta



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