Emma & Jake escrita por Almofadinhas


Capítulo 15
Capítulo 15 ❄ Jake


Notas iniciais do capítulo

Olá! Não queria deixar vocês esperando muito tempo entre esse capítulo e o anterior.
Espero que aproveitem. Uma ótima leitura para todos :)



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Como a aula que eu teria hoje foi cancelada, eu aproveito para ir ao Centro. Gosto de passar meu tempo aqui, o lugar é basicamente a minha segunda casa, onde eu cresci e passei a maior parte da minha vida, desde antes de nascer.

Quando já estou pronto para ir embora, vejo Emma mais à frente, empurrando a porta para entrar no banheiro. Pode ter sido coisa da minha imaginação, mas tenho quase certeza de que ela parecia esquisita e mais pálida do que o normal. Pelo o que eu sei, ela deveria estar de férias, porém é óbvio que não consegue relaxar por muito tempo e continua patinando algumas vezes na semana. Decido esperar ela sair do banheiro para conversar e conferir se está tudo bem, mas alguns minutos se passam e ela não sai, o que é bem estranho.  

Ninguém passa pelo corredor, caso contrário pediria para alguma menina ir ver se tudo estava certo com Emma. Torcendo para que não seja nenhum problema intestinal, eu bato na porta do banheiro. É sempre bom bater primeiro, pois nunca se sabe o que podemos encontrar no banheiro feminino. Como não recebo nenhuma resposta, abro a porta e entro.

Não é difícil encontrar Emma; ela está sentada na tampa do vaso sanitário da primeira cabine, com a pele ainda pálida e os olhos marejados.

Emma?! O que aconteceu? – pergunto, me agachando para ficar com a altura próxima à dela.

Acho que nunca a vi desse jeito. Na verdade, tenho certeza de que nunca a vi assim. Sinto a preocupação tomar conta de mim, fazendo meu coração acelerar e parecer mais pesado dentro do peito.

— Emma, por favor, fale comigo – eu digo, apoiando as mãos em seus joelhos e dando um leve aperto, numa tentativa de acalmá-la e fazê-la conversar comigo. Não funciona muito bem, então seguro suas mãos frias sob as minhas e peço para ela respirar fundo.

Sei que não sou tão bom em acalmar pessoas quanto meus pais ou como ela foi no jantar de Natal do Centro, quando eu quase pirei no elevador (apesar de seus métodos serem um pouco duvidosos, analisando bem, já que ela arrancou minha gravata e abriu uns botões da minha camisa). Entretanto, Emma se acalma e me explica em breves palavras que caiu e que agora está com o tornozelo doendo. Imagino que para ela ter chorado, deva estar doendo bastante. Ela quase nunca chora, eu nunca tinha visto isso acontecer pessoalmente, pelo menos.

— Não saia daqui – aviso – Vou chamar minha mãe e a gente te leva ao hospital agora mesmo.

— E como você espera que eu saia daqui com um pé só?

Um momento como esse e ela ainda tem a capacidade de me responder de volta. Se eu não estivesse preocupado com ela, acho que teria rido da sua resposta.

Depois de ela repetir a senha do armário (informação que eu não tinha prestado atenção, pois mal me lembrei de pedir – ainda bem que, pelo menos, um de nós é inteligente), eu saio correndo do banheiro feminino e vou direto para o escritório, onde minha mãe está trabalhando.

— Que cara é essa, querido? – ela pergunta, assim que me vê.

— Emma.

— O que tem Emma? – minha mãe indaga, imediatamente ficando preocupada.

— Não sei direito o que aconteceu, mas ela caiu.

Os olhos de minha mãe se arregalam.

— Ela está bem?

— Está com dor no tornozelo.

Minha mãe passa a mão na testa, soltando um suspiro.

— Ela já quebrou o tornozelo antes, Jake. Onde ela está?

— Aqui no Centro.

— Eu sei disso, filho, vi ela vindo treinar. Quero saber em que local do Centro ela está.

— Ah, sim! No banheiro.

— Você a deixou no banheiro?!

— Ela já estava lá. Acho que devemos levá-la ao hospital.

 Minha mãe desliga a tela do computador e se levanta, pegando sua bolsa e caminhando para a porta.

— Sim, vamos logo.

— Eu preciso pegar as coisas dela primeiro. Você pode ir atrás dela, mãe?

— Óbvio. Te espero no estacionamento.

Enquanto minha mãe vai em direção ao banheiro, eu entro correndo no vestiário feminino. Recebo alguns olhares confusos de duas garotas que estão aqui, mas ignoro. Procuro o armário nº 15 e coloco a senha – 5253. Escuto um “clique” e abro a porta. Seu armário é tão organizado que faz o meu parecer um lixão. Na porta, ela colou algumas fotos com pessoas importantes em sua vida, alguns post-its com anotações e a grade de horários das competições da temporada. Eu não deveria me distrair analisando suas coisas, então pego sua mochila, celular, casaco e tênis e fecho o armário, correndo de volta para o estacionamento do Centro.

Encontro minha mãe na metade do caminho até seu carro, com Emma apoiada em seus ombros, calçando o patins em um pé só e somente a meia no outro. Seria uma cena cômica se não fosse pelo contexto. Enfio seu celular no bolso da minha calça e jogo seu casaco sobre o meu ombro, em cima da alça de sua mochila.

— Eu levo ela – digo à minha mãe, quando as alcanço.

— Eu consigo ir assim – Emma fala.

— É, dá pra ver pela facilidade com que vocês estão indo – retruco.

— Não comecem, vocês dois – minha mãe diz e completa para sua atleta – Desculpa Emma, mas é melhor Jake te levar. Precisamos ir rápido.

As duas param e eu coloco os tênis de Emma no chão, deixando minhas mãos livres. Paro ao seu lado e a tiro do chão, segurando atrás de seus ombros e joelhos. Para alguém tão forte, que trabalha com os músculos diariamente, eu imaginei que ela fosse bem mais pesada. Por conta disso, acabo a erguendo com uma força maior do que a necessária, levando Emma a se agarrar ao meu pescoço, tentando manter o equilíbrio, e soltar um xingamento no meu ouvido.

Cuidado, Jake!

— Sim, mãe. Está tudo sob controle.

Ela pega os tênis de sua atleta e os segura junto com o patins que sobrou. Enquanto seguimos em direção ao carro, consigo observar os detalhes da meia que Emma usa no pé. É uma meia ¾ cheia de desenhos de dinossauros.

— Bela meia, Docinho — comento baixinho, para minha mãe não me escutar.

Em resposta, recebo um tapa leve na parte de trás do meu pescoço, como se fosse uma advertência por zoar seu gosto peculiar para estampas de meias. Minha mãe abre a porta de trás do carro e eu ajudo Emma a entrar, esticando sua perna lesada em cima do banco.

— Quer que eu dirijo? – pergunto à minha mãe.

— Pode ser, querido.

Ela me passa a chave e coloca as coisas no banco do carona, indo se sentar com Emma no banco de trás. Devolvo as coisas que peguei em seu armário e assumo o volante, dirigindo para o hospital em que ela está acostumada a ir. Durante o caminho, ela conta detalhadamente o que aconteceu para minha mãe e liga para sua família, avisando que está indo para o hospital conosco.

Estaciono próximo a uma das entradas do hospital e carrego Emma até a sala de consulta, onde o médico virá atendê-la.

Durante o exame, minha mãe fica com ela enquanto eu aguardo sentado do lado de fora. Parece que uma eternidade se passa até minha mãe voltar, dessa vez segurando o patins que ainda estava no pé de Emma.

— E aí? – pergunto – O que deu nela?

— Provavelmente nada grave, mas o médico pediu alguns exames de imagem para ver melhor a lesão.

Não tinha percebido que estava segurando a respiração até ouvir minha mãe dizendo que não devia ser nada grave, soltando um suspiro aliviado.

— Ele não disse o que é?

— Quase certeza que uma entorse. Ela deve ter machucado os ligamentos quando pousou.

— Ah, então ela não deve ficar muito tempo afastada, né?

— O médico só vai saber quando sair o resultado do exame, querido.

Nós sentamos esperar Emma fazer os exames. Enquanto aguardamos, sua mãe chega ao hospital, preocupada com a filha. Minha mãe vai conversar com ela e explica tudo o que aconteceu. Depois de um tempo, o médico volta para conversar conosco.

— Emma está bem e medicada para a dor – o doutor diz – Nós a colocamos em um quarto, quero que ela passe a noite aqui para observação.

— Observação? – a mãe dela pergunta, parecendo tão surpresa quanto eu – Por que?

— Emma relatou que bateu a cabeça quando caiu. Como ela disse que está com uma dor no local da contusão, prefiro manter ela aqui por hoje e ver se algum outro sinal ou sintoma aparece.

Minha mãe passa o braço pelo ombro da Sra. Wright e a conforta.

— Aparentemente está tudo bem, não se preocupem – o médico completa – Eu a manterei aqui mais como uma medida de precaução.

— E a perna, doutor?

— Ah, sim. Eu acabei de ver os exames e não tem nenhuma fratura. O que aconteceu foi uma ruptura parcial dos ligamentos do tornozelo – o médico explica – Não é nada tão grave, em poucas semanas ela já deve estar boa. Ela já está no quarto, depois eu vou passar lá para ver como ela está e explico certinho o tratamento para vocês. Agora, se me dão licença, estão me chamando para ir ver um outro paciente.

— Claro, muito obrigada, doutor – a Sra. Wright diz.

Antes de sair, o médico pede para uma funcionária nos acompanhar até o quarto em que Emma está. Ela dá uma batida na porta e a abre, dando espaço para nós entrarmos.

Emma está deitada na cama, com a perna imobilizada e vestindo uma daquelas camisolas de hospital. Sorrio quando percebo sua cara ao nos ver, cruzando os braços numa tentativa frustrada de disfarçar a roupa que deram a ela.

— Emma! Como você está? – sua mãe pergunta, indo até a filha e dando um beijo em sua testa.

— Melhor.

— Que susto que você nos deu.

— O médico já falou com vocês? Que eu vou ter que ficar aqui hoje?

— Sim, querida.

— E sobre meu tornozelo? – ela pergunta, dessa vez olhando para sua treinadora.

— Sim – minha mãe responde.

— Desculpa, Maggie. Não era para isso acontecer justo agora.

— Emma! Não ouse pedir desculpas por nada, apenas descanse.

— Obrigada – ela responde, aliviada.

Emma volta a encarar a mãe e segura entre os dedos a camisola do hospital.

— Será que alguém pode trazer minhas coisas, mãe? Pelo menos um pijama melhor?

— Seu pai vai vir para cá daqui a pouco, ele traz – a Sra. Wright diz à filha.

— Obrigada, mãe.

Ao meu lado, minha mãe aproveita para mostrar o patins que está segurando durante todo esse tempo.

— Acho que isso é seu. Onde você quer que eu deixe?

Ah! – Emma arregala os olhos ao vê-lo, como se finalmente se lembrasse de sua existência – O outro par também está aí?

— Ficou no meu carro.

— Ah, que bom! Por um segundo achei que tivesse perdido, o que ia ser péssimo, considerando que foi caro e que só usei por um dia – ela sorri e desvia sua atenção para a Sra. Wright – Você não quer ir buscar o resto das minhas coisas, mãe? Por favorzinho. Acho que deixei tudo no carro.

Minha mãe assente, confirmando. Nós não descemos com nenhuma das coisas de Emma, além do seu celular.

— Posso ir – a Sra. Wright responde – Você quer que eu traga algo ou posso guardar tudo no meu carro?

— Meu casaco seria bom.

— Ok.

Minha mãe se aproxima de Emma e dá um aperto carinhoso em seu ombro.

— Vá me atualizando sobre as coisas, ok?

— Pode deixar.

— Melhoras!

— Obrigada, Maggie.

— Vamos, querido? – minha mãe diz, dessa vez para mim.

Eu me desencosto da parede perto da porta e concordo com a cabeça. Estou erguendo a mão para me despedir, quando Emma diz:

— Na verdade, vocês se importam se eu conversar um minutinho com Jake? Prometo que será rápido.

Nossas mães se encaram desconfiadas, alternando o olhar entre nós dois. Enquanto Emma parece decidida, eu tenho certeza que meu semblante é de pura confusão.

— Tudo bem. Te espero no carro, Jake.

— Tá bom.

As duas deixam o quarto e eu olho para Emma sem entender o que ela quer comigo. Mesmo com o cabelo escuro preso e todo bagunçado em sua cabeça, um cateter fixado no braço e usando a camisola do hospital, ela ainda parece bonita. Me repreendo mentalmente por ficar prestando atenção nisso nesse péssimo momento.

— Obrigada, Jake – ela fala, desviando minha atenção de volta para seu rosto – Por ter me ajudado hoje e me trazido até aqui.

— Não foi nada. Eu estava te devendo uma, lembra?

— Fala sério, você entrou no banheiro feminino!

Dou de ombros. Não foi nada demais.

— Como você sabia que eu estava lá?

— Eu vi você passando enquanto eu ia embora do Centro – respondo – Não tem como dizer isso sem soar estranho, mas eu vi você entrando no banheiro e te achei meio esquisita.

— Nossa, obrigada.

— Enfim, decidi esperar você sair para conversar, mas você não saía nunca.

— Vai ver tinha me dado uma dor de barriga – ela brinca.

— Eu pensei nisso. Ainda bem que não era, já imaginou se eu tivesse entrado no banheiro nesse caso? Não teria sido agradável.

Ela abre a boca, surpresa, parecendo pronta para me bater se pudesse. Sei que não faria isso porque um sorriso em seus lábios a denuncia.

— Que idiota!

— Eu sei – respondo – Como está o tornozelo agora?

— Ainda dói, mas bem menos se comparado a antes.

— E a cabeça? Você nem me contou que tinha batido a cabeça no gelo, fiquei preocupado quando o médico disse que ia te deixar aqui hoje.

Seus olhos verdes percorrem meu rosto, como se estivessem à procura de alguma coisa na minha expressão facial.

— Não foi nada demais, sério. O tornozelo estava bem pior. Acho um exagero me deixarem aqui por causa disso, minha cabeça está bem melhor depois que eles me medicaram para a dor.

— Não é um exagero cuidar da sua saúde, Emma.

— Eu sei... De qualquer modo, tudo o que eu mais queria agora é uma roupa minha. Isso daqui é humilhante, apesar de que devo ser grata por ela fechar decentemente.

Eu sorrio.

— Você acha? Porque eu achei que ela combinou com você.

Emma revira os olhos.

— Não dá pra colocar a roupa que você estava antes?

— Não – ela responde – A legging não passa mais pela minha perna.

— Ah, que merda.

— Pois é.

Nós trocamos mais algumas palavras até a mãe de Emma voltar para o quarto, dando fim à nossa conversa.

— Jake, sua mãe pediu para te avisar que está esperando.

— Ah, sim. Obrigado, Sra. Wright – digo à ela e então olho de volta para sua filha – Melhoras, Emma.

— Obrigada, Jake. Por tudo.

Eu assinto, caminhando para a saída acompanhado por sua mãe.

— Obrigada por ter cuidado da minha filha, Jake. Fico feliz por vocês dois estarem finalmente se dando bem, sempre me perguntei quando isso aconteceria.

— Imagine. Até mais – respondo, sem jeito.

— Até.


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