Emma & Jake escrita por Almofadinhas


Capítulo 11
Capítulo 11 ❄ Emma




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— Isso, Emma! Agora tente fazer de novo, mas esticando mais o braço – minha treinadora me diz, mostrando o que devo fazer com o braço – Ele estava meio dobrado dessa última vez.

— Ok.

Repito meu salto, dessa vez prestando atenção para esticar mais os braços enquanto estou no ar. Nós decidimos focar o treino hoje só nos meus saltos, deixando o resto da coreografia de fora. Os saltos são parte fundamental da pontuação, por isso preciso praticar bastante, não quero correr o risco de ter pontos precisos descontados no Mundial.

Quando encerramos, minha perna está podre. Sinto que meus joelhos me odeiam agora por ter feito eles receberem tanto impacto nessas horas, mas amanhã descansarei o dia inteiro, então sei que eles ficarão bem. Talvez "descansar o dia inteiro" seja um exagero, já que combinei com minha irmã de irmos caminhar no parque de manhã.    

Como hoje é sexta, eu volto ao Centro à noite. Na semana passada, tudo foi esquisito demais. Num momento eu estava treinando meus programas e no momento seguinte eu estava tendo lições de hockey e me divertindo com Jake (me divertindo! Para mim isso era simplesmente bizarro, embora minha psicóloga achasse que isso era nós dois começando a deixar as birras de infância para trás e sendo maduros um com o outro). Eu não o vi depois disso, mas fiquei sabendo pela minha irmã que no jogo de quarta-feira ele teve que sair do rinque com ajuda de outro garoto. 

Quando termino de me aquecer, vou para o vestiário calçar meus patins e sigo para o rinque. Por causa da lesão, eu tenho certeza que vou encontrar outra pessoa dando aula para as crianças hoje, entretanto, quando me aproximo da entrada, vejo que é Jake quem está do lado de fora do gelo, passando instruções aos alunos.

Tiro meus protetores de patins e os deixo perto de onde Jake está escorado e entro no gelo, dando um “boa noite” a todos antes de seguir para o meu lugar.

Hoje eu trouxe meus fones de ouvido para não precisar ouvir o barulho irritante do apito. Clico na minha playlist e prendo bem meu celular, para não ter risco de ele cair enquanto eu patino. Trabalho principalmente na parte artística e transições do meu programa, não nos elementos obrigatórios. Apesar de saltos e giros serem importantes, toda a execução da coreografia também é avaliada pelos juízes enquanto nos apresentamos.

Mal vejo o tempo passar e quando percebo, as crianças já estão saindo do rinque. Dou pause na música e tiro os fones de ouvido, patinando para a borda do rinque, onde deixei minha garrafinha de água. Umas duas crianças permanecem no rinque, recolhendo algumas coisas que sobraram do treino no gelo.

— Fazendo as crianças trabalharem pra você? – murmuro para Jake, que está sentado na arquibancada ajeitando os tacos no devido lugar – Que feio, treinador.

— Eu não os obriguei – ele diz.

Eu até iria me oferecer para ajudá-los, mas os dois já patinam para a saída do rinque e depositam tudo na frente de Jake.

— Pronto, treinador – um dos garotos diz.

— Se recupere logo – o outro deseja.

— Obrigado. Vocês foram ótimos hoje, vejo vocês na quarta? – Jake pergunta.

— Sim. Até semana que vem.

— Boa noite, treinador.

— Boa noite.

Eles me desejam boa noite também e vão para o corredor que dá para o vestiário. Fecho minha garrafa e observo Jake ajeitar suas coisas.

— Desde quando você os ensina? – pergunto – Não fazia ideia que você dava aula para eles até a semana passada.

— Desde janeiro. O professor que dava aulas nesse horário mudou de cidade, então eu assumi seu lugar até encontrarem um bom técnico para eles.

— As crianças parecem gostar de você.

— É? Eu gosto deles, também – Jake comenta – Não pensei que fosse gostar tanto de ensinar o que sei a eles. 

— Deles você não ri, né? – digo, lembrando da minha única aula de hockey na vida que aconteceu nesse mesmo rinque na semana passada.

— Seria falta de respeito. E eles não xingam o puck a cada dois minutos  - Jake solta uma risadinha antes de continuar - Ou começam a girar sem parar quando estão frustrados.

— Eu só girei uma vez! – me defendo.

— Tudo bem, mas foi engraçado. Você não pode me culpar.

Os lábios de Jake estão curvados para cima, num sorriso, e eu acabo sorrindo também.

— Minha irmã me contou do último jogo de vocês contra a Universidade de Lethbridge. Como está a perna?

— Melhorando, mas dolorida.

— Quanto tempo até poder jogar?

— Duas semanas afastado.

Suspiro. Sei que duas semanas para qualquer atleta é muita coisa. Eu mesma já tive vários problemas musculares, mas geralmente só me afetaram por uns três dias ou uma semana, no máximo. E mesmo assim foi tempo demais.

— Essa foi uma maldita hora para ter tendinite, porque agora vou ter que ficar de fora das semifinais – ele continua, chateado – Me sinto um inútil sem poder fazer nada.

— Sei bem como é a sensação. Já começou a fazer fisioterapia?

— Sim. Fisioterapia, muito gelo, remédios e em breve retorno gradual das atividades... A companhia de todo atleta.

Assinto com a cabeça, concordando.

— O que seria da gente sem eles?

— Provavelmente não ficaríamos inteiros por um ano sequer.

Jake se levanta e pega as coisas que as crianças recolheram para ele.

— Vou deixar você treinar. Boa noite, Emma.

— Você vai carregar isso tudo sozinho?

— Sim. Não é pesado nem nada.

— E depois reclama que está todo estourado – falo para ele – Quanto mais esforço você faz, mais devagar se recupera. Me dê um segundo e eu te ajudo a levar isso.

— Não precisa.

— Não me lembro de ter pedido a sua opinião, Jake. Deixe de ser teimoso.

Saio do rinque e coloco meus protetores nas lâminas dos patins. Tiro os dois sacos de equipamentos dos braços de Jake e os seguro. Ele me encara como se eu fosse algum bicho curioso que ele está estudando.

— O que foi? Vai me dizer para onde eu levo isso ou vai ficar aí me encarando?

— E eu é que sou o teimoso.

— Se você já não estivesse capenga da perna, eu ia dar na sua cara.

Ele sorri e começa a andar (mais devagar que o normal) em direção aos corredores que levam ao vestiário. Ao invés de pegar o caminho que estou habituada, Jake me leva para um depósito onde estão guardados todos os equipamentos que eles usam para treinar hockey aqui no Centro, tanto no gelo quanto nos treinamentos off-ice.

— Você sabe que não precisava trazer isso para mim, não sabe? – ele pergunta, depois que deixamos as coisas em seus respectivos lugares.

— Não ia deixar você carregar tudo sozinho quando eu poderia muito bem ser útil. Eu não sou tão fria como todos pensam. 

— Alguém acha que você é fria?

— Quase todo mundo – afirmo.

Queria que o assunto mudasse, mas ele continua me questionando conforme voltamos para o rinque, onde pretendo terminar de treinar. Sei que ele não tem mais nada para fazer no gelo, mas mesmo assim me acompanha de volta.

— Eu não acho que você seja fria. Mal-humorada, talvez. Fria, não.

— Uau, obrigada.

— Não, é sério. Por que as pessoas pensariam isso de você?

— Você teria que perguntar a elas o porquê – respondo – Mas digamos que ser uma pessoa reservada e de poucos amigos pode ter ajudado na construção dessa ideia sobre mim. 

Tiro meus protetores de patins e entro de volta no gelo.

— Boa noite, Jake.

— Uma pessoa fria não ajudaria duas vezes a pessoa que detesta, pense nisso – ele me diz.

As vezes ele solta umas frases que me fazem questionar se o Jake Stepanova que eu conheço foi abduzido e substituído por outro.

— Eu não te detesto.

Não?

— Não.

Jake apoia os braços na borda do rinque e me observa fazer uns desenhos no gelo, conforme patino.

— Sempre imaginei o contrário.

Suspiro. Sei que ele não me deixará em paz até confirmar que não, não o detesto.

— Você é irritante, Jake. É o único que consegue me tirar do sério sem dizer uma só palavra, mas detestar é uma palavra forte demais. Eu não detesto ninguém... talvez uma pessoa só, na verdade.

— Interessante.

— E a culpa não é minha. Foi você quem disse que eu parecia um gafanhoto no meu figurino e também me criticou quando eu estava aprendendo. Te achar arrogante e metido a partir daí foi inevitável – eu falo – E ficar ouvindo as pessoas comentarem como você era o máximo, "garoto adorável" e hoje em dia "jogador bonito e talentoso", não ajudava em nada. Confesso que eu tinha uma certa inveja de você.

— Você me acha bonito?

Inacreditável.

— Eu não disse que você é bonito, eu disse que as pessoas dizem que você é bonito.

— Tudo bem, eu vou considerar que você concorda com as pessoas. E eu não me lembro disso que você falou.

— E por que lembraria? Não foi você que se sentiu ofendido.

— Eu era meio babaca com você, não era? 

— Meio? – brinco – Mas tudo bem, eu levava a opinião dos outros a sério demais quando era criança. E também já fui bastante desagradável com você nesses anos.

— Por que a gente era assim? – Jake diz com um sorriso, como se estivesse relembrando todas as nossas discussões ao longo desses anos – Enfim, vou te deixar em paz agora. Boa noite, Emma.

— Boa noite – respondo e acrescento – Melhoras!

— Obrigado.


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