Sob suas asas escrita por annaoneannatwo, Kacchako Project


Capítulo 8
Coletiva de imprensa 2




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Isso é absurdo e Katsuki tem certeza que não deveria estar fazendo isso, ele deveria ter pensado com mais calma e achado outra solução. Mas porra, com a Uraraka sendo sufocada pela fumaça bem na frente dele, um balde com água fresca bem ali pra onde ele e a levou depois de tirá-la do foco do incêndio, e nenhuma ferramenta pra pegar essa água e poder dar pra ela, não sobrou outra opção. Não dava pra fazer uma conchinha com as mãos cobertas em nitroglicerina, então só restou… sua própria boca. Katsuki entornou o balde, encheu as bochechas, e segurou a cabeça dela com o máximo de cuidado, inclinando-a para que a água caísse direto na garganta dela… através de sua boca.

Ignorando todos os alertas em seu cérebro sobre isso ser o mais próximo de que ele já esteve de beijar alguém, o aspirante a herói focou na tarefa diante de si: garantir que ela não sufocasse mais. Katsuki segurou as enormes bochechas dela e transferiu a água aos poucos, o nervosismo tomando conta dele enquanto ela seguia imóvel.

Até que o corpo dela se enrijece, e um pouco da água volta para sua própria boca quando ela tosse. É meio nojento, mas ele não poderia estar mais aliviado em vê-la abrir os olhos.

—  B-ba…

—  Shhh, não tenta falar que é pior. —  ele diz suavemente, ainda segurando-a —  Quer mais um pouco? —  ela acena fracamente com a cabeça, e ele pega mais um pouco no balde, fazendo o mesmo processo de antes. A garota não tem o mínimo de força pra sugar a água, então o esforço é todo dele, empurrando a língua dentro da boca dela —  Sua boca é pequena.

É a primeira coisa que ele diz quando ela bebe tudo, aliviado por vê-la semiconsciente e tentando desesperadamente não ficar muito constrangido pela observação e por toda a situação em que se colocou. Vendo-a respirar, ele a pega com cuidado, uma mão ao redor dos ombros, a outra debaixo das pernas dela. Chega a ser ridículo como ela pesa quase nada pra ele e parece extremamente pequena em seus braços. Essa garota deu um puta de um pulo por cima de um carro, saiu correndo pra salvar a velha e o bichano que tavam ali e enfrentou uma explosão de gás que a jogou pra longe, foi só o tempo de ele deter o carro e correr pra ajudá-la, mas o estrago já tava feito.

Tsk, e a idiota falando que acha que não tem o necessário pra ser uma heroína, provavelmente focou tanto em salvar quam tava na casa que nem se ligou do perigo eminente pra ela mesma. Essa é uma atitude típica de herói. Herói burro, vai lá, burros como os melhores heróis podem ser.

E agora ela tá encolhida contra ele, nem parece a mesma pessoa! Katsuki a segura com firmeza, chegando a tempo de testemunhar o pássaro imobilizar completamente o maldito que fez isso, cobrindo-o com um monte de penas como se fosse um enxame de abelhas. Ele poderia só apagar esse maluco, mas deve querê-lo consciente pra quando a polícia chegar.

—  Dynamight! Bom trabalho parando o carro! —  ele lança um rápido olhar na direção da garota em seus braços —  Pode reportar.

—  Ela salvou uma velha e um gato que tavam naquela casa, teve uma explosão de gás e não deu pra sair, encontrei ela caída e sufocando, dei água e fiz ressuscitação.

—  A senhora que ela salvou?

—  Correu pra casa em frente. Não deve ser cúmplice desse aí, mas também devia saber de alguma coisa.

—  Informarei a polícia para interrogá-la também. Eles já estão a caminho.

—  Tsk, só falta demorarem porque essa porra fica no cu da cidade.

—  Bom… eles podem ser mais rápidos dependendo das circunstâncias. —  ele coça a cabeça como se estivesse sem graça —  Bom trabalho protegendo sua parceira, eu vou… —  o herói se move para se aproximar dela, como se quisesse tirá-la dos braços dele, Katsuki se afasta instintivamente —  Dynamight-kun?

—  Eu fico com ela até a polícia e a ambulância chegar. —  ele informa.

—  Oh… hã, tá bom. —  ele recua, aparentemente surpreso —  Conto com você pra mantê-la sob cuidado.

Katsuki não responde, apenas a segura com mais firmeza. Ele nem sabe o porquê de estar tão nervoso, só não consegue confiar nesse cara de riso fácil. Mesmo agora, ele parece tranquilo pra caralho, a estagiária dele desmaiada e ele querendo um relatório da situação. Tudo bem que é a coisa mais profissional, mas ainda assim… o garoto não gosta de como o Hawks parece encarar situações perigosas como se fossem rotineiras, de praxe. Esse é o cara que saiu carregando o corpo induzido a um estado de semi morte  do Best Jeanist por aí como se não fosse nada. Uma pessoa com uma frieza dessas não pode ser normal, e ele não o quer um centímetro mais perto da Uraraka.

Não demora pra que a ambulância e a polícia cheguem, o loiro observa a equipe de paramédicos colocar o respirador na Uraraka e deitá-la sobre a maca. A vontade dele é ir junto, mas logo a polícia o cerca pra fazer perguntas, então o garoto só observa a ambulância indo embora enquanto tem que ficar ali junto do pássaro prestando esclarecimentos. Katsuki não dispensa a oportunidade de cutucar esse povo da polícia também, não querendo dar razão pro maluco terrorista, mas ele não duvida de que seja verdade que zonas mais afastadas dos centros das cidades grandes são negligenciadas.

Pra surpresa dele, o pássaro também não deixa de dar suas alfinetadas também, ele o faz de maneira mais sutil, parece até que tá debochando, esse cara é irritante pra porra, mas pelo menos não é completamente sem noção também.

—  Eu iria sugerir para que você fosse para o hotel, mas acho que será o mesmo que falar com uma parede, né? —  o herói segura no ombro dele e abre um sorriso que era pra ser amigável.

—  Eu quero ir pro hospital.

—  Claro, claro. Já imaginei. Vamos indo, então. —  eles entram no carro que chega para buscá-los alguns minutos depois —  Bom… em missões com a polícia, nós normalmente não revelamos detalhes, e mesmo que o rapaz tenha praticamente confessado, não podemos sair afirmando nada até que a polícia divulgue todo o inquérito, então quando é assim, nós não saímos pronunciando nada, entendido?

—  Eu não tenho nada pra me pronunciar mesmo. —  Katsuki dá de ombros, não sabendo porque esse idiota quer vir com palestrinha nesse momento.

—  Bom, você pode se pronunciar sobre a Uravity depois que soubermos a condição dela no hospital. Posso confiar essa parte a você ou prefere que eu lide com isso? Não me importo de fazê-lo, mas foi você quem a resgatou, acho que você tem muito mais a dizer do que eu.

—  Pode crer que eu tenho. —  ele resmunga.

—  Você cuidou bem dela, Dynamight-kun, tenho certeza que vai ficar tudo bem. —  ele o olha pelo vidro retrovisor, e Katsuki não consegue não ruborizar. 

Agora que a adrenalina abaixou e tudo parece estar sob controle, o garoto se dá conta do que realmente se sucedeu atrás daquela casa. Ele… beijou ela de língua, tudo bem que foi por uma causa maior, era isso ou vê-la morrer asfixiada, mas se é pra ser honesto consigo mesmo, agora ele tá preocupado com o que a Uraraka pode pensar quando acordar. 

Tsk, logo agora que eles tavam começando a se entender sem ele achá-la uma falsa do caralho e ela ficar olhando como se estivesse julgando cada atitude dele… vai tudo por água abaixo pois ele não teve a calma necessária pra olhar ao seu redor e só achar algo que pudesse fazer a água entrar na boca dela. Uraraka vai acordar pensando que ele é um puta de um tarado, isso se ela não resolver botar a boca no mundo e falar exatamente o que ele fez. Katsuki já não tem a melhor das imagens por aí, não precisa de muito pra afundar o que tava começando a ficar mais ou menos bom.

E isso também foi graças a ela.

Chegando ao hospital, o pássaro tem a mínima decência de deixá-lo entrar primeiro. Ela tá com umas manchas de sujeira cinza na cara e no pescoço, o cabelo tá meio bagunçado, mas o importante é ver o cobertor da maca subindo e descendo num ritmo compassado na altura do peito, indicando que ela tá respirando.

Ainda bem, porra.

—  O doutor me falou que ela está estável. Só deram um sedativo para deixá-la descansar, logo ela acorda. —  o pássaro surge na sala e põe a mão no ombro dele. Katsuki se afasta —  Eu falei que ia ficar tudo bem, não falei?

—  Eu vou ter que fazer um relatório pra esse povo da imprensa?

—  Hã… não necessariamente. Você só explica que estávamos em uma missão a mando da polícia, a Uravity operou um salvamento e se machucou no processo, e aí tranquiliza todo mundo sobre o estado de saúde dela. Eu… já entrei em contato com a U.A. e com a família dela, então não precisa se sentir responsável por portar todas as notícias, tá bom? —  isso o surpreende, Katsuki não esperava que esse metido teria toda essa consideração, na maior parte do tempo ele não parece estar nem aí pros estagiários, só fica os arrastando pra lá e pra cá e fazendo o que dá na telha.

—  Tsk, e por que isso? Não confia em mim?

—  Haha, é engraçado você perguntar isso nesse tom ofendido quando não confia em mim nem um pouco. —  ele abre um sorriso —  Acredite ou não, Dynamight-kun, eu não sou seu inimigo, sou seu mentor e tô aqui pra ensinar vocês a passarem uma boa imagem pro público. E… nessa eu quero que você acredite mesmo: eu entendo que você esteja preocupado, ver um colega assim —  ele aponta —  nunca é legal. Ainda mais se for alguém que é realmente bem bacana como ela. Então… tô confiando essa parte de falar com o público pra você, mas pode confiar em mim para garantir pra família dela que qualquer coisa que aconteça é responsabilidade minha. Tem coisas que só adultos precisam lidar mesmo.

Katsuki o observa, ele segue sorrindo, mas não é do jeito debochado e tranquilo. Tem qualquer coisa de sereno na cara dele que não permite que o pupilo relutante duvide de seu confiante tutor.

—  Tá. —  ele assente —  Mas eu não vou falar pra esse povo que passei água pra ela por um beijo. Quero falar isso com ela sozinha quando ela acordar.

—  Claro, claro, faça como- pera, quê?

—  O quê?

—  Você fez o quê?

—  Tsk, não tinha nada pra eu pegar a água, e minha mão tava suja de suor, tive que… improvisar.

—  Ahhh entendi, entendi. —  ele leva a mão ao queixo —  Bom… com certeza falar isso atrairia uma atenção que nem você e nem ela precisam agora, hã… é, é melhor que vocês se entendam antes de decidirem se vão assumir em público, essa é uma decisão importante e nem eu que-

—  “Assumir” o quê? Nem vem! A gente não… já falei que a gente não vai com a cara um do outro.

—  Éééé, você pode até falar isso, mas não é bem como é, né? —  ele dá de ombros, e Katsuki se segura pra não mandá-lo à merda, o garoto não é tão sem noção assim a ponto de ficar gritando na frente dela nesse estado —  Bom… a imprensa tá lá fora, bora lá?

Dando uma última e breve olhada na Uraraka —  talvez na esperança de que ela pelo menos abra os olhos antes que ele tenha que ir —  Katsuki suspira e assente, acompanhando o herói até a entrada do hospital. Não tem tantos repórteres assim, bem menos do que teve naquela coletiva de imprensa ridícula, um pouco mais do que os que apareceram depois que ele e Uraraka pararam o trem desgovernado. 

Mesmo que o pássaro nem fale nada, o garoto já se sente contrariado em seguir um conselho dele: levanta a máscara e a deixa como uma faixa que afasta os cabelos da cara. Aproximando-se do púlpito designado a ele, Dynamight faz um aceno rápido e esboça um gesto de se curvar, mas é bem discreto.

—  Vocês tão aqui pra saber dos detalhes do caso de apreensão do terrorista responsável pelos acidentes de trem. Eu não posso falar sobre a investigação, quem cuida disso é a polícia. Só posso falar da Uravity e o que a gente fez nessa missão. Primeiro de tudo: ela tá bem. Inalou fumaça, mas como o socorro veio rápido, ela vai ficar bem. Só tá inconsciente porque os médicos queriam deixá-la descansar, mas logo mais ela acorda e pode falar por ela mesma. Alguma pergunta aí?

—  Como você está se sentindo, Dynamight-kun? —  um repórter pergunta.

—  Eu não tive nenhum ferimento, um dos médicos fez um exame rápido só por precaução, mas tá tudo bem comigo.

—  Sim, mas em relação à Uravity-san? Como é ver uma colega e companheira em um estado tão frágil?

—  É coisa da profissão. Se eu decidi que quero isso pra minha vida, vou ter que me acostumar a ver gente que conheço na mer- com problemas. —  ele diz da maneira mais calma que consegue, mas então dá um breve suspiro e segura o cabo do microfone e se aproxima —  Mas não é fácil me acostumar e, pra falar a verdade, eu acho isso uma merda.

Silêncio.

—  O quê, exatamente? —  uma repórter pergunta.

—  Ver gente que se esforça muito pra dar o que as pessoas querem, principalmente o que vocês querem. Parece que esquecem que a gente que tá aqui também é gente, também comete erros e também… se machuca. Nunca vou me acostumar com isso, a verdade é essa, não quero ver companheiro nenhum meu como eu vi a Uraraka quando a encontrei machucada. Vou trabalhar todo dia pra ser um herói que não protege só vocês, mas outros heróis também, é o que ela acredita, é o que esse cara deve acreditar —  ele aponta vagamente na direção do Hawks —  e é no que eu preciso acreditar. Tem muita gente por aí com dificuldade de ver que a gente também é humano, então podem olhar bem pra minha cara se ainda tiver dúvida, porque eu tô aqui preocupado pra um caralho como qualquer pessoa que se importa estaria.

Alguns murmúrios são apenas o que ele ouve, e logo vêm os flashes de câmeras. O Hawks se aproxima por trás dele e põe a mão em seu ombro, dando um breve sorriso.

—  Nada mal, garoto.

—  É, eu sei. Posso voltar lá pra dentro ou você ainda precisa de mim?

—  Nah, eu assumo daqui. Vai lá com sua… bom, vai lá com a Uravity.

Ele não precisa ouvir duas vezes. Katsuki se afasta, ainda ouvindo a horda de repórteres lá fora. O garoto não tinha intenção de falar algo tão pessoal, mas porra, foi bom pra caralho! Ele não entende porque alguém como a Uraraka, que normalmente não precisaria se esforçar para agradar sendo que já é naturalmente agradável, faz tanta questão de ser bem vista aos olhos de todo mundo, mas… vendo as caras do povo percebendo que Dynamight vai muito além do que se imagina gera lá sua satisfação. É, não tem nada de ruim em curtir ser gostado, nem que seja só um pouco.

Então ele volta para o quarto onde ela está. Assim que entra, Katsuki se depara com a TV ligada, o Hawks está na tela falando algumas das coisas que pode compartilhar sobre o caso.

E a Uraraka está acordada, assistindo atentamente. Ou pelo menos estava assistindo, assim que a vê, sua atenção se volta totalmente pra ele.

E diante desse olhar indecifrável dela, Katsuki pensa que talvez preferisse enfrentar a multidão de repórteres lá fora.

 


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Notas finais do capítulo

Oi oi! Vamos lá com o antenpultimo capítulo dessa fic hausdhudshusd
Caso esteja se perguntando: sim, essa cena da água é 100% inspirada naquela de Akatsuki no Yona. Se você percebeu, parabéns pelo bom gosto pra mangás khdjsjks
E é isso, beijos e bom fim de semana!



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