Sob suas asas escrita por annaoneannatwo, Kacchako Project


Capítulo 6
Micróbios




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Katsuki abre a porta do frigobar e saca a primeira garrafa d’água que vê, jogando-se na cama sem se importar em tirar a toalha dos ombros ou vestir uma camiseta. Ele só fica lá, apertando e amassando o plástico da garrafa depois que termina de beber seu conteúdo. 

O ideal agora seria dormir, foi um dia longo pra caralho, e tudo que ele quer é ter um pouco de paz, mas não, não importa o quão cansado esteja, uma parte sua está inquieta, e essa parte está berrando de maneira exigente que o garoto faça algo que nunca o deixa contente, muito pelo contrário, só lhe faz mal: pesquisar seu nome nas redes sociais e ver o que estão falando dele.

Ele não dá a mínima pro que pensam dele, sente vontade de mandar qualquer um que fale um “a” sobre sua personalidade, aparência ou qualquer outra coisa pra puta que o pariu, e ainda assim, sempre tem um momento na semana, às vezes é um momento no dia, em que o garoto se pega fazendo essa maldita pesquisa que só o deixa puto da vida, tanto por estar fazendo isso de novo quanto por realmente ficar incomodado com a opinião de meia dúzia de gente com a inteligência de um micróbio na internet.

Então lá vai ele mais uma vez digitando “Dynamight” e rolando a barrinha pra ver o monte de merda, só que… não tem nada disso. Os primeiros resultados são sobre o evento no centro comunitário onde ele estava com a Uraraka e o pássaro, e… ok, não é exatamente legal assistir a si mesmo tomando uma coça da Cara de Lua, mas… não tem ninguém xingando, os comentários em geral são muito positivos e… alegres, não só em relação à Uraraka, mas a ele também.

Tsk, isso é estúpido pra caralho, as pessoas mudam de ideia muito rápido só porque viram um videozinho e mais nada. Só que… por algum motivo, nesse momento ele não tá tão puto assim com o que encontrou na pesquisa. Por mais que não se importe, não ver um monte de gente falando merda, pra variar, deixa-lhe mais relaxado, tanto que o sono que seu corpo exige tá começando a bater.

Mas antes que se entregue e puxe o cobertor, ele decide conferir o que tão falando da palhaçada inventada pelo pássaro, aquele nome ridículo que é a fusão das alcunhas de herói dele e da Cara de Lua. Como era? Dynavity? Que merda de nome! Não será surpresa se tiver gente xingando só por causa dessa breguice…

Tem muita coisa! Mais até do que a pesquisa que fez apenas de seu nome, e não para de aparecer! Dá uma baita vergonha alheia de ler certas coisas, mas Katsuki não tá acostumado a ver tantos elogios ao seu comportamento e aparência. 

Tsk, isso só não é melhor porque ele teve que abaixar a crista e ir na onda da Uraraka, é um saco ter que fingir que tá de boa com ela porque as pessoas acham que eles formam uma boa dupla! Katsuki não suporta a cara de sonsa que ela faz quando tá diante do público, é uma falsidade estranha que a faz parecer bem tosca, por que ela precisa falar igual a uma professorinha de pré escola quando tá dando entrevista sendo que ele sabe que ela não é daquele jeito mesmo? Tosco demais!

É bem verdade que trabalhar com ela hoje foi um pouco menos merda, eles saíram pra investigar os acidentes de trem, e mesmo que nem tenha tido tanta ação, foi bom não ter que ficar se preocupando com imprensa e só focar no trabalho de herói, então deu pra tolerar até mesmo o pássaro com as gracinhas idiotas dele.

Aí veio o tal evento no Centro, e a barulheira da molecada só não o irritou muito porque os olhares curiosos em direção a ele lhe fizeram se sentir em evidência de uma maneira não muito ruim. Quando pediram pra ele fingir ser o “agressor” na demonstração da Cara de Lua sobre defesa pessoal, Katsuki já esperava uns comentários idiotas, mas a pirralhada toda prestou atenção e se divertiu. No fim, mesmo apanhando e fazendo papel de otário, o aspirante a herói quase pode dizer que… se divertiu também, um pouco.

Ele já tá quase pegando no sono quando ouve batidas à porta. Tsk, quem será a essa hora? Só deve ser o frango maldito querendo trocar uma ideia com ele como deve ter feito com a Cara de Lua. Katsuki acabou cochilando no carro a caminho do hotel, mas se lembra de ter ouvido os dois conversarem. Isso antes de acordar abraçando a Uraraka como se ela fosse uma almofada. Tsk, aquilo sim foi uma merda!

—  Fala. —  ele abre a porta e se coloca da maneira mais solícita que consegue quando está com sono. E é ao terminar de esfregar os olhos em preguiça que ele vê que não é o Hawks parado na porta.

—  Ah, te acordei? —  a Cara de Lua o olha meio apreensiva.

—  Não. O que você quer?

—  Oh, hã… vim devolver sua toalha. —  ela estica o pano na direção dele. 

Ah, isso. Katsuki usou a toalha pra cobri-los e protegê-los dos urub- da imprensa de tocaia na entrada do hotel. Assim que conseguiram entrar, ele só se desvencilhou do pano, louco pra ir pro quarto logo e ter um pouco de paz.

—  Tá.

—  Hoje foi… hoje foi bem louco, né? —  ela aperta as pontas dos dedos uma na outra, parece que está evitando olhar diretamente pra ele. 

—  E daí?

—  Nada, eu só… você viu que a gente tá… hã, qual é a palavra? Viralizando?

—  Não vi. —  ele mente, sem saber bem o porquê.

—  Ah, eu também não, a Mina me mandou mensagem contando. Isso é, hã… inesperado.

—  Se faz parte de uma estratégia de marketing que o time do pássaro montou, não é tão inesperado assim.

—  Sim, mas… não sei, ainda é meio estranho como as pessoas parecem estar curtindo ver nossa parceria e não percebem que nós… nós não… 

—  Que a gente não vai com a cara um do outro.

—  Bom, eu… eu ia falar que não estamos nos entendendo, eu não tenho nada contra você, só contra algumas coisas que você faz. Mas ok, não sei se aguento ter essa briga com você de novo. —  ela suspira —  Obrigada pela toalha. Boa noite, Bakugou-kun.

O que ele tá fazendo? Katsuki também não quer brigar com ela, por que é tão fácil só fazer o que tem que ser feito em público e ficar se estressando com ela quando estão a sós? Ele não gosta de fingir nada, nunca gostou, não quer que fique parecendo que tá de boa com ela só pra agradar os outros. O loiro ainda acha que não tem pelo quê se desculpar, mas… que seja, ele pode ceder um pouco.

Porque Uraraka pode até estar fingindo que o suporta, mas quando eles tão trabalhando juntos, é bem real.

—  Peraí, Cara de Lua. —  ele a chama quando ela se vira —  Eu também não odeio você, só não tenho saco pra algumas coisas que você faz.

—  Ah, sobre eu ser fingida?

—  É, mas… não é o tempo todo. Naquele evento lá do Centro, não foi assim, tava mais natural.

—  Bom, você também parecia mais… maleável. —  ela parece hesitar, mas acaba se virando por completo para olhar pra ele —  Acho que a gente foi melhor do que naquela coletiva de imprensa, né?

—  Tsk, aquilo foi uma merda!

—  É, foi…

—  Foi o quê, Cara de Lua? —  ele dá um sorriso debochado, apoiando-se na porta.

—  Hã? Foi… foi ruim.

—  Não, qual foi a palavra que eu falei? Fala.

—  Ah, que foi uma merda? Ok, foi uma merda. 

—  Heh, olha aí, a senhorita certinha também fala palavrão. —  é impossível não dar uma breve risada diante da cara dela.

—  Bom, se você não fosse um babaca que me dá coice o tempo todo, perceberia que eu não sou bem o que você tá pensando.

—  Olha aí, agora tá até dando coice de volta. Você é mais legal assim, Uraraka, devia mostrar mais isso daí.

—  Bom, e você- —  ela parece preparar uma resposta, mas olha pra baixo, em direção ao… peitoral dele? Corando, ela se afasta —  Você… você também não é só o que a maioria pensa quando para de ser grosso sem motivo.

—  Não é sem motivo. —  ele resmunga, desviando o olhar quando ela volta a encará-lo. Mais do que não gostar quando ela fica fazendo média por aí, Katsuki se irrita ao ficar sob o olhar atento dela, como se estivesse colocando-o sob um holofote, mesmo que sejam só eles dois nesse corredor de hotel.

—  É sem motivo se é comigo… —  Uraraka murmura —  A gente não precisa ser amigo nem nada, mas eu não sou sua adversária, Bakugou-kun. Não precisa me odiar só porque… esquece.

—  Começou, agora fala.

—  Só porque eu tive a melhor nota na entrevista.

Ah, então ela também sabe. Katsuki não tinha certeza se ela tinha percebido e não falou nada porque não apareceu uma chance, mas… se Uraraka quisesse jogar isso na cara dele, já teria jogado quando eles brigaram no restaurante. Será que… será que ela nem tinha percebido que juntaram os melhores e os piores? E se não percebeu, é porque acha que ele poderia não ter ido tão mal assim?

Katsuki odeia o quanto insiste em não querer ligar pra opinião das pessoas, e ainda assim se pegar preocupado com isso boa parte do tempo. Mas a curiosidade em saber o que ela pensa dele é diferente. Essa bochechuda lutou contra ele no primeiro ano deles, deve ter ouvido o Deku, o Meio a Meio e o Quatro Olhos darem pitaco sobre que tipo de pessoa ele é uma caralhada de vezes, cada um com uma opinião diferente, e mesmo que nunca nem tenham interagido muito, ela sempre o tratou como se eles conversassem o tempo todo, como se ela… o conhecesse.

— Tsk, isso não tem nada a ver-

—  Até porque não faz diferença isso de melhor e pior nota, né? A gente tá aqui agora e… você viu que eu não…

—  Você o quê?

—  Ah, você ouviu a jornalista amiga do Hawks, eu sou… eu me enrolo e posso comprometer coisas que não entendo ainda, e… sei lá, eu não sei se tenho o que o Hawks-san tem ou… ou mesmo você. —  ela dá um sorriso triste.

Mas de que caralho essa menina tá falando agora?

—  De que caralho você tá falando agora, Cara de Lua? —  ele pergunta exatamente isso.

—  Hã?

—  Por que você tá tão preocupada com a opinião de uma jornalista? Olha o tanto de gente que tem por aí, olha o que tão falando da gente nas redes sociais, e mesmo que ninguém tivesse falando nada, você sabe o que tá passando pras pessoas, não sabe? Então foda-se.

Ela o encara em legítima surpresa, e só depois que se dá conta do que disse, Katsuki fica surpreso consigo mesmo também. Ele nem sabe o que ela tá tentando passar pras pessoas, acha que ela é chata pra caralho quando muda seu jeito de ser perto de uma câmera ligada, e ainda assim, vê-la se malhando fazendo essa cara de perdedora o incomoda pra um caralho.

Também não ajuda que ele foi extremamente burro e acaba de se desmentir sobre ter visto o que tavam falando deles nas redes sociais. Idiota! 

—  Mas… você disse que me acha falsa, por que tá...?

—  Porque é idiota você ficar bitolada por causa de uma coisa que uma pessoa falou, a cara do povo vendo a demonstração de defesa pessoal lá no Centro não foi de alegria? Então, porra, foca em agradar essas pessoas, não uma jornalista descabelada que não tem moral pra falar nada de ninguém se ela namora o pássaro.

E então ela dá uma risadinha.

—  Você também acha que eles namoram?

—  Porra, não é óbvio? Tavam quase se comendo na nossa frente, depois querem ficar cagando regra em como a gente tem que agir. —  ela continua dando risada, chega até a limpar o canto dos olhos como se estivesse chorando de rir. Katsuki não sabe o que disse de tão engraçado, mas… é melhor isso do que a cara de coitada que ela tava fazendo uns minutos atrás.

—  Bom, eu achei legal a visão de uma jornalista, e… o Hawks-san sabe de tanta coisa, né? Eu esqueço que ele nem é tão mais velho assim que a gente, e ainda fala com tanta experiência, eu gosto dos conselhos dele.

—  Tsk, é outro fingido. —  ele vocifera —  Não dá muita confiança, não. Não dá pra saber qual é a dele mesmo.

—  O que isso quer dizer?

—  Vai saber, esse negócio da Comissão Pública estar tentando assumir o controle de novo, quem garante que ele não vai voltar pra esse negócio e fazer aquelas missões de se infiltrar em grupo de vilão e essas merdas assim?

—  Ah, eu… eu não acho que isso vai acontecer, Bakugou-kun. E mesmo se acontecesse, não é como se outra guerra… numa proporção como aquela fosse estourar de novo.

—  Só se ele inventar de ficar de agente duplo de novo. Grande parte daquela merda toda foi culpa dele, então não confia só porque ele fica de risadinha por aí.

Ugh, ele realmente perde a noção quando ela tá por perto, Katsuki não queria falar sobre como não confia no mentor deles nesse estágio, nunca confiou. Aquela história de fingir a morte do Best Jeanist foi esquisita pra caralho, e não importa quais foram os motivos, aquela merda toda com o Shigaraki só cresceu do jeito que foi porque o tal número 2 deixou tudo rolar. Em teoria, a lealdade dele sempre esteve com os heróis, sob comando da Comissão Pública de Segurança, que fez tudo menos garantir essa tal segurança. Ele pode muito bem estar pianinho agora, só à espera da tal comissão conseguir se reerguer de novo. E vai saber o que acontece a partir daí.

—  Certo. —  ela diz como se não estivesse “certo”, ou seja, não concorda com ele, e ainda tá cagando pro que ele pensa —  Bom, a gente acabou conversando bastante, sua toalha tá entregue.

—  É.

—  Então… boa noite, Bakugou-kun. Te vejo amanhã.

—  Falou. —  ele joga a toalha por cima do ombro e volta pro quarto assim que ela dá as costas.

Katsuki tá com sono, louco pra pregar o olho, e ainda assim fica rolando na cama por um bom tempo, pensando na última conversa com a doida. Acabou com ela meio contrariada por ele sugerir que ela abra o olho com o Hawks, mas tirando isso, não foi uma merda tão grande. 

Ele não sabia que ela tava cismada com a própria performance, até porque nem aparenta. Uraraka pode parecer meio atrapalhada, mas sorri como se tivesse muita certeza que tá sendo agradável e querida, então ouvir dela que talvez não tenha o que um herói precisa ter é de uma bizarrice enorme. E pode ser que o irrite muito pois prova que ela tá certa: ele não sabe nada sobre ela, e não vai descobrir se continuar agindo como se ela fosse sua arqui inimiga longe da mídia.

E como se não bastasse ficar empesteando a cabeça dele enquanto tá acordado, a Cara de Lua ainda faz o favor de aparecer nos sonhos dele naquela noite. É um sonho pra lá de idiota, ele vê um mar de flashes e ouve o  burburinho de uma multidão através de uma porta de vidro, Uraraka tá apertando a própria barriga e respirando fundo, ele fala pra ela parar de drama e só ir logo, ela faz cara feia pra ele, mas o segura pela mão e o puxa pra fora da porta, dizendo que vai dar tudo certo.

Tsk, maldita.


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Notas finais do capítulo

Oi oi! Tô de volta com mais uma atualização dessa fic que vai me enlouquecer por completo um dia hjkhsdjdjk
Seguindo o desafio do Kacchako Project, o objeto mencionado é "garrafa", a palavra é "micróbio" e a frse é "não sei se aguento ter essa briga de novo com você".
Espero que tenham curtido, não sei quando o próximo vai ficar pronto, como eu disse, essa fic tá me deixando doida e logo voltarei a trabalhar (as aulas vão voltar presencialmente, se isso é bom ou ruim, eu ainda não sei), então não prometo nada, por enquanto.
Beijos e fiquem bem!



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