Conexão escrita por Júlia Fróis


Capítulo 1
Hannah


Notas iniciais do capítulo

hannah Alvenea
espero que gostem



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                Hannah Alvenea.

               Manhattan, New York.

               31 de dezembro de 2018.

Eu nem sequer me lembro com o que eu estava sonhando, mas o modo como fui acordada me irritou profundamente.

Os zumbidos se tornaram vozes claras, empolgadas e irritantes, pisquei algumas vezes tentando espantar o sono que me consumia, ficar até tarde em um bar que tem filmes recém lançados, com cerveja liberada dá nisso! Mas admito que foi um ótimo jeito de encerrar o segundo ano do ensino médio e começar as férias oficialmente.

Eu consegui ouvir os passos pesados vindo da escada cada vez mais perto, mas nem isso me fez tentar levantar e dar um jeito na minha cara amassada, eu estava com muito, muito sono.

Suspirei.

Batidas na porta nem um pouco leves me deram o incentivo necessário para poder começar o meu dia.

Lavei o rosto e encarei o meu reflexo no espelho, cabelos castanhos totalmente bagunçados, olhos castanhos escuros quase pretos com olheiras evidentes sob a minha pele pálida com algumas sardas e um nariz pequeno com lábios meio cheios.

Bocejei e fui tomar um banho quente rápido e depois fui direto para o closet colocando uma calça vermelha de moletom da Adidas bem grossa, um suéter de gola alta grossa cinza, e uma jaqueta que também da Adidas que combinava com a calça, isso deve resolver um pouco do frio de NY.

Desci as escadas para tomar café e me surpreendi ao ver a mesa arrumada diferente do que eu geralmente estava acostumada.

Eu perdi alguma coisa?

Franzi a testa com a dúvida.

― Finalmente resolveu acordar! ― ouvi a voz da minha querida irmã que parecia estar de mau humor hoje.

― Bom dia para você também maninha! ― sorri de forma debochada enquanto seguia para a cozinha, mais especificamente para a máquina de café para preparar um Macchiatto, eu precisava de um pouco de cafeína nesse momento senão era bem provável que eu voltasse para a cama e eu tinha planos para as minhas férias:

Ensaiar até não poder mais e cair dura no chão, ou simplesmente conseguir uma vaga na Bolshoi Ballet academy, o que é, talvez, quase a mesma coisa.

Percebi que minha irmã, me encarava fixamente.

―  Sim? ― Perguntei.

― Quais são os seus planos para hoje?

― Depende, primeiro me diga o motivo do seu repentino interesse na minha vida?

― Você podia começar fazendo alguma coisa de útil tipo, ajudando na decoração da casa. ―  Exclamou Cherry levantando os braços em um gesto de exasperação.

― Ah, saquei, esse seu mau humor todo é pela decoração? ―  Perguntei bebericando meu café e fazendo obviamente pouco caso desse assunto.

― Hannah não é só a decoração! ―  Gritou ― É tudo! Falta tudo! E você fica sem fazer nada, sempre que decidimos fazer algo em família você age como se fosse um desastre!

― Mas é um desastre! E parece que eu sou a única pessoa sensata que percebe isso... ― eu resmunguei.

― E vê se pelo menos dessa vez coloca um sorriso nessa sua cara, senão pode acabar assustando os convidados. ― Suspirou ― Da última vez você estava com a cara tão ruim que acharam que você estava passando mal...

― É a única cara que eu tenho, quer que eu ajude? Ótimo, faço isso, mas depois quero ficar em paz!

Sem barulho na minha orelha de preferência.

― Você vai descer e ficar conversando como todo mundo Hannah como deve ser com a família inteira, e isso incluí você! ― e saiu subindo as escadas e batendo a porta do quarto dela com força.

― Bate com mais força! Ainda não quebrou! ― gritei para provocar e terminei o meu café.

Então eu subi para o meu quarto precisava pegar minhas coisas, peguei minha mochila colocando meu tablet e o livro que eu estava lendo atualmente e para variar era sobre Ballet, fiz uma maquiagem leve e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo pronta para seguir para o galpão onde eu, provavelmente, passaria o resto do dia ensaiando enquanto Jason pensava em novas artes para grafitar os trens da nossa amada NY.

Desci as escadas correndo e quando saí o frio e a neve me abraçaram, comecei a caminhar tranquilamente enquanto digitava para Jason avisando que estava indo para o nosso ponto de encontro para podermos ir juntos até o galpão.

― E então aqui estamos nós lar doce lar ― A voz de Jason ecoou em alto e bom som no lugar vazio.

Depois de meia hora de caminhada chegamos ao nosso canto onde ninguém nos perturbaria, um galpão repleto de espelho porque meu melhor amigo fez a gentileza de instalar para que eu pudesse ensaiar com tranquilidade assim como as barras.

Ele tirou a mochila das costas pegou o seu caderno de desenho, e alguns lápis de cor ele dizia que me ver dançando o inspirava, o que era ótimo porque assim ele me fazia companhia.

Liguei o tablet coloquei na minha playlist só de músicas para ballet e comecei a dançar fechando os olhos, era mais fácil dizer que a música se expressava atrás de mim, do que eu conseguir encontrar uma razão para os movimentos perfeitos que eu conseguia fazer sem ter tido muitas aulas de ballet.

                                                                  ****

Fiz meu corpo parar quando senti meus pés queimarem e minha barriga praticamente colar nas costas de fome, parei e olhei meu reflexo no espelho, roupas amarrotadas cabelo armado e lábios rachados pelo frio.

― Acho melhor você comer alguma coisa ― a voz de Jason entrou nos meus ouvidos.

― Só eu? ― perguntei retoricamente enquanto pegava meu tablet guardava na bolsa e em seguida pegava meu celular para conferir a hora já que o tablet estava sem bateria.

E quase cai para trás quando vi que horas eram.

23:00

Provavelmente eu teria rido se tivesse visto a cena de fora, mas eu acho bem provável que essa hora eu virei a cabeça lentamente na direção dele com os olhos arregalados parecendo estar dentro de um filme de terror como era possível?

― Não, eu também estou vazio ― sorriu.

― Jason ― chamei lentamente. ― Que horas chegamos aqui?

―  Umas 19 porquê? ―  Perguntou parecendo pensativo.

Caramba eu perdi praticamente o dia inteiro dormindo.

― Hannah você está me assustando com essa cara, por favor fale alguma coisa ― Jason pediu.

― Eu perdi praticamente o dia inteiro ― sussurrei, mas para mim mesma do que para ele.

Ele riu suavemente.

― Ah isso! Bem eu achei que tivesse percebido, mas não comentei nada porque sei que você geralmente não liga para esse tipo de data comemorativa ― deu de ombros. ―  Embora você nunca tenha me explicado direito o porquê. ―  Ele me olhou de canto.

E foi abrir o portão para sairmos do galpão isso resultou em um barulho meio ensurdecedor.

Parei no lugar quando vi a quantidade de Neve acumulada na rua, lado bom eu não precisaria participar das festas de fim de ano da família, lado ruim eu nem sei se conseguiria chegar a um hotel.

― É parece que a Neve piorou enquanto estávamos lá dentro ― Jason parecia estar meio assustado. ―  Nós vamos ter que andar para algum lugar de qualquer forma ― e me estendeu a mão.

Segurei sua mão e começamos a caminhar de volta para qualquer lugar.

A verdade era que eu não tinha muita paciência para as festas de fim de ano, eu nunca tive muita certeza de certas coisas da vida mas uma coisa sabia eu queria entrar para uma das melhores escolas de dança do mundo e isso exigia certo esforço que nem todo mundo da minha família entendia afinal quando se tem 17 anos, tudo o que você faz parece ser errado, pelo menos na família Alvenea.

Essa época em que vem seres do outro lado do mundo achando que conhecem você e que conhecem sua história o bastante para decidir sobre o futuro dos adolescentes da família, e assim tentar fazer com que eu desista do meu sonho, que eles fazem questão de jogar na minha cara sempre que podem que é um Hobby.

Conversar com parentes distantes é entediante porque não dá para entrar realmente em um assunto porque eles não se importam, afinal só me veem algumas vezes por ano.

Então tipo, que diferença faz?

Fui despertada dos meus pensamentos deprimidos por um toque de sino e um sopro de ar quente, pisquei algumas vezes.

Uma cafeteria?

Jason se afastou dizendo que ia fazer nossos pedidos, assenti e flexionei meus dedos dormentes pelo frio enquanto me encaminhava para uma das mesas do café, sentando perto da janela encarando a belíssima noite estrelada.

Olhei o relógio.

02:00 da madrugada do dia 1° de janeiro, pisquei algumas vezes, já era ano novo.

Então é isso vou passara virada de ano com o meu melhor amigo em uma cafeteria qualquer de Little Italy, parece uma boa ideia para mim e também a única opção no momento, mas eu sei que algumas pessoas não tem nem um cobertor para passar a madrugada fria, então só me resta agradecer por estar aqui e rezar para que a máquina de café funcione e que tenha comida o suficiente para todos por aqui.

E então um show de luzes atraiu minha atenção, fogos de artifício incessantes, mas não houve nenhum barulho apenas as belas luzes que entravam em contraste com a noite, e pela primeira vez na noite eu fiquei plenamente feliz, pelos fogos silenciosos agora os animais ficariam tranquilos, é uma ótima maneira de começar o ano...

― Acho que vai precisar disso ― a voz de Jason me despertou virei a cabeça em sua direção e ele colocou uma caneca de chocolate quente com menta na minha frente e um croissant.

E logo em seguida se sentou de frente para mim com a sua xícara de chocolate quente com mini marshmallow.

― É uma maneira bem Inesperada de se passar a virada do ano não acha? ―  Perguntou sorrindo animado ― Não se preocupe já estamos preparando um Croissant com Nutella e morangos e tem torta de maçã quente com canela saindo do forno ― sorriu abertamente ― fome a gente não passa ― segurou minha mão fazendo um pouco de pressão e deu um beijo.

― Obrigada ― Sorri Jason sempre está aqui para mim, e esse é o melhor presente que eu poderia ter recebido esse ano ― estamos? ― perguntei confusa de repente.

― É bem, a garçonete está sozinha não custa nada dar uma força, e assim vai mais rápido todo mundo está com fome ― deu de ombros.

Me levantei tomando um gole do chocolate quente.

― Vamos para atrás daquele balcão então ― sorri animada e olhei para ele. ― Feliz ano Novo Jason!

― Feliz ano novo Hannah ― ele sorriu e me abraçou.

Segui para o balcão com Jason em meu encalço a garçonete que parecia uma boneca com os seus cabelos loiros presos em um rabo de cavalo com franja longa, olhos azuis expressivos, nariz fino e lábios cheios ela parecia uma Barbie humana! Sério se forem fazer um live – action da Barbie chamem essa garota...

Ela franziu a testa quando me viu, eu estava com a expressão tão mal― humorada assim? Bom, é a única cara que eu tenho.

― Precisa de Ajuda com os Croissants? ― perguntei.

― Claro, por favor. ― Sorriu ― pode tirar eles do forno para mim?

Sorri e fui para o seu lado do balcão, pegando uma luva de cozinha para retirar a fornada de croissants que me davam água na boca e o meu estomago roncou audivelmente me lembrando que eu não havia comido nada o dia inteiro, será que se eu começasse a comer em cima da forma causaria uma má impressão?

A cafeteria era um lugar muito aconchegante, mas não espaçoso o bastante para as duas passarem ao mesmo tempo, ao mesmo tempo em que eu me levantava com a forma de croissants na mão para coloca―la na bancada, Helena tentou passar para o lado direito para pegar a espátula e cortar a torta, acredito eu.

Então, antes que trombássemos prendi a respiração ficando nas pontas dos pés e me movi delicadamente para o outro lado sem problemas, a forma de croissant parecia intacta e a torta também, Helena me olhava impressionada ainda com a torta em mãos.

― Você é muito delicada!

― Obrigada! ― dei um meio sorriso.

― É uma das melhores bailarinas do mundo ― Jason apareceu sorrindo ― posso fazer Cupcakes Helena?

― Pode! Já ajudo você ― sorriu enquanto cortava a torta.

― Você é muito exagerado! ― falei sorrindo enquanto tirava as luvas.

― É uma oportunidade única, quantas pessoas ficam pressas em uma cafeteria com uma garçonete gente boa que deixa fazer cupcakes? ― ele veio para trás do balcão.

Dei de ombros.

Estatisticamente ele tem razão.

Ouvi meu celular tocar e fui até a mesa, só cheguei perto o nome Cherry piscava na tela suspirei, eu sabia que se atendesse minha orelha queimaria de tantas reclamações, e para minha surpresa eu ouço um novo cliente entrar na cafeteria, realmente está bem mais movimentado do que eu esperava para uma noite de ano novo, quer dizer, quantas pessoas solitárias existem no mundo?

― Jesus! Que frio! ― ergui os olhos. Que entrada mais clichê.

Era uma menina ruiva e deveria ter seus dezesseis anos e ela se aproximou do balcão parecendo envergonhada.

Meu celular toca mais uma vez e eu aperto ignorar não adiantaria tentar resolver nada agora, nem com Cherry nem com ninguém, suspirei. Acho que se parasse para pensar todo esse drama da minha família dava um livro, e era justamente por isso que eu tentava ignorar a maior parte do tempo suspirei pela decima vez e segui até o balcão.

― Onde é o banheiro? ― perguntei.

― No corredor, primeira porta a direita ― respondeu Helena.

O banheiro era pequeno e de repente comecei a sentir falta de ar, tentei respirar fundo e lavei as mãos em seguida o rosto, era só o que faltava começar o ano desmaiada no banheiro de uma cafeteria, eu sabia o que era isso... fome! Acelerei o passo e voltei para a mesa onde estava sentada antes, e com minha visão periférica vi Jason me acompanhar com o olhar.

Peguei o croissant que ainda estava intocado na minha frente dei uma mordida.

O croissant desmanchou na minha boca, estava muito gostoso era o melhor croissant que eu já tinha provado! Fui tomar o chocolate quente com tanta vontade que virei em mim.

― Merda! ― xinguei de boca cheia.

Terminei de comer tranquilamente, não adiantaria me estressar agora, já que não havia muito o que fazer, depois de comer me levantei e segui para o banheiro de certa forma quando se é humano a única coisa de que temos certeza é de que havia é imprevisível, mas começar o ano novo lambuzada de chocolate parecia demais até para mim.

Me olhei no espelho e suspirei, vamos tentar consertar essa meleca.

Peguei alguns papeis toalhas e coloquei um pouco de sabonete e esfreguei contra a minha jaqueta com força a ponto de o papel esfarelar na minha mão, depois de mais três papeis saiu a mancha da jaqueta, mas ficou molhada, mas eu sabia que era melhor molhada do que melecada, a calça demorou um pouco mais porque o estrago foi maior, fiquei só molhada sorte que o tecido da minha roupa é grossa, poderia ter sido pior e ficado transparente.

Bufei estou a meia hora aqui e melhor que isso pelo jeito não fica, me levantei e fiz meu caminho de volta para o balcão, assim que o balcão entrou no meu banco de visão vi que aquela menina estava sentada do lado de Jason e parecia perto demais.

Era a ruiva e mesmo estando meio distante deu para perceber que ela estava bem empolgada com a conversa, ou será que era com o meu amigo? Jason encantava as garotas com facilidade e isso me irritavas as vezes, decidi me fazer presente antes que eu acabe sem a minha única e melhor companhia.

― O que eu perdi? ― perguntei enquanto me sentava ao lado do Jason.

Agora eu posso vê― la perfeitamente: longos cabelos ruivos, olhos bem verdes, boca bem desenhada, alta e pálida, será que ela se perdeu no caminho para um desfile da Victoria Secrets? Não me surpreenderia...

― Uma confraternização incomum entre amigos ― Jason riu sem tirar os olhos dela que por sua vez nem parecia se lembrar que seres humanos precisam piscar.

Bleh! Quanto grude.

Helena colocou um chocomenta na minha frente, agradeci e dei um gole sentindo o calor se espalhar pelo meu corpo, enquanto meus olhos encontraram a torre de cupcake de redvelt, meus favoritos.

― Estamos compartilhando histórias tristes ― Ouvi a voz da menina pela primeira vez enquanto ela encarava Jason se bem que não era como se ela tivesse feito outra coisa desde que chegou aqui pelo jeito, se o olhar dela arrancasse pedaço pelo visto o meu loirinho não estava mais aqui mas enfim, quer dizer que estar comigo em uma noite de ano novo é triste? Me aguarde Jason Stevens, encarei ― o pelo canto do olho ― Não tão tristes ― ela se corrigiu deve ter visto a minha cara ― Que nos trouxeram até aqui.

Dei uma boa mordida no cupcake.

História triste? Isso é fácil...

― A minha família é louca aparece uma vez na vida e outra na morte, e adora decidir nossa vida como se nos conhecessem de verdade ― resumi.

― Entendo ― a outra menina que tinha chegado pouco tempo depois de Jason e eu parecia animada com a conversa ela era morena longos cabelos cacheados pretos e olhos castanhos puxados para um tom de mel usava um suéter cinza e honestamente parecia bem cansada ― Meus pais surtaram quando eu não apareci no natal porque fiquei enrolada com uns trabalhos como se não bastasse as contas estão começando a atrasar...  ― Fez uma pausa ― vai ser dificil manter aquele apartamento por muito tempo― Suspirou com os olhos fixos em sua xicara fumegante ― Que bela maneira de começar o ano ― ela ergueu os olhos e deu um meio sorriso ― Eu sou a Alice.

 Nossa deve ser triste mesmo estar sozinha, porque eu sei que apesar de as vezes querer arrancar a cabeça da Cherry, ela sempre me deu um beijo de boa noite, sempre...contive um suspiro.

― Sozinha e trancada para fora de casa. ― brincou a ruiva que eu ainda não sabia o nome.

― Sozinha, uma casa minúscula e ainda trabalhando ― falou Helena.

― Okay, definitivamente você ganhou ― comentou Jason rindo para Helena.

― Meio sozinha ― decidi entrar na brincadeira e olhei para Jason ― e com uma casa cheia de parentes loucos.

E então, todo mundo me olhou como se eu fosse a louca.

― Sabe Hannah, isso não parece nem um pouco ruim ― Jason riu.

Olhando a situação de Helena, não parecia mesmo.

― Com todo respeito ― começou Alice me olhando ― nem um pouco mesmo. Daria tudo para estar com a minha família louca agora. Tudo.

Ah não, sermão agora não! Tomei um gole do meu chocolate para ver se conseguia engolir as palavras amargas que eu queria soltar para essa...intrometida, nesse exato momento, dito e feito o chocolate desceu amargo.

― E eu daria tudo para ter uma família louca me esperando ― Helena finalmente sentou ― se naquela noite desde que eu havia chegado ― A minha se resume a mim, minha mãe e meu pai que não entende o porquê de eu não querer ser advogada.

― Não posso reclamar da minha, ceamos por chamada de video adoro que ela seja louca ― a ruiva sorriu. ― Meus pais vivem viajando eu passo a maior parte do tempo sozinha ― deu de ombros.

Depende do tipo de loucura, se for o tipo de gente louca que te apoia a ruiva está melhor que eu então, mas eles não sabem de nada sobre mim, não deveriam estar me julgando por fim com o sarcasmo preso na garganta dei um sorrisinho e perguntei:

― Isso é um complô gente?

―  De forma alguma, cada um sabe o que te aflige ― respondeu a ruiva sorrindo.

Nossa! Como ela é boa né? Consigo ver as asas de anjo daqui ― Não estamos aqui para dar lição de moral ― ah, nossa! Agora estou melhor ― Não tenho nem moral para dar ― brincou e eu segurei a vontade de revirar os olhos enquanto terminava o meu chocolate quente.

 ― Família é família, todas são loucas mal posso esperar para ver as caras surtadas dos meus pais amanhã. A saudade é grande. ― A ruiva ainda sorria ― faz dois meses que eu não os vejo e agora simplesmente não consigo entrar em casa porque perdi a chave ― ela riu fraco. ― Eu preciso rever minhas prioridades ― ela comeu um pedaço de torta. ― E isso vai dar uma encrenca daquelas...

Helena deu uma risada fraca.

― Família as vezes é bem cabeça dura mesmo, meu pai está sem falar comigo direito desde que eu decidi vir para cá tentar ser atriz, tudo isso porque na opinião dele meu tempo e talento seria melhor aproveitado se eu fizesse direito ― suspirou ― mas eu simplesmente não consigo me enxergar em um escritório, mas mesmo assim com esse jeito teimoso eu ainda sinto falta de um abraço, ficar sozinha não é fácil.

― Sinto muito...― disse sem saber o que dizer.

Eu tinha minhas desavenças com minha família, é verdade, mas eu nunca deixei de ama—los apesar de não me apoiarem como bailarina, estamos sempre juntos mesmo de um jeito meio torto seguramos sempre as mãos uns dos outros, e se eles fossem embora? Como minha vida seria? Eu não tenho uma resposta isso, eu acho, provavelmente eu ficaria sem os Brownies da Cherry quando eu estivesse de TPM, ou sem o beijo de boa noite do meu pai, ou sem as panquecas com mel e creme da minha mãe todo domingo de manhã...

― A minha promessa de ano novo ― a ruiva começou interrompendo meus pensamentos ― É não entrar para as estatísticas de pessoas que só perceberam o valor quando perderam, seja o que for.

― Faço das tuas palavras as minhas ― disse a morena

― Idem! ― disse Jason sorrindo na direção da menina pela decima vez na noite.

― De agora em diante...― Helena começou mais foi interrompida pelo barulho de um despertador ― Bem gente, quatro horas da manhã. Hora de fechar.

― Aí não! Para onde eu vou agora? ― perguntou a ruiva meio desesperada

― Quer vir lá para casa? ― ofereceu Alice ― Você mora próximo mesmo...

― Jura? Meu deus você é um anjo! ― sorriu.

Esse jeitinho bonzinho dela não me desce, não sei porque.

― Imagina ― Alice sorriu ― De qualquer forma, quais as chances de você ser uma psicopata?

― Hã... ― ela fez uma pausa ― Nenhuma eu acho...― ela fez uma cara engraçada.       

― Vamos então ― disse Helena terminando de arrumar tudo.

― E nós vamos para onde Hannah? ― Jason perguntou se levantando.

Respirei fundo tenho de tentar conviver com eles da melhor maneira possível, porque no final das contas, eles são tudo o que tenho, posso falhar, mas pelo menos eu vou ter tentado, antes de desistir.

― Para a minha casa temos uma festa para encarar ― respondi.

― Temos? ― perguntou me olhando.

― Jason, pelo amor de deus. Você não vai me deixar ir sozinha né? ― meu pavor deveria estar evidente porque ele riu.

― Não Hannah, calma.

Ufa! Ainda bem porque ele me acalma.

Rimos.

― Bem gente, foi uma ótima noite na verdade. Obrigada! ― falou Helena enquanto trancava a cafeteria.

Concordamos. Foi uma noite...diferente, teria sido perfeita se a ruiva tivesse saído de cima de Jason, mas estamos indo embora Nova York é uma cidade grande e então, ela não vai mais me incomodar com esse jeitinho bonzinho que não engana ninguém, é fácil falar dos outros e ficar parecendo boa...

― Hm, Julie? ― ouvi Jason chamar e a ruivinha se virou.

Então esse era o nome dela. Julie.

― Sim?

― Você se importaria de me dar seu número?

― Claro que não! ― ela sorriu abertamente.

Afinal, quem em sã consciência se importaria? Pensei enquanto me encostava no muro.

― Bom, gente nos vemos por aí, não é? ― perguntou Alice.

― Claro que sim ― respondi esperando que ela tivesse notado a ironia na minha voz.

― Pode ter certeza! Boa noite gente, e feliz ano novo. ― Helena se despediu.

Acenei. Ela era gente boa...

E então, os fogos iluminaram o céu certamente essa é uma boa história de ano novo para se contar, pode não ter sido o esperado para a minha virada de ano mas foi agradável o bastante para que eu me lembrasse que: para todos os problemas tem uma solução, você só precisa de um bom motivo para continuar tentando.

Vi Jason sorrindo para o celular estiquei um pouco meu pescoço discretamente tentando ver o que era, ele estava mandando mensagem para a garota. Julie. Segurei a vontade de revirar os olhos, depois eu tento saber melhor sobre isso. Agora tudo o que eu quero é aproveitar o resto da madrugada perto de pessoas importantes para mim, e isso inclui o Jason.

 


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Notas finais do capítulo

Gostaram ?
comentem
esse é um projeto que eu espero que vire livro gente ♥



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