Sacrifícios escrita por Shalashaska


Capítulo 4
Algo Vermelho


Notas iniciais do capítulo

Vamos passear pela capital de Genosha?



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19/10/2020

Idílio, Genosha

08:57

Erik tinha um filho.

Essa não era uma informação nova, na realidade. Havia descoberto tal fato há três anos, quando soube também que Wanda Maximoff tinha o seu sangue. Ao mesmo tempo, era uma informação amarga. Ele tinha um filho enterrado em Sokovia, e processar o luto por alguém que jamais chegou a conhecer era um ato doloroso, confuso. Agora, por um erro — ou um inusitado acerto — aquele filho estava ali, preenchendo sua vida com movimento.

Nunca tinha pensado em como era ter um filho. O máximo que exerceu de sua paternidade foi com suas meninas, Anya, Lorna e Wanda; uma experiência que fazia seu coração se contrair em saudades e trazia ainda sombras aos seus pensamentos. Inevitável pensar que tudo o que Erik tocava estava fadado a uma cova ou pior do que isso, à simples inexistência. Estaria isso em seu sangue, em sua linhagem? Existia quem dissesse que ele era pai dos mutantes em Genosha, mas não era a mesma coisa, nem de longe. 

Erik tinha um filho e não fazia ideia de como agir; ao menos seu filho parecia não saber também.

Os dias na casa de Agatha Harkness tinham sido simultaneamente arrastados e rápidos, uma sequência de conversas difíceis e silêncios piores. Ele havia pensado que ficar um pouco mais ali, acompanhando o rapaz, talvez pudesse surtir algum efeito positivo, mas Pietro apreciava mais a quietude do jardim e a companhia do gato preto do que os diálogos invariavelmente fúnebres com o pai. Na maior parte do tempo, Erik lia um misto de sentimentos na expressão de Pietro: Curiosidade. Dor. Luto, luto, luto. Exaustão. E de repente, uma eletricidade em seus olhos, raiva. Isso ele conseguia compreender bem.

Erik havia lhe tirado a paz. A irmã.

Por isso ele muito se surpreendeu quando o rapaz se ofereceu para ir junto até Genosha. Não tinha separado nada, nenhum objeto ou roupa para ir, inclusive estava até de meias e parecia ter acabado de acordar de um sono turbulento. Com o portal mágico ainda aberto, Erik buscou apoio no olhar oblíquo de Natalya, que apenas sorriu paciente e disse que depois poderia levar os pertences de Pietro até Genosha.

Esse depois não tinha acontecido, mesmo dois dias depois de Erik e Pietro aparecerem dentro no prédio mais alto da capital de Genosha. Quando Natalya surgisse… Ah, ela ia escutar um longo discurso. Seus devaneios foram quebrados pela voz de Pietro, porém:

— Está pensando na minha tia de novo? — O rapaz ergueu uma sobrancelha, com os cotovelos apoiados na bancada da cozinha. Os dois estavam no novo lar de Erik Lensherr, os andares superiores do edifício central, e chocava o quanto o rapaz comia. Era a segunda vasilha de cereais coloridos com leite, sendo que ele já tinha acabado com pães integrais, ovos e frios. Bom, comer muito era melhor do que deixar de comer, não? Ele tinha metabolismo acelerado, caso não se enganasse. Pietro provou mais uma colherada generosa e disse, ainda de boca cheia: — Você costuma fazer essa cara azeda quando está com ela na cabeça.

Erik franziu a expressão, tanto por achar inconveniente o assunto quanto por não ter ideia de que sua face era tão clara para ser lida. Talvez ninguém precisasse de poderes telepáticos para entendê-lo. O pior era que seu filho estava certo, estava pensando em Natalya. Apreciava a relação estreita que tinham desenvolvido ao longo dos meses, afinal, eram de certa forma cúmplices de algo que jamais deveria ter sido feito. No entanto, custava-lhe admitir que existia certa graça em como Natalya administrava seu mau humor. Ele cruzou os braços e respondeu com um suspiro, tentando ser didático:

— Ela ficou de trazer suas coisas, apenas isso.

Recebeu uma risada de lado.

— E eu lá tinha muita coisa? Bom, nada além de um par de sapatos. Nem importa mais. — Não houve nem pausa para Erik reclamar. Pietro era uma pessoa que às vezes falava rápido, pulava de um assunto a outro, e não foi diferente naquela manhã: — Quando vamos sair?

Ah, sim. Depois que chegaram em Idílio, a primeira coisa que Erik fez foi providenciar um local adequado para servir de quarto em seu apartamento e roupas adequadas. 

O quarto de Wanda estava vago.

Não tinha tantos objetos e nem móveis muito característicos… Ela não passava mais do que alguns dias em Genosha, então não costumava guardar suas coisas em seus aposentos. Erik desejava que sim, mas… Não era mais uma possibilidade agora. Deste modo, uma simples organização faria Pietro se sentir confortável, sem ser atormentado por um cenário que lhe lembrasse constantemente da irmã. Ou ao menos teria esse sentimento amenizado.

Não foi difícil falar a alguns encarregados que ele teria um inquilino, ou melhor, um hóspede por tempo indeterminado, mas era mais complicado simplesmente dizer que era seu filho. Desta forma, as primeiras pessoas a serem comunicadas sobre a situação naturalmente foram Elizabeth Braddock e Raven Darkholme; Psylocke e Mística. Raven o censurou silenciosamente pelo ocorrido, embora afinal as tardes quietas e o sumiço repentino dele agora fizessem sentido, já Elizabeth — sempre tão passional e sujeita à ira — foi menos leniente… E foi por essa razão que deixou Elizabeth a cargo de mostrar o prédio para Pietro Erik enquanto discutia detalhes mais técnicos com Raven. Não queria ouvir os surtos de Psylocke, pois precisava resolver a papelada, cidadania genoshe… E um discurso casual para se justificar aos seus cidadãos. Somente depois os dois poderiam sair pela cidade. Não poderia declarar que tinha ressuscitado alguém, mas jamais negaria que tinha um herdeiro. O pensamento martelou-o de novo:

Erik tinha um filho.

Ele piscou, processando de novo a pergunta de Pietro. Já tinha resolvido as questões e optado por uma meia verdade para declarar sua paternidade. Naquele dia, enfim iriam explorar a capital da nação mutante.

— Você tem vinte minutos para terminar de comer e se arrumar.

— Tá. — Pietro deu de ombros e um borrão veloz assumiu sua postura. Os utensílios acima da bancada foram retirados e limpos em menos de segundos, a comida foi devidamente guardada. O borrão seguiu para os fundos do apartamento, voltando antes que Erik pudesse piscar de novo. — E o que faço com o resto do tempo?

Estava pronto, vestido com uma camiseta preta, e uma jaqueta cinza, quase prateada como seus cabelos. Erik suspirou.

— O quê? — Pietro reclamou. — Por acaso tenho que vestir uma capa ou blusa de gola alta dramática para sair?

Vamos. — Antes que seu filho saísse de novo em disparada, Erik lhe agarrou pela gola. Se as coisas seguissem daquele jeito, mandaria colocar tornozeleiras de metal nele para impedi-lo de correr pra longe quando bem entendesse.  — Numa velocidade normal. Raven e Elizabeth estão nos esperando.

***

Se Pietro estivesse sozinho, já teria terminado de ver a ilha inteira… Mas além de seu pai, as fiéis asseclas dele lhe acompanhavam e ele foi obrigado a manter um ritmo mais sereno. No início, não entendia como aquela dinâmica entre eles funcionava e, aparentemente, Emma Frost também era uma integrante do grupo, agora afastada por outros planos pessoais. De qualquer modo, observar os três era inevitável. Parte dele achava tedioso, é verdade, pois existia uma história muito maior entre eles do que as poucas conversas revelavam ou o que foi narrado à ele anteriormente.

Outra parte dele considerava tudo muito fascinante.

Eram mutantes que lutavam há décadas pelos próprios direitos, que enfrentaram as piores dificuldades e violência por apenas existirem. Pietro ainda estava entendendo o que era fazer parte de tal categoria, mas sabia como era ser parte de uma minoria. Vê-la, enfim, receber o cuidado e o reconhecimento devidos lhe trazia uma sensação estranha e agradável no peito. O slogan aparecia aqui e ali entre propagandas, panfletos e prédios:

Mutante & com Orgulho

Mesmo com todo o impacto que Thanos causou na população, existia uma concentração considerável de pessoas em Genosha, o local mais seguro para mutantes na atualidade.

Muitos se mudavam para ilha ou eram até mesmo resgatados. Lá, Pietro viu uma variedade de cores e formas, pois os mutantes níveis Gama e Épsilon coexistiam com seus irmãos de gene X sem que suas aparências — ditas deformações no resto do mundo — fossem motivo para discriminação. Diversos tons de peles, quantidades de membros, estilos, vozes, línguas e crenças; todos vivendo enfim como qualquer povo vivia no centro de uma capital: trabalhando, comendo, existindo.

Raven era um exemplo daquilo. Apesar da capacidade de se transformar em qualquer um, de qualquer sexo em qualquer idade, ela mantinha sua forma azulada e cheia de escamas sem o menor resquício de medo. Caminhava junto a eles com sossego, trajando uma roupa branca que somente ressaltava a cor de sua pele, o vermelho de seus cabelos. Erik frequentemente a chamava por Mística, em vez de seu nome real e existia certa verdade em apelidá-la assim: pouco falava, por mais que as expressões em seu rosto fossem dicas o bastante. Ela notou que Pietro a observava, mas não comentou o caso e apenas o encarou de volta, com aqueles olhos amarelos e perigosos.

Prosseguiram.

Os quatro caminhando — Pietro, Erik, Raven e Elizabeth — suscitavam olhares de muitos. O jovem estava relativamente acostumado com pessoas o encarando, afinal, era um sujeito de cabelos prateados e costumavam apenas reconhecê-lo por cigano. Aquilo, no entanto, era diferente. Não exatamente uma admiração, mas sim… Estima, apreço, em vez de atenção indesejada ou perigosa.

Então um pensamento correu por seus neurônios.

É claro. Pietro estava caminhando com o líder de Genosha e muito provavelmente as duas faziam parte de seu conselho pessoal. E, até onde ouviu falar — entre tantas notícias nos últimos dias de sua nova existência — Magneto era alguém respeitado, temido e amado

E era seu pai. Céus, Pietro tinha um pai. Vivo.

Visitaram algumas lojas da região — uma aventura gastronômica à parte que Pietro certamente iria conferir no futuro — passaram pelos diversos templos em um bloco estupidamente longo e seguiram para o memorial em homenagem às vítimas genoshes da tragédia de Thanos. Naquele ponto, o clima ficou mais pesado. A construção cinzenta foi erguida ao centro de uma praça, com quatro arcos de sustentação feitas de metal. Sua superfície possuía diversos nomes inscritos, dando uma dimensão aproximada da dor que as pessoas sentiam por aqueles que partiram. Existiam ainda objetos no chão, mais e mais velas, flores e cera derretida a cada degrau mais perto do centro. Cartas, fotos, bichinhos de pelúcia.

O silêncio era outra peça sólida do monumento, transpassada apenas por um ou outro sussurro, um choro quieto. Não havia corpos, portanto não havia túmulos. Memoriais como aquele serviam de âncora para quem restara. 

A garganta de Pietro contraiu-se involuntariamente enquanto ele se forçava a firmar os olhos e a concentração. Seus joelhos tremiam. Imagens do sorriso de Wanda, de Novi Grad no ar e a repentina escuridão alfinetavam o fundo de sua cabeça, obrigando-o a lembrar-se que tinha morrido e que sua irmã recebera quase o mesmo destino. Jazia pulverizada na atmosfera, com uma espécie de lápide em Sokovia.  

Só notou o par de pessoas ali perto quanto estas se dirigiram ao seu pai. Uma adolescente de membros cheio de espinhos, quase como galhos escapando de sua pele, cumprimentou-o com certa reverência, respeito. Pietro não compreendeu o que disse, porém. Era francês? Parecia, mas ele não tinha certeza. Apenas prestou atenção em seu tom resoluto, seus olhos fixos no líder mutante, que por sua vez respondeu com calma. Erik abaixou-se depois para ficar na altura da criança que acompanhava a moça, um menininho vestindo um gorro laranja, falou mais algo e sorriu.

Seria assim que Erik falaria com ele se o mundo fosse outro e tivessem tido uma vida normal juntos? Seu pai sorriria assim, encarando seus olhos de criança? 

Pietro Maximoff queria descobrir afinal quem era Erik Lensherr e foi por isso que aceitou as sugestões do gato preto, além também das palavras de Piotr sobre laços. Ele não poderia ser um homem ruim, ou inteiramente ruim. Wanda gostava dele. E Pietro achava que isso tinha que significar algo, não somente porque ela era sua irmã, mas também porque ela era telepata e não suportaria a ideia de conviver com alguém fora de seus valores. No minuto que descobriram a verdade sobre Ultron, os gêmeos mudaram de lado. Assim, existia algo em Erik que ele teria que desvendar aos poucos, com cuidado.

Pietro tinha um pai, um pai vivo.

E suspeitava que tal fato era uma surpresa para os dois.

O menino sorriu de volta, limpou a cara de choro e falou algo que fez Erik abrir um esboço de um sorriso. Ele e a adolescente se despediram com certa solenidade antes de partirem, deixando de novo a quietude tomar conta do ambiente. 

— O menino… — Erik comentou após alguns segundos. — Elogiou sua jaqueta.

— Ah. — Uma pausa. A cabeça dele pulava de uma questão a outra, ironicamente sem sair do lugar. As pessoas enxergavam o quanto era fisicamente parecidos? Era melhor tentar falar algo para quem encontrassem na rua? Seria ele um herdeiro dessa nação? Nenhuma dessas questões falou mais alto que a última: — A gente devia… Trazer algo para Wanda?

Veio o vento, o tremular de velas ainda acesas. Psylocke nada disse, Mística também não. Enfim, seu pai respondeu:

— Podemos trazer da próxima vez.

Pietro assentiu, pensativo. Então haveria uma próxima vez... Traria algo para Wanda. Algo vermelho.

A última parada foi o porto.

Erik falou muito sobre o local, sobre a colaboração de mutantes com habilidades elementais na parte de agricultura e controle de climas e estações; sobre como aquela construção um pouco mais distante do porto foi a base em que ele permaneceu em criogenia por tantos anos, adaptada hoje para um centro de comunicações com uma torre ali perto. Pietro tentava absorver toda a experiência simultaneamente, o som do mar, o cheiro salgado e a voz de seu pai. Ele contou ainda sobre como navios cargueiros atracaram há três anos, primeiro numa proposta de ajuda humanitária; depois, revelada uma armadilha de Arnim Zola. Todos da ilha foram incapacitados por injeções inibidoras do gene X, então quem salvou o dia foram os Vingadores, os X-Men, uma equipe de Wakanda e… A Feiticeira Escarlate.

Wanda.

Tudo o fazia voltar para Wanda.

Ele encarou o pôr do sol rubro no horizonte, sentindo a brisa intensa ali no porto um tanto parado naquela tarde. Sua mente não se fixava em um ponto sequer, por mais que sua postura fosse reta, parada com as mãos nos bolsos. Notou Elizabeth perto de si, sua expressão um tanto torcida; talvez entediada ou aborrecida pelo passeio, quem sabe apenas enojada com o cheiro de maresia. Pietro a encarou por um instante, intrigado por sua face simultaneamente jovem e anciã. Seu temperamento indócil era estereótipo de uma pessoa nova e impulsiva, características com quais ele se identificava, mas existia um brilho lilás e antigo atrás de seus olhos estreitos.

Elizabeth piscou e o encarou imediatamente.

— Minha alma foi sugada do corpo e foi parar em outro. — Deu de ombros. — Então sim, eu realmente sou mais velha do que aparento.

Esquecia-se que ela era telepata também. Pietro soltou um assovio baixo, um tanto impactado com a história que escapara assim tão banal dos lábios dela: Uma transfusão de almas, apenas. Será que vai chegar o dia em que ele falaria desta forma? Morri e voltei. Parecia uma realidade distante. Suspirou, comentando:

— Não sei dizer se é bom saber que existe gente com uma vida tão estranha quanto a minha.

Difícil. Ninguém aqui ressuscitou. 

Ele riu, sem achar muita graça. Não sabia o que dizer ou se deveria dizer algo, então preferiu manter a boca fechada. Quem quebrou aquela onda de silêncio novamente foi Elizabeth.

— Eu conheci sua irmã. Bem, na verdade as duas. Mas me refiro a Wanda.

O sokoviano cerrou as pálpebras. A maior parte do tempo ele era obrigado a conversar em inglês com as pessoas e considerava-se competente no idioma, apesar do sotaque. Naquele instante, se viu possivelmente perdido na tradução. “As duas”? Que duas? Sua garganta, porém, disparou uma questão mais inócua, quase como para livrá-lo de algo que não queria saber.

— Você a viu aqui, certo?

— Sim. Salvou essa ilha enquanto todos estávamos sem poderes; ela e mais as outras equipes que você ouviu falar. — Deu de ombros, ajeitando os cabelos pretos ao vento. — Eu não gostava dela no início.

— E por que está me contando isso?

— Me parece importante, já que eu mudei de ideia e… Porque ela não está mais aqui. — Elizabeth, apesar dos poderes telepáticos, lhe soou um tanto estúpida por não notar que o humor dele começou a mudar com o rumo da conversa. Falar de sua irmã era delicado; mencionar que não gostava dela um ultraje; pior ainda era lembrá-lo, assim como ele se recordava a todo momento, que ela não estava mais entre os vivos. Ou então Elizabeth não ligasse se Pietro estava agora com pressa de sair dali, com o joelho mexendo inquieto. Seu pai e Mística, no entanto, conversavam há metros de onde estavam e não poderiam vir ao seu auxílio. — Sabe, Raven, Emma e eu estávamos procurando Magneto primeiro, para continuar o que começamos. Revolução, liberdade aos mutantes. Então, quando ele despertou e soube que tinha uma filha… Imaginei que ele poderia deixar tudo isso para trás. 

O sorriso dele foi ácido:

— Julgaria ele por isso?

— Não. Mas, ficaria irritada. Sem ofensas ao falecido professor Xavier, mas Erik era o único capaz de fazer o necessário por nós, o que quer que custasse. O fato é que felizmente ele não nos deixou e… Veja onde estamos agora. Uma ilha onde somos livres.

Genosha era, de fato, uma referência pacífica para o mundo – ou o que restou dele desde 2018. O centro era calmo, os cidadãos prosseguiam com as próprias vidas sem temer que a próxima pessoa com quem cruzassem na rua fosse um imbecil intolerante. Na ilha, os mutantes pareciam se preocupar em viver, não em... Sobreviver

Pietro entendia a razão de todos amarem aquele país e seu governante que tanto lutara por ele; entendia até mesmo os receios da mutante à sua frente sobre Erik abandonar a causa por uma vida mais sossegada. Mas existia algo que ele não entendia em Elizabeth Braddock, alguma coisa que ele não conseguia identificar exatamente. Enfim admitiu:

— Eu tenho a impressão de que não gosta de mim.

Ela só desviou o olhar de volta ao oceano, desinteressada, pois a razão era simples:

— Você tem pensamentos rápidos demais de acompanhar.

— Então não acompanhe. —  Respondeu, já impaciente. Ela não tinha nada que tentar captar seus pensamentos, de qualquer forma. Pietro encontrara poucas telepatas na vida e somente Wanda fez leituras precisas e gentis de seu estado mental. Emma pareceu querer agarrá-lo pelo cérebro em Sokovia e Elizabeth sondava-o de forma superficial, banal. — Veja, eu não tenho interesse em mudar sua opinião sobre mim e duvido que Wanda também tivesse.

Ela não estava incomodada ou impressionada com o tom dele.

— Acredite, não estou contando com isso.

— Está contando com alguma coisa?

A mutante deu de ombros.

— Apenas continuar lutando. Existem mais de nós lá fora, em perigo. — Pietro aquietou-se com a resposta. Ali sim estava o motivo da conversa dela, o questionamento implícito no ar. Elizabeth sabia que seu líder não abandonaria a causa por um filho, mas o que viria em seguida era incerto. Ainda que muitos estivessem em segurança em Genosha, o mesmo não podia ser dito de outros no resto mundo. — E você?

Encarou-o longamente, depois lhe deu as costas e andou até Erik e Raven. Era fato, os três — e mais Emma — continuaram naquela busca por igualdade independente do que aconteceu, independente de suas dores pessoais; essa era a dinâmica entre indivíduos tão diferentes entre si. Magneto, Psylocke e Mística. Mutantes & com orgulho. E o que Pietro faria?

Ele bufou, irritado. Encarou os últimos raios de sol ali do porto, buscando na cor vermelha do entardecer alguma resposta.

***

Já passava das dezoito horas quando Pietro e Erik afinal voltaram para o imenso apartamento, ao centro da capital. Elizabeth falou que iria ainda conferir algumas informações da Equipe de Comunicação de Genosha, apenas para ter certeza de que não tinham outras notícias de mutantes precisando de ajuda fora do país ou uma notícia qualquer da Latveria; já Raven não ofereceu muitas palavras ao partir, embora isso não estivesse fora de seu comportamento habitual. Sobraram, de novo, pai e filho.

Não acenderam muitas luzes e aquilo foi uma surpresa interessante para o mais velho, pois lhe soava como um costume frívolo compartilhado entre os dois. Um ponto bobo em comum e que deixava o ambiente mais ameno, confortável aos olhos e aos ânimos após tal passeio. Enquanto seu filho encarava o horizonte vivo da cidade através da janela, Erik o observava com atenção e mexia nos armários da cozinha, em busca de um jantar decente. Em realidade, não estava com muita paciência para preparar algo e duvidava que o que tinha na despensa fosse saciar o estômago do rapaz. Portanto, cogitou pedir alguns pratos dos restaurantes que visitaram, já que Pietro pareceu particularmente atraído por comidas diferentes.

Estava já finalizando a compra pelo telefone quando viu seu filho virar o torso e sorrir: 

 — Ebony!

Erik franziu os cenhos, sem nem notar se tinha respondido ou não a despedida educada do atendente do outro lado da linha. Colocou o aparelho na base, ainda desacreditado por ver o jovem sokoviano com o felino preto no colo. Apertava-o, ergueu-o para lhe mostrar a cidade da janela. Como que aquele bichano tinha chegado ali? Logo veio a resposta saindo das sombras:

Natalya.

A barra do vestido longo dela se misturava com a escuridão do canto da sala, mas logo ela se aproximou do sobrinho com um sorriso largo, iluminado. Em um de seus braços, havia uma cesta de vime. A frase que escapou dos lábios dela foi de humor tolo e infantil:

— Vejam só o que o gato trouxe...

— Natalya, — A voz de Magneto foi severa, embora nem ela e nem Pietro parecessem se importar enquanto se abraçavam de maneira breve. Só o gato lhe deu a mísera atenção e lhe olhou com pena. — Disse que iria trazer as coisas dele há dois dias.

— E eu trouxe. — Ela se virou, o rosto e o tom inocentes. Piscou aqueles seus longos cílios. — Ora, não me olhe assim. Sabe que me distraio um pouco.

A expressão dura em sua face sequer alterou-se; no entanto, Erik, filho de relojoeiros, quase teve um aneurisma a ouvir tamanha displicência. Por sua vez, a outra achou graça da seriedade dele e se sentiu obrigada a explicar com ao menos um pouquinho mais de detalhes o que fazia ali após “tanto” tempo.

— Dei uma passadinha em Outer Heaven. Wanda mantinha algumas coisas lá, além das coisas que estão no casa da senhora Harkness. — Indicou a cesta com um gesto vago. — Pensei que iriam querer ver…

— Rogers te deixou entrar na base estacionada?

Natalya piscou apenas uma pálpebra para Pietro.

— Deixei um aviso.

Não demorou muito para que os três, mais o gato preto, estivessem reunidos na sala, sentados no mesmo sofá. Em seu íntimo, Erik jazia nervoso pelo conteúdo da cesta que Natalya trouxera. Estava curioso também, mas… Um corte ainda se abria no peito toda vez que lembrava-se de sua filha, ciente que tinha a perdido para sempre. Doía ouvir a memória dela dizendo pai. Doía recordar de seus olhos verdes, tão parecidos com os de Magda.

E temia pelas reações de seu filho. 

Ele tinha o interior errático, volátil. Erik não o culpava e não queria forçar seu espírito além do que ele era capaz, mesmo que tivesse ido bem durante a tarde, sem surtar ao ver o memorial daqueles que se foram. O único, porém, que notou todos os seus receios foi o gato preto.

Primeiro, Natalya entregou o par de sapatos e a muda de roupas que Pietro usara na casa de Agatha Harkness. De fato, além daquilo não havia mais pertences pessoais do rapaz a serem devolvidos. Depois, contrariando todas as leis da física, ela retirou uma caixa maior do que o fundo da cesta possivelmente poderia guardar. Colocou-a com cerimônia acima da mesa, abriu-a cuidadosamente.

Havia uma pulseira wakandana ali, um presente de Shuri, com uma estrela de seis pontas no fecho. A estatueta de lobo, que Pietro já conhecia. Um caderno, o qual Natalya chamou por grimório, com anotações escondidas por magia e folhas soltas entre suas páginas. Enquanto exploravam cada objeto, os três conversavam sobre Wanda, sobre memórias doces e amargas, sobre a ausência constante e súbita. Saudades. Erik mais ouvia do que falava, sua garganta seca e simultaneamente cheia de luto. Ainda assim, gostou de ver os desenhos que sua filha tinha feito com a ajuda das aulas de Steve Rogers, as fotografias um tanto borradas de cenários que visitara… até que uma foto em especial escapou entre as outras, uma pequena e desbotada.

Pietro pegou-a antes que caísse no tapete e suas mãos começaram a tremer imediatamente depois que reparou na imagem com maior atenção. Natalya engoliu seco, abraçando-o de lado; já Ebony aproveitou para esfregar seu diminuto corpo nas canelas do rapaz, ronronando. Na foto, os quatro: Wanda e Pietro pequenos, Marya e Django Maximoff. A única fotografia que restara da família. As lágrimas do rapaz vieram rápido, impossíveis de serem contidas. Era aquele choro dolorido, feio, real e infeliz de se observar.

Natalya segurou seu rosto, aproximando-o de seu tórax quase como se para ninar uma criança pequena. Talvez em sua mente, ele ainda fosse o menininho para quem enviava cartas e presentes. O mesmo menininho que, pouco depois da época daquela foto, testemunhou mísseis atravessando seu lar.

— Eu sei, querido. Eu sei.

Erik permaneceu ao seu lado, gélido e imóvel. Naquele momento, ele podia enxergar o que Natalya enxergava: um menino indefeso e triste. Seu filho. Aproximou-se mais um pouco, hesitante, e colocou a mão no ombro direito dele. Seus olhos umedeceram, mas ele não se permitiu chorar e somente deixou Pietro quando foi atender a porta para pegar a comida.

Para seu choque, o jantar foi mais tranquilo do que esperava. O rosto de Pietro, apesar de avermelhado e um tanto quanto inchado, brilhou com um aspecto melhor quando viu a comida sendo aos poucos desembrulhada acima do balcão da cozinha. Ele riu de algum gracejo tolo de Natalya, reclamou de qualquer coisa —  talvez de fome — fungou e tentou, debilmente, armar um sorriso nos lábios. Era um sorriso frouxo, vulnerável… Mas estava lá, quase como se os minutos anteriores não tivessem acontecido. Quem sabe a experiência tenha sido catártica e ele, enfim, respirasse mais aliviado por poder chorar e ser imediatamente acolhido.

Fosse o que fosse, Erik pôde também sentir seu coração bater mais calmo.

Havia comida o suficiente para os três, já que pedir comida para Pietro incluía pedir porções maiores, e a única inconveniência da refeição foi a necessidade de insistir para o rapaz não dar sobremesa para Ebony, à despeito dos miados do gato.

Após o jantar, Natalya e Ebony partiram do mesmo jeito mágico e silencioso por qual vieram e, agora mais sossegado, Pietro voltou a observar os pertences da irmã com serena curiosidade, quase como se tentasse decifrar um quebra-cabeça. Levantou os olhos, intrigado quando Erik deu mais alguns passos adiante, pegou uma garrafa e dois copos baixos, e por fim colocou-os na mesa.

— Sua tia queria apenas que nós fossemos dormir depois do jantar. — Confessou o pedido dela, dito enquanto ambos lavavam a louça. — Mas acho que isso não é tão simples, não? 

— Não. E mesmo os sonhos não me deixam tranquilo… Isso se recordo deles.

Erik soltou um riso silencioso, enchendo os copos de whisky até a metade. Não era sua intenção fazer do filho um alcoólatra incorrigível — o que talvez fosse de fato impossível pelo seu metabolismo acelerado — mas considerou que mereciam um pouco de bebida para relaxar o corpo, ao menos aquela noite.

E Pietro não questionou a oferta. 

Entre um gole e outro, a atmosfera se tornou mais amena entre eles. A iluminação na sala era pouca, o resto vinha dos ecos das luzes lá de fora, da cidade ainda desperta abaixo deles. Quem quebrou a quietude primeiro foi Magneto, numa oferta casual:

— Alguma chance de você jogar xadrez?

O outro riu, repousando o copo na mesa.

— Não mesmo. Não tenho paciência.

Para seu pai, aquilo era óbvio e familiar, mas era interessante ouvir a frase mesmo assim. E então, Pietro apoiou os cotovelos nos joelhos, curvando o corpo e a cabeça ao inspirar fundo. Não era preciso telepatia para entender que tinha sido um longo dia para ele, nessa nova existência. Quando ergueu o rosto, uma confissão escorreu de sua boca:

— Eu não entendo como… Como não está ressentido comigo. Eu te odiei dentro daquela sala na casa de Harkness. Queria arrebentar a sua boca igual fiz com Steve.

Talvez ele não fosse de fato conseguir, mas este foi um comentário que Erik soube manter de fora da conversa com elegância. Anuiu, tomou outro gole.

— Sabe, Pietro… Eu não tive como me ressentir com você. Eu faria a mesma coisa, senão pior. Wanda ás vezes dizia o quanto nos achava parecidos, mas na realidade acho que a raiva dela é mais parecida com a minha. 

Crescente. Pulsante. Silenciosa até explodir e devorar tudo. Sua garotinha, no entanto, era mais cautelosa. Passional e gentil. O pai… Nem tanto.

— E eu sou o que? Parecido com a minha mãe?

Tomou outro gole, apenas para ter mais tempo para responder àquela questão. Pietro era, de fato, parecido com ele, com maior impulsividade e maior inocência; sem falar da aparência. Wanda já havia mencionado as semelhanças aqui e ali, embora as diferenças ainda existissem. Talvez, se ele não tivesse passado tudo o que passou sozinho na juventude, ele seria ainda mais parecido com Pietro. Um jovem que passou por horrores e, de alguma forma, carregava um brilho afiado e simultaneamente ingênuo nos olhos. Colocou o copo também na mesa, mas ao contrário do filho, encheu mais um pouco para si. Foi longo dia e seria uma longa noite.

— Fisicamente, não. Mas você de bom humor me lembra Magda. 

— E de mau humor…?

Erik quis desviar da pergunta.

— Eu vejo um pouco de Lorna em você, apesar de não serem muito próximos de sangue.

Uma pausa.

— Quem é Lorna?

Oh. O seu tórax ardeu com a ausência e seus neurônios fritaram com a lembrança. A menção à ela tinha sido um erro tolo. Pietro não sabia. Alguns segundos se arrastaram até que Erik estivesse em condições de lhe oferecer uma resposta e ele entendia que aquele tempo de espera era uma tortura para o rapaz cujo poder era velocidade. Ao fim, resumiu os fatos:

— Wanda não é a única irmã que teve.

— É claro que tive mais de uma irmã. E é claro que elas morreram.

Era só o álcool ou aquela frase foi quase a réplica do que ele disse à Charles Xavier quando descobriu que era pai de mais filhos e que um deles, Pietro, estava morto? Suspirou. A realidade costumava brincar demais com ele.

— A mais velha se chamava Anya. Não sei dizer se era mutante ou não, porque…. Ela foi tomada de mim muito cedo. Gostava de animais.

— E Lorna?

— Sua meia-irmã. Tinha os poderes iguais aos meus, mas não a vi crescer. Logo depois que a conheci, fui apagado na criogenia. Ela morreu em 99, defendendo mutantes. Morreu como uma heroína.

Pietro meneou a cabeça.

— Como Wanda.

— Como Wanda.

Mais silêncio. 

— E que legado é esse? Uma família estranha e cheia de morte. E só restam nós dois.

— Sim. — Erik sequer piscou. Essa pergunta martelava em sua cabeça diariamente, sem um único rastro de resposta. Que vida era aquela? Que legado havia em seu sangue, além de uma certeira e precoce cova? Ele, no entanto, permanecia… E seu filho estava ali. — Temos um ao outro, apenas.

— E o que é isso, exatamente?

— Eu não sei. Pensei que estava disposto a descobrir quando aceitou vir comigo.

Estou. Mas é que… — Ele fechou as pálpebras, tentando capturar o pensamento. — Não sei dizer ainda o que é essa nova existência. Não te culpo totalmente pelo o que fez, pois eu também faria de tudo para ter minha irmã de volta. Só sinto ainda raiva. E dor. Confusão. E pressa, agora sem motivo. Parece que tudo vai escapar de mim. Até mesmo você, até mesmo Natalya.

Erik permitiu que ele continuasse, sem interromper as palavras que jorravam de Pietro. Aparentemente, honestidade era uma característica comum entre seus filhos, mas enquanto Wanda tendia a mascarar certas coisas, seu gêmeo transparecia cada nuance de emoções… Incluindo o medo cru de, enfim, total abandono e solidão. E, por extensão, Erik imaginava que era difícil para ele se aproximar de alguém com o receio de imediatamente perdê-lo.

Outra vez, algo familiar.

— Parece que… — Concluiu. — Mesmo com meus poderes de velocidade, eu tô sempre atrasado.

— Você é um garoto notável, Pietro. 

— Interessante. Sempre ouvi instável. Mas… — Ele deu de ombros. — Alguns arquivos e pessoas dizem que de fato que sou filho de um homem notável.

Antes de responder, Erik ergueu o copo na direção dele, num brinde curto e imaginário.

— Deve ter ouvido dizer que sou um terrorista.

— É, e ouvi isso de mim mesmo também. 

Abriram aquele sorriso ácido, comum aos dois.

Era tarde… Mas, assim como Pietro mencionara em outro contexto, não havia pressa. Estava somente aproveitando uma bebida forte com seu filho, sem ser capaz de realmente enterrar a dor de forma definitiva. Ficaria um pouco mais irritado na manhã seguinte, e quem se importava? Pietro poderia deixar o clima melhor com suas piadas e seu humor cáustico… Não, é claro, que Erik fosse admitir. 

Ele se levantou, disse que já voltava e rumou para o próprio quarto. Retornou pouco depois, com mais um objeto de Wanda a ser incluído na pequena coleção de Pietro. Sentando-se no sofá com uma mistura de cansaço físico e a obrigação de manter a postura, ele entregou o objeto ao filho:

— Eu… fiz essa tiara para Wanda. 

Pietro girou a peça metálica nas mãos, sentindo a textura das bordas e encarando seu brilho avermelhado.

— Me lembra o seu capacete.

— É. Era pra ser uma ferramenta para… Ajudá-la a se concentrar. — Suspirou de novo. Deveria beber mais um pouco? Ou enfim se lançar ao impulso do corpo em descansar? Bem, nada daquilo resolveria as coisas… Mas conversar com Pietro era um começo. — Hmf, faz tanto tempo… Parece até um sonho.

— Um sonho bom? Ou um pesadelo?

Foi impossível não encará-lo fundo, assombrado. Um novo dejá vu, por mais que não fosse exato. Aquele diálogo era quase um fantasma da ocasião em que Erik e Wanda conversaram no metrô em Zurique. Uma recordação bela, distante e quase febril. 

Com calma, se pôs a explicar:

— Um pouco dos dois… Agora só uma memória de uma noite em que tentamos salvar mutantes, o mundo. De novo. Houve uma explosão e nós dois fomos parar abaixo do asfalto, numa estação de metrô. Ela não estava muito consciente, mas… Nós conversamos. — Respirou fundo. — Eu cantei uma música polonesa, imaginando como ela teria sido quando criança. Depois, falei mais um pouco da história que havia me levado até ali.

Pietro absorveu suas palavras com cuidado.

— E como é essa história?

Deu de ombros.

— Triste. A história de um homem que perdeu tudo… E que achava que poderia ter um final feliz com a filha. E então, — Deu mais um gole, acabando a dose em seu copo. Antes de prosseguir, firmou o copo na mesa com um estalo mais alto do que o necessário. — Ele perdeu o pouco que lhe restava. Que homem tolo, não?

— Erik…

— Me perdoe, filho. — Disse ele, um pouco mais alto e fora da compostura que tanto cultivava. Quem sabe fosse o momento, o whisky ou a exaustão que afinal baixassem sua guarda e lhe fizessem admitir que estava errado, que era um tolo e que não tinha absoluta ideia do que estava fazendo. As luzes oscilaram por conta da ondulação magnética vinda de si. — Por te trazer de volta para um sofrimento que eu não mais suportava. É vil. Natalya tinha razão, não deveria ter sido feito. E se eu tivesse conseguido trazer apenas Wanda de volta? Sem ninguém mais que amava? Teria sofrido, é claro. — Ele concluiu, seco. — Eu a teria condenado, assim como condenei você.

Silêncio. Pietro apertou mais a tiara nas mãos, aproximou-se de Erik e lhe apertou o ombro assim como ele tinha feito mais cedo.

— Um homem tolo, de fato. A história não acabou, não é mesmo? Eu estou aqui, pai. E podemos lutar juntos.

Erik levantou o olhar e o encarou como se o visse pela primeira vez. Ou melhor que isso, como se o enxergasse de verdade no azul pálido de suas íris. Pietro não era só um gêmeo de Wanda, alguém quer a mais ou menos parecido com ele ou com Magda dependendo do assunto, e nem era enfim somente a lembrança de que Erik tinha cometido uma transgressão grave. Não. Apesar tudo, ele era seu filho e uma pessoa inteiramente nova que ele gostaria de conhecer e se aproximar.

Mesmo com o receio de perder tudo de novo.

Pietro o abraçou forte e ele se permitiu abraçá-lo de volta. Contra todo aquele sofrimento insustentável, eles resistiriam lado a lado.

 


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Notas finais do capítulo

*O capítulo foi revisado, mas existe a possibilidade deste arquivo ser sabotado pela I.M.A. Caso encontre algum erro (seja gramatical ou de continuidade), favor reporte à Shalashaska.



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