Freddie detestava incensos, não só porque lembravam as loucuras de sua mãe, como também deixavam seu nariz irritado. Para Freddie, incensos eram apenas dores de cabeça, assim como seu novo vizinho ou vizinha. Todos os dias o novo vizinho acendia seus benditos incensos.

Como Freddie sabia? Simples.

Todos os dias Freddie tinha a alergia atacada, pois o cheiro do incenso impregnava em seu apartamento. Faltava pouco para ele andar com uma máscara de oxigênio em sua própria casa.

Tomou coragem para falar com o vizinho da frente, mesmo que ele fosse uma muralha de músculos e socos, Freddie tinha que lutar pelo direito de respirar em paz.

Ele bateu à porta três vezes, espirou duas.

Absurdo.

"Que demora para abrir uma maldita porta"

Segundos depois a porta foi aberta pelos olhos mais belos que ele já havia visto, eram de um azul tão profundo que sentia vontade de se perder neles.

"Puta merda!"

A pequena figura abriu um enorme sorriso ao vê-lo, ela era a criatura mais graciosa do mundo. O rosto angelical formado por belos lábios rosados e cheios, os cabelos da cor do sol pela manhã. Ela era alguns centímetros mais baixa que ele, o corpo moldado por uma regata preta e saia floral que chegava aos pés descalços.

— Olá, posso ajudá-lo? - a bela criatura disse.

Freddie limpou a garganta.

— Eu...eu me chamo vizinho, sou seu Freddie...- disse Freddie, rapidamente. A mulher levantou uma sobrancelha, o riso preso em sua garganta. Freddie queria morrer. - Quero dizer, me chamo Freddie, sou seu vizinho. Moro no apartamento em frente ao seu, - ele apontou para a porta atrás dele. - e queria dar boas-vindas, sabe. Um pequeno costume da maioria que vive aqui. - disse sorrindo. Não era uma mentira, pois as senhoras do prédio sempre se juntavam para isso. Chutaria a própria bunda antes de reclamar sobre os incensos.

— Sério? Que maravilha! Sou Samantha Puckett, mas pode me chamar apenas de Sam. Entre.

" Ela não se importava em convidar um desconhecido para seu apartamento?"

— Ah...claro.

— Espero que não se incomode com os incensos,  me traz paz. - disse Sam, com o rosto corado.

— Não se preocupe, eu adoro incensos. - disse Freddie, tratando de não espirrar pela vigésima vez naquela tarde.

A loira sorriu grande.

— Meus amigos sempre reclamavam, diziam que eu era louca e paranoica. Eu posso te passar o nome dos que eu uso. - ela foi até ele convidando-o para sentar em um dos puffs em frente à televisão. - Estão no meu bloco de anotação.

Freddie praguejou quando ela se abaixou para pegar o pequeno bloco do chão. Ela o tirava de órbita. O doce aroma do perfume de baunilha preencheu seus pulmões quando ela se sentou ao seu lado.

— Ótimo. Sempre me perguntei qual incenso você usava, já que eu posso senti-lo perfeitamente do meu apartamento.

— De verdade? Não sabia que estavam fortes. Bom, você pode ficar com algumas caixinhas também, eu tenho várias. Espere aqui, vou buscá-las.

Freddie até tentou dizer que não precisava, mas Sam levantou tão depressa, que ele precisou engolir as palavras.

Seu nariz iria armar uma rebelião contra ele. A sentença dele e de sua alergia estava assinada.

Outro espirro.

Merda!

Animada, Sam lhe deu as três caixinhas de incensos de morango, lavanda e maçã verde.

Sua alergia pediu socorro.

— Bom, agora posso curtir meus próprios incensos. Obrigado, Sam. - disse Freddie, levantando-se.

— Feliz em ajudar. Se precisar de algo mais... - disse Sam, sorrindo. - ah, fique com isso aqui... - ela disse anotando algo no maldito bloquinho que ainda estava em sua mão. - esse é meu número...caso precise.

Que reviravolta.

— Com certeza irei me lembrar. - ele sorriu de lado. O rosto dela adquiriu um tom avermelhado.

Adorável!

— Terá uma festa essa semana aqui no prédio. Seria ótimo para você se enturmar, e se precisar de companhia...

— Perfeito! - ela sorriu.

— Nos vemos sábado. - ele piscou, o sorrisinho sexy ainda estava lá.

Freddie poderia rir da sua atual situação, pois estava sentado no bonito carpete preto da sala com suas caixinhas de incensos espalhadas pelo chão.

Freddie espirrou.

Pelo menos, agora ele sabia que a nova vizinha era uma beleza loira adorável, tinha o número dela e sairiam juntos no sábado. 

Afinal, incensos não eram tão ruins como Freddie pensava.

Ele poderia viver com sua alergia, mesmo que precisasse gastar todo seu salário em Neosoro.