Páginas Curtas: Oneshots Seddie escrita por meianoitee


Capítulo 2
Last Call


Notas iniciais do capítulo

Um pouco de drama...é legal.



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A lua cheia banhava a cidade de Los Angeles. A beleza inigualável fazia com que pessoas parassem durante alguns segundos só para admirá-la. Mas para Sam, essa beleza já não era encantadora.

Tudo parecia sem cor.

O belo sorriso já não estampava o lindo rosto, e os olhos azuis já não possuíam o mesmo brilho de antes.

Duas agitadas crianças esbarraram nela, fazendo com que o copo de café caísse ao chão, manchando um pouco do simples casaco branco.

Ela suspirou com pesar.

As linhas de cansaço se tornaram visíveis quando ela franziu o cenho limpando os respingos da bolsa preta que imitava couro. Se fosse em outro tempo, ela com certeza faria algo a respeito, porém, apenas continuou a andar...sem ver ou ouvir.

nada mais importava. 

A rua movimentada era um completo pesadelo. Houve uma época em que ela amaria a agitação, pediria um belo cachorro quente em uma daquelas barraquinhas de rua, e também abusaria de gostosos bolos gordos. Hoje, ela era apenas os resquícios dessa Samantha.

A vida não foi nenhum pouco boa com ela. Diferente de seus amigos, Sam não entrou para uma faculdade, não cursou o curso dos sonhos, não encontrou outro alguém que lhe chegasse ao coração. Diferente deles, ela já sabia que seu destino não seria bom. Ela havia tentado, Deus era testemunha do quanto ela tinha se esforçado. Sam foi contratada para atendente de um Fast food, o dinheiro era pouco, mas dava para se alimentar e pagar algumas contas. Nesse mesmo tempo, Pam ficou doente, câncer, e ela junto da irmã tiveram que se dobrar para o tratamento. Não obtiveram resultado, pois um mês depois, Pam acabou falecendo. Foi um choque para Sam, foi onde tudo terminou de dar errado.

O contato com os amigos diminui conforme o tempo. O trabalho novo exigia muito dela, as contas cresciam cada vez mais, e ela estava prestes a ser chutada da pensão em que morava, já que vendera a casa para pagar dividas atrasadas do hospital. 
Mel, sua irmã, não mantinha mais contato com ela depois do ocorrido com a mãe e, honestamente, Sam entendia que não era uma pessoa que alguém gostaria de ter por perto.

A terapia foi esquecida anos atrás. Sam sabia que seu psicológico estava em cacos, como um copo que cai ao chão rompendo-se em vários pequenos pedaços.

Estava cansada.

Hoje, Sam parou para admirar a lua, ela pediu um bom cachorro quente e o banhou com muita mostarda. Hoje, ela observou as pessoas. Respirou o ar frio de Los Angeles, sentindo a brisa gelada bater contra seu rosto. E acima de tudo, lembrou de um antigo amor e amigo.

Em casa, ela buscou o celular em sua pequena bolsa para discar um número tão conhecido.

— Alô! - a voz grossa do outro lado da linha lhe causou uma onda de sentimentos.

— Freddie... - a timidez em sua voz era perceptível. - É a Sam.

— Sammy? Olha quem finalmente resolveu aparecer. - ele sorria. ela sabia apenas pelo modo como a voz soava, era só fechar os olhos e ela seria capaz de ver aquele típico sorriso encantador tão característico dele. - Faz muito tempo desde que nos falamos.

Era a verdade, e a culpa era exclusiva dela.

— Sim, eu andei ocupada... - foi a única resposta que pôde dar.

— Ocupada de mais até para os amigos...para mim?

Ela suspirou.

— Era necessário...

— Eu liguei tantas vezes...até perceber que o número já não pertencia a você. Senti sua falta.

Era algo que ela não precisava ouvir. Ela estava no mais profundo poço, e não levaria mais ninguém com ela.

— Eu liguei para saber como está...  - ela forçou uma alegre voz.- Como está em Nova Iorque?

Freddie suspirou do outro lado da linha.

— Estou bem, pelo menos as coisas estão andando conforme o planejado. Carly me telefonou perguntando sobre você, ela também não conseguiu contato. Ela se casou, não pude comparecer na cerimônia, mas fiquei sabendo que estava maravilhosa.

— Surpreendente. Ela ainda está na Itália? - perguntou curiosa.

— Sim, ela está. você sumiu por anos, Sammy, e...

— É bom saber que está bem...

— Sam, eu sei que está acontecendo algo. Gostaria que confiasse em mim.

— Sempre confiei, mas eu te garanto que estou bem.

Sam não queria falar sobre ela, não queria que ele soubesse que não restou nada dela. Ela tentou segurar uma lágrima solitária, mas foi impossível impedi-la de cair por suas pálidas bochechas.

— Você não diria mesmo se dependesse disso. - Freddie falou com pesar. - Eu gostaria de visitá-la, é só me passar o endereço, Sammy.

Sam escorregou pela parede até o chão do quarto. As pernas já não aguentavam sustentá-la mais.

— Seria uma boa ideia, e lembre de me trazer um pé de árvomôndegas. - ela arriscou uma brincadeira.

Escutou soar um riso abafado do outro lado.

— Como aquela árvore de almôndegas que você tentou plantar quando criança?

— Essa mesma. Lembro que foi minha primeira decepção na vida...ela nunca cresceu.

— Era suspeito de acontecer, não?

— Bom, é o que uma garota faz quando se ganha almôndegas e uma pá de presente de aniversário.

— Pensando bem, eu não conseguiria superar esse presente.

— Não mesmo. - ela sorriu, mas o sorriso não chegou aos olhos.

— Eu pensarei bem nesse desejo único.

— Eu quero que seja feliz, Freddie. Sempre! Nunca desista ou se culpe, promete?

— Do que está falando? Me diga o que está....

— Apenas prometa... é só o que eu preciso ouvir.

— Sam...

— É bom escutar sua voz. Me promete?

— Sim, eu prometo.

— Ótimo.

— Mas Sam...

— Adeus!

A ligação foi finalizada. Ela ainda podia escutar Freddie gritando seu nome em desespero do outro lado da linha. Ela queria apenas que ele cumprisse a promessa que fez, porque com certeza ela cuidaria dele, mesmo estando em algum lugar do universo.

Sam fechou os olhos sentindo aquela leve sensação adormecendo seus músculos enquanto a lâmina trabalhava em seus pulsos. A vista começava  escurecer, e o piso adquiriu um tom avermelhado. Ela sentiu como a vida deixava o corpo. Sua mente em completa calma, e suas memórias passavam como um filme lentamente.

Ela sorriu, um sorriso verdadeiro.

Era hora de descansar.

A voz de Freddie era como a mais doce melodia, fazendo cócegas em seus ouvidos.

É, talvez um dia, eles estariam juntos novamente.

 

 

.

.

Freddie observou Carly colocar um ramo de rosas sobre o túmulo. O rosto inchado, a pele mais pálida que o normal e o olhar perdido, denunciava seu luto. Ele sabia porque se sentia da mesma maneira, ou pior.

Ele se aproximou tocando a lápide onde dizia: Sam Puckett. Amiga, irmã e a melhor pessoa que já existiu.

Sentiu a textura, viu como a neve lhe cobria os dedos. O pesado inferno só ajudava a desenhar mais sua tristeza. Ele deixou em cima uma pequena árvore feita de almôndegas, quem olhasse diria que eram verdadeiras.

Ele havia mandado fazer dois dias depois daquela que seria a última ligação.

— Você amaria, lembra? - suspirou. - eu sempre te amei! - ele evitou chorar. - Um dia... - prometeu.

Talvez ele nunca se recuperasse. na verdade, ele nunca mais seria o mesmo. Um buraco habitava em seu coração, sentia-se vazio. Ele cumpriria a promessa feita. Viveria cada manhã como nunca, até o dia em que, por fim, pudesse reencontra-la outra vez.



 


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