Entre Lobos e Monstros escrita por Nc Earnshaw


Capítulo 3
Tarde do chá


Notas iniciais do capítulo

Este é o segundo capítulo. Estou muito contente com ele, mas triste porque apenas vou ver vocês em fevereiro. Lembrando que as postagens oficiais da história começam no dia 27 de fevereiro. Aproveitem o fim de ano, cuidem-se e bebam muita água. Amo vocês!



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Capítulo 2

por N.C Earnshaw

 

EMBRY CALL, SE SAIR por essa porta… — ameaçou Tyffany. O corpo dela tremia enquanto ela buscava conter as lágrimas que queriam descer pelo seu rosto.

Embry ignorou os gritos de sua mãe sentindo um aperto no peito. Após sua transformação, o relacionamento deles estava péssimo. O garoto não se abria mais com ela, fugia de casa no meio da noite, suas notas estavam horríveis e a escola ligava quase todos os dias para reclamar de sua abstenção. Além disso, ainda tinha os comentários incessantes sobre como ele se encontrava enfiado numa gangue. Não bastando, os fofoqueiros ainda adicionavam que ele fazia uso do que vendia. Pois, como um garoto franzino ganhou aquela quantidade de músculos em menos de duas semanas?! Anabolizantes eram a única resposta que os moradores de La Push conseguiam pensar. 

Para a tristeza de Embry, sua adorada mãe passou a acreditar nos boatos. A relação entre eles ficou desgastada, e era repleta de gritos, lágrimas e castigos; aos quais ele não cumpria. 

O quileute correu até a floresta para despistá-la. Não podia correr o risco de se transformar perto de casa e ter a possibilidade de sua mãe pegar um vislumbre do seu eu lobo. Ele tirou a bermuda do seu corpo com agilidade, e enfiou a peça de roupa num oco de uma árvore para vesti-la depois. Preferia isso a ter que arrastar as roupas por aí com elas amarradas em uma das patas. Além de sujar o tecido, acontecia do pano enganchar em um galho e rasgar, e Embry não poderia se dispor de mais roupas. 

Um segundo depois, estava transformado. Diferente da agonia da primeira transformação, sentiu apenas uma sensação esquisita. Era como uma pontada de dor, mas tão ligeira, que nem seu cérebro conseguia captar. Para a sorte deles, com o tempo, o corpo ia se adaptando, e cada vez mais rápido a matilha mudava de forma. Uns mais que outros. Jacob, por exemplo, desde a primeira transformação não sentiu qualquer dificuldade. E, diferente do Black, que se exibia em saltos no ar, Embry optava por algo menos espalhafatoso em terra firme. 

“Você sabe que sempre tem a opção de contar a ela”. O Call fez uma careta ao ouvir a voz de Quil. A conexão de pensamentos era algo que continuava a incomodá-lo mesmo após tanto tempo. 

“Não é uma boa ideia, cara”, negou ele prontamente. Já tinha tido essa conversa diversas vezes com seus amigos, e eles nunca entendiam seus motivos de guardar o segredo com Sam tendo dado a permissão para contar. “A mamãe não é dessa tribo, e nunca vai aceitar que seu único filho está se transformando num monstro maior que um cavalo”. 

“Então é melhor a tia Ty achar que você está vendendo drogas?”. Embry sentiu o quão desacreditado o Ateara se encontrava, e acelerou suas passadas, desejando focar sua mente na ronda e esquecer um pouco dos seus problemas. Não que Quil fosse deixar… 

“Sabe o que minha mãe faria se soubesse?”. Embry não esperou uma resposta. “Primeiro, ela desmaiaria…”. 

A imagem mental de Quil com Tyffany desmaiando foi compartilhada entre eles, e ambos seguraram uma risada. Respeitavam demais a mulher para rirem dela pelas costas. 

“Depois ela acordaria, juntaria nossas tralhas e iria para o mais longe possível de La Push”. Quil se calou ao sentir o quão triste seu melhor amigo ficava ao falar aquilo. Entretanto, não conseguiu manter o silêncio por mais que dois minutos. 

“Como tem tanta certeza de que ela largaria tudo? Ela tem uma vida aqui!”, lembrou o amigo. “Além disso, você sabe que tem a opção de dizer não, né?”. 

O Call suspirou, sabendo que ele não iria parar de insistir até que ele sanasse todas as suas dúvidas. Quil tinha essa mania chata de superestimar a inteligência alheia. 

“Ei!”.

“Primeiro, minha mãe não gosta de viver aqui. Ela apenas mora em La Push por minha causa. Passa o dia todo trabalhando, nunca teve um namorado e a única amiga que ela tem, mora em Port Angeles”. Embry se forçou a soar entediado e não dar atenção ao bolo que se formava em sua garganta. “Ah! E quando ela liga para a minha avó, escuto ela chorando e dizendo que está com saudade de “casa”. Ela nem considera La Push como casa.”

“Você pode dizer não sobre ir embora”, reafirmou Quil, vendo-se escasso de soluções. 

“Posso. E é isso que minha mãe quer evitar”, retrucou. “Ela não quer deixar seu filho gângster sozinho e sem qualquer supervisão. Então ela daria um jeito de me arrastar mesmo que tivesse que usar força bruta”. 

“Isso é uma droga!”, xingou o Ateara. 

“É a minha vida”, disse Embry, irônico. 

O garoto apreciou o vento no seu rosto enquanto corria. Estava mais próximo da praia e conseguia ouvir o som das ondas se quebrando quando batiam nas rochas, sentir o cheiro do mar e apreciar as nuvens cinzas que apareciam de relance em meio aos galhos. 

“Claire quer fazer outra tarde do chá”, comentou o outro lobo, tentando mudar de assunto. 

Embry gargalhou. As tardes do chá eram famosas entre o bando. Era quando Quil e seu imprinting de três anos de idade, reuniam-se com os bichinhos de pelúcia para tomar um chá invisível em xícaras cor-de-rosa, comer bolinhos de areia e se vestir de princesas. 

“Tenho certeza que você está ansioso”, zoou o quileute, pensando nas semanas animadas que teriam tirando sarro dele. 

“Ótimo amigo você é”. Embry controlou a risada. A infelicidade de Quil em se vestir de princesa era palpável.

“Você sempre pode dizer não”, lembrou.

O rostinho triste de Claire apareceu na mente de ambos e Quil soltou um ganido. 

“Vale a pena fazer isso. Por ela, faço qualquer coisa. Inclusive aguentar um bando de babacas”. 

“Está certo sobre a parte do bando” brincou Embry. 

A resposta do outro foram imagens de Claire brincando e rindo enquanto Quil e ela tomavam chá. 

“Vai logo, idiota”, ordenou ao perceber que tinha perdido a atenção dele pelo resto do dia. A partir daquele momento seria metralhado de memórias da infância de Claire, o quão ela era fofa e do quanto Quil amava ver sua garotinha feliz. “Faço a ronda sozinho”.

“Mas o Sam…”. 

“Ele vai entender”. E entenderia, pois Sam era mais um dos lobos que tinham alguém como centro do seu universo. 

“Obrigada, cara”, agradeceu Quil tentando conter sua animação. 

“Bom chá!”. 

“Ah, vai se ferrar!”. Dois minutos depois, a presença do seu amigo desapareceu e Embry pôde deixar sua mente livre. 

A preocupação que sentia em relação a sua mãe era maior do que queria demonstrar aos outros. Ela era a única família de sangue que estava presente, e não imaginava sua vida sem ela. O imprinting, certamente, um dia viria. Mas ele não conseguia imaginar amar alguém mais do que amava Tyffany Call. 

Embry não tinha ideia do quão equivocado ele se encontrava. 

Uma súbita vontade de saltar do penhasco o acometeu. Estava passando perto da trilha para chegar até lá, e um desejo de sentir a adrenalina tomou conta do seu corpo. Sem pensar nas consequências de sair do perímetro da ronda, voltou a forma humana e foi em direção ao penhasco mais alto. 

Com passos apressados, afastou um galho em seu caminho, estranhando a presença de outra pessoa no lugar. Pelo cheiro, não era nenhum dos seus companheiros de matilha ou qualquer pessoa próxima a si. 

Não precisou se esconder. A mulher, ele identificou, estava com o corpo virado em direção ao mar e parecia não ter ouvido sua aproximação. 

Pela cor da pele, castanho-avermelhado, o Call soube imediatamente que era alguém da reserva. E um alguém muito bonito por sinal. 

As calças jeans que ela usava eram coladas e a blusa branca marcava sua cintura. Cabelos lisos e negros estavam jogados para trás. Para o seu pesar, ele não conseguiu identificar quem era apenas com a visão de suas costas. 

Abriu a boca para chamá-la, entretanto, lembrou-se do seu estado de nudez quando sentiu seu amiguinho balançando livremente entre suas pernas. 

“Droga, ela não pode estar pensando em pular a uma hora dessas”, pensou Embry, preocupado, ao farejar a chuva que viria. 

Ele se empertigou para ver o estado do mar aquela hora da tarde. Estava quase escurecendo, mas ainda tinha alguns resquícios de claridade. Para alguém como ele, construído para resistir a qualquer coisa, nadar aquela hora seria perfeito. Entretanto, para alguém com menos experiência e sem os seus “poderes”, o afogamento seria certo. As ondas estavam muito fortes. 

Embry a observou jogar os sapatos de lado e fitar o céu por alguns segundos. Antes que ele fosse rápido o bastante para impedi-la, a garota saltou. 

O quileute arregalou os olhos e correu até a borda. Ele assistiu o momento que a estranha quebrou a tensão superficial da água, e esperou o momento em que ela voltaria a superfície. 

Um pensamento repentino o fez mudar de ideia. A lembrança de Bella Swan saltando e quase morrendo; não fosse por Jacob, motivou-o a pular atrás dela. 

Sem tempo para manobras, caiu na água e procurou a mulher no mesmo instante. Nadou por vários metros até encontrá-la ainda sob a água, com os olhos fechados e o corpo mole. 

Desespero quase o fez perder as forças e se afogar junto com ela, contudo, a vontade de salvá-la foi maior e o impulsionou para nadar até lá. 

Ele agarrou o corpo dela e tentou nadar até a superfície, mas a mulher começou a se debater e gritar, engolindo mais água. Embry pensou em tentar acalmá-la, mas debaixo d’água não havia essa possibilidade. 

O lobo se sentiu aliviado ao ver que ela estava viva e subiu em busca de ar, pois pelo tempo que se encontravam ali, ela deveria estar à beira da inconsciência. 

Um ofego foi a única coisa que Embry ouviu antes de abrir os olhos. A garota, que ele identificou como uma das ficantes de Paul, tossia e cuspia água, ainda de olhos fechados. 

O quileute analisou os olhos lábios grossos e rosados, sentindo uma onda de constrangimento tomar conta de si. Era a primeira vez que ficava tão perto de uma mulher tão bonita. 

Embry torceu para seu amiguinho não querer marcar presença.

Ele subiu o olhar para analisar seus olhos, e deu de cara com o par mais lindo que já viu. Eram negros e profundos, cheio de segredos escondidos. 

Embry não sentiu o chão sob ele sumir. Todos do bando citavam como a primeira reação do imprinting. O chão desaparecia; algo que não podia acontecer com ele, pois estava em meio ao mar. As pernas ficavam fracas; isso, de fato, ocorreu, mas era algo mais parecido com um formigamento. E se ajoelhar diante delas era quase inevitável; a não ser se estivesse transformado, como Paul, ou dentro d’água, como ele. 

Imagens dos dois juntos e felizes passaram em sua mente como um flash, e ele quase não teve tempo de saboreá-las.

Ela era perfeita e o resto do mundo parecia obscuro perto do seu brilho. A única que o ligava à terra era aquela garota em seus braços, e daria sua vida para fazê-la feliz, pois ele, Embry Call, a amava com todo o seu coração. 

Um estalo o tirou dos seus pensamentos, e ele franziu o cenho ao perceber que ela tinha dado um tapa em seu rosto. 

— Por que me bateu? — indagou Embry, confuso. 

O rosto da garota se retorceu em uma careta furiosa. 

— Você por acaso é idiota? — Erin tentou sair dos seus braços se empurrando para trás. Sem sucesso. O agarre do lobo estava firme e, como ele ainda achava que a estava salvando de um afogamento, não entendeu que ela queria se afastar dele. — Por que me tirou da água? 

— Você estava se afogando — respondeu prontamente. 

Ela bufou alto e cravou as unhas grandes nos braços dele, tentando arrancar alguma reação. Entretanto, as unhas não conseguiram ultrapassar a camada de pele para feri-lo, e a única coisa que tirou do garoto foi um franzir de cenho. 

— Eu não estava me afogando, imbecil! 

Embry arregalou os olhos com inocência. 

— Você estava debaixo d’água por tempo demais. Pensei...

— Pensou errado — cortou ela, sem paciência. — Agora dá pra me soltar?

Embry a largou, à contragosto, mas não se afastou completamente. 

— O que… — Ele começou a perguntar, mas se calou. Ser encarado por ela estava tirando até o seu dom de fala. 

— Eu estava tentando relaxar, Call. Não precisava se estressar — explicou Erin, antes de começar a nadar até a praia. 

O lobo a seguiu. 

— Pulando de um penhasco? Sozinha? — inquiriu ele, sentindo a preocupação o corroer. Embry sentiu suas bochechas corarem. — E sabe meu nome? 

Entre uma braçada e outra, Erin se virou e soltou uma risada sarcástica. 

— É claro que sim. Sei o nome de todos os integrantes da gangue de La Push — debochou a Landfish, apesar de estar estranhando a situação e os olhares esquisitos de Embry. — Eu era amiga do Paul e do Jared — esclareceu. 

— Ah! — Foi a única coisa que saiu dos seus lábios ao lembrar da “amizade” que ela tinha com Paul. 

Erin se ergueu ao perceber que seu pé já estava alcançando o chão e se virou para Embry. 

O garoto olhou para baixo, intimidado pela pose confiante, e se deu conta, com vergonha, que a blusa dela estava transparente.

— Mas obrigada por se preocu-... Obrigada porra nenhuma! — Exaltou-se ela ao acompanhar seu olhar e ver seu sutiã aparecendo. — Você, Embry Call, além de mentiroso é um safado. 

Ele se encolheu ao sentir água ser jogada em seu rosto. Até abriu a boca para se explicar, mas ela estava muito longe para ser alcançada. 

— Imagina se ela tivesse percebido que eu estou pelado — pensou o lobo em voz alta, assustado com a reação dela. 

Ao observá-la andando para longe de si, lembrou seu nome. 

Embry tinha um imprinting por Erin Landfish, a garota mais linda de La Push.

Sua fama de pegadora a perseguia, e todos os caras, dos mais velhos aos mais novos, buscavam sua atenção. Quando fosse contar aos seus amigos, com certeza receberia tapinhas nas costas e piadinhas, pois, apesar de ser a mulher mais bonita que Embry teve o prazer de tocar, tinha um grande defeito. Era apaixonada por Paul.


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