Entre Lobos e Monstros escrita por Nc Earnshaw


Capítulo 23
Bolo de aniversário




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Capítulo 22

por N.C Earnshaw

 

AS HORAS SE TORNARAM DIAS num piscar de olhos. E o dia do aniversário de Embry chegou antes que ele se desse conta. Mesmo que ele estivesse ciente da data, não haveria qualquer resquício de alegria em comemorar mais um ano de sua existência enquanto estava em guerra, lutando contra membros da sua própria família.

O Call não sabia muito bem o que pensar sobre a criatura crescendo dentro da barriga de Bella. As imagens repassadas por Jacob eram grotescas; uma vez que a garota saudável parecia uma morta-viva esquelética. No entanto, ele não parava de se questionar se atacar aquela família antes de ter certeza que a criança ia se tornar um monstro maligno era o correto. Principalmente quando seu irmão estava do outro lado da batalha. 

A sorte de Embry era que os outros estavam tão focados em seus medos e problemas, que não deram atenção aos pensamentos do quileute em relação ao seu irmão mais velho. 

Descobrir que Daniel Lahote era seu pai, tinha sido um golpe doloroso. Ele era um homem cruel que espancava seu próprio filho e tratava-o feito lixo. 

As memórias que Paul deixava escapar voltaram vívidas em sua mente, e Embry nunca foi tão agradecido por ter sido privado de sua figura paterna durante toda a sua vida. 

A culpa tomou conta do seu coração ao lembrar da última briga com a sua mãe. Ela estava errada em esconder aquilo dele, entretanto, o quileute sabia que Tyffany apenas queria protegê-lo. Talvez, se ela fosse uma mulher mais fraca, ele tivesse sofrido coisas muito parecidas com as quais Paul sofreu. 

“Não podemos atacá-los essa noite”, pronunciou-se Quil, irritado com toda a situação. “Além de eles saberem todos os detalhes do nosso plano, estava com quatro membros da matilha a menos”. 

“Lutar contra eles me parece estupidez”. Embry se arrependeu assim que pensou naquelas palavras. Sam estava com os nervos à flor da pele e parecia prestes a estourar em cima de qualquer um que o provocasse. “Estamos claramente em desvantagem. Lutar contra oito vampiros e quatro do nosso próprio povo? Não consigo nos enxergar vitoriosos”. Na verdade, ele não conseguia enxergá-los saindo vivos daquela batalha. 

“Paul não vai lutar”, afirmou Jared com uma certeza que chegou a incomodar Embry. O garoto tentou afastar aquele ciúme bobo. Sem êxito. Era incômodo saber que o Cameron era muito mais próximo do seu irmão do que ele jamais seria. “Ele pode estar ao lado deles por causa da Wendy, e não vai nos ajudar a lutar contra os Cullens em consideração aos sentimentos dela. Mas não acredito que ele estará apoiando o nascimento desse bebê monstro. Não quando a vida da vampira está em risco. E não quando a Bella e o Jacob estão envolvidos nessa história”.

Por mais que Embry não quisesse concordar, aquilo fazia sentido. Ele não conseguia imaginar como Paul Lahote concordaria em proteger uma criatura que poderia nascer e acabar machucando o seu imprinting. Principalmente quando a mãe do bebê era uma garota que ele não suportava.

A presença de Jacob somente o deixaria ainda mais arisco, e o Call mal podia imaginar o trabalho que Wendy estava tendo, tentando evitar com que eles se matassem. 

“O Paul não deixou o bando”, adicionou o Uley. Ele parecia tentar focar seus pensamentos no que estavam discutindo, entretanto, sua mente sempre o levava de volta ao sentimento de traição que experimentou ao se ver abandonado pelas pessoas que ele considerava família. “Ainda consigo sentir a presença dele”.

Era bizarro, contudo, Embry também sentia que o Lahote continuava a fazer parte da matilha — diferente de Jacob, Leah e Seth, que desapareceram completamente como se nunca tivessem estado ali. 

“Então como faremos? Não podemos tocar na Wendy, mas tenho certeza que ela vai lutar para proteger a família”. O Call não deixou de externar sua principal preocupação. Tinha se apegado a vampira e a considerava uma grande amiga. Pensar em sequer tentar machucá-la embrulhava seu estômago. “Também não consigo me imaginar machucando o Seth…”.

“Chega, Embry!”. O grito de Sam o fez se calar imediatamente. Por mais que sua opinião não pudesse ser mudada, não conseguia continuar discutindo sobre ela quando tinha recebido uma ordem direta do alfa. “Vamos saber quando chegar a hora. Nossa missão é proteger a tribo de perigos como esse, e por mais que nossos antigos companheiros tenham esquecido sobre o motivo de existirmos, eu não esqueci”, determinou o alfa com a voz de comando. “Vou precisar de todos continuando a fazer ronda na linha do tratado até conseguirmos uma brecha ou criarmos um novo plano de ataque”.

“Preciso ir avisar a Kim”. Embry sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. Arrependeu-se no mesmo segundo de não ter contado a Erin sobre sua vida dupla. Como falaria a ela que não iria aparecer em casa por um tempo indeterminado? Como iria lidar com a sua mãe quando ela se desse conta desse fato? 

Não poderia aparecer repentinamente em casa, contar ao seu imprinting que se transformava em um lobo gigante e estava prestes a entrar em guerra contra vampiros que antes eram seus aliados. E que, aliás, a garota que a ajudou quando ela mais precisava, também estava envolvida naquilo. Oh, e Embry não poderia esquecer de contar que o seu irmão mais velho, antigo caso dela, era um lobo assim como ele. Brilhante. 

“Vamos revezar para dormir um pouco e comer”, continuou Sam, recusando-se a prestar atenção nos problemas dos outros lobos quando encontravam-se enfiados até o pescoço em problemas mais importantes. “Colin e Brady, vocês serão os primeiros, seguidos de Quil e Jared. Embry e eu seremos os últimos”.

O Call sentiu-se como uma criança mal comportada precisando de uma babá mais severa. Ele sabia que tinha sido colocado para fazer toda a ronda junto com Sam porque o alfa não confiava que ficaria ao lado deles por muito tempo. O Uley achava que no instante em que ele tivesse uma brecha, correria para o lado de Jacob para proteger os vampiros — principalmente porque o Black era um dos seus melhores amigos.

Ele estava errado. 

O relacionamento entre Embry e Jacob tinha se tornado esquisito após o dia em que o outro lobo atacou Wendy. O Call não conseguia olhar para ele com os mesmos olhos, e não tinha nem sequer tentado se aproximar dele após sua volta. 

Mesmo antes de saber que Paul era seu irmão, sentia que se começasse a tratar Jacob como se nada tivesse acontecido, estaria de alguma forma o traindo. Embry tinha se tornado um bom amigo para Wendy, e se aproximado do Lahote depois de anos.

O Call não podia dizer que não conhecia Paul — mesmo que seu coração achasse que não tinham tanta intimidade quanto irmãos deveriam ter. Com a conexão mental da matilha, raros eram os segredos que ficavam debaixo dos panos. Então ele o conhecia, mas não como Jared, por exemplo. O Cameron conseguia saber até como o Lahote ia agir mesmo ele não estando nem presente para se pronunciar, e isso incomodou Embry, pois sentia que não era tão importante na vida do seu irmão quanto deveria ser. 

O garoto não dava a mínima para ter perdido anos da sua vida sem pai. Que se danasse as experiências que teria com aquele homem escroto. No entanto, ele sentia raiva pelo tempo perdido com Paul. Se Embry soubesse que ele era o seu irmão, teria feito de tudo para protegê-lo… Droga. Se não fosse forte o bastante para defendê-lo, apanharia no lugar dele, se fosse preciso. 

Enquanto as primeiras duplas trocavam de turno, Sam e ele eram os únicos transformados e capazes de ouvir os pensamentos um do outro. Perdidos cada um em suas próprias angústias. Por alguns segundos, Embry esqueceu da presença dele ali, deixando sua mente levá-lo para o momento em que Erin mostrou-o a caixinha em que continha a resposta do segredo que tomava conta da matilha desde que o Call havia se transformado. 

“O Paul é o seu irmão?”. Além da óbvia surpresa no tom de voz mental de seu alfa, Embry conseguiu sentir também uma leve pontada de alívio. A verdade era que Sam, segundo os membros da matilha, era o mais provável a ser seu irmão — uma vez que o Uley pai tinha abandonado a mãe dele quando ele tinha pouco mais de quatro anos e fugido para Deus sabe lá onde. Se um irmão aparecesse repentinamente, ele teria que dividir todos os bens da família; mais precisamente a casa em que Emily e Sam moravam.  

O Call entendia o lado do alfa. Eles não possuíam muito para dar conforto às suas companheiras. Não duravam em qualquer trabalho por causa das horas malucas de ronda e as notas da escola eram péssimas demais para qualquer um deles sequer cogitar um dia frequentar alguma universidade. Ter que dividir o pouco que ele tinha para oferecer, seria como tirar o chão sob os pés do casal de noivos. 

Embry imaginava que Quil e Jacob sentiriam o mesmo. Por mais que fossem amigos, imaginar que seus pais foram infiéis às suas mães atingiam os garotos de formas que envergonhavam o lobo.

O pai de Quil tinha morrido numa pescaria quando ele era muito pequeno, e o quileute tinha sido criado pelo seu avô, pai da sua mãe, desde que se lembrava. Apesar de não ter conhecido o homem, o Ateara tinha criado uma imagem de um herói para o seu pai, deixando-o desconsolado ao saber que ele poderia ter um irmão bastardo. 

Para Jacob chegava a ser pior. Sua mãe tinha morrido num acidente de carro; ao qual deixara seu pai paraplégico, e as únicas memórias que ele tinha era do seu pai sendo extremamente devoto à sua mãe. Billy Black amava tanto sua esposa, Sarah, que era difícil sequer de pensar que ele chegou a traí-la um dia. 

Embry não entendia como Daniel Lahote não estava dentre os suspeitos de ser seu progenitor. Fazia todo sentido ele ser filho dele. Ele era um homem violento, que não se importaria em trair a própria esposa e era descendente de um dos primeiros lobos.

“Parece mesmo estúpido da nossa parte não pensar no Lahote como seu possível pai”. Sam quebrou a linha dos seus pensamentos, fazendo-o voltar para a realidade. “Quando vai contar ao Paul?”. 

Embry revirou os olhos. 

“Vou pensar nisso se ambos ficarmos vivos depois de toda essa merda”, vociferou o Call, deixando o outro espantando. Diferente do seu irmão, ele tinha um temperamento calmo e maleável, mas nos últimos dias estava se mostrando muito parecido com Paul.

Embry não deu abertura para mais perguntas, pois Colin e Brady tinham se transformado, e ele não gostaria que mais pessoas soubessem sobre seus segredos familiares. Ele sentiu-se grato por Sam ter conseguido controlar seus pensamentos em relação ao assunto, e suspirou de alívio quando se transformou de volta para a forma humana e caminhou até sua casa.

A saudade que sentia de Erin era tanta, que doía fisicamente. Seus músculos gritavam por descanso, no entanto, sua pele clamava pela pele de sua companheira na sua. Seu coração queimava com ânsia de vê-la novamente, e ele apenas desejava sentir seu cheiro e, quem sabe, seu gosto. Os dias que passou longe dela foram torturantes, e o medo que ela não o perdoasse pelo seu sumiço fazia com que um bolo se formasse em sua garganta e ele tivesse que controlar as lágrimas que queriam escorrer pelo seu rosto. 

Saber que passaria somente algumas horas ao lado dela, fazia com que ele quisesse gritar. Não era justo ter sido enfiado numa guerra e ser forçado a negligenciar a pessoa que mais amava em todo o universo. 

A faixa escrita “Happy Birthday, Embry” foi a primeira coisa que atraiu sua atenção assim que o quileute abriu a porta com a chave reserva, ao qual ele escondia no oco de uma árvore próxima à sua casa junto com algumas peças de roupa. Ele passou os olhos pelo calendário pregado na porta da geladeira e teve que morder a própria bochecha para não socar alguma coisa. Era, de fato, o dia do seu aniversário. E Erin tinha feito uma festa surpresa para ele, mesmo sem saber se o garoto iria aparecer em casa depois de dias. 

Embora tivesse sentido a presença da Landfish sentada na poltrona desde o instante que se aproximou de casa, ele não conseguiu criar dentro de si, coragem para encarar o rosto dela — mesmo que adormecido. 

O bolo tinha a decoração mais ridícula que ele já tinha visto na vida. Coberto com uma cobertura de chocolate, Erin tinha tentado fazer algum tipo de animal desenhado com o granulado colorido — que dias depois ele descobriu ser um lobo, símbolo dos quileutes. Ela não tinha obtido muito sucesso, entretanto, a boca de Embry se encheu de água ao sentir o cheiro e ao imaginar-se provando uma comida feita pelas mãos do seu imprinting. 

Ao lado do bolo tinha um pacote bem embrulhado, que o Call deduziu ser o seu presente de aniversário. Ele não se atreveu a mexer, uma vez que desejava receber aquilo diretamente de Erin para poder abraçá-la com força, e se afastou da bancada no mesmo instante. 

O ressonar da garota atraiu sua atenção, fazendo-o perceber o quão desconfortável era a posição em que ela dormia. As pernas estavam dobradas em cima da poltrona, encolhidas contra o seu abdômen, e o pescoço encontrava-se caído sobre o próprio ombro dela, sem qualquer tipo de apoio. 

As mãos dele tremeram assim que ele decidiu levá-la até o quarto para dormir de uma maneira mais confortável. Tocar a pele de Erin depois de tanto tempo era como ladear fogo em si mesmo. Cada partícula do seu corpo queimava por ela, clamava por ela. E, apesar de nunca ter podido sequer beijá-la, o mínimo toque parecia o suficiente para tomar sua mente com pensamentos sobre a garota. 

Ele levou-a com cuidado até a cama, desejando deitar ao lado do seu amor e dormir por dias. Embry estava exausto e faminto, e a presença dela era a única coisa que o acalmaria naquele momento. 

A fome venceu. E ele se dirigiu até à cozinha com a promessa de que aproveitaria o restante das horas ao lado dela. Procurou algo que o agradasse tanto quanto o bolo. Sem sucesso. Desculpando-se mentalmente com Erin, ele cortou uma fatia fina do bolo e comeu. 

Cortar outra não faria diferença, pensou Embry. E quando viu, já tinha comida metade do bolo e sentia um arrependimento ferrenho. Além de não ter comparecido para a festinha que seu imprinting havia feito, tinha tido a cara de pau de comer o bolo quase por inteiro. 

Ele se aconchegou ao lado de Erin sentindo culpa — não apenas pelo bolo. Mas sentiu um certo alívio quando a Landfish procurou pelo seu corpo assim que o sentiu na cama. Ela encostou a cabeça sobre o ombro dele, passando o braço por cima do seu estômago e enroscando suas pernas umas nas outras. 

A paz não durou por muito tempo. Três horas depois, teve que se erguer da cama aconchegante e despedir-se do seu imprinting sem saber quando a veria novamente. Estava no meio de uma guerra, afinal. 


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