Entre Lobos e Monstros escrita por Nc Earnshaw


Capítulo 21
Sopa de legumes




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Capítulo 20

por N.C Earnshaw

 

MESMO COM AS RONDAS que o faziam virar a madrugada acordado correndo quilômetros sem descanso, Embry fazia questão de acordar no horário em que Erin saía para trabalhar — ao menos nos dias em que ela pegava os turnos da manhã. O sono, certas vezes, tentava ganhar o melhor sobre ele. No entanto, assim que ele ouvia os passos ritmados pela casa, levantava-se num pulo, visto que nunca sabia se aquela seria a única interação que teria com seu imprinting em horas. 

Eles tinham estabelecido uma rotina antes que se dessem conta. Ambos tomavam café-da-manhã juntos, aproveitando para jogar conversa fora enquanto preparavam a refeição. Depois, Erin fazia questão de levá-lo na porta do colégio e observá-lo entrando junto com os outros estudantes. 

Embry nem sempre assistia às aulas

Nos dias de ronda, fingia que entrava, mas fugia para a floresta quando ouvia o carro da garota se distanciar.  

Seu coração aquecia ao saber que ela se preocupava com o seu futuro, entretanto, os segredos estavam começando a irritá-lo. Queria falar abertamente sobre tudo com Erin, inclusive sobre a sua vida secreta de protetor da tribo. A única coisa que o segurava, era o receio de ser rejeitado ao falar do imprinting. Queria conquistar Erin sem que ela se sentisse forçada a corresponder seus sentimentos, e seu coração não estava preparado para receber uma resposta negativa. 

Embry não compreendeu porque seu corpo despertou tão abruptamente no meio da noite. Ele olhou o relógio de cabeceira da sua mãe e suspirou quando viu que faltavam apenas dois minutos para as quatro. Para se assegurar que tudo estava bem, ele apurou seus sentidos, ouvindo apenas o tamborilar calmante das gotas de chuva caindo no telhado e o respirar profundo do seu imprinting. 

O quileute tentou fechar os olhos para voltar a dormir, no entanto, parecia que o sono tinha fugido completamente do seu corpo. A única imagem que vinha à sua mente era a de Erin. E apesar de saber que ela estava bem e respirando, alguma coisa no fundo da sua mente berrava para que ele fosse se certificar com os próprios olhos. 

Ele jogou a coberta de lado apressadamente, não se importando em acender qualquer luz no caminho — uma vez que seus olhos conseguiam enxergar muito bem mesmo naquele breu —, e caminhou sem hesitação em direção ao seu antigo quarto. 

Tentando não acordá-la com o ranger da madeira, ele abriu a porta com cautela e xingou baixinho quando não obteve êxito em ser silencioso. 

Era a terceira vez que Embry a via dormindo, e ele não conseguia se cansar de apreciar a maneira fofa com que Erin sempre se cobria com milhares de cobertores como se estivesse criando seu próprio casulo. Nas vezes em que ela deixava o rosto para fora, ele podia apreciar as bochechas vermelhas e os lábios entreabertos. 

Após minutos observando-a dormir, o garoto se deu conta do quão bizarro estava sendo. Ele deu um passo para trás, tentando forçar seu corpo a deixar o quarto, entretanto, a vontade que tinha de implorar para Erin deixá-lo dormir com ela quis tomar o controle de suas ações. O lobo aceitava até mesmo dormir no chão se fosse para se manter próximo a ela. 

O garoto se repreendeu, e estava quase saindo do quarto quando ouviu uma vozinha rouca pelo sono chamar seu nome. Ele deu meia volta e, ao olhar para o rosto de Erin, viu que ela ainda dormia profundamente. A pele avermelhada brilhava pelo suor e o lobo então decidiu tirar uma daquelas cobertas de cima dela para deixá-la dormir mais confortável.

Logo que retirou o lençol grosso, percebeu que o corpo dela tremia em espasmos e sua pele irradiava um calor anormal. Se ela fosse uma loba, assim como ele, aquela temperatura não o preocuparia. Contudo, o Call sabia que a garota não estava prestes a se transformar, já que não estava dando quaisquer sinais físicos. 

Sem saber como agir para baixar a febre, ele pensou em levá-la até o hospital, mas descartou a ideia ao lembrar da chuva torrencial que caía lá fora. Mesmo que ele tivesse a velocidade dos vampiros para carregar Erin até o carro — dado que a garota tinha deixado o automóvel do lado de fora —, a quileute ainda se molharia. 

Sua outra opção era contatar o médico dos Cullens. Ele era o melhor da região e não negava ajuda aos quileutes quando eles precisavam. Entretanto, um pequeno empecilho o fez xingar baixinho enquanto tirava a outra coberta de cima de Erin. Não possuía o número do telefone do Dr. Presas — apelido dado ao sogro pelo seu genro favorito, Paul. 

Ele lembrou de ter anotado o telefone de Wendy no dia em que tinha ido convidar Erin para morar em sua casa. A vampira havia insistido para que ele ligasse quando precisasse de qualquer coisa, e o lobo lembrava de ter guardado o papel no bolso de um dos seus shorts. 

Ele abriu a gaveta onde guardava suas poucas roupas, e retirou as peças de qualquer jeito, jogando no chão as blusas e checando os bolsos das bermudas. 

Embry agradeceu a todos os ancestrais quando sentiu com a ponta dos dedos um pedaço de papel, e quase chorou quando viu que, de fato, estava escrito o número de Wendy nele. 

— Embry? — chamou Erin com os olhos entreabertos. — O que está fazendo? 

Ele correu para se agachar ao lado dela, aliviado por ouvir sua voz.

— Está tudo bem, amor — garantiu, acariciando as bochechas rosadas com as costas da mão. — Vou cuidar de você. 

— Estou com frio. — O choramingo fez com que Embry quisesse chorar também. Odiava ver seu imprinting tão vulnerável, e pedia a tudo que era mais sagrado, que nada de errado acontecesse com ela. — Onde estão meus cobertores? 

Embry não era médico e fazia anos que não ficava doente. No entanto, sabia que quando alguém estava com febre alta, a única solução era tentar baixar sua temperatura. 

Ele esqueceu completamente da ideia de ligar para Wendy. Após tentar se acalmar, lembrou-se de como sua mãe cuidava dele quando era criança. 

Deixando Erin sem resposta, ele correu até o quarto de Tyffany à procura da caixa onde ela guardava todos os remédios, o termômetro e algumas ervas. Suspirou de alívio quando a encontrou em cima do guarda-roupa e voltou rapidamente para o lado do seu imprinting. 

A quileute tentou afastar as mãos de Embry quando sentiu o termômetro gelado tocando sua axila. Seu corpo tremia pelo frio, e tudo que ela queria era se enrolar em várias camadas de cobertores para se aquecer. 

O Call teve que segurar os braços dela com uma das mãos para conseguir colocar o aparelho no lugar certo. Ela tentou resistir nos primeiros segundos, mas o aperto era firme e não deixava espaço para que ela se soltasse. 

— Minha mãe quase descobriu uma vez onde eu guardava as revistas — contou, tentando distraí-la. Os olhos da garota não se encontravam tão focados quanto o normal, no entanto, ela ainda possuía certa consciência para prestar atenção na revelação que saiu pelos lábios de Embry. — Acabei trocando por revistas de carros para disfarçar, e guardei as mais interessantes num lugar secreto. 

Ele sorriu quando a ouviu soltar uma risada estrangulada. 

— Fico feliz em saber que não estou corrompendo sua inocência. 

101,12 °F. Comparado aos seus 108 °F, não parecia tão preocupante. Ele acreditava que algumas compressas de água fria e alguns antitérmicos ajudariam a baixar a febre. 

Erin caiu no sono após tomar os comprimidos, e Embry velou seu sono durante o restante da noite, trocando os panos de sua testa até que a temperatura dela voltasse ao normal. Quando percebeu que a febre não voltaria, voltou a cobrir o corpo pequeno com apenas um cobertor e deitou sua própria cabeça próxima a dela. Estava sentado no chão duro, entretanto, não encontrava-se muito preocupado com seu próprio conforto. 

Exausto, com um último pensamento de levar Erin para o hospital se ela não estivesse recuperada pela manhã, o lobo acabou caindo no sono. 

Erin abriu os olhos lentamente, sentindo cada músculo do seu corpo se contrair de dor. As memórias da noite anterior voltaram aos poucos, e a quileute se emocionou ao olhar para o lado e ver a figura de Embry dormindo sentado. 

Ela não queria admitir para si mesma que estava sentindo algo a mais por aquele garoto tímido e atencioso. O Call tinha mexido com os seus sentimentos desde a primeira vez em que se viram naquele penhasco, e a tinha conquistado pouco a pouco com a sua gentileza. 

A Landfish, no entanto, negava até mesmo para si mesma que estava se apaixonando por Embry. Além de ele ser alguns anos mais novo, não queria apressar as coisas como fizera com Paul para descobrir depois que tudo não passava de uma mera atração. Ela tinha medo de estar apenas sendo levada pela sua carência e acabar magoando a pessoa mais incrível que tivera o prazer de conhecer em toda a sua vida. 

Alguma coisa no fundo de sua mente gritava que daquela vez seria diferente, entretanto, Erin não confiava em si mesma o bastante. Apesar de estar dentro de sua própria mente, não sabia na maioria das vezes como seu corpo ia agir ou quais palavras sua boca iria formar. Meses antes, sua impulsividade era o que a fazia se divertir livremente, mas com o tempo, apenas se tornou uma coceira irritante com a qual ela não conseguia alcançar para se aliviar. 

Os cabelos de Embry eram tão macios quanto ela pensou que seriam. Eram lisos, e ele deixava num comprimento que deixava uma franjinha discreta na parte da frente. 

Aquele corte de cabelo somente reafirmava o que ela pensava. Ele era jovem, apesar de agir com muita responsabilidade, e tinha uma vida toda de experiências pela frente. 

A Landfish não se achava velha demais para ele por causa da idade. O garoto, pelo que soubera por Tyffany, chegaria à maioridade em poucos dias. No entanto, em relação a relacionamentos, ela estava a anos-luz de distância. 

Por todos os ancestrais! Ele era virgem. E ela imaginava que devia ser crime em algum país ter pensamentos tão pecaminosos sobre alguém tão inocente. 

Quando olhava para Embry, via um coelhinho fofo e meigo, e se sentia como o lobo mau querendo desvirtuar-lo. 

Era bizarro o quanto queria arrancar as poucas peças de roupa que ele usava e sentar nele até suas pernas travarem pelo cansaço. 

Ela não sabia qual demônio tomou conta do seu corpo. Mas quando viu, tinha erguido metade do corpo na cama e encostado a boca próxima ao ouvido de Embry, lembrando da história que o quileute contara sobre suas revistas quando achava que ela estava delirante pela febre e não se lembraria de nada que ele dissesse. 

— Vai me contar onde é esse lugar secreto? 

Ele despertou mais rápido do que ela achava ser possível. Assustado ao ouvir a voz do seu imprinting acordado, levantou-se num pulo, quase batendo sua cabeça na de Erin com o movimento. 

— Você está bem? — inquiriu, colando as pernas na madeira da cama. Embry pensou em se sentar ao lado dela, porém não sabia se era uma boa ideia porque não desejava invadir seu espaço pessoal. — Você me assustou durante a noite! Se não estiver se sentindo bem, vou te levar até o hospital e...

— Ei! — Erin segurou uma das mãos dele, entre as suas, na tentativa de acalmá-lo. — Estou bem. Olha… — Ela levou a mão dele até a sua testa. — Sem febre. Acho até que posso ir trabalhar — brincou. 

Embry fez uma careta, não gostando nada daquela história. A febre de Erin até podia ter cedido aos remédios, mas não tinha como garantir que não voltasse. Era absurdo para ele a ideia de que ela fosse passar mais de 6 horas atendendo mesas e correndo de um lado para o outro após passar uma noite inteira delirante. 

Pelas olheiras profundas e os ombros caídos, o Call sabia que, por mais que ela tivesse dormido, não tinha sido um sono confortável com o qual ela podia sentir-se descansada para fazer qualquer coisa. 

— Vou até o mercado comprar alguns ingredientes para fazer uma sopa — informou ele, virando-se para pegar uma camisa no guarda-roupa. Por mais que não achasse necessário aquelas peças para se aquecer, precisava usá-las para evitar olhares desconcertantes e piadas idiotas. Apesar de estar na reserva e a maioria das pessoas estarem acostumadas com a visão de garotos grandes e semi-nus, algumas tendiam a ficar um pouco ariscas em sua presença. — Posso passar na lanchonete para avisar que você está doente. 

O semblante vazio da Landfish o fez adicionar com insegurança: — Ou podemos ligar, quem sabe?

— Não posso faltar sem ter avisado com antecedência. — Aquela frase deixou Erin com uma aparência ainda mais cabisbaixa. — Carl já está no meu pé há um tempo, se eu sair da linha…

— Você confia em mim? — O lobo se sentiu aliviado por não gaguejar na presença do seu imprinting. Era libertador sentir-se confortável ao lado da pessoa que mais amava em todo o universo. Ele finalmente podia ser quem era de verdade, assim como falar o que pensava sem ter medo de parecer ridículo. 

— Confio. — As palavras saíram da boca de Erin antes que ela se desse conta. No entanto, apesar de ter sido pega de surpresa, não se arrependeu. Confiava em Embry com todo o seu coração e sabia que ele nunca a prejudicaria intencionalmente. — Mas o Carl…

— Eu me resolvo com o Carl — garantiu, sorrindo de lado. Ele não gostava de se gabar, mas a matilha tinha uma grande influência na comunidade; apesar de nem sempre serem aceitos, eram eles que se asseguravam do bem-estar da tribo. — Vai ficar bem enquanto eu estiver fora? 

Embry tinha medo de forçar demais e se tornar sufocante. Ele não queria que Erin se sentisse pressionada pelos seus cuidados. Contudo, naquele momento, após passar horas cuidando dela, não conseguiu conter a sua preocupação. O lobo dentro de si, rosnava para que ele não se afastasse, entretanto, seu imprinting precisava comer algo que trouxesse de volta suas forças e o quileute não via outra alternativa. 

— Não sou criança, Embry. — Ela se corrigiu quando viu o rosto dele se entristecer. — Vou ficar bem. Prometo

Ele abriu um sorriso largo, e quis soltar uma gargalhada quando ouviu os batimentos cardíacos de Erin acelerar. 

— Precisa de alguma coisa antes que vá? 

Ela negou, voltando a se deitar com um sorriso faceiro. Embry a observou por alguns segundos e a cobriu até o pescoço com a coberta que estava embolada em suas pernas. Antes de sair, deu um beijo cálido em sua testa, aproveitando para sentir seu cheiro mais de perto. 

Seu maior desejo era poder protegê-la em seus braços e ficar tão próximo a ela quanto fosse possível fisicamente. Entretanto, ainda não era possível. Quando dessem o próximo passo em seu relacionamento, desejava que Erin sentisse algo parecido com o que ele sentia por ela. 

Por mais que acreditasse que o amor dele era o suficiente para manter uma cidade, ele se pegou desejando mais

 


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