Entre Lobos e Monstros escrita por Nc Earnshaw


Capítulo 20
Sorria e acene




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Capítulo 19

por N.C Earnshaw

 

ERIN APRESSOU EMBRY para que ele saísse de uma vez, antes que sua mãe tirasse sua atenção da cozinha e o visse querendo fugir de casa. Ela não compreendeu muito bem o que ele quis dizer com as promessas que tinha feito para Tyffany, mas alguma coisa dentro dela a dizia que tinha algo a ver com sua estadia ali. 

Após observar o quileute sumindo entre as árvores, a Landfish voltou para a mesa em passos lentos, pensando na desculpa que falaria para mãe de Embry quando ela percebesse a ausência do filho. 

— Embry tem razão — pronunciou-se Erin ao comer da torta. — Isso aqui é uma delícia. 

— Sei que ele saiu, querida. Não precisa tentar me distrair. — Tiffany possuía uma expressão cansada no rosto e encarava um ponto na mesa fixamente. Ela não conseguia compreender o que tinha acontecido com o seu menino nos últimos anos. Ele era um garoto obediente, raramente faltava às aulas e nunca se metia em problemas. De repente, a escola começou a ligar avisando de suas faltas e de suas notas baixas, ele não respeitava mais suas ordens e passava a madrugada fora de casa. — Ele te disse para onde ia? 

Erin balançou a cabeça, negando. Não conseguiu encontrar sua própria língua para tentar acalmar a mulher. 

— A culpa é minha — desabafou Tiffany, parecendo tentar controlar o choro. A garota arregalou os olhos levemente, mas colocou sua mão sobre a dela, que estava pousada em cima da mesa, tentando lhe enviar forças. Queria apoiá-la de alguma forma. — Passo tempo demais trabalhando e deixei a criação do Embry um pouco de lado. Confiei numa criança para se virar sozinha porque precisava colocar comida sobre a mesa. 

A Call mordeu o lábio inferior. As lágrimas já escorriam pelo seu rosto, e a Landfish não tinha ideia do que dizer para consolá-la. 

— Eu fui uma péssima mãe, Erin. E o meu bebê agora está se envolvendo em coisas que me deixam enjoada apenas de pensar. — Tyffany levantou a cabeça, pegando um leve vislumbre da poltrona da sala. O brilho que passou pelos seus olhos foi tão sombrio, que o corpo de Erin se arrepiou por inteiro. — Talvez, se eu tivesse escolhido um pai decente para ele ao invés de um vagabundo infeliz, eu não precisasse passar mais tempo no trabalho do que em casa. — A mulher cerrou os punhos. — Fui uma jovem tão estúpida. Acabei me levando por palavras bonitas e presentes bobos. 

A mente de Erin a lembrou da caixinha de madeira que havia encontrado com aquelas iniciais. D.L era o pai de Embry, e a Landfish sentiu a curiosidade tomando conta de si. 

— Maldita hora a que eu decidi morar nesse lugar. 

— Embry não sabe quem é o pai — afirmou Erin delicadamente, observando como a postura de Tyffany se transformou. Parecia que a mulher tinha se dado conta que havia falado mais do que devia. Aparentemente, os boatos que ela tinha engravidado de alguém da reserva quileute, eram verdade. — A senhora nunca pensou em contar para ele? 

Tyffaby soltou uma risada seca. 

— Aquele desgraçado não soube nem cuidar do filho que tinha, quem dirá do meu. — Ela balançou a cabeça de um lado para outro, tentando espantar as lembranças de um passado que apenas desejava esquecer. — Embry está melhor sem ele. 

Para encerrar a conversa, a Call se ergueu da cadeira e levou os pratos para a pia, guardando o de Embry no microondas. 

Um silêncio constrangedor se iniciou. Erin não conhecia muito bem a mulher, então não sabia quais assuntos puxar. Elas não tinham intimidade para a maioria dos tópicos que passaram pela sua cabeça. 

— O Embry é a pessoa mais incrível que eu conheço, Sra. Call. Acho mesmo que ele esteja escondendo alguma coisa, mas não acredito que esteja envolvido com nada fora da lei. — Tyffany continuou de costas para ela. Parecia estar chorando pelos movimentos de seus ombros. — Não sei se isso serve de algum consolo, mas vou ficar de olho nele e tentar descobrir o que está rolando. 

Ela não esperou um agradecimento ou nada do tipo. Encontrava-se quase atrasada para o seu turno na lanchonete, e não podia perder um dia de trabalho quando precisava tanto da grana. Carl ainda estava cismado com ela por causa das minhocas que Andy colocava em sua cabeça, então teria que andar na linha para não ser demitida. A ida ao mercado teria que esperar para o dia seguinte ou para depois do seu expediente — se é que Embry chegaria a tempo. 

Assim que passou pelas portas da cozinha já vestida com seu avental e com seu cabelo preso firmemente, dois braços calorosos passaram ao redor do seu corpo e a embalaram num agarre de urso. 

— Sinto muito, querida — sussurrou Ivy próxima ao seu ouvido. — Sua mãe vai se arrepender eternamente quando ela conseguir compreender o que fez.

Erin a apertou contra o seu corpo, aproveitando o carinho e o calor do corpo rechonchudo. Era o segundo abraço “de mãe” que recebia, e a vontade de chorar veio à tona novamente. Ela sentiu a mão gigante de Big John dando uns tapinhas nas suas costas e viu o homem a lançar um sorriso triste, porém acolhedor. Aqueles dois estavam presentes na maior parte do seus dias e tinham se tornado amigos muito queridos, que se preocupavam com ela, mais que sua própria mãe ou seus outros “amigos”. 

— Você é incrível, garota. Nunca se esqueça disso. — O cozinheiro lançou um último sorriso, e voltou para o trabalho antes que Carl entrasse na cozinha e os pegasse sem estar trabalhando. 

Ivy desfez o abraço e acariciou as bochechas de Erin com as costas das mãos. 

— Sei que nada que eu disser vai mudar o que aconteceu, mas tenho uma fofoca que acho que vai te animar. 

A Landfish sorriu de canto e segurou uma risada. 

— Andy e o Carl tiveram uma briga feia ontem a noite quando estávamos prestes a fechar. — A mulher olhou para os lados com desconfiança, verificando se alguém estava escutando a conversa. Quando viu que o terreno estava limpo, aproximou-se mais de Erin e cochichou. — Parece que o Carl tinha prometido algum presente para ela, e ela descobriu ontem que a mulher dele ganhou um carro de presente de aniversário. 

A quileute arregalou os olhos, sentindo a excitação que uma fofoca boa trazia. 

— Ela deve estar furiosa. 

Erin se apressou para pegar um pedido e começar a trabalhar. Queria ver a cara de tacho de Andy naquele dia. 

Normalmente, a garota não se sentiria feliz pela desgraça alheia, no entanto, Andy era um caso especial por ser a maior cobra que Erin teve o desprazer de conhecer. 

A ronda demorou mais do que ele imaginava. Um vampiro desgarrado havia passado pelas terras quileute, e toda a matilha foi convocada para sua caçada. Horas se passaram na procura do indivíduo que espalhou seu odor adocicado por toda a reserva, mas seus esforços foram em vão. Ou o desgraçado era muito escorregadio, ou estava apenas ali de passagem, sem qualquer plano maquiavélico em mente — Embry torcia pela segunda opção. 

— Wendy quer saber se está tudo bem com você e a Erin. — Paul perguntou mesmo que soubesse cada detalhe do que aconteceu entre eles desde que ambos saíram de sua casa no dia anterior. O Call tinha revivido cada memória com um ardor que o deixou enjoado, fazendo com que o Lahote se perguntasse se era tão insuportável com seus pensamentos sobre seu próprio imprinting. — Sua mãe está de boa? 

Embry suspirou com tristeza. Não queria discutir o assunto, no entanto, entendia o esforço que Paul estava fazendo para manter aquela conversa e demonstrar que se importava. 

— São duas da manhã, Paul. Quebrei a promessa que fiz para minha mãe mais rápido do que você consegue soletrar apoplexia. 

O Lahote arregalou os olhos levemente. Não tinha ideia do que diabos apoplexia significava, e muito menos como soletrar essa merda. Ele se sentiu um pouco estúpido por estar tão perdido, mas lembrou do quão nerd Embry era, então relaxou. 

— Você está muito espertinho para alguém que vai estudar apenas uma vez no mês — alfinetou o lobo, contudo, ao ver a expressão cabisbaixa no rosto do Call, tentou ajudar. — Acho que sua mãe sabia que era mentira no momento em que você prometeu essas coisas. Ela sabia que você queria que a Erin morasse em sua casa, então não acho que ela foi boba o bastante em acreditar. Qualquer pessoa com cérebro saberia que você venderia até sua alma para o diabo para ficar perto daquela garota. 

Embry lançou um olhar sujo para o Lahote. Ele tinha acabado mesmo de chamar sua mãe de burra? Se fosse qualquer outro dos garotos, ele teria rebatido com um comentário grosseiro, mas o receio de apanhar de Paul era maior, então somente assentiu e se calou. 

— A coroa vai estar furiosa quando você chegar em casa…

O Call sussurrou um obrigado sarcástico sob sua respiração, entretanto, foi totalmente ignorado pelo outro quileute.

— Mas você é bom em se fazer de inocente. — Embry não soube porque se sentiu alfinetado por aquela frase. Não parecia um elogio vindo de Paul. — É só fazer aquela pose de bom moço que você faz na frente da Wendy que vai conseguir acalmar a velha. 

O garoto encarou Paul com incredulidade. Já tinha percebido o ciúme nos olhos dele todas as vezes que conversava com a Cullen, mas não sabia que aquilo mexia tanto com ele ao ponto de começar a soltar indiretas. 

— Cara, você é bizarro. — Ele não esperou uma resposta. Apressou os passos para chegar o mais rápido possível em casa, torcendo mentalmente para sua mãe não estar esperando-o plantada na sala para repreendê-lo por horas. Sabia que se ficasse ali, Paul tentaria iniciar uma briga que ele não estava muito a fim de participar. 

Embry pensou em entrar pela janela do seu quarto — como geralmente fazia —, mas a lembrança de uma garota de longos cabelos negros o fizera desistir daquela ideia. Se ela estivesse dormindo, não ia querer acordá-la. Mesmo que soubesse que conseguia ser bastante silencioso, não confiava em si mesmo quando ficava com os nervos à flor da pele. 

A porta da frente encontrava-se aberta — o que não o surpreendeu. A maioria das pessoas de La Push se sentiam seguras o bastante para nunca trancar suas portas, sua mãe inclusive, e Embry nunca a repreendeu por isso. As criaturas que os humanos deveriam temer conseguiriam derrubar qualquer porta com a ponta do dedo mindinho. Aquela madeira fina não era nada comparada à força de um frio. 

A luz da sala estava acesa, e o quileute xingou baixinho. Sua mãe, muito provavelmente, estava o aguardando para um sermão daqueles. Ele pensou em desistir e voltar apenas quando não visse mais o carro estacionado na garagem da casa. Tentou fechar a porta lentamente, mas o rangido da madeira entregou a sua presença. Para sua sorte, não foi o cheiro de Tyffany que ele sentiu na sala de estar, e sim o odor característico do seu imprinting. 

Ele entrou em passos vagarosos, ouvindo a respiração ritmada de sua mãe no quarto dela, e trancou a porta da entrada com cautela, fechando de chave apenas por garantia. Se Erin encontrava-se ali, qualquer proteção extra que conseguisse arranjar era benéfica. 

A imagem que tomou conta de sua visão fez seu coração acelerar. Erin estava encolhida no sofá, embalada por um sono profundo. Os lábios cheios encontravam-se levemente entreabertos e ela apoiava um lado da bochecha em suas mãos. O sofá era grande o bastante para que ela pudesse esticar as pernas, no entanto, a garota tinha dado um jeito de se escolher tanto, que metade do espaço estava livre. 

Embry se agachou ao lado do corpo dela, admirando a figura doce do seu amor com um semblante tão pacífico. Ele não fazia ideia sobre o que ela estava sonhando, mas apostava que era algo bom, visto que um sorrisinho feliz ia e sumia com o passar dos minutos. 

Ele se preocupou assim que se lembrou o quão desconfortável era a almofada verde que ela usava como travesseiro. E, ao perceber que os braços dela estavam arrepiados pelo frio, uma vez que ela não tinha qualquer coberta para aquecê-la, Embry decidiu levá-la para o quarto. Ele tentou ser o mais delicado possível para não acordá-la quando passou um braço por baixo dos seus joelhos e o outro sob seu pescoço. 

O lobo travou assim que ouviu um resmungo de Erin, temendo tê-la acordado, no entanto, ela apenas se aconchegou mais ao seu corpo, apoiando a cabeça do seu pescoço e pousando uma das mãos em cima do seu peito nu. 

Aquela ação deixou o Call extremamente corado, e ele agradeceu por não ter ninguém por perto para vê-lo naquela situação. 

— Você demorou — sussurrou Erin, deixando-o assustado. — Me deixou esperando por horas. 

Embry sorriu carinhosamente para a garota em seus braços, observando o quanto ela ficava fofa com os olhos pesados pelo sono e a expressão de irritação fingida. 

— Falha minha. Prometo que vou tentar não fazer isso de novo. 

Ele se inclinou para plantar um beijo em sua testa, aproveitando para sentir de mais perto o cheiro delicioso de sua pele. Quando se afastou, viu que Erin tinha voltado a dormir. 


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