Entre Lobos e Monstros escrita por Nc Earnshaw


Capítulo 19
Ciúmes




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Capítulo 18

por N.C Earnshaw

 

O ROSTO DE EMBRY era tão parecido com o da mãe que a fez sorrir. Enquanto os observava conversando pela janela da sala, escondendo-se atrás da cortina de florzinhas amarelas, ela admirava o brilho nos olhos do garoto que, poucos minutos antes, tinha a deixado de pernas bambas. 

Ela agarrou-se firmemente ao tecido ao vê-lo abraçando Tyffany, e as lembranças da sua mãe voltaram para atormentá-la. A Landfish cravou as unhas nas palmas das mãos, tentando fazer com que a dor física fosse maior que a do seu coração. Era doloroso, por mais que ela se sentisse feliz que Embry e a mãe se dessem bem, ver que poderia ser ela nos braços de sua própria mãe. 

Ela analisou a figura de Tyffany para se distrair — não queria ficar pensando em coisas que estavam fora de seu controle. E se surpreendeu com a altivez de sua figura. A mulher era magra e baixa, com a pele avermelhada típica dos nativo-americanos, e usava roupas elegantes. Uma calça caqui bege cintura-alta alongava sua figura, e a blusa branca de botões dourados tinha como sobreposição um blazer preto. Nos pés, um tênis de salto que um dia fora branco, mas que tinha sido maculado pela lama da entrada. 

Erin ainda estava envergonhada por ter pulado sobre o garoto. Não sabia o que tinha dado nela. Quando o viu tão próximo a si, não conseguiu se conter. No entanto, essa vergonha não se comparava com a que ela estava experimentando no momento.

Ela sentiu vontade de se esconder no quarto e apenas sair quando a mulher fosse embora para trabalhar. No entanto, sabia que seria falta de educação e não saberia como olhar na cara dela se fizesse algo assim. 

Suas pernas se moveram antes que ela pudesse controlá-las. Tyffany estava prestes a entrar na casa, e Erin não queria que a outra pensasse que ela estava espionando-os. Sem tempo para voltar para o quarto, a Landfish se jogou no sofá e tentou relaxar a sua postura para parecer que não tinha corrido uma pequena maratona vestindo-se para encontrá-la. Queria que a mulher gostasse dela. Não porque ela tinha aceitado sua presença na casa, mas porque queria que a pessoa mais especial na vida de Embry sentisse ao menos um pouco de afeto por ela.

Erin colocou a almofada verde sobre as coxas, e prendeu a respiração quando ouviu o barulho da porta rangendo e passos fortes batendo contra o piso. A risada alta de Embry preencheu o ambiente, e a garota conseguiu se acalmar um pouco mais com o som divertido. 

— Oh. Você deve ser a Erin, não é? — Para o seu alívio, a voz soou simpática. 

Ela abriu os olhos lentamente, e deu de cara com o rosto sorridente — e muito parecido com o de Embry —, encarando-a. Erin se apressou para cumprimentá-la, recuperando sua confiança, e devolveu o sorriso. 

— Prazer em conhecê-la, senhora Call. — A quileute ergueu a mão, no entanto, seu corpo foi puxado para frente, e ela caiu nos braços abertos da mulher. 

Erin sentiu uma leve vontade de chorar ao sentir o calor de mãe que o abraço de Tyffany possuía. E deixou-se ser agarrada pelos próximos segundos, aproveitando a segurança que experimentava. 

— Me chame de Tyffany, querida. Fany, para os amigos — pediu a mulher assim que se afastaram. 

A Call tinha achado Erin adorável. Era uma garota de uma beleza de tirar o fôlego, apesar dos olhos tristes, e tinha gostado dela no mesmo segundo em que pousou os olhos sobre ela. 

Erin assentiu, sem saber o que dizer, e quase suspirou de alívio quando Embry se intrometeu para salvá-la. 

— Estou faminto. — Ele passou o braço ao redor do pescoço da mãe e alisou em círculos sua própria barriga. O lobo piscou um olho para Erin para assegurá-la, e puxou Tyffany na direção da cozinha. — Por acaso não me trouxe um pedaço daquela torta, não é? Erin, você tem que provar. É a melhor torta de toda Washington!  

A senhora Call revirou os olhos, e tirou da bolsa vários pedaços de torta envoltos por um papel marrom. O cheiro da torta chegou até Erin, fazendo sua boca encher de água. Se o sabor fosse tão bom quanto o cheiro, não duvidava nem um pouco da palavra de Embry sobre ser, de fato, a melhor torta de frango do estado. 

— Acho melhor vir logo, Erin — avisou Tyffany, tentando manter uma expressão séria no rosto. — Se der mole, esse garoto come até o papel. 

— Mãe! — A reclamação de Embry foi ignorada por ambas, que lançaram sorrisos debochados. O lobo semicerrou os olhos. — As duas já se juntaram contra mim? 

Erin se aproximou dele pelas costas e deu dois tapinhas camaradas em seu ombro. 

— Você está com febre? — inquiriu a Landfish, preocupada, ignorando o choque de ter a pele dele contra a sua. 

Embry balançou a cabeça, negando, mas a garota colocou as costas da mão contra sua testa mesmo assim. 

— Embry, você está queimando de febre! — A quileute sentiu seu coração apertar de preocupação. — E por que está andando por aí sem camisa quando está doente? Garoto, você não sabe que apenas está piorando sua situação? Vem. Vou te colocar de volta na cama. — Ela pegou a mão dele na sua, não deixando de reparar na diferença de tamanhos. Sua mão parecia mão de criança comparada à dele. — Por todos os ancestrais, Call, como ainda não está delirando? 

Embry corou de satisfação ao ver o quão preocupada Erin estava com a sua saúde. A esperança de ter conquistado ao menos a amizade do seu imprinting, deixou-o de ótimo humor. Ele pensou em se fingir de doente para ficar aos cuidados dela, mas não conseguiria manter essa façanha por muito tempo. Além disso, não queria ser desonesto com ela no começo de qualquer que fosse o relacionamento que eles estavam tendo, então resolveu acalmá-la.

Ele apertou a mão dela com a sua, tentando fingir não estar vendo os olhares que sua mãe lançava para os dois. A mulher tinha se mantido em silêncio durante todo o tempo, e o lobo apostava que era para tentar descobrir o que acontecia entre Erin e ele.

— Não estou doente — garantiu, puxando-a de volta. A Landfish o encarou com desconfiança. — É sério. — Ele riu. — Prometo que não estou doente. Meu corpo só funciona de uma forma um pouco diferente do normal. Tem algo a ver com mutação de genes ou qualquer coisa do tipo. 

Uma memória de Paul dizendo exatamente as mesmas palavras despertaram certa desconfiança, mas ela descartou. Pensaria naquilo depois. 

Tyffany limpou a garganta, atraindo a atenção dos dois para ela. Ainda encontrava-se em estado de choque com a troca de olhares que presenciou entre eles. Parecia que não existia mais nada no mundo que importasse. 

O brilho nos olhos de Embry aqueceu seu coração, e foi um alívio saber que ela não tinha negado o pedido dele para que a garota passasse a morar em sua casa. Ela desconfiava que os sentimentos dele iam muito além da amizade. Na verdade, ia muito além do que qualquer um que ela tivesse presenciado em toda a sua vida. 

Erin sentou ao lado de Embry na pequena mesa quadrada próxima a bancada da cozinha, ficando de frente para Tyffany, que tinha esquentado as tortas no microondas e as trazia para a mesa. 

— Ainda temos suco? — perguntou para o filho. 

— Quil veio para cá essa semana. — Aquela resposta foi o suficiente para a mulher saber que não, não tinham suco. — Erin e eu estávamos pensando em ir ao mercado comprar algumas coisas. 

— Vou… — A frase da mulher foi cortada por batidas fortes na porta da casa, e Erin não conseguiu adivinhar qual seria o fim. Vendo que Tyffany encontrava-se ocupada e Embry já se empanturrava com a torta, a garota se ofereceu para receber quem quer que fosse. — Obrigada, querida — agradeceu a Call quando viu a quileute se levantar. 

— Não precisa! — A voz de Embry soou afobada, uma vez que ele tinha engolido o pedaço que tinha na boca, quase se engasgando por não ter mastigado direito o frango. — Eu abro. 

Erin revirou os olhos e o ignorou, atravessando a sala. Sabia que se deixasse, ele se ofereceria até para carregá-la no colo para que não precisasse andar. 

Diferente das portas americanas comuns que tinham olhos mágicos muito úteis, raras eram as casas na reserva que possuíam o apetrecho. A maioria das pessoas ali haviam feito as próprias portas, então não tinha como saber quem batia, até que fossem abertas. 

A figura irritada de Leah Clearwater fez Erin franzir o cenho e agarrar a maçaneta. Não conhecia a outra muito bem, mas sabia a história por trás do rosto bonito de expressão infeliz. Ela tinha sido trocada repentinamente pela prima quando estava prestes a se casar com Sam, e o que mais deixava Erin chocada, era que ela continuava a frequentar a casa deles e andava com o mesmo grupinho de garotos que o ex-noivo.

A Landfish não acreditava que eles mexiam com drogas ou com algo ilegal, uma vez que tinha passado tempo o suficiente com Paul e Jared para saber que eles não eram daquele tipo — assim como não imaginava o inocente Embry Call mexendo com algo ilícito. No entanto, pela maneira esquisita com que aquele grupo agia, ela tinha certeza que alguma merda muito grande rolava ali. Não entrava em sua cabeça o fato de Leah ter levado um pé na bunda e continuar amiguinha das pessoas que a traíram. 

O olhar da mulher à sua frente seria intimidador se Erin fosse uma pessoa menos corajosa. Ela possuía tanto rancor guardado ali, que fez a garota sentir um pouco de pena — apesar de achar que apanharia se demonstrasse algum tipo de condescendência. Ela parecia ser forte o suficiente para virá-la do avesso se assim quisesse. 

A beleza dela estava longe de ser etérea, pensou Erin naqueles poucos segundos de um silêncio tenso. No entanto, ela era linda de uma maneira que quase tirou seu fôlego. 

A Landfish sentiu um pequeno aperto no coração ao saber que Embry passava boa parte do seu tempo ao lado daquela amazona. Ela era alta e levemente musculosa, com um corpo que a garota apenas tinha visto em revistas, e parecia distante demais para ser alcançado. Não conseguia entender como os garotos da reserva não estavam lambendo o chão que ela pisava — incluindo Embry

— Oh. Então o Embry é mesmo o novo abduzido. — Erin virou a cabeça para o lado, sem compreender o comentário ferino, consequentemente arrancando uma risada debochada de Leah. — Ele ainda não te contou? —  Oh. Aí estava o porquê dos garotos não estarem aos pés dela. Ela era uma vadia traiçoeira. — Vou entender se sair correndo para longe de toda essa merda. Você me parece um pouquinho mais inteligente que as outras. 

Era uma pena para Clearwater, ela gostar bastante de vadias. 

Antes que abrisse a boca para retrucar, ela sentiu Embry surgindo atrás de si. 

— O que você quer aqui, Leah? — Era o tom mais agressivo que ela já tinha ouvido vindo dele, fazendo-a arregalar os olhos pela surpresa. Embry era um garoto tão doce. Leah devia mesmo saber apertar os botões dele para deixá-lo daquela maneira. 

O quileute afastou Erin pelos ombros e ficou de frente para ela, quase tampando completamente a visão que ela tinha da Clearwater — não fosse por ela ter quase se enfiado por baixo do braço dele. 

— Mais uma vez fui obrigada a me tornar uma garotinha de recados — reclamou, cruzando os braços. — Como eu queria…

— Vá direto ao ponto, Leah. — Embry parecia não ter muita paciência para lidar com a outra. 

— Claire adoeceu. Quil está ajudando a cuidar dela, e ninguém mais está disponível para tomar o lugar dele nas rondas… — A loba deu um sorriso largo ao ver a expressão do outro se entristecer. — Você pode brincar de casinha quando voltar. 

Erin franziu o cenho em confusão e resolveu se pronunciar. — Ronda? 

— Minha mãe está aqui, Leah. Não posso sair assim depois de prometer que me comportaria. — Ele olhou para trás sobre os ombros, garantindo que sua mãe não estava ouvindo a conversa. Não queria que Erin visse uma briga entre eles em tão pouco tempo. — Tem certeza que não tem mais ninguém que possa tomar o meu lugar? 

— Deveria ter pensado em suas obrigações antes de prometer o que não podia. — Ela bufou. — Não tem mais ninguém. Seth foi colocado para ir para a escola à pontapés. 

Embry não resistiu em sorrir. Estava cada vez mais difícil manter o moleque fora de problemas. 

— Tudo bem. Só me dá dois minutos. 

Ele fechou a porta sem qualquer delicadeza, e Erin segurou uma risada ao ouvir um xingamento. Como estavam muito próximos durante a conversa, Embry acabou se atrapalhando e quase tropeçou na quileute. Entretanto, conseguiu recuperar o equilíbrio a tempo.  

— Vou precisar sair por algumas horas — avisou Embry. Ele não queria deixar Erin. Seu coração implorava para que ele ficasse ali ao lado dela, e aproveitasse a manhã divertida em que apresentava a garota que amava para sua mãe. No entanto, possuía obrigações. E se quisesse proteger as pessoas importantes para ele, tinha que cumpri-las sem reclamar. — Você pode…

— Te ajudar a dobrar a sua mãe? 

Ele assentiu, sentindo-se culpado. 

— Prometo que um dia vou explicar tudo. 

Erin segurou o ímpeto de tocá-lo novamente. 

— Tudo bem — sussurrou ela. — Vou te poupar de levar alguns gritos. 

Embry sorriu e, sem resistir, colocou uma mecha de cabelo que caia no rosto dela atrás de sua orelha. 

— Vou ficar te devendo uma. 

E eu vou cobrar. 


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