Entre Lobos e Monstros escrita por Nc Earnshaw


Capítulo 18
Tyffany Call




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/796960/chapter/18

 

Capítulo 17

por N.C Earnshaw

 

A PRIMEIRA COISA que Erin percebeu ao entrar no banheiro, era que a porta tinha tranca — e uma que funcionava. Seus olhos se encheram de lágrimas antes que ela pudesse conter. Para alguém que tinha passado anos de sua vida sentindo medo e tomando banhos apressados, era um alívio enorme voltar a se sentir segura. 

Ela se desculpou mentalmente com Embry por estar gastando mais água do que deveria. Entretanto, a sensação de tomar um banho relaxante era tão boa, que ela não conseguiu resistir. 

Gastou mais de uma hora debaixo do chuveiro. Cantarolou lavando o cabelo, e apenas aproveitou durante alguns minutos a água escorrendo pelo seu corpo e levando junto consigo todos os seus problemas e angústias. 

Ela desligou o chuveiro — raras eram as casas na reserva que possuíam banheiras. Os quileutes acreditavam que tomar banho em água corrente levava junto consigo as impurezas não só da pele, mas também da alma

Assim que pisou para fora do box, Erin se sentiu uma nova mulher. Ela não conseguia compreender o que apenas um banho tinha feito consigo. No entanto, a vontade de sair contando para todo mundo que algo havia mudado, estava na ponta de sua língua. 

Ela se enrolou na toalha branca e felpuda, e reparou que, apesar de ter separado suas roupas, não as tinha levado até o banheiro para se trocar como fazia em sua antiga residência. 

Mesmo não sentindo medo algum de ser vista por Embry daquela forma, abriu a porta levemente e espiou se o garoto encontrava-se passando pelo corredor. 

Nem sinal dele. 

Após enxugar os pés no tapete roxo em frente à porta do banheiro, ela caminhou até o quarto de Embry — seu novo quarto, pensando no quanto seria exaustivo o turno da noite na lanchonete. Andy tinha conseguido uma ótima munição com a sua expulsão de casa, e Erin tinha certeza que se a mulher abrisse a boca para dizer qualquer coisa, não se controlaria. 

As costas musculosas de Embry foram a primeira coisa que tomou sua atenção logo que pisou no cômodo. Os ombros largos contrastando com a cintura levemente fina, a fazia pensar no quão delicioso seria deslizar suas unhas por toda a pele enquanto ele a fodia em cima daquela cama. A bundinha levemente arrebitada estava coberta por apenas uma cueca branca. E Erin teve que usar todas as suas forças para não completar as passadas até ele, e apertar aquela carne gostosa. 

Embry nunca ter se relacionado com alguém tendo aquela aparência, era um crime. Apesar da inocência, a Landfish conseguia enxergar nele um lobo sexual pronto para ser libertado. E ela não se importaria em ser a pessoa a lhe mostrar o quanto sexo poderia ser bom. 

Ele estava de frente para o guarda-roupa, revirando as gavetas à procura de alguma coisa. Erin teve a impressão que ele sabia que ela tinha entrado no quarto, mas duvidava que o garoto estivesse tentando provocá-la de alguma forma. Ele ainda não possuía muita experiência para montar aquele tipo de artimanhas, e não parecia muito interessado nela como mulher. A única vez que o Call havia demonstrado que se sentia atraído por ela, tinha sido na primeira vez que tiveram algum contato, e ele tinha olhado para os seus peitos. 

Talvez ele não goste de mulheres, pensou. No entanto, ela descartou a ideia. Não era possível que o mundo conseguisse se tornar mais injusto do que já era. E nem viu qualquer sinal que ele gostasse de pessoas do mesmo sexo. 

Ou ele pode gostar de uma garota em específico, alfinetou a voz ardilosa do seu subconsciente. 

Erin sentiu seu coração apertar. A ideia de outra pessoa com Embry fazia o ar fugir dos seus pulmões, e a imagem que surgiu em sua mente dos braços dele ao redor de alguém não a ajudaram. 

Não conseguiu compreender a súbita possessividade que tomou conta do seu corpo. Apenas sabia que odiava aquela garota hipotética com todas as suas forças. 

Ela não se deu conta que apertava a toalha contra o peito até a voz de Embry fazer com fosse trazida de volta à realidade. 

— Vou sair assim que encontrar a minha bermuda jeans. 

Erin sorriu antes que se desse conta, e se perguntou como era possível alguém ser tão fofo sem nem ao menos tentar. 

— Qual delas está procurando? — Ela se aproximou esquecendo-se completamente que a única coisa que cobria sua nudez, era a toalha. — A clara, a escura, ou aquela com um rasgo acima do joelho? 

Embry a olhou de lado, e tentou esconder um sorrisinho, mas Erin conseguiu ver antes que ele o fizesse. 

— Qual é a do sorriso? — perguntou, interessada. Ela tentou focar os olhos apenas no rosto dele, não querendo cair na tentação de espiar a parte da frente da cueca branca e quase transparente.

— Nada. — Ele deu uma risada assim que a viu semicerrar os olhos. — Não é nada demais. Só achei engraçado a maneira que estamos agindo. 

Para disfarçar seu constrangimento em falar aquelas palavras, ele desdobrou uma blusa cinza para ver se o shorts estava sob ela. Quando não obteve sucesso, enrolou-a e a jogou de qualquer jeito na gaveta. 

Erin o fuzilou com os olhos. Se iam dividir o guarda-roupa, ele precisaria ser um pouco mais organizado. Ela o empurrou com o ombro para poder encontrar os shorts antes que ele revirasse tudo, mas não tinha pensado no ato com cautela. 

As peles nuas se tocaram, e um choque gostoso surgiu do local do contato e desceu até o centro de suas pernas. Ela tentou se enganar dizendo para si mesma que o líquido começando a melar suas coxas era apenas água do banho. Sem sucesso. A aura de atração que ela sentia surgir entre os dois quase a deixou sem ar. 

Os olhos castanhos de Embry eram comuns, mas tinham um detalhe característico que iria mexer durante anos com seus sentimentos mais profundos. Apesar de serem tão escuros quanto o céu à noite, possuíam suas próprias constelações, e tinham uma doçura que fazia com que Erin desejasse se jogar sobre ele e agarrá-lo para nunca mais soltar. 

Ela ergueu a mão livre para tocar o braço dele. Desejava sentir mais daquela pele e ser incendiada de uma maneira que nunca tinha experimentado em sua vida. 

O universo ao redor dos dois parecia ter parado. E os únicos sons que ela conseguia ouvir eram o do seu próprio coração e de suas respirações ofegantes. 

As pontas dos seus dedos tocaram o bíceps musculoso, e a quileute acariciou o músculo endurecido por alguns segundos, sem conseguir desviar os olhos da boca pequena e carnuda. 

Ela almejou provar aqueles lábios com a própria boca. Sentir a língua molhada com a sua e apreciar seu sabor. Tê-los entre seus dentes. 

A garota ficou na ponta dos pés para poder alcançar o rosto do Call, e ainda sentiu um pouco de dificuldade de obter sucesso. Enquanto ele possuía mais de 1, 90 de altura, Erin tinha apenas um pouco mais de 1, 60.  

Seu corpo comandava a si próprio, ignorando os alertas que sua mente enviava. A única coisa que importava naquele momento, era beijá-lo. 

Ela suspirou, tocando a bochecha corada com a palma da mão. 

Embry era muito mais lindo de perto. 

Os cílios negros e longos, as maçãs do rosto altas e a mandíbula marcada formariam um rosto feminino se separados em sua mente. No entanto, os traços delicados se transformavam em algo másculo e juvenil. 

O outro quileute encontrava-se tão animado quanto ela. Parecia estar um pouco paralisado, sem saber muito bem como agir. E era compreensível após a confissão do dia anterior. Além de ser extremamente tímido, Embry tinha 0 experiência com seres do sexo oposto. 

Ele pousou a mão grande na curva do seu quadril, fazendo com que ela tivesse que conter um gemido. Era bizarro que aquele mínimo toque a deixasse daquela maneira, enquanto na maioria das vezes não se sentia excitada nem durante a penetração. 

A Landfish se decepcionou quando Embry limpou a garganta, quebrando o transe, e se afastou o máximo possível dela no pequeno espaço. Pelos olhos arregalados, parecia ter levado um choque nada agradável. 

Erin, como qualquer outra pessoa, não gostava de ser rejeitada. A rejeição para ela sempre tinha um gosto mais amargo que o normal. E, ultimamente, aquilo estava acontecendo mais vezes do que seu pobre coração conseguia aguentar. 

Paul. 

Seus amigos. 

Sua mãe

E, agora, Embry. 

O lobo observou como a expressão de Erin se modificou. Ela parecia triste por ele ter se afastado abruptamente, no entanto, tinha um bom motivo para tê-lo feito. Um carro tinha acabado de estacionar na garagem de sua casa. 

Constrangida com a maneira atirada com que tinha agido, Erin deu as costas para ele para se recuperar. Tentando manter suas mãos ocupadas, retirou algumas das peças de roupa que Embry tinha jogado de qualquer jeito, e separou para dobrar depois. Ela encontrou o short que ele procurava e buscou dentro de si a confiança que tanto tinha orgulho de possuir. 

— Não ache que não quero te beijar. — A voz do Call a fez apertar o tecido que tinha em mãos com ambos os punhos. — E-Eu… — Ele perdeu um pouco da confiança. — Erin… Eu só não quero me aproveitar da sua fragilidade no momento. Você passou por tanta coisa nos últimos dias. Talvez esteja confundindo seus sentimentos e...

— E acha que eu querer te beijar é apenas uma demonstração de carência? — Ela se virou com raiva e jogou a peça de roupa contra o peito nu de Embry. 

Desolado, o garoto sorriu amarelo, e agarrou o short com um ótimo reflexo. Vestiu a peça de roupa rapidamente, ouvindo a porta da frente ser aberta e os passos calmos da sua mãe entrando na casa. Eles tinham poucos segundos até a mulher investigar os cômodos principais e ir em busca deles nos quartos. 

— Erin… — chamou, ao ver que ela estava chateada. Era compreensível que suas palavras a tivessem magoado após quase se beijarem, no entanto, acreditava que ela se sentiria ainda pior se ele não tivesse interrompido o beijo. A cabeça dela estava uma bagunça, e como um lobo totalmente devoto ao seu imprinting, sabia que o que ela queria no momento não era o que ela precisava. Erin não necessitava de um amante que a fizesse se esquecer dos problemas com beijos, mas de um amigo que a apoiasse e a amasse incondicionalmente. Embry seria aquela pessoa. — O que você sente por mim? 

A Landfish prendeu a respiração assim que sua mente compreendeu a pergunta. Não sabia o que sentia por Embry. Eles mal se conheciam. Sentia-se conectada a ele de uma forma que nunca havia se sentido com ninguém mais. Experimentava uma sensação de conforto quando estava ao lado dele, e ele tinha sido a única pessoa com quem ela conseguiu desabafar sobre o que tinha acontecido com a sua mãe. Também não podia negar que se sentia atraída por ele, e aquele quase beijo havia provocado sensações nunca vividas por ela. No entanto, não podia dizer que os seus sentimentos eram muito profundos. Ainda não estava apaixonada por Embry. Talvez sequer conseguisse identificar quanto estivesse, de fato, apaixonada. Os seus sentimentos por Paul a fizeram acreditar que estava a ponto de amá-lo. Aquele ideia, entretanto, era risível. Não tinha sentido nada mais que uma mera atração duradoura. 

Os olhos de Embry brilharam de melancolia, mas o sorriso de canto, antes tão sem graça, se iluminou. O garoto à sua frente tinha uma luz que a fazia compreender os mosquitos e sua tara por lâmpadas. 

— Da próxima vez que formos nos beijar… — Inseguro, Embry fechou os olhos com força. — Se formos nos beijar novamente. Quero dizer… Se você quiser me beijar de novo. — Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo. — Quando me beijar, espero que sinta um pouco do que sinto por você. 

As bochechas do quileute coraram furiosamente. E aquela imagem a fez lembrar de um coelhinho fofinho. 

— Acho melhor você se vestir — avisou de supetão, arregalando os olhos e quase correndo em direção à porta. — Minha mãe acabou de cruzar o corredor. 

Embry saiu do quarto em passos largos. Queria interceptar sua mãe no meio do caminho para que ela não visse Erin apenas de toalha. Não seria a melhor impressão do mundo pegar seu filho semi-nu, com uma garota completamente nua — ela não daria a mínima para a toalha — após ter aceitado que morassem juntos. 

Ele estranhou que ela estivesse saindo em passos apressados para o lado de fora, e a seguiu de perto, fazendo o mínimo de barulho possível para não alertar sua presença. Desde que fora visitar sua mãe no trabalho, tinha percebido coisas diferentes na mulher. Coisas estas, que ele acreditava terem mudado há algum tempo, e devido à sua ausência e afastamento do relacionamento entre os dois, havia passado despercebido. 

A postura da sua mãe estava diferente. Ela encontrava-se mais firme e altiva, e o estilo de roupas também tinha mudado. Enquanto o pessoal da reserva optava por roupas simples, Tyffany havia chegado em casa com algo parecido com o que ela usava no trabalho. 

— Cacete, que carro é esse? 

Ele não queria assustá-la, mas quando a mulher deu um pulo seguido de um gritinho fino, não conseguiu segurar a risada. 

— Você quer me matar, moleque? — Tyffany colocou a mão trêmula sobre o coração e fuzilou o filho com os olhos. 

Embry se aproximou com um sorriso maroto e a abraçou apertado. Por mais que sempre discutisse com sua mãe, a amava mais que tudo e sentia falta da época em que eram como unha e carne. 

— Onde arranjou esse carro? — inquiriu assim que se afastou. — Assaltou um banco? 

Ele andou ao redor da BMW preta, assobiando quando viu que a tintura não tinha nem sequer um arranhão. 

— O carro não é meu. — A voz de Tyffany saiu estrangulada, e Embry parou de se derreter pelo carro para olhar para ela. — O meu carro quebrou e eu peguei emprestado de uma amiga. 

O lobo cruzou os braços. Conhecia Tyffany Call o bastante para saber quando ela mentia descaradamente. Tinha deixado passar por muito tempo o quanto estava estranhando as atitudes dela. 

— Nunca conheci essa sua amiga. — Na verdade, nem sabia qual era o nome dessa amiga que oferecia sua casa de tão bom grado para Tyffany passar a maioria das noites. — Ela deve ser muito gentil. 

Tyffany ficou desconfortável ao ser colocada contra a parede. E Embry estava aproveitando demais a troca de posições. Sempre era a vítima dos questionamentos de sua mãe sobre seus segredos, mas parecia não ser o único naquela casa a guardá-los. 

— Não vai me dizer que essa sua amiga é mais que uma amiga? — zoou o Call, mas com uma pontinha de verdade. Nunca tinha perguntado sobre as escolhas de parceiros de sua mãe. 

— Embry Call! — Ela o estapeou por onde conseguia alcançar, arrancando risadas do garoto. O rosto da mulher estava vermelho, deixando a cena ainda mais hilária, e uma veia pulsava em sua testa. — Isso lá é coisa pra se falar! Tenha mais respeito pela mãe que te criou e te alimentou. 

Embry deu de ombros e segurou as mãos dela com as suas. Não queria que ela se machucasse tentando bater nele. 

— Então não vai se importar em qualquer dia desses, me apresentar para ela. 

Tyffany suspirou. Sabia muito bem que quando Embry colocava alguma coisa na cabeça, nada o parava até ele conseguir o que tanto queria. Apesar de ser tímido a maior parte do tempo, ele sabia usar as palavras muito bem para manipular outras pessoas — e isso ela sabia ter vindo do lado paterno dos seus genes. 

— Querido, ainda não me sinto confortável em falar sobre esse assunto. Ainda estamos nos acertando com algumas coisas, mas prometo que assim que tudo se resolver, vou apresentá-lo a você. 

O garoto abriu um sorriso malicioso. 

— Então é ele

A mulher revirou os olhos e deu as costas para o filho, voltando para dentro da casa. 

— Mas que garoto abusado esse meu — resmungou Tyffany. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre Lobos e Monstros" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.