Entre Lobos e Monstros escrita por Nc Earnshaw


Capítulo 11
Os humilhados serão... mais humilhados ainda




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/796960/chapter/11

 

Capítulo 10

por N.C Earnshaw

 

PASSAR O DIA NA ESCOLA era insuportável. As matérias eram maçantes, os estudantes não paravam de encarar, e os professores pareciam amedrontados de reclamar sobre qualquer coisa que ele fizesse. Embry tinha certeza que, se socasse a cara de algum deles, iriam pedir desculpas no mesmo instante. 

O garoto não sabia se gostava de ser temido. A fama de participar de uma gangue não permitia que ele ficasse em paz. Cada passo seu era vigiado por dezenas de olhares, e ele odiava aquela atenção, porque sempre acabava se atrapalhando e se envergonhando mais que o normal. 

Naquele dia tinha saído mais cedo, então não poderia pegar carona com Jared para casa, e não iria esperar por Quil — que ainda tinha mais duas classes. O Cameron e Paul eram malditos sortudos por estarem livres do ensino médio. Embry ainda tinha mais um ano e meio de estudos, e desejava largar aquilo de uma vez. Seu futuro não seria distante de La Push, então não precisava de algum certificado que não iria usar. 

Quando se lutava todos os dias contra vampiros, arriscando sua pele, e quase todas as horas do seu dia para proteger as pessoas, estudar tornava-se ainda mais entediante. 

Ele chutou uma pedrinha para longe, entediado. Não podia se transformar — uma vez que estava vestido com uma das poucas roupas que não tinha um rasgão, e não poderia estragá-las. Também estava com a mochila repleta de livros, e sua mãe o mataria se ele acabasse perdendo qualquer uma daquelas coisas. 

Uma buzina alta o fez pular no lugar. Tinha ouvido o carro se aproximando, mas não esperava pelo som estridente que quase chegou a ferir seus ouvidos. Ele olhou para o lado, desejando xingar quem quer que fosse o motorista, mas desistiu quando viu que era Paul o dito cujo. 

Embry reconheceu o modelo do carro que ele dirigia na hora. Era o mercedes de Wendy, e parecia ainda mais incrível de perto. 

Ele daria tudo para dirigir aquela máquina. E sabia que se pedisse ao imprinting do Lahote, ela permitiria no mesmo segundo. Entretanto, a vergonha não deixava que ele tomasse esse tipo de liberdade.

— Está assustadinho, Call? — gozou o outro lobo, encostando o braço na janela aberta. 

Embry fez uma careta, mas não se dignou a respondê-lo. Tinha sido humilhado o bastante na escola, não precisava ser humilhado por Paul, também. 

— Está indo pra casa, garoto? 

O lobo encarou Paul com uma expressão debochada. Não era muito mais novo que ele. Três anos de diferença não fazia do Lahote um senhor sábio que podia chamá-lo de “garoto”.

— Estou voltando da escola — explicou, mesmo que a mochila e as roupas já fossem sinal suficiente para o outro deduzir aquilo. 

Paul se inclinou sobre o banco do passageiro e abriu a porta, fazendo com que Embry tivesse que dar dois passos para longe dela, ou seria atingido. 

— Vem. Vou te dar uma carona. — Mesmo que Embry não tivesse gostado do tom de voz mandão usado pelo lobo, aceitou a carona. 

O interior do carro era tão incrível quanto o exterior. O câmbio automático, a direção hidráulica e o som mais que decente, fizeram-no quase salivar. Sem poder se conter, acariciou o banco para ter certeza de que era coberto por couro legítimo, e quase suspirou quando a obteve. Aquele carro era o protagonista dos seus sonhos mais molhados. 

— Sam me disse que quer conversar. 

Embry parou de xeretar o aparelho de som, xingando o Uley baixinho. Estava tentando evitar aquela conversa o máximo que podia. Não queria saber da opinião de Paul sobre Erin, ou sobre como eles foram mais que amiguinhos no passado. Era revoltante que o alfa tivesse colocado-o naquela posição desconfortável, em que encontra-se obrigado a ter uma conversa que queria evitar para o resto de sua vida. 

— Disse, é? — perguntou com a voz pingando sarcasmo. — Não me lembro de ter pedido a ele para marcar horário com você. 

O silêncio que se seguiu deixou Embry desconfortável. Ele odiava se sentir colocado contra a parede. 

Um som de engasgo o fez virar o rosto para encarar o Lahote, e tudo que encontrou foi um Paul determinado a conter um ataque de risos. 

— Cara… Eu sabia que um imprinting mudava o lobo, mas estou surpreso com o que fez com você. — A diversão brilhou nos olhos dele. — A Erin já está te deixando maluco? 

Embry fingiu uma tosse, e fez menção de pular do carro em movimento. Estava sentindo mais vergonha do que achava que sentiria. 

— Ei! Tá maluco? — A camisa do garoto foi agarrada pela mão gigante de Paul, fazendo seu corpo voltar para dentro do automóvel e a porta se fechar novamente. — Se não quiser conversar, tudo bem. Não precisa se jogar de um carro em movimento, imbecil. 

Embry puxou o ar com força, tentando controlar suas mãos trêmulas. 

— Não quero conversar sobre como transou com ela, Paul. Não quero saber como a conhece, ou como passavam o tempo juntos, ou como… — Ele suspirou, cravando as unhas curtas nas próprias coxas. O quileute mantinha o olhar fixo na mochila jogada no chão do carro. — Ou como conseguiu com que meu imprinting fosse apaixonado por você. 

Paul batucou os dedos no volante, não sentindo a mínima vontade de atacar Embry de volta. A verdade era que Wendy tinha um ótimo efeito sobre ele, e o fazia pensar na maioria das vezes, antes de agir. Seu amigo… Não. Um dos seus irmãos — porque ele considerava cada membro da matilha como parte de sua família, encontrava-se precisando de ajuda, e ele estava determinado a ajudá-lo sem colocar mais lenha na fogueira. 

— Está enganado — afirmou o Lahote. Ele não adicionou mais nada após essa sentença, esperando que Embry se acalmasse e voltasse a prestar atenção nele. 

— Em quê, Paul? — Parecia que tinham trocado os papéis. Enquanto o Call encontrava-se explodindo de irritação, o outro estava calmo e quase impassível. — Vai me dizer que falei alguma mentira? 

— A Erin acha que é apaixonada por mim.

— Ah, isso ajudou muito — resmungou o quileute para si mesmo. 

— Somos… Éramos muito parecidos. Me atrevo a dizer que ela poderia ser a minha versão feminina.  

Embry não conseguiu conter a careta de repulsa. Imaginou o corpo de Erin, mas com o rosto de Paul no lugar do dela, e quis vomitar. 

— Nos tornamos bons amigos, apesar de tudo, e me arrependo da maneira com que a tratei na última vez que nos falamos. — O Lahote suspirou. — A loucura com toda a história de ter um imprinting por uma vampira ainda estava mexendo muito com a minha cabeça na época, e a Erin não ajudou muito quando tentou se colocar entre a Wendy e eu. 

Ele entendia o sentimento. Não permitiria que nada, nem ninguém, estragasse qualquer tipo de relacionamento que fosse ter com seu imprinting. 

— A Erin não é uma pessoa ruim. — Embry sabia disso. — Ela é muito divertida, na verdade. Mas é tão carente de amor quanto eu era antes da Wen. 

Seu coração apertou ao ouvir aquilo. Não queria que Erin sentisse nada mais que amor e conforto. A ideia do seu imprinting sentir-se sozinha o fazia querer se jogar daquele carro — dessa vez sem permitir que Paul o segurasse, e ir atrás dela para abraçá-la por horas a fio. 

— Acho que ela enxergou em mim, as mesmas  coisas que eu enxerguei nela. Compreensão. Saber que mais alguém no mundo tinha uma vida fodida e utilizava artifícios como bebidas e mulheres; no caso dela, homens e mulheres, nos fazia sentir menos sozinhos, sabe? Chegava a quase preencher o vazio. 

O Lahote suspirou, estranhando estar achando tão fácil desabafar com Embry. Geralmente, a única pessoa que ele se permitia abrir seu coração, era Wendy. 

— Percebi que a vida que eu levava me fazia mal quando experimentei o que era a verdadeira felicidade. A Wen me proporcionou coisas que eu nunca tive durante toda a minha vida. Ela me fez amá-la, mas também fez com que eu aprendesse a me amar pela primeira vez. No meu subconsciente, eu não me achava bom o bastante. Acredito que com a Erin seja da mesma forma. Ela apenas precisa parar de ter medo e de procurar essas coisas nos lugares errados. 

— Está tentando me dizer para continuar insistindo? — Aquela conversa com Paul estava se saindo mais bizarra do que ele imaginava. No entanto, surpreendentemente, estava sendo o que Embry precisava ouvir naquele momento.

— Deus, não! — negou o Lahote veemente. — Você já conheceu aquela mulher? Se for muito incisivo, ela vai fugir mais rápido do que o diabo foge da cruz. 

— Então o que tenho que fazer? — Ele tinha mesmo acabado de pedir conselhos a Paul Lahote? Céus… A que ponto tinha chegado. 

— Tente ser amigo dela. 

— Amigo? Só isso? Esse é o grande conselho que você tem pra me dar? Não me ajuda em nada. — Embry encostou o corpo no banco, e apoiou o cotovelo na janela com uma expressão consternada. 

 — É sim, seu imbecil mal-agradecido — rosnou o Lahote. Porra, tinha se esforçado para elaborar aquela merda de conselho. — Agora, vamos parar com essa conversa de mariquinhas que já está me dando nos nervos. 

O Call encarou Paul de esguelha, e riu do semblante furioso que ele tinha no rosto. 

— Ah! O bom e velho Paul Lahote está de volta, senhoras e senhores! 

— Ele nunca foi embora. — E sorriu malicioso. 

Um celular tocou, alertando a ambos, e Paul prontamente foi conferir quem era. 

— É a Wendy — explicou, encostando o carro para poder respondê-la. Não queria acidentalmente bater em alguma árvore por estar ocupado atendendo ligações ou vendo mensagens. — Está perguntando porque estou demorando tanto pra voltar pra casa. 

Embry segurou uma risada. Era incrível ver como o amigo se iluminava ao falar do seu imprinting. Paul tinha conseguido o que a maioria dos lobos desejava. Um amor intenso, um lar e muito, muito sexo

— A Wen quer saber se você gostaria de comer alguma coisa lá em casa. Ela preparou alguns cookies e bolinhos, e está ansiosa para alguém, que não seja eu, prová-los.

O garoto analisou suas possibilidades. Tinha duas opções: Ir para casa e ter que preparar alguma coisa para comer; uma vez que sua mãe estava trabalhando e Emily tinha avisado que não estava disponível para cozinhar para eles naquele dia, ou se empanturrar de uma comida que ele sabia ser deliciosa. 

— Eu disse que você vai — determinou o Lahote, não ligando para a opinião do outro. Não conseguia deixar seu neném decepcionado ao chegar em casa e ver que Embry não aceitou seu convite. Apesar de ser amiga de alguns deles, como Jared, Seth e até mesmo Embry, Wendy ainda sentia uma certa insegurança. Paul percebeu isso recentemente, e faria de tudo para o seu imprinting se sentir confortável. 

Ele não tinha visitado o Lahote após a reforma da casa, mas sabia que o casal tinha colocado mais pessoas que o comum numa obra, para terminar mais rápido. Quando avistou a fachada branca, Embry arregalou os olhos. 

— Sua casa está enorme — assobiou o lobo, admirando o lugar. 

Paul assentiu, orgulhoso, e estacionou o carro. Assim que ele avistou seu imprinting aparecendo na porta com um sorriso alegre, desceu do carro quase correndo para abraçá-la. 

Balançando a cabeça em negação, e não resistindo a sorrir também, Embry seguiu-o e parou a alguns metros dos dois. 

— Oi, Embry — cumprimentou a Cullen; futura senhora Lahote, tentando se livrar do aperto do noivo. 

— E aí, Wendy! — Ele se aproximou dos dois, querendo fazer uma careta para o cheiro adocicado que vinha da vampira, mas resistindo. Não queria magoá-la e já tinha se adaptado o suficiente. Gostava bastante dela, inclusive como parte da sua família, e não mediria esforços para defendê-la novamente. 

— Vocês dois vão adorar o que preparei! — A garota bateu palmas e se aproximou de Embry, puxando-o pela camisa ainda agarrada no braço de Paul.

Era a primeira vez que o Call entrava naquela casa. No entanto, ele conseguia recordar-se de uma ou outra memória de Paul, da época em que Daniel Lahote vivia ali. O pai dele era repugnante, e eram nas horas em que o Lahote deixava escapar aquelas lembranças, que Embry agradecia por não ter pai. 

Eles foram direto para a cozinha enquanto Wendy contava sobre as mudanças que ainda fariam na casa. Ambos os lobos tentavam se concentrar no que ela falava, mas a comida posta sobre a mesa chamava mais atenção. 

A Cullen parecia ter feito um banquete para um exército. Com duas tortas gigantes, uma bandeja com uma montanha de cookies e uma pirâmide de bolinhos, Embry sentiu-se no céu. 

— Vocês não estão ouvindo nada, não é? — Wendy cruzou os braços e fez um bico, cutucando Paul nas costelas. 

O Lahote pareceu acordar do transe, e a abraçou de lado. 

— Já podemos comer? 

A vampira riu alto e beijou a bochecha dele, fazendo com que Embry admirasse o casal. Eles eram perfeitos juntos. 

— Vai nessa. 

Paul não esperou outro incentivo, sentou-se à mesa e começou a empilhar a comida em seu prato.

— Pode ir comer também, Embry — afirmou a Cullen docemente. 

O Call sorriu, sentindo uma conexão que experimentava com a vampira desde o ataque de Jacob. 

— Você é a pessoa mais incrível que existe, Wendy. — Ele ignorou o rosnado ciumento que recebeu de Paul. O sorriso cheio de covinhas que a amiga o lançou foi o suficiente. 

Quando ele se sentou ao lado de Paul para comer, ouviu o Lahote sussurrando um obrigado sob sua respiração.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre Lobos e Monstros" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.