Tempestade Azul escrita por MattSunshine


Capítulo 6
Chegando ao Inferno


Notas iniciais do capítulo

Após tanto mistério e prolongação, Adrian finalmente deixa sua amada cidade e o país junto. Gente rica é foda, mano.
O que será que o aguarda agora? Vamos descobrir ♥



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A viagem até o Aeroporto de Londres Luton, foi tranquila. O avião não oscilou, não houveram tempestades e nada que pudesse atrapalhar sua viagem. Porém, em momento algum, Adrian conseguiu realmente deixar os problemas de lado e relaxar. Aproveitar o voo era algo além de sua capacidade, queria apenas sumir dali, fingir que os últimos dias não existiram e voltar à sua vida normal e cotidiana.

Ainda não aceitava o que estava acontecendo, por mais que tudo já estivesse definido e acabado. Não voltaria para casa por um bom tempo. Pelo que pesquisara, a escola liberava os alunos para voltarem a seu lar nos finais de semana, mas não tinha dúvidas de que Mark o manteria ali por um longo tempo e, sem ele para lhe mandar dinheiro para as passagens, estava preso naquele país. Sabia que dinheiro não era um problema para seu pai, não com uma empresa daquele tamanho, mas se fora ele quem o mandou para tão longe, não seria ele que o traria de volta tão cedo. E sua mãe... pelo visto ela acataria as decisões do marido quanto a esse quesito, e Maeve não tinha poder nenhum. Estava preso, quase que literalmente. Era exatamente assim que enxergava seu nova colégio: uma prisão. Aquela era sua verdadeira provação após tanto tempo em conflito mudo com o homem que o criara.

E por falar nesse homem, as palavras de despedida ainda ecoavam em sua mente. Não acreditava ter sido duro, na verdade tinha até mesmo tido um toque de gentileza e consideração por não ter dito mais nada, muita coisa ainda estava guardada dentro de si, apenas sua irmã e amigos tinham uma vaga noção de como se sentia sobre tudo e, suspeitava, que sua mãe também, apesar de nunca demonstrar nada eram olhares que Jacqueline lançava de vez em quando que o levavam às suas suspeitas silenciosas.

O que diabos havia de errado com sua família? Em que ponto as coisas se desenrolaram tanto? Sua mãe fingindo não se importar com a ausência do marido em casa e se contentando com os poucos momentos que tinham juntos; Mark dormindo mais na empresa que em casa e perdendo a família pouco a pouco; Maeve crescendo praticamente sozinha, amadurecendo cedo demais; e ele mesmo, mais perdido e sozinho do que gostaria de admitir. Quando os Signor se tornaram uma família tão quebrada?

Não importava mais, era tarde para concertar. E não se podia concertar algo que nem sequer sabia-se onde estava errado. Sem saber do erro, não havia como concertá-lo.

Adrian cruzou as pernas e olhou para a janela. Uma cidade linda se tornava cada vez maior de sua perspectiva enquanto o avião pousava pouco a pouco, diminuindo a sua altitude. Era bela, tinha de admitir, não negaria aquele simples elogio à cidade. Porém, havia a escola, que tinha quase certeza de que se localizava em outra cidade, apenas para prolongar sua estadia e dificultar seu retorno em casa.

Já podia enxergar a pista de pouso da posição em que estava. Uma pequena pressão se formou em seus ouvidos quando as rodas do veículo se revelaram e rodaram pelo chão, desacelerando a velocidade. Foram alguns segundos até pararem completamente e as pessoas começarem a se levantar, pegando suas mochilas e malas pequenas que carregavam consigo. O garoto esperou o movimento ficar mais brando antes de descruzar as pernas e, finalmente, desviar o olhar da janela que tanto encarava com pesar e deslumbre nos olhos. Não tinha nada consigo e, portanto, apenas levantou e seguiu pelo corredor do avião por onde seguiu até a escada. Desceu cada degrau, sem pressa, pois não tinha vontade alguma de estar ali.

Olhou ao redor, procurando alguém com uma placa com seu nome ou gritando por ele, como seu pai dissera que haveria alguém para buscá-lo. Mas não encontrava ninguém em meio à multidão, uma ansiedade e um temor pontuaram dentro de si. Claro, não acreditava ter sido esquecido. Estava em uma cidade desconhecida, a quilômetros de sua nova morada, sem suas malas e completamente sozinho, isso sim era uma questão para se preocupar. Entretanto, tentou acalmar-se com o que estivesse em seu alcance. Tinha alguém esperando por ele em algum lugar, talvez ele ou ela só estivesse atrasado. Bom, isso era o mais provável.

Talvez devesse ir procurar suas malas na esteira do aeroporto e ganhar tempo enquanto esperava. Quem o estivesse procurando não iria embora até encontrá-lo. Poderia até mesmo estar o esperando junto da bagagem, pois seria o primeiro lugar que alguém iria ao chegar do outro lado do mundo sem nada consigo. Deveria ser isso.

A possibilidade o acalmou por um momento.

E seu coração disparou por uma segunda vez quando uma mão tocou seu ombro. A ansiedade junto à calma, pois só haveria uma razão para alguém tocá-lo. E era essa razão que ele procurava ali.

— Adrian Signor? — perguntou um homem com um grande e chamativo cartaz com seu nome escrito em canetão preto. Sua voz era levemente rouca, sexy até, seus cabelos eram longos, lisos e negros, devendo bater no meio das costas, sua pele pálida era quase da cor da neve, mas não aparentava estar doente. O que lhe chamou atenção foram seus olhos, não eram de nenhuma cor que já havia visto, esses eram amarelos, não um castanho ou verde, e sim amarelos. — Sou Jacob Zanotti, professor da Academia Santa Stela. — Abriu um sorriso ao se apresentar. — E acho que é por você que estou procurando.

Adrian devolveu o sorriso. Jacob tinha... uma espécie de energia que transmitia calma, desde seu modo de falar até seu modo de se comportar. Não parecia ser alguém perigoso ou suspeito, e provavelmente foi esse o motivo dele ter sido o escolhido para buscá-lo. Ele se sentiu acolhido pelo homem, certamente era uma pessoa agradável. Se os professores fossem como o homem à sua frente, sua estadia no colégio poderia ser até suportável. Claro, ainda teria de suportar os filhinhos de papai que estariam lá, suas únicas possibilidades de amizade.

— Sou eu mesmo — respondeucismaticamente, estendendo sua mão. — Prazer! — Deram um aperto de mãos firme, não durou mais do que alguns segundos, e separaram-se, ainda sorrindo cordialmente. Adrian foi o primeiro a interromper a serenidade, desviando o olhar para a direção que pretendia seguir anteriormente. — Eu preciso pegar minhas malas. Será que... você pode me ajudar a carregá-las? Não consigo levar todas sozinho.

Jacob enrolou o cartaz e o colocou sob o braço, fez um pequeno aceno com a cabeça para o lado e deu passos suaves e medianos na mesma direção, se virando para checar de Adrian o seguia, fazendo o garoto se dar conta de que era para acompanhá-lo.

Adrian não demorou a notar onde o professor queria levá-lo. A esteira entrou em seu campo de visão e ele correu até suas malas assim que as avistou, não querendo correr o risco de perdê-las. Primeiro, empilhou-as no chão uma a uma e pôs a mochila nos ombros, organizando-se mentalmente para saber como iria transportá-las.

Jacob pegou as duas maiores, deixando as mais leves para Adrian sem que ele precisasse pedir. O loiro agradeceu-o internamente por isso. Apesar de ter passado as últimas horas sentado olhando o oceano ou apenas dormindo, sentia-se cansado. Não estava a fim de carregar peso e esperava que o carro do professor estivesse por perto. Claro que não diria isso a ele.

— Obrigado — agradeceu, ajuntado as malas restantes. — Vamos? — Sua pergunta saiu normal, mas era quase um pedido de socorro para que chegassem logo até o carro e, consequentemente, até à escola.

Quanto tempo a mais de viagem teria de aguentar antes de poder finalmente deitar a cabeça em um travesseiro, se cobrir com cobertas finas e adormecer? Tinha dormido horas durante o voo, mas era um tipo de sono diferente do que queria naquele momento. No avião era sono de tédio e agora queria ir dormir porque estava cansado. Mas, novamente, precisava que o mais velho lhe apontasse o caminho. Sem Jacob não teria sequer achado a esteira com as bagagens, pelo menos não tão rápido.

— Por aqui — disse Jacob, o guiando outra vez. — Meu carro não está muito longe. Você deve estar cansado da viagem.

— Estou. — Ficou feliz pelo professor ter notado sem que ele tivesse de dizer em voz alta. — Só quero deitar logo. — Seus músculos cansados doíam para segurar a bagagem. Como Jacob não reclamava do peso? — Quando começam as aulas?

Os dois deixaram o interior do aeroporto para o frio da noite. Adrian olhava os carros ao redor, tentando adivinhar qual deles seria o do seu professor. Talvez um mais velho e apertado, ou quem sabe um mais moderno com um porta-malas espaçoso. Torcia para ser o segundo tipo. Já podia se imaginar deitado nos bancos de trás de uma caminhonete luxuosa, dormindo o percurso todo até a escola como um verdadeiro preguiçoso. Isso ficaria só em sua imaginação, pois não queria passar uma primeira impressão horrível. Se contentaria em ir no banco do passageiro, apoiar a cabeça na janela e tentar não apagar.

— O diretor vai lhe explicar tudo isso quando chegarmos. — Deixando uma das malas no chão, Jacob tirou uma chave do bolso e destravou um carro que, para a decepção de Adrian, não era uma caminhonete como desejara, mas era um bom carro. — Seu pai deixou uma papelada para você assinar assim que chegar na escola.

— Ah, ótimo! Tudo o que eu mais queria: passar a noite assinando documentos chatos.

Jacob riu de seu lamento enquanto guardava a bagagem uma após a outra nos bancos de trás. Ajudou a tirar a mochila dos ombros do aluno e a jogou para dentro, fechando a porta em seguida e abrindo a do passageiro. Adrian entrou e fechou a porta no tempo em que Jacob levou para dar a volta no veículo e se acomodar no banco do motorista.

— Que bom que está animado. — Fez um pequeno deboche, dando partida.

Estava bom. O escuro estava bom, aquela grande imensidão negra e aconchegante, tudo perfeito para aquela noite fria. Algo quente o enrolava, tão aconchegante quanto o escuro. E quem saberia? Talvez fosse mesmo o negro imenso que o acolhia.

— Chegamos.

Adrian pulou de susto dentro do carro. Verificando a hora, constatou que passaram quase uma hora de viagem até a escola. E para sua vergonha, pegara no sono em algum momento no meio do percurso. Tocou seu corpo em busca de algo, uma manta ou coisa do tipo, qualquer coisa que explicasse a sensação boa de aconchego. Mas não havia nada, a sensação tátil desaparecia conforme acordava. Olhando para trás, viu que suas coisas ainda estavam ali.

— É aqui que vou ficar?

— Na verdade aqui é a secretaria da escola. Você vai ficar em uma das moradias dos estudantes, eu vou levar suas coisas até lá e depois volto para te buscar assim que o diretor acabar de lhe explicar tudo.

— Posso deixar minhas coisas com você então? — perguntou para ter certeza, porém já abria a porta do carro sem nem pensar em pegar suas roupas e pertences.

— Vou levá-las até seu novo quarto, já está tudo ajeitado, você só vai ter que organizar seu espaço amanhã.

— Okay, obrigado então, professor.

Adrian deixou o veículo, o motor roncou e deu partida. Esperou um pouco, encarando a enorme mansão que se configurava na escola em si. A porta estava aberta apesar do horário, porém, a maioria das luzes estavam apagadas. Era difícil imaginar que finalmente estava ali, na escola que tanto queria evitar. No entanto, não havia mais razão para adiar a conversa com o diretor, na verdade era exatamente o contrário: quanto antes terminasse, mais cedo poderia ir dormir.

O interior, não surpreendeu-se ao constatar, era tão esplêndido e deslumbrante quanto o lado de fora. O designer era de uma arquitetura antiga, de algum século passado em estilo de realeza. Já havia visto fotos enquanto buscava informações na internet, mas estar ali, em carne e osso, era uma experiência totalmente diferente. E ele não a repudiava completamente, tanto que permaneceu extasiado com tudo até encontrar uma porta com o dizer “Diretoria” sobre ela.

Girou a maçaneta e foi entrando, parando apenas para analisar vagamente a sala e o homem na frente, debruçado sobre papéis. O homem, de pele negra e cabelos crespos amarrados em um rabo de cavalo, parou de escrever assim que ele chegou, deixando a caneta de lado e pegando outra pilha de papéis, extremamente finas, batendo-a na mesa algumas vezes para deixá-la reta.

— Adrian Signor?

— Isso — afirmou. — O professor Jacob disse que o senhor tinha alguma coisa para eu assinar, algo que meu pai pediu. Eu acho... Espero que não tenha mantido a escola aberta até esse horário só para me receber — disse com uma pitada de humor, mas sendo sério no fundo. Seu pai era um homem de grande influência, não duvidava de sua capacidade de manter a escola funcionando por uma noite apenas para recebê-lo. Já havia feito algo parecido antes. — Está tarde.

— Não se preocupe com isso — respondeu cordialmente enquanto o menino se sentava em uma das cadeiras. — Geralmente é assim por aqui antes do ano letivo começar. Temos alunos entrando e saindo o tempo todo e nem sempre dá tempo de ajeitar toda a documentação. — Soltou os papéis e, Adrian percebeu, foram em sua direção. Um gesto discreto, mas calculado. — Aliás, sou eu quem deve pedir desculpa por fazer você vir aqui a essa hora da noite. Seu pai disse que você insistiu em resolver as pendências assim que chegasse.

— É claro que disse. — A frase foi mais para si mesmo que para o diretor, que acabou ouvindo apesar de seu tom de voz baixo. — É muita coisa?

Ele não era do tipo de pessoa que costumava ter seus pedidos negados, exceto por parte de seus pais, amigos e funcionários da empresa de seu pai. Parte disso por não ser uma pessoa que exigia muito dos outros, porém, naquele instante, desejou mais do que tudo que um “Não” fosse a resposta para sua pergunta. Sentia as pontadas de sono em seus olhos, queria colocá-los sobre um colchão macio e não em uma linha pontilhada exigindo seu nome assinado.

— Não vai demorar muito, como você está cansado vou te passar o básico, amanhã um dos professores ou até um aluno pode te explicar o resto.

— Desculpa — Adrian o interrompeu, lembrando-se de um detalhe que não havia sido mencionado —, mas qual é seu nome mesmo?

Seria muito rude perguntar o nome do diretor? Seria mais fácil chamá-lo de diretor. Não precisava saber seu nome, provavelmente nem iria usá-lo, se dirigiria ao homem pela sua função.

— Clavey Roberts — respondeu. — Agora, voltando ao assunto, vou te passar as matérias do ano. No nível de ensino em que você está, pode escolher no mínimo cinco matérias para estudar, mas seu pai já escolheu as que serão cursadas.

Um enjoo passou por seu estômago e chegou à garganta, um sentimento de indignação. Sua liberdade havia sido roubada quando fora mandado ali e, agora, seu amado pai queria roubar até mesmo suas pequenas escolhas.

— Não tem como mudarmos isso? Sabe... eu escolher as matérias que eu vou cursar?

O diretor passou alguns papéis pela mesa até o novo aluno, colocando uma caneta sobre eles.

— Infelizmente não. A escolha das matérias fez parte do acordo para sua admissão, que não é nada normal, já que você foi matriculado tarde e não há vaga para todas as matérias. — Apontou para os documentos. — Pode assinar essas páginas no fim da folha, por favor.

Adrian pegou a caneta e localizou o local da assinatura. Normalmente, leria algo antes de assinar. Não naquela noite. Mal conseguia se manter acordado, quanto mais ler alguma coisa, só queria terminar ali e ir embora logo.

— E que matérias seriam essas? Posso saber? — Assinava a terceira folha de sete, contando uma por uma.

— Química, biologia, matemática, computação e artes.

— Bem variado — analisou. Devolveu os papéis com sua assinatura ao diretor. Ao menos seu pai decidira continuar o deixando estudar artes, o que era bom, uma coisa a menos para se preocupar. — Quando as aulas começam?

— Segunda-feira que vem, vão de segunda a sexta e, a cada três semanas, você pode voltar para casa de sexta a domingo. — O garoto acenava com a cabeça, assentindo a cada pouco para mostrar que compreendia o que estava sendo dito. Até aí tudo bem, só o que o incomodava era o fato de ter de cursar matérias cujo interesse era inexistente. — E você pode escolher clubes para participar.

— Quantos?

— Você pode escolher até três e ficará neles durante as tardes. As noites se dividem em tempo para estudo e lazer, aconselhamos aos estudantes dedicarem pelo menos uma hora da noite estudando.

“Aconselhamos”, essa foi a palavra que chamou sua atenção. Isso significava que o estudo nos quartos não era obrigatório, certo? Então era mais uma coisa que ele poderia excluir de sua rotina. Já dedicaria o que? Umas sete horas para as atividades do colégio entre estudo e clubes, lhe parecia ser mais que o suficiente.

— Quero o clube de artes, se tiver.

— Deixe-me ver aqui. — Clavey abriu o notebook parcialmente fechado no canto de sua mesa, que Adrian só foi notar agora, e digitou alguma coisa. — Ainda temos vagas. Posso registrá-lo? — Adrian confirmou, ouvindo o som das teclas do notebook. — Pronto, registrado. Quer tentar mais algum clube?

— Claro. O que mais vocês têm?

— Música, literatura, teatro... — O louro não soube exatamente que cara fez, mas devia ter sido de repulsa, pois o diretor logo desconsiderou as opções citadas. — E que tal um esporte? O problema é que a maioria não está com vagas disponíveis. Os únicos são basquete, beisebol e karatê.

Considerou os clubes citados. Passaria o próximo ano ali, preso, e o que decidisse agora teria de aguentar pelos meses que viriam. Se bem que não queria fazer parte de apenas um clube e, dos que lhe foram apresentados... até que aprender a lutar um pouco não deveria ser tão ruim.

— Karatê.

Mais algumas tecladas no computador.

— Registrado! Mais algum que o interesse?

Adrian pensou por um momento. Ou tentou, pois a ação realmente não era possível no momento.

— Posso ficar apenas com esses dois?

— Pode sim, sem problema nenhum. Com isso você está matriculado e já está pronto para cursar as aulas.

Finalmente, agora ele poderia conhecer o seu quarto e ir dormir um pouco. Aquela conversa já o estava aborrecendo, principalmente o fato de seu pai escolher suas matérias. Porém, isso fazia diferença? Não havia muito o que ele gostava além de sua arte, então provavelmente ficaria descontente com a escolha de qualquer outra coisa, mesmo que ele mesmo escolhesse. Pelo menos estaria nas aulas de artes. Matemática e computação haviam sido escolhidos como um preparo para que herdasse a empresa, que era o desejo de seu pai, disso não haviam dúvidas. Quanto a biologia e química... não fazia ideia o porquê desses assuntos. Eram interessantes? Sim, eram, mas inúteis para seu futuro. Pelo menos não havia sido matriculado em uma outra matéria que envolvesse cálculos, duas já eram mais que suficiente.

— É só isso? — perguntou sutilmente. — Tem mais alguma coisa para ser assinada? Alguma atividade extraclasse? — Pediu a alguma divindade que o diretor não fosse capaz de ler as entrelinhas o verdadeiro significado de sua fala: “Quero ir embora daqui. Será que tem como acabar com essa baboseira logo? Obrigado!”.

Com um olhar perspicaz, Clavey analisou seu mais novo estudante com olhos como os de um falcão se preparando para a caça. Causou um arrepio frio nos pelos do garoto, mas foi breve, seu olhar se tornou mais amigável.

— Não, te expliquei o básico, acabamos aqui. — Levantou-se da cadeira e ofereceu a mão para um aperto, o qual foi rapidamente aceito e retribuído. Ambos deixaram a sala, encontrando Jacob na espera. — Amanhã alguém ficará encarregado de lhe mostrar a escola. — Virou-se para o professor. — Jacob, pode deixá-lo no dormitório, por favor?

— É claro, diretor.

Com um aceno de agradecimento, Clavey voltou para sua sala. Depois de trocar um comprimento Jacob guiou Adrian de volta ao frio da noite e ao seu carro. Adrian não dormiu dessa vez, se concentrou em admirar a paisagem, o que era difícil por conta da escuridão da noite, então se focou em permanecer acordado até chegar ao dormitório. Tudo o que pôde perceber era que se tratava de um prédio moderno de alguns andares.

E quando entraram, Adrian pôde ver o interior: simplesmente magnífico. Uma perfeita área de lazer que era, basicamente, o sonho de qualquer estudante que morasse longe dos pais. As paredes eram completamente brancas, em um canto sem divisória estava a área da cozinha, contando com bancada, pia, armários e micro-ondas e outros aparelhos; no extremo oposto estava o que poderia se chamar sala de estar, haviam dois sofás de couro juntos formando um L frente a uma televisão de tela plana anexada na parede e, entre os sofás e a televisão, estava um tapete e, sobre ele, duas almofadas puff e uma pequena bancada; perto da sala, outro sofá junto à parede, esse de frente para o centro do local, onde estavam uma mesa de sinuca e outra de ping pong; e havia a parede entre a sala e a cozinha, cobertas por retratos de pessoas que Adrian não conhecia, uma estante com troféus e, ao lado dela, uma mesa de madeira.

— Uau... — Foi tudo o que saiu de sua boca ao deslumbrar-se com o dormitório.

— Gostou? — Perguntou Jacob, pousando a mão em seu ombro.

— Muito — admitiu, sentindo a animação preencher seu peito.

— Que bom. Não tem muito do que reclamar, não é? Dany, venha aqui. — A última parte claramente não foi dirigida a ele.

Só então Adrian notou uma figura parada nas escadas que levavam aos andares superiores. Ela se aproximou em passos incertos, encarando o professor e mantendo uma distância saudável. Adrian percebeu que, em nenhum momento, foi alvo do olhar do menino que vestia um pijama e pantufas.

— Pode mostrar a Adrian onde fica seu quarto?

Dany assentiu positivamente e Adrian finalmente deu a ele devida atenção. Os cabelos embaçados eram branco acinzentado, claramente tingidos, a pele pálida como as pétalas de um copo-de-leite e os olhos... seus olhos eram raros, apesar de não serem os primeiros daquela cor que Adrian se deparava, os primeiros foram os de Jacob. Eram de um amarelo marcante, tão lindos quanto o sol brilhante, mas o brilho dourado que devia estar neles não estava ali, parecia restar apenas uma pequena faísca atrás daquelas pupilas. As mãos pareciam ser delicadas e macias, assim como sua pele no geral, era limpa, quase não haviam espinhas. Estaria usando maquiagem? Os lábios rosados eram o que mais dava cor ao seu rosto, quebrando o padrão pálido que se instaurava naquele garoto.

Ainda assim, algo nele o incomodava, Adrian só não sabia dizer o que. Algo não parecia certo.

— Você está be...

— Venha, novato. — Ele o interrompeu antes que pudesse concluir sua pergunta. — Vou te levar até o quarto.

Dany deu as costas e voltou por onde viera, sem se virar para verificar se o outro o seguia, sem se importar. E, por alguma razão, isso incomodou Adrian.


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Notas finais do capítulo

Eae pessoal, o que acharam do capítulo de hoje? Quem será o misterioso professor? E quem será o menino doido do dormitório? Mais detalhes no próximo capítulo e o dedo de Adrian coça por uma boa confusão ♥
Obrigado a quem está lendo e acompanhando, comentários e opiniões são sempre super bem-vindos e logo logo teremos o capítulo 7 :3



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