Tempestade Azul escrita por MattSunshine


Capítulo 7
Um Garoto Muito Estranho


Notas iniciais do capítulo

Eae, pessoal, tudo bom? Finalmente chegamos ao sábado, dia de mais uma atualização. Dessa vez, que tal conhecer um pouco mais sobre o novo amigo de Adrian? Ele parece ser bem gente boa ♥. Espero que gostem :3



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/796953/chapter/7

A vista era realmente bela vista ali. Não importava em que direção se olhasse, o que se encontrava era uma vasta área verde de grama viva. A imensidão verde só era interrompida por alguns construtos da escola, como a escola propriamente dita e outros dormitórios. Ao que se podia concluir, a propriedade era imensa, agregando alguns bons quilômetros de área quadrada. E era hoje que iria conhecê-los, talvez até não desse tempo de ver tudo, então poderia tomar algum tempo do dia seguinte para ver o que não conheceria hoje.

— Pronto para ir?

Adrian tirou os olhos da natureza quase pura e impecável e abriu um sorriso de desculpas a Jacob. O professor estava parado no meio de seu quarto que, ao mesmo tempo, era tão simples e tão maravilhoso quanto o saguão do dormitório. Um roupeiro preto e branco ocupava boa parte de uma parede, era grande o suficiente para caber as roupas de três pessoas nele que correspondia ao número de camas no quarto. Uma televisão, uma estante, uma escrivaninha e um tapete vermelho também dividiam o espaço do quarto. Era tudo muito colorido, muito chique e em harmonia. Era um quarto que dava vontade de sentar em qualquer lugar que fosse e ler um livro, estudar. Com certeza fora projetado com essa intenção. Mas ele sabia que se pegasse um livro, mesmo com aquele ambiente formidável, não estudaria por nem uma hora. Por outro lado, poderia muito bem pintar naquele quarto, só precisava comprar o material apropriado.

— Vamos lá. — Se levantou, indo em direção à porta com o professor em sua frente. Lado a lado, fizeram o percurso já conhecido, atravessando o corredor e as escadas. Chegaram ao saguão, sendo recebidos pelo som de conversas, diferente da noite passada estava cheio hoje, todo sofá e mesa de jogo ocupados por alguém. Ignoraram o movimento ao redor e seguiram em frente. — O que vai me mostrar primeiro?

Os passos de Jacob eram suaves e serenos, indo de pedra em pedra na trilha que elas formavam, brancas como as paredes do dormitório.

— Hoje nada, quem sabe um outro dia?

Como assim? Não fazia sentido. Aquele era o propósito do dia, o propósito de ter sacrificado parte de sua manhã e levantado mais cedo do que levantaria em um fim de semana normal: conhecer a maldita escola. Se ele não pretendia mostrá-la, para onde o estava levando?

— Eu escolhi outra pessoa para te familiarizar com o colégio. Tomei a liberdade de olhar as matérias de alguns alunos. — Parou em frente ao seu carro, abrindo a porta do passageiro para o mais novo que entrou sem pensar duas vezes. Segundos depois, o professor estava ao seu lado e já ligava o carro. — Escolhi um que será seu colega em algumas delas e em quem confio bastante.

— E que matérias ele faz? — O dormitório foi ficando para trás e, por um instante, Adrian desejou desistir e retornar ao seu quarto e dormir pelo resto da manhã. A disposição que tinha pareceu evaporar em meio ao ar. Clicou no botão para abrir o vidro do carro, mas nada aconteceu.

— Isso você pode perguntar diretamente a ele. — Apertou um botão na porta do seu lado e o vidro desceu, o vento entrou com força batendo no rosto de ambos. — Vai ser bom para puxar assunto, ele até pode te apresentar a algumas pessoas daqui.

— Acha que é fácil fazer amizades aqui?

— Não vejo por que seria difícil. — O carro estacionou em frente a um prédio largo que facilmente atingia dois andares, seguia a mesma arquitetura do prédio que visitara na noite anterior, um designer antigo e empoderado, digno da realeza. Até o momento, o que quebrava com o antigo era seu dormitório. — Aqui é a biblioteca, dois andares cheio de livros, salas de estudo e computadores. Você vai adorar.

Não perguntou mais nada ao professor, pois sabia que suas perguntas deveriam ser respondidas pelo tal aluno, estava curioso para saber quem seria ele. Dependendo de como fosse, poderia ser seu primeiro amigo. Deveria começar a nutrir relações com outros estudantes de sua idade se não quisesse passar o ano escolar isolado e sozinho, principalmente agora que Nate e Shanola não estavam ali para ele, pela primeira vez em sua vida se viu praticamente sozinho e abandonado. E sentia muito mais raiva do que medo ou solidão.

Ainda meio consciente do que acontecia ao seu redor e meio perdido em pensamentos, Adrian andou ao lado do professor e adentrou a biblioteca, reparando de imediato a quantidade maciça de informação e livros que ali estavam contidos, muito maior que a biblioteca de uma universidade de pequeno, e até de médio, porte. Isso só deixava claro que ali era uma escola de elite, destinada aos mais ricos e inteligentes. Claro, ele era uma exceção, um colégio desses certamente teria uma lista pesada de candidatos e ele nem sequer fizera uma prova. O que seu pai teria feito para colocá-lo ali dentro? Chantagem? Suborno?

Deixou de lado tais pensamentos e se focou no que precisava ser feito.

— Esse lugar é enorme — comentou. — Sabe onde encontrá-lo?

— Mais ou menos. — Seu tom de voz beirava o de desculpas, preguiçoso e indiferente, poderia simplesmente conseguir a informação que precisava perguntando a uma das atendentes atrás do enorme balcão que vira brevemente ao entrar. Mas quem estava com pressa? — Ele passa muito tempo por aqui, é muito dedicado.

— Estou vendo...

Precisava mesmo ser dedicado naquele lugar, porém pelo modo que o professor falava, esse seu guia improvisado se destacava dos demais de alguma forma, provavelmente era algum tipo de nerd ou coisa parecida. Seria possível se darem bem? Adrian nunca fora do tipo estudioso, apesar de suas notas nunca terem sido ruins, ele fazia mais o tipo zoeiro que gostava de rir, conversar, sair e ir a festas como todo adolescente normal que não passava cada segundo do seu dia pensando em seu futuro. Um amigo nerd, vendo por outro ângulo, poderia até ser vantajoso para ajudá-lo a sobreviver ali, em especial quando precisasse de algum favor em relação a atividades de casa e trabalhos.

Caminharam a uma velocidade razoável entre as estantes, respeitando a regra imposta pela biblioteca de não correr, sempre observando os rostos que apareciam pelo caminho, Jacob tentando localizar o tal estudante e Adrian apenas o acompanhando, sem saber o que procurar. Não tinha nada, nenhuma característica, cor de pele, cor de cabelo ou fisionomia.

Adrian cometeu um erro tentando adivinhar como seria aquele que procuravam. E esse erro foi perder-se em pensamentos, pois estava tão distraído que, quando percebeu, já era tarde demais. Alguma coisa, provavelmente uma pessoa, bateu em seu ombro, desequilibrando-o. A sensação do choque foi imediata, levando os dois ao chão, suas costas bateram no piso gelado, assim como sua cabeça. Logo, não era apenas seu ombro que doía, mas suas costas, cabeça e até sua bunda sentiam algo.

Em algum momento durante a queda, estendera seus braços como forma de se proteger, o que, além de não fazer sentido, fora inútil, pois suas mãos tocavam algo firme, mas não era o chão.

Ignorando as sensações que passavam por seu corpo naquele exato momento, Adrian abriu os olhos, tentando focar-se no que estava à sua frente. Tudo o que viu foi a cor amarela que o prendeu por alguns segundos. Quando finalmente pôde desviar o olhar para analisar melhor ao seu redor, ia percebendo aos poucos o que acontecera. Percebia os olhos dourados, o amarelo intenso e ao mesmo tempo tímido, a pele pálida como se nunca houvesse visto o sol e os cabelos brancos acinzentados.

Percebia que estava debaixo do garoto que o guiara até seu quarto na noite passada. E lembrava-se vagamente de que seu nome começava com D. Ou seria B? As duas letras eram tão parecidas...

— Aqui está ele. — Ouviu Jacob dizer, sua voz soava como um zumbido incomodativo.

Ainda processava sua posição naquela biblioteca: estava caído no chão, os cotovelos apoiados no piso e suas mãos segurando o peito do rapaz, impedindo-o de ficarem mais próximos, o outro garoto sobre ele, cada um de seus braços apoiado de um lado da cabeça do louro, cercando-o. Nenhum dos dois se movia, ainda confusos pelo infortúnio.

— É... — Adrian foi o primeiro a demonstrar reação. Aquela proximidade estava começando a incomodá-lo. — Você poderia levantar, por favor?

O outro o olhou com expressão vazia e confusa, mas logo pareceu se tocar do que o menino falava e atendeu seu pedido. Adrian ia se preparava para levantar também, até que encontrou um livro caído a seu lado. Juntou-o com curiosidade. Havia uma mão estendida para ajudá-lo, ele aceitou e ergueu-se com ajuda. A capa do livro era simples e tratava de outro assunto que Adrian não se interessava: direito penal.

— Desculpa, eu estava distraído. — Estendeu o livro para o garoto que tomou-o com certa pressa.

— Não precisa se desculpar. Eu que estava correndo muito rápido. — Não olhava em seus olhos, nem sequer olhava para ele. O chão parecia ser mais interessante.

A atenção que atraíram começou a se dissipar. Aquela com certeza não era uma visão normal de uma biblioteca no sábado. Para começar, como foi que isso aconteceu? Os dois com certeza eram muito idiotas, não havia outra explicação. Adrian desejou passar uma borracha nos últimos instantes e apagar aquilo de sua memória para sempre.

Jacob se despedia com um aceno de mão, já andando em direção à saída. Os meninos sabiam muito bem o que deveriam fazer, então não havia o porquê de mais instruções.

E, novamente, veio o silêncio. Adrian o quebrou novamente:

— Então, o que vai mostrar primeiro? É... seu nome...?

— Dany! Dany Zanotti. — Ainda havia restos de vergonha em sua face. Adrian já o encarava, mas o contrário não acontecia. Ele encarava seu livro com intensidade, como se guardasse um segredo sombrio. E esse sobrenome...

— Zanotti? Como Jacob?

— É... ele é meu pai — respondeu diretamente, finalmente levantando os olhos e encarando os seus azuis.

— Você tem os olhos dele.

A mão que segurava o livro imprimiu mais força na capa dura, o que não passou despercebido pelo outro que nada comentou. Qual era o problema? Era melhor deixar para lá, nem conhecia o menino e muito menos o questionaria sobre isso. O problema era dele e não seu.

— O que quer conhecer primeiro? — perguntou, mudando de assunto. A mão não fazia mais força.

— Não sei. O que você quer me mostrar?

— Depende. O que você quer ver?

— Você é o guia, você escolhe.

— Mas você é o aluno novo.

Considerou por um instante. Havia muita coisa e talvez levasse a tarde inteira. E mais importante: era uma área muito extensa. Dany com certeza não tinha nenhum carro, então o trajeto seria todo a pé. E ele não estava a fim de andar muito, ao menos não andar até suas pernas doerem. Não haveria algum mapa para vender por aí?

— Vou te falar da biblioteca. Vem comigo, preciso retirar esse livro. — Dany se pôs a andar, como seu pai fizera alguns momentos antes, e Adrian colocou-se a seu lado, andando em seu ritmo.

— Você gosta desse assunto?

— Não muito... mas pode me ajudar de algum jeito. Enfim — fez um gesto amplo, indicando tudo ao redor —, tanto no primeiro quanto no segundo andar há livros dos mais diversos assuntos, assim como computadores e salas de estudo, individuais e coletivas. É um espaço bem amplo e completo, quase tudo o que você vai precisar referente aos assuntos das suas matérias podem ser encontrados aqui, e até mais.

Continuaram andando em direção à entrada, mais precisamente à recepção. Havia uma mesa larga de madeira rente à parede, próxima à recepção, onde livros lidos e não retirados eram largados para, posteriormente, serem devolvidos às suas respectivas prateleiras. Pilhas se formavam em diferentes tamanhos e Dany foi até o balcão da recepção, que no momento não tinha nenhuma fila, e retirou o livro.

A biblioteca era um bom espaço e, apesar de querer ficar ali por mais um tempo, concordava com Dany. Só precisava conhecer o mais importante, e sua explicação breve era mais do que suficiente. Iria conhecer melhor com o tempo, conforme fosse necessitando de tais espaços, mas por enquanto precisava ver o resto do colégio, ou não conseguiria ver tudo a tempo.

Saíram da biblioteca, onde o ambiente não era climatizado e o calor se fazia forte. As roupas que usavam eram adequadas a ele. Adrian aguardava para ver o próximo local a ser visitado, onde também esperava que o ambiente fosse mais refrescante. Não havia apenas prédios estudantis e dormitórios por ali, pelo que observava haviam estruturas comerciais também, o que deixava pouca necessidade para os alunos saírem do colégio. Parecia até uma minicidade, apesar de muitas construções serem afastadas entre si, o que fazia com que uma caminhada diária fosse necessária.

O campo verde se estendia por todo o seu percurso, formando um mar de grama amassado pelas pisadas dos dois meninos. E Adrian estava gostando de andar por ali, pelo menos até sentir um incômodo em sua barriga.

— Algo errado? — perguntou Dany, percebendo o movimento do garoto que colocara a mão sobre o estômago. O de olhos azuis desviou o olhar. Que horas eram?

— Nada demais, só um pouco sonolento. — A mentira pensada com cuidado pareceu convencer o jovem do que fora dito. Pelo menos até a barriga do mentiroso roncar de fome. E o pior: Dany ouvira, provavelmente como qualquer um em um raio de cinco metros. — Desculpa.

Ele esperava qualquer coisa. Um comentário debochado, um revirar de olhos, ser ignorado ou até uma piada. Só não esperava aquilo. Dany explodiu em uma gargalhada estrondosa, até algumas pessoas que por ali passavam pararam para ouvi-lo.

A primeira impressão que tivera do menino de cabelos branco brancos foi de um garoto quieto e introvertido, cujos olhos âmbar escondiam um grande peso na vida, grandes segredos. Quando este o levou para seu quarto, mantivera a conversação ao mínimo possível e fora extremamente objetivo, o que talvez tenha se dado por causa do horário. E hoje ele sorrira mais, porém foram sorrisos tímidos e contidos. A risada fora o ápice de emoção que Adrian o vira demonstrar, aquela risada era alta, mas sincera. Da mesma forma que foi quando pequenos pontos úmidos se formaram na beira de seus olhos e suas mãos foram em direção à barriga por causa da dor e da falta de ar. Sinceridade.

— Já acabou? — perguntou colocando as mãos na cintura, tentando fazer uma pose séria.

De nada adiantou. Dany continuava tentando controlar a risada que não parecia que acabaria logo.

— Só mais... um... pouquinho. — A frase saiu da maneira que pôde em meio ao descontrole a à falta de ar. — Estou... quase... — Depois de poucos segundos a calma veio. Ele enxugou as lágrimas que se formavam nos cantos de seus olhos e suspirou. — Pronto, acabei.

— Agradeço. — Adrian não sabia exatamente como deveria se portar nessa situação vergonhosa. Não era problema não ter comido nada desde noite passada, mas sua barriga fazer aqueles sons tampouco era conveniente.

O pior já havia passado. A zoeira, o deboche, a risada. E pelo menos só o albino ouvira aquilo. Albino... Era um bom apelido, começaria a se referir Dany assim se ele não se importasse. E, se ele se importasse, no que isso interferiria? Ele não pensou duas vezes antes de rir de sua fome.

— Tem um restaurante aqui perto se você quiser ir.

Era algo um tanto gentil da parte dele, tanto que o loiro nem sabia o que responder. Entretanto, tinham um cronograma e ele queria acabar logo com ele para poder aproveitar seu fim de semana antes das aulas começarem.

— Não precisa, estou bem — respondeu. — Ainda temos que ver a escola e é melhor não nos atrasarmos. Posso comer algo mais tarde sem problema nenhu...

E, como nada era perfeito, ao menos não para ele, sua barriga roncou mais uma vez, entregando quais eram seus desejos mais urgentes. O outro abriu um discreto sorriso que o novato não soube se era de felicidade, diversão, deboche ou ironia, só soube que o motivo daquele sorriso o incomodou, assim como sua existência. Não deixou transparecer seus sentimentos, em vez disso apenas o acompanhou no sorriso.

— Tudo bem, você venceu. Para onde vamos?

O albino mudou o caminho pelo qual inicialmente seguiriam, pedindo para ser seguido. Adrian não hesitou em aceitar o sonoro pedido, logo se postando ao lado do... poderia dizer amigo?

Conforme andavam, muita coisa chamou a atenção de Adrian, em especial como o colégio tinha instalações tão completas. Provavelmente deveria esperar isso de um colégio de elite, mas a cada segundo que ficava ali, mais se fascinava com o local e, principalmente, como funcionava por si só. Sem dúvidas tinha melhor infraestrutura que muitas universidade. Deveria se considerar sortudo por estar aí e, talvez, até se acostumasse com a ideia.

Entre lojas, mercadinhos e afins, o que chamara sua atenção foram as enormes piscinas ao ar livre. Até mesmo parou para observá-las. Eram piscinas olímpicas, longas, mas duvidava que chegasse ao tamanho de piscinas profissionais. Uma “cerca” de corda as envolvia, impedindo a entrada de qualquer um e, na água, várias pessoas revezavam sua vez para ver quem nadava mais rápido. Adrian ficou encantado com a imagem da água, em seu peito uma crescente vontade de nadar, esquecendo-se de sua fome.

Claro, o corpo logo o lembrou de suas necessidades e o garoto se voltou para Dany que havia para e o olhava com paciência, esperando que terminasse de admirar aquela parte da escola.

— Também fiquei assim nos meus primeiros dias aqui. — Sorriu compreensivo, sem notar o movimento ao redor. Água espirrava da piscina toda vez que alguém saltava, um grupo de garotos se aproximava com um balde vazio e alunos passavam por eles em roupas casuais, aproveitando o resto das férias. — Depois de um tempo você se acostuma.

— Eu não vim aqui porque quis — confessou. Por que diabos fizera isso? Por que contou a ele? Bom, não que fosse algum tipo de segredo, mas também não haviam razões para conversar com alguém sobre. E, pela expressão de confusão de Dany, ou ele não entendera o que ele disse ou não conseguira processar a informação. — Esquece.

— Você não queria estar fazendo essa tour? — Ele entendera tudo errado e isso era pior ainda. Poderia levar para o pessoal já que era ele quem estava lhe mostrando a escola. Não... agora era melhor dizer a verdade. Quem lhe mandou abrir a maldita boca? — Porque se quiser eu posso te levar de volta para o dormitório.

Ah não, era só o que faltava. Que confusão era essa que ele estava fazendo?

— Eu não queria era estudar aqui. — explicou. Procurou olhar para qualquer outro lugar. Os garotos com o balde vinham em sua direção, logo cruzariam com eles. — Meu pai meio que me mandou para cá contra a minha vontade. — Não estava mais a fim de falar sobre aquele assunto, não no momento. — Podemos falar sobre isso outra hora se quiser, aí te explico melhor.

Algo estava errado com aqueles garotos. O balde não estava vazio. A velocidade deles diminuía, mas não cessara, a direção continuava a mesma, agora se moviam de modo furtivo. Adrian observou curioso seus movimentos, mas, quando um deles lhe olhou e levou um dedo aos lábios foi que finalmente compreendeu.

Ah não...

— DANY! — gritou em aviso. Infelizmente, já era tarde demais.

O garoto virou o balde cheio de água, o líquido escorreu como uma cascata e banhou Dany, escorreu por cada centímetro de suas roupas e de seu corpo e encharcou seus cabelos brancos, nem mesmo o livro que carregava escapou. Era difícil dizer se sua expressão e grito eram de surpresa ou em função da temperatura da água.

— Dany... — O albino não tinha nenhuma reação. Adrian também olhava a cena sem demonstrar nada, sem saber o que deveria mostrar ou fazer. O que fazer?

As risadas ficaram mais altas enquanto os garotos gargalhavam e trocavam cumprimentos com as mãos, parabenizando-se pela brincadeira sem-graça que acabaram de realizar. Era uma visão enojante, raiva e impotência borbulhava dentro do peito de Adrian.

De um minuto para o outro, todo o fascínio e animação que despertara pelo colégio desapareceu, em sua mente um dos principais motivos para não ter vindo para o país lhe voltou com a força de um coice de cavalo no meio do rosto. As pessoas fúteis, superficiais e que se achavam superiores. Não era nada incomum esse tipo de pensamento quando se tinha dinheiro, fazia total sentido e ali não poderia ser diferente. O lugar era belo, bem equipado, um paraíso, e as pessoas eram a podridão que matava o Éden pouco a pouco com sua toxidade, eram as serpentes da tentação.

Adrian nunca deveria ter deixado sua casa.

— PORRA, BROWEN! — exclamou Dany, se recuperando do choque. Não foi um desafio, talvez uma reclamação ou expressão de descontentamento, definitivamente não um desafio.

Infelizmente, não foi assim que os agressores entenderam. As risadas foram cortadas brutalmente, como se alguém houvesse desligado um interruptor. Adrian não soube identificar nada de bom na situação, apenas coisas ruins. Se fosse outra pessoa, talvez, considerasse bom o fato de apenas um único garoto ter se aproximado do de cabelos branco-acinzentados. Não Adrian, pois não importava quantos se aproximasses, Dany não parecia ser o tipo capaz de se defender.

Apenas um loiro mais alto do que ambos, cujo cabelo bagunçado nas laterais dava espaço para o cabelo grande no topo da cabeça que lhe caía sobre um dos olhos que, do mesmo jeito que os demais, estava usando apenas chinelos de dedos e sungas, avançou lentamente com um sorriso debochado e peito estufado de um Dany retraído. Ele o empurrou com força o bastante para obrigá-lo a dar um passo para trás.

— O que foi? — Empurrou seu peito novamente, o forçando a outro passo. — Tem alguma coisa a dizer? — Não poupou outro empurro. — Se tiver, diga logo, tenho certeza de que é algo muito interessante.

Mas nem pensar, as palavras lhe vieram à mente. O sangue de Adrian agitou-se em suas veias e o pensamento racional o deixou, tomado por uma súbita raiva. Ele avançou.

— EI! — Havia pouca distância entre eles e esta foi cruzada rapidamente, em menos de três segundos Adrian já estava entre os dois, seu corpo protegendo o de Dany. — Para com isso. Agora.

Browen paralisou por um momento, não esperava por uma intervenção. Ao que podia julgar, suas ações não eram interrompidas por outras pessoas com muita frequência, nesse ponto ele se parecia com Adrian e o garoto odiava isso, nem sequer conhecia o outro e já detestava qualquer semelhança. Mas era aí que elas acabavam, Adrian nunca precisara abusar de outras pessoas e fazer delas uma piada para se divertir.

O choque logo passou, dando lugar a outro sentimento. A boca se abriu com raiva, pronta para retrucar.

— Não se meta nisso, Adrian... por favor. — Foi a voz de Dany que falou e foi a vez de Adrian se chocar. Ele estava ali tentando ajudar e era assim que o outro o recompensava? — Não quero te envolver nisso.

— Isso, Adrian — disse Browen com um sorriso debochado dançando em seu rosto. — Ouça o que ele diz. Não vai querer se meter nos problemas do seu namorado, vai?

Como era idiota, Adrian quase não podia acreditar em tamanha babaquice. Eram namorados apenas pelo fato de ele defender alguém que estava com problemas? Qual era seu nível de QI? Cinco negativo? O desejo de meter-lhe um soco era enorme, nunca fora um cara de briga. Sabia lutar, apenas não costumava se meter em brigas de rua, poderia até apanhar, mas estava disposto a arriscar.

No fim, não fez nada, usou suas últimas gramas de consciência para respeitar o pedido de Dany. Se o albino lhe pedira para não se envolver, quem seria ele para discordar? O garoto deveria ter seus motivos e não seria Adrian a agir contra eles.

— Vamos embora. — Browen se juntou ao grupo, impelindo-os a se retirarem com ele.

Antes de ir, lançou um olhar superior a Dany e Adrian que fizeram questão de ignorá-lo. O loiro esperou que o grupo se afastasse o suficiente, voltando para a piscina, o balde sendo arremessado em um canto qualquer, só quando julgou a distância como suficiente Adrian voltou-se ao albino que desviou o olhar envergonhado. Não sabia dizer se as bochechas dele estavam coradas ou se era sua imaginação.

— E aí, onde fica o restaurante em que você ia me levar? — Julgou ser melhor voltar a um assunto neutro, Dany não parecia confortável para falar sobre o assunto, ao menos não no momento.

Timidamente, e com certo receio, Dany encarou o loiro tentando saber se a pergunta era séria ou não. Ao fim da avaliação, revirou os olhos e sorriu.

— Aqui — disse Adrian, entregando uma bandeja para Dany. — Você não tem ideia do quanto foi difícil trazer essas bandejas aqui para fora.

Era pouco passado do meio-dia e a lanchonete estava cheia e, enquanto Dany era barrado do local por estar encharcado, Adrian pegava uma bandeja para cada um. Por sorte havia trazido dinheiro o suficiente para pagar pela comida de ambos. O garoto sorriu ao receber a bandeja cheia de comida, estava sentado ao sol na esperança de se aquecer e de que suas roupas secassem mais rapidamente, continuava encharcado. Adrian sentou-se ao seu lado.

Não pôde evitar um bocejo, o calor confortável lhe dava sono, o deixava cansado, o outro não se importou. O toque da grama, da luz do sol, o vento fresco trazendo o cheiro de gramado e terra e até mesmo a comida em seu colo formavam o ambiente perfeito para que dormisse apesar das inúmeras horas na cama desde a noite passada.

— Desculpa por aquilo antes — disse Dany subitamente, tirando Adrian de seu torpor. Se não houvesse falado, era provável que ele houvesse dormido ali mesmo. — Nunca quis te envolver nisso.

Olhou-o com o canto dos olhos, não recebendo um olhar de volta. A postura do garoto era relaxada e informal, entretanto, sua mão agarrava a grama como se fosse a coisa mais preciosa do mundo, era a única parte de seu corpo em que seu desconforto era visível.

— Quem eram eles?

— Apenas uns caras que estão sempre me incomodando. — A mão soltou a grama, sujando-se de terra, e pegou um garfo. — Mas não se preocupe, já estou acostumado.

Aquilo só poderia ser brincadeira, Adrian era incapaz de acreditar que aquelas palavras eram sérias. Incapaz.

— Ninguém deveria se acostumar com isso! — disse em um tom de voz normal, com convicção. — Vamos falar com alguém, albino. Podemos falar com o diretor, um professor ou seu pai.

— Albino? — Incrível. De tudo o que ele lhe falara, essa foi a única parte que lhe chamou a atenção?

— Seu novo apelido.

— É sério isso? — perguntou em tom de brincadeira, tentando não cair em risada. Não rejeitara o apelido de imediato, o que era um bom sinal. E, por algum motivo, Adrian sentiu-se mais relaxado com isso. — Por que albino?

A resposta não era óbvia? Tudo nele se parecia com uma pessoa albina, exceto pelos olhos. Porém, Adrian refletiu mais uma vez o porquê de ter escolhido o apelido em questão, só que não importava de que ângulo olhasse, tudo parecia ser óbvio.

— Porque sua pele é pálida e seu cabelo é branco — disse simplesmente. — Ele é natural?

Se os olhos amarelos eram naturais, o que impedia o cabelo de ser? Dany poderia usar lentes, porém Jacob tinha os mesmos olhos amarelados e, este, não parecia ser o tipo que usava esse tipo de coisa. Não perderia nada por perguntar, então por que não arriscar? Fora que era uma questão que o deixava curioso.

— Não, eu pinto. Naturalmente eles são negros.

— Interessante... Vamos falar com alguém sobre aqueles caras? — Adrian voltou ao assunto original. Pegou uma maça, jogou-a no ar e a pegou. — Se preferir alguém de confiança, podemos falar com seu pai.

Dany ficou em silêncio por um longo período, mexendo a boca como que procurando sua resposta. Adrian estava se cansando de esperar e, quando ia mudar de assunto de novo, obteve sua resposta:

— Não, por favor. — Revirou a comida com o garfo, sem fome alguma. — Prefiro não falar para ninguém, não quero me incomodar. Inclusive — ergueu os olhos, voltando-se com mais seriedade para Adrian —, sei que aqui os colegas de quarto são como nossas famílias, mas se puder não falar nada para os seus, especialmente para os seus, eu agradeço.

Seus colegas de quarto? E mais do que isso, “especialmente” a eles. Tinha coisa ali e Adrian não gostou nada.

— Por que não? — perguntou suavemente. Sem resposta. — Dany, por que meus colegas?

— Porque seu colega, Luke Evans, é amigo de Browen.

Era o que? Ótimo, dividiria o quarto com um bullying. Como se já não gostasse de pessoas podres e mimadas, agora descobria que teria de dividir o quarto com pelo menos uma. Esperava que seu outro colega de quarto fosse mais decente pelo menos.

— Já não gostei dele.

— Não diga isso, talvez vocês se deem bem.

— Não quero me dar bem com alguém que faz essas coisas nojentas com as pessoas. Principalmente com um amigo.

— Amigo? — Essa não... falei algo errado? — Você me considera seu amigo?

— Não sei, eu acho que sim. Você é legal, mas se não quiser, tudo bem.

Dany mordeu o lábio e desviou o olhar. O que se passava em sua cabeça?

— Não é que eu não queira, é que não estou muito acostumado a ter amigos.

— Bom, agora você tem. — Adrian se levantou, tomando cuidado para não derrubar a bandeja. — O que acha de comer e andar? Quero conhecer o resto do colégio.

— O que? — Dany ficou particularmente ofendido com o convite. — Nós nem devíamos estar aqui fora com essas bandejas, não podemos levá-las por aí.

— Qual é, nunca quebrou as regras? — Estendeu a mão para o garoto de cabelos brancos que ficou encarando-a embasbacado. — Você precisa viver um pouco.

— Está bem, mas só dessa vez. — Pegou a mão oferecida, que o ergueu devagar para não derrubar a comida. — Se der merda, a culpa é sua.

— E se não der?

— Idiota! — insultou, provocando risadas no outro. — Vamos logo, antes que eu mude de ideia. — Ainda rindo, Dany lhe mostrou o caminho.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Opa galerinha, tudo bom? O que acharam do capítulo de hoje? Dessa vez trazendo mais alguns personagens inusitados e, quem sabe, um pouco problemáticos? O que eu posso adiantar é que Browen ainda vai dar muito problema no futuro, isso vocês podem acreditar :3



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tempestade Azul" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.