Tempestade Azul escrita por MattSunshine


Capítulo 4
Despedida em Grande Estilo


Notas iniciais do capítulo

Eae povo, tudo bom com vocês? E seguindo nosso lindo cronograma, cá estou eu com mais um capítulo fresquinho para espiarmos a vida de Adrian. Espero que gostem ♥



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O celular tocou tarde no dia seguinte e, a contragosto, Adrian desligou o despertador. Estava totalmente desacostumado com o toque, visto que havia messes que dormia e acordava na hora em que bem entendia. Seu corpo mandava em sua rotina, quando estava com vontade de fazer algo, simplesmente fazia. Mas não seria mais assim, muita coisa mudara.

Encarou o número gravado na tela. Eram três da tarde e parecia ser sete da manhã. Dormira por muitas horas, apesar de ter parecido serem poucas, era como se houvesse dormido três. Era outro hábito que precisava mudar o quanto antes, sabia que dormir demais não era saudável, assim como dormir de menos. Mas, naquele momento, não tinha muita importância. Se não estivesse deixando o país na manhã seguinte, não se incomodaria em chamar seus amigos para sair ou, até mesmo, levantar daquela cama. Afinal, precisava aproveitar o fim de suas férias.

Atirou a coberta longe, em algum lugar qualquer no chão, e se retirou da cama coçando os olhos. Ainda vestido, procurou uma muda de roupas limpas e se dirigiu ao banheiro. Não pretendia falar com ninguém, mas ao que parecia, a vida não estava disposta a ajudá-lo nisso. Olhando o lado bom, encontrou com alguém que não guardava nenhum ressentimento naquele momento.

— Está tudo bem? — perguntou Maeve, preocupada. Não conseguia esconder direito sua preocupação, não quando se tratava do irmão mais velho.

— Estou bem. — Sorriu para a mais nova. Ela não comprou a mentira. Nenhuma surpresa. — Mas vou ficar. — A última parte era verdade, ele só não sabia quando.

— É que depois de tudo que aconteceu ontem... não sei, fui pega de surpresa. Não era algo que eu esperava.

Adrian a abraçou, compreendendo os sentimentos da irmã. Muitas vezes, ela era mais madura do que ele. Também sentia falta do pai, mas encontrava maneiras mais saudáveis de extravasar aquele sentimento. Adrian, ao contrário da menina, nunca foi muito bom em lidar com suas emoções, principalmente quando diziam respeito ao pai.

— Não se preocupe, vai dar tudo certo. — Ele beijou o topo de sua cabeça antes de se afastar cuidadosamente, mantendo os braços ao redor dela. — Até porque eu vou voltar para casa pelo menos uma vez por mês, Mark me deve isso já que é ele que vai me mandar para esse lugar.

— As passagens não são caras?

— São, mas quem é que vai pagar?

— Eu é que não. — Maeve riu contida e, quando parou, encarou o irmão mais velho, como se quisesse ter certeza de que ele estava bem.

Adrian a soltou.

— Então tudo certo, vou extorquir aquele velho até não aguentar mais.

— Tudo bem. — Ela ficou na ponta dos pés e beijou-lhe a bochecha. — Até mais.

— Até — respondeu Adrian, mas ela já havia voltado ao quarto.

Entrou no banheiro e fechou a porta.

Havia mandado mensagem para Nate antes mesmo de entrar na banheira e, após terminar suas higienes matinais, recebeu sua resposta. Havia perguntado ao garoto se poderia sair hoje, mas não lhe explicou a situação, preferia deixar para quando se encontrassem pessoalmente. Ele entenderia. Por sorte, o menino estava disponível e chamaria Shanola para sair com eles, algo que Adrian já previra.

Arrumou sua cama tão logo que voltou ao quarto, como estava antes de se deitar, e colocou a coberta para lavar. Encontraria seus amigos em pouco tempo, antes precisava apenas resolver alguns afazeres em casa e matar tempo até a hora do encontro. Até estranhara não ter encontrado os pais àquela hora. Seu pai, muito provavelmente, havia voltado para a empresa, mas onde estaria sua mãe?

Bom, não importava muito, desde que se mantivesse distante deles já seria o suficiente. Não podia negar, entretanto, que sentiria falta da mãe. Ainda era difícil de acreditar que havia concordado com tal ideia. Concordado, sem dúvidas, pois algo desse nível não partiria dela. Seu pai devia tê-la convencido de alguma maneira.

Quando finalmente se arrumou e pegou dinheiro para sair, estava dez minutos atrasado para encontrar os amigos. Deu de ombros, eles provavelmente se atrasariam também.

Encontrou com Maeve mais uma vez antes de sair. Para chegar à porta, precisava adentrar o corredor e, no outro extremo dele, estava a sala com sua irmã assistindo televisão.

— Saindo? — perguntou ela, sem olhá-lo.

— Sim, com Nate e Shanola. Não me espere acordada.

Fechou a porta assim que recebeu um sinal de compreensão. Ele não sabia que horas chegaria e nem o que aconteceria. Mas se tratando de seus amigos, não podia esperar pouca coisa.

Passavam quinze minutos do horário marcado. Claro que Adrian não podia confiar nos amigos, ele mesmo se perguntava o porquê de se preocupar em chegar no horário quando seus próprios amigos não o faziam.

Apoiava suas costas na parede de um supermercado, aproveitando a sombra e a usando como abrigo do sol quente do fim da tarde sob o céu alaranjado. De onde estava, podia ouvir o som da porta automática abrindo e fechando toda vez que alguém passava por ela e ver com perfeição os dois lados da rua. Apesar do movimento, ele reconheceria uma figura conhecida de longe.

A única coisa que tornava sua estadia ali fora suportável, além da sombra, eram as lufadas de ar gelado que vinham cada vez que as portas automáticas se abriam.

— Olá, querido. — Adrian sentiu algo fresco se enrolar em seu pescoço suado. Revirou os olhos. — Esperou muito?

— Oi, Nate. — O garoto cumprimentou cheio de ironia. Não precisava olhar para saber quem era. — Está atrasado.

Embaixo de seu braço, havia uma sacola plástica com garrafas de refrigerante e salgadinho.

— Bem saudável — comentou, recebendo uma careta do amigo.

— Fica caladinho e anda. — Nate não esperou e puxou Adrian consigo, até o momento em que o loiro passou a andar por vontade própria a seu lado. — Espero que não tenha feito planos para hoje.

— Não tenho nada. — Arqueou a sobrancelha, desconfiado. Realmente não tinha feito planos, sua única ideia era passar o dia com os amigos. — Por que? Você tem alguma?

— Podemos dizer que sim. — Ambos olharam os dois lados da rua antes de atravessar. Logo a noite se iniciaria, mas tudo estava muito bem iluminado, como esperado de cidades enormes como aquela. Se não fosse pelos postes, era pelos prédios e pelos letreiros gigantes. — Shanola e eu pretendíamos te dar um presente de aniversário, mas como a situação é diferente agora, vamos te dar mais cedo. Esperamos que goste.

— E o que é?

Nate sorriu quando seus cabelos, agora verdes, eram iluminados pela lanterna vermelha de um carro. O típico sorriso que arrancava sorrisos apaixonados de garotas, e de alguns garotos também, mas sobretudo era o sorriso que causava calafrios em Adrian. Não confiava naquele sorriso.

— Não vou estragar a surpresa. — Claro que havia uma surpresa. Algo em seus instintos gritava que não seria uma surpresa agradável. — Mas prometo que você vai gostar.

— Tem certeza que é uma boa ideia? — Não sabia o que se passava na cabeça do amigo, mas tinha que perguntar. Em especial por não saber do que se tratava era essencial perguntar. — Por favor, pensa bem antes de responder.

Ele pareceu pensar. Adrian sabia que era apenas para fazer suspense. O jeito que fingia pensar não era nem convincente, estava mais para debochado.

— Talvez não seja uma boa ideia. — Por fim, admitiu o que ambos já sabiam. — Mas é uma ideia divertida. Vamos, Adrian, Shanola e eu estamos planejando isso faz meses e quase não conseguimos nos organizar para fazer hoje. — Implorou. — Tudo porque você não avisou antes que ia estudar longe.

— Com licença? Não estava nos meus planos sair do país. Eu também soube disso em cima da hora, obrigado pela compreensão.

— É para isso que servem os amigos.

Nate parou em frente a um prédio e puxou o garoto para dentro. Era um prédio residencial comum, sem nada de especial. Exceto que Adrian nunca fora lá antes e não era o prédio em que seus amigos moravam.

— Onde estamos? — perguntou apreensivo.

— Visitando um amigo meu, você vai gostar dele.

O garoto teve a impressão contrária. Sua intenção em seu último dia em Nova York era passá-lo com os amigos, o que teria feito melhor se não dormisse o dia inteiro e eles estivessem disponíveis mais cedo, e não conhecer gente nova.

Nate não deixou espaço para perguntas ou dúvidas. Apenas chamou o elevador, em segundos as portas se abriram com um toque e logo ambos os garotos entraram. O cubículo metálico era apertado, por mais que o apartamento desse a impressão de ser de luxo. Não ficaram esmagados lá dentro, mas não podiam fazer movimentos espaçosos ou bruscos.

Adrian se apoiou em uma parede enquanto o amigo pressionava o botão do sétimo andar. Sentiram um leve puxão em suas pernas para cima, os números em vermelho se alternaram na pequena tela enquanto subiam entre os andares. Com um pequeno toque, as portas se abriram e os dois saíram. Nate bateu na porta em frente às portas metálicas.

— Já vai — disse uma voz masculina e jovem do outro lado da porta. Havia uma tranca, ela foi destrancada com um ruído metálico, a fechadura girou e a porta de madeira foi aberta. — Podem entrar.

Seus cabelos acastanhados eram penteados para apenas um lado, tinham a mesma tonalidade de seus olhos. O jovem abriu passagem e os deixou adentrarem em sua residência, fechando a fresta que abriu para entrarem.

O que exatamente Nate teria em mente? Suas ideias e tentativas de diversão geralmente tendiam ao caos, a acabar em problemas. Porém, ao mesmo tempo em que conseguia ser um cataclismo ambulante, Adrian confiava nele. A situação, por outro lado, não merecia tanto sua confiança quanto o amigo. O que ele desejava levando-o ali?

O apartamento em si era bastante organizado. Adrian não sabia se esperava por isso ou se esperava por algo. Tanto ele quanto Nate eram organizados, mas ele mesmo se deparava com seu quarto virado de cabeça para baixo em alguns momentos. O garoto passou a mão pelo cabelo, tentando fazer-se parecer à vontade quando, na verdade, não estava. Não tinha medo de ir na casa de estranhos, a sua insegurança estava totalmente voltada para o “presente” do amigo a ele.

— Aqui está o pagamento. — Nate estendeu uma quantidade relativamente média, beirando a grande, de dinheiro ao menino. Assim que ele contou, o esverdeado entregou a sacola que carregava. — E aqui o resto, conforme combinado.

Adrian tensionou o corpo. Conscientemente, deu um passo para trás, ficando mais próximo da porta enquanto os dois conversavam no centro da sala. Na sacola recém-entregue, foram retirados um refrigerante, um salgadinho e uma bandeja de isopor com alguns bolinhos de chocolate.

— Finalmente, eu estava com fome. Pode colocar na cozinha? — Guardou a comida de volta na sacola plástica e entregou a Nate que os deixou sozinhos sem pestanejar.

Então eram dois com fome. O loiro não comera quase nada em casa antes de sair. De fato, dormira boa parte do dia e, a outra, ficou entediado pensando em como faria para o tempo passar mais rápido e arrumando algo para fazer. Queria ter feito mais com seus amigos, mas, infelizmente, eles também tinham suas vidas e, mesmo estando de férias, tinham seus afazeres também.

— Pagamento? — Saiu do quesito fome e voltou à realidade. O que Nate e Shanola tinham inventado agora? — Que papo é esse?

— Não te contaram? — O menino não deu importância para sua dúvida, fazendo uma pergunta ao invés de dar uma resposta. Sentou no encosto de mão do sofá. — Nate me pediu um favor para você. Adrian Signor, não é?

Adrian acenou positivamente.

— Vem comigo. — Deixou a sala com um sinal de que queria ser seguido. — Nate, nós vamos no meu quarto, vamos adiantar as coisas.

Não esperou para ver se era seguido, simplesmente presumia que seria. Adrian considerou seriamente por um instante desistir de tudo e sair daquele apartamento, ir para casa e deixar tudo aquilo de lado. Entretanto, uma pontada de confiança o cutucou. Era de Nate que estava falando, ele não faria nada para colocá-lo em problemas. Ou pelo menos não faria algo que sabia que daria errado, mesmo não tendo as melhores ideias às vezes.

Revirando os olhos, decidiu seguir o garoto que, pelas feições, devia ter mais ou menos a idade deles. Teve de olhar cômodo por cômodo para encontrá-lo, mas por fim achou o quarto certo. Quando entrou, o dono já arrumava o espaço, ajuntando pacotes de doces e os colocando em um canto perto da porta.

— Pode sentar ali — disse, apontando para um banco em frente a uma tela de fundo branca.

Fazendo o que lhe foi pedido, Adrian se deparou com a lente de uma câmera em sua direção, montada sobre um tripé. Estranhava tudo aquilo, decidido a apenas observar e ver no que daria. Segundos depois, Nate surgiu na porta sem a comida, encontrou seu olhar e sorriu com o polegar erguido em forma de aprovação.

— Fique com a coluna reta. — Pediu o menino com o rosto atrás da câmera.

O flash o cegou por um instante. Abriu os olhos, vendo pequenos pontos de luz branca aos arredores. Também havia um som, o barulho de uma impressora imprimindo alguma coisa.

— Pronto — disse o menino.

Esfregou as mãos nos olhos para limpá-los. Assim que sua visão se normalizou, o estranho lhe entregou um pequeno retângulo plástico.

— Uma identidade falsa? Sério? — Adrian, apesar da surpresa na voz, aceitou o objeto e o guardou no bolso.

— Nate já havia me passado seus dados — disse o garoto —, a única coisa que faltava era a foto.

— Tem um lugar que queríamos te levar quando tivesse idade suficiente, e ir com você. Mas depois do que nos contou ficamos um pouco ansiosos, mesmo que desse para esperar.

— E me pagou para fazer a identidade já que ele me conhece e sabia que eu faria um desconto. Jonathan, a propósito.

— Adrian. — Apresentou-se por educação. Jonathan já sabia seu nome.

O celular de Nate começou a tocar e, pela música, ele já sabia quem era. Era um toque dedicado totalmente a ela.

— Oi, tudo pronto? — perguntou direto, sem nem saudá-la direito. — Okay, estamos descendo. — Guardou o celular no bolso, um sorriso perfeito em seu rosto. — Shanola está nos esperando lá embaixo.

— Que rápido, logo quando acabamos aqui. — Jonathan pegou a câmera, retirando-a do tripé, em seguida se preparou para desmontar a tela de fundo branca. — Que timing perfeito.

— Na verdade eu mandei mensagem para ela enquanto estava na cozinha.

Adrian pôs as mãos na cintura, assumindo uma postura mais séria.

— E pode-se saber para onde os três estão planejando me levar hoje à noite?

Os dois se olharam culpados, abrindo um sorriso sorrateiro e suspeito. Dentes brancos e brilhantes abrindo as portas para a perversão.

Provavelmente era o tipo de lugar que seu pai não aprovaria.

E por isso ele não seria capaz de dizer não.

Shanola estava em um táxi, esperando por eles. Ela estava sentada no banco da frente, mas trocou de lugar com Jonathan para ficar ao lado do namorado. Sem surpresa nenhuma, seu cabelo também era verde. Os dois mudavam a cor do cabelo pelo menos uma vez a cada dois meses, em determinadas ocasiões chegaram até a usar duas cores diferentes.

Mas não importava muito, estavam quase chegando ao seu destino.

— Obrigada — disse Shanola quando recebeu o troco de volta.

Estavam parados em frente a uma rua movimentada, mais precisamente em frente ao que parecia ser um tipo de clube. Shanola, ao vê-lo parado analisando o local, empurrou-o até uma pequena fila que aguardava para entrar.

Parecia um lugar chique e caro, um lugar como os que sua família frequentaria. Quem sabe, se curtisse o local, traria sua mãe e irmã ali algum dia. Iriam jantar? Isso explicaria o porquê de Jonathan não ter comido nada antes de saírem. E, enquanto a fila andava, Adrian só pensava em que tipo de restaurante ou clube seria aquele para que houvesse a necessidade de um segurança.

Seus amigos e Jonathan já pegavam suas identidades, ele só tinha a falsa que recebera menos de uma hora antes e, sem alternativa, a sacou, pronto para mostrá-la. O trabalho do outro devia ser bom, caso contrário ele seria parado ali mesmo, talvez até preso, embora não achasse que as coisas se complicariam até esse nível. O máximo que poderia acontecer era não poder entrar e ficar sozinho do lado de fora.

— Identidade? — O segurança perguntou.

Os outros seguiram na frente, entrando primeiro. Adrian prendeu a respiração enquanto o mais velho analisava a identicidade falsa após o menino tê-la entregue com o coração na mão. Olhou para as luzes brilhantes que compunham o nome do local, em seguida baixou os olhos de volta. O chão estava sujo, coberto por poeira e restos. A noite era fria ali fora.

O ar já lhe faltava. Fazia quantos segundos que prendera a respiração?

— Tudo certo. — Adrian soltou a respiração e guardou o objeto no bolso de trás.

Entrou logo, antes que o guarda mudasse de ideia. Os demais o receberam assim que adentrou, com sorrisos. De imediato, notou que aquele não era o tipo de lugar que gostaria de visitar com sua família. O que iluminava tudo eram luzes coloridas que vez por outra trocavam sua tonalidade, nunca uma luz normal. Nas mesas, haviam pessoas comendo e bebendo, em especial bebendo. Eram mesas redondas médias de vidro com três bancos estofados cada um, provavelmente em cores claras já que a tonalidade mudava junto com as luzes.

O mais impressionante nem era isso. Eram os palcos e barras de poli dance ocupados cada um por uma mulher diferente para os quais todos olhavam. Elas dançavam de maneira erótica e sensual, grudando-se nos mastros, descendo, subindo e girando ao longo deles, todas com roupas extremamente curtas.

Diante daquilo, a visão não pôde evitar de deixá-lo excitado.

— Por que, exatamente, estamos em um clube de strip? — perguntou Adrian, tentando de todas as formas esconder sua ereção.

— Eu sabia que você ia gostar! — exclamou Nate, não entendendo o recado oculto nas palavras do amigo.

— Eu não tenho idade para vir em um lugar desses! — exclamou baixo, mas alto o bastante para que os outros pudessem ouvir.

— Nem a gente — respondeu Shanola. — Mas aqui estamos nós.

Não se surprendeu ao perceber que o garoto não deu muita importância para a situação. Se surpreenderia mais se o garoto mudasse de ideia e agisse com cautela. Por fim, concordou em silêncio com a ideia, já que estavam ali, não tinham motivos para não aproveitar.

— Quero uma bebida.

Nate e Shanola sorriram em vitória e o guiaram até o bar. A maioria das empregadas eram mulheres, vestindo roupas tão curtas quanto as que se apresentavam para os clientes, estilo coelho. Os homens, que formavam a grande minoria, eram geralmente musculosos e sarados, vestidos com uma gravata borboleta e uma cueca de veludo.

— Uma vodca e quatro copos. — Pediu Shanola.

A mulher atrás do balcão sorriu, se virou para examinar as prateleiras. Com o dedo indicador, ficou escolhendo a bebida.

— Ali — Shanola apontou, ajudando a mulher.

— Obrigada. — Pegou a garrafa com quatro copos e os distribuiu entre eles. — Aqui está.

Jonathan pagou pela bebida e se sentou em um dos bancos, virando-se para apreciar as mulheres. Adrian percebeu seu olhar na mais velha dentre as três que dançavam. Nenhuma era velha realmente, mas a que parecia ter trinta anos se destacava entre as que pareciam ter vinte e poucos.

Ele, em particular, preferia mulheres da sua idade, quando crescesse o gosto provavelmente persistiria. Nunca gostou muito de uma diferença de idade, seus pais também tinham uma faixa de idade semelhante.

Não demorou muito a se acostumar com o local. O clima era muito parecido com o de uma blitz ou de uma balada, a única coisa diferente eram as pessoas quase nuas dançando e não era como se ele não houvesse visto coisas além daquilo. De fato, não era mais virgem, tampouco tinha arrependimentos quanto a isso e, se tivesse, seriam em relação à pessoa com quem perdeu. Não era a famosa pessoa amada por quem nutria fortes desejos e paixões arrebatadoras, em vez disso fora apenas uma garota a quem confiava o bastante para ceder esse pedaço de si. Arrependimento era uma palavra que não cabia ali.

No fim, foi uma boa experiência, de toques e carinhos e de autodescoberta. Ainda mantinham contato e, de vez em quando, uma foda casual, mas nada sério, nenhum relacionamento. E os dois estavam de acordo com isso. E, de repente, percebeu que era outra coisa da qual teria de abrir mão quando fosse para a nova escola.

— Vamos apenas ficar olhando? — perguntou Adrian aos demais com um sorriso no rosto, sentindo uma pitada de luxúria recente, instigada pela nostalgia que sentiria daquela cidade. — Ou vamos nos divertir um pouco?

— Parece que o tigrão acordou. — Zombou Jonathan retribuindo o sorriso com um debochado. — Mas tem razão. — Entendeu a mão, passando os dedos na barriga exposta de uma garçonete que passava. Ela sorriu para ele e seguiu seu rumo. — Vamos nos divertir.

— Vocês podem brincar, meninos — disse Shanola, enganchando-se no braço do namorado. — Nate e eu vamos ficar por aí dando uma olhada. Só viemos porque queríamos conhecer o ambiente.

Aquilo devia ser verdade. Apesar de ser um casal aberto a experiências, respeitavam o limite da monogamia, porém Nate sempre teve curiosidade quanto a lugares como aquele e Shanola compreendia tal curiosidade. Inclusive, ela mesma tinha as suas. Nunca trairiam um ao outro, tinham um nível de confiança mais alto que o normal entre os casais da idade, ou entre qualquer casal.

Inclusive, Adrian tinha certo conhecimento da vida sexual dos dois. Se os amigos tinham intimidade o suficiente para levá-lo a um clube de strip ele possuía a mesma intimidade para saber algumas coisas sobre a vida sexual de ambos. Como, por exemplo, que Shanola era bissexual e que, provavelmente, estava apreciando a visão que o lugar proporcionava aos clientes, tanto dos garçons quanto das dançarinas. E que Nate se identificava em algum aspecto dentro do espectro assexual, porém Adrian nunca lembrava direito o que era.

Sua garganta ardeu em fogo quando bebeu um gole longo de vodca pura. Bebia com certa frequência, mas era um esforço enorme se acostumar com aquela sensação. Adrian apertou o copo em sua mão, entortando-o um pouco, era negro e continha o logotipo do clube em um verde neon.

— Então nos separamos? — perguntou Jonathan, servindo-se com mais vodca.

Era incrível como as luzes davam um tom tão especial e vívido. Os quatro se encararam por um instante, forçando a vista para enxergar uns aos outros em meio ao neon e a sede por sexo que exalava de cada centímetro, uma excitação que embriagava o próprio ar e causava uma euforia principalmente nos mais novos. As pessoas mais velhas se mantinham mais na sua, observando, enquanto os mais jovens compunham a porção que promovia mais agitação.

— Acho que sim — respondeu Nate, bebericando de seu copo. Em seguida, deu as costas. — A gente se vê por aí. — Partiu, deixando-os para trás e levando sua namorada consigo, ambos rindo e olhando ao redor como dois turistas.

— O que vai fazer? — perguntou ao castanho. Não o conhecia direito e parecia grosseria de sua parte simplesmente o largar sem dizer nada, então tinha de perguntar. Claro, não se importaria se ele o fizesse, só queria ter certeza de não fazer nada desagradável. — Vai ficar por aqui ou vai andar?

— Vamos dar uma volta? — Convidou, tomando a garrafa que o casal deixou para trás. Fez um gesto indicando mais à frente, chamando-o para se aproximar dos palcos. — Quero ver mais de perto.

Adrian concordou em silêncio e seguiu o garoto. Os dois se aproximaram, vagando entre as mesas cheias de gritaria e energia. Quando passavam, um homem quase derrubou bebida neles, claramente bêbado. Pediu desculpas por aquilo, ou tentou pedir, e voltou a dar atenção à sua companhia, uma das empregadas que com certeza não estava satisfeita naquela noite. Ela parecia desconfortável e pedia socorro em silêncio com os olhos. Aquele era seu trabalho, mas haviam limites a se cruzar. Infelizmente, Adrian apenas sorriu culpado e se despediu.

— O que tem lá em cima? — perguntou, erguendo a voz para Jonathan.

— Salas — gritou ele de volta, mais alto que a música. Encontrou uma mesa e puxou o loiro para juntar-se a ele. — Para a gente transar. Aqui tem tudo que você pode imaginar desse tipo de coisa.

Não deveria se surpreender, mas surpreendeu-se mesmo assim, na verdade algo como aquilo já devia ser o esperado. E pensar que Nate e Shanola planejavam levá-lo ali sabia-se ali havia tanto tempo. Não o desagrava totalmente.

— Sei — respondeu simplesmente.

Se pôs a observar a dançarina mais próxima. Ela usava uma calcinha negra, tão escura quanto seus cabelos cacheados. Ela rebolou no mastro, enlaçando-se nele com suas pernas, jogou o corpo brilhoso e coberto de suor para trás e o girou. Tocou com delicadeza os rostos daqueles que se sentavam mais próximos, levando-os a elevar a voz ou a tentar tocá-la em retorno, mas inutilmente, pois seu corpo já havia se afastado. Sentiu inveja por um segundo e desejo de se aproximar mais um pouco daquele palco.

— Você... quer chegar mais perto? — Despertou com a voz de Jonathan próxima ao seu ouvido. — Não quer?

Impossível. Seu olhar lhe entregava tanto assim? Era vergonhoso.

— Não. — Negou. Nem morto ele estaria babando. Negaria até a morte. — Aqui está bom. A não ser que você queira.

— Se tivesse espaço...

Era verdade. Bom, tecnicamente havia espaço, apenas não havia lugar para sentar. Havia uma pequena zona, um perímetro tarado em volta das dançarinas com homens e algumas mulheres tentando tocá-las e jogando dinheiro. Elas não recolhiam, juntavam as notas com os pés em movimentos suaves, vez ou outra as pegavam e colocavam nas vestimentas.

Adrian serviu-se de outro copo de bebida, porém foi cauteloso em bebê-la dessa vez. Conhecia seus limites e não os ultrapassou, permitindo que o líquido descesse devagar pela garganta. Lambeu os lábios, umedecendo-os.

— Vou dar uma volta. — Anunciou a Jonathan, começava a ficar entediado sentado ali. O garoto podia ficar sentado observando, mas ele já não estava a fim apenas disso. — Talvez eu use umas daquelas salas.

— Eu vou ficar mais um pouco por aqui — respondeu Jonathan, sem se dar a entender que o acompanharia. E assim o quarteto estava desfeito, não durou muito tempo.

Adrian se levantou, encheu o copo quase até a borda e refez o caminho pelo qual viera. Passou com cautela pelo homem que quase derrubara bebida nele antes, porém ele ainda estava ocupado com a moça que se mantinha o mais afastada dele que o trabalho permitia. Concentrou os olhos para ver através das luzes que, no momento, estavam vermelhas. Seus movimentos entre a multidão não eram suaves, ele mal conseguia se mexer, tentou encontrar um espaço mais vazio para transitar.

A galera do lado de fora devia finalmente ter entrado, pois a multidão não estava tão densa antes. Por sorte ali era bem arejado, fresco. Se olhasse bem, veria pequenas cortinas de fumaça na altura dos pés e das coxas, liberadas regularmente para criar um clima mais adequado. Diferente de baladas mixurucas, aquele clube tinha uma boa estrutura para manter esses efeitos e não matar ninguém sufocado.

— Desculpa. — Pediu para quem quer que tivesse esbarrado.

Direcionou seu olhar para a figura encurvada para um lado, indicando que havia sido empurrada havia pouco. As tiras vermelhas do sutiã marcavam sua pele clara, encobertas por um cabelo liso da mesma cor que se camuflava nas luzes, mas gritavam em indiscrição no meio das pessoas. Era um dos cabelos mais indiscretos que já vira, mas ali nem seriam percebidos.

— Não tem problema. — A figura falou de volta.

Provavelmente sua pele estava cheia de base, pois era impossível que fosse tão linda, tão sem defeitos ou imperfeições.

Uma pinicada no meio das pernas causou-lhe um incômodo momentâneo. Não demorou para reconhecer o desejo. Agora só tinha que pensar em um modo de convidá-la para as famosas salas, isso se ela fazia aquele tipo de coisa.

— Desculpa, mas... posso perguntar o que tem lá em cima? — Apontou para as escadas, fingindo curiosidade. Parecia um bom modo de tocar no assunto.

— Ali? — Ela seguiu seu dedo com o olhar. — São quartos, para quem quiser fazer alguma coisa mais... privada. Entende?

— Acho que sim. — Desviou o olhar, pensando em qual seria sua próxima pergunta. Teria problema se fosse direto ao ponto? Tinha a impressão de que não, podia ser até melhor para não perder tempo, mas era direto demais. Em algumas situações, ele abordara garotas em festas com essa mesma intenção e fora direto sobre o que queria. Por que ali não conseguia? Estava nervoso por ser sua primeira vez naqueles clubes? — Posso levar quem eu quiser ou precisa ser uma das funcionárias daqui?

— Não, quem você quiser. — Ela respondeu sem restrições, explicando-lhe como tudo funcionava. E parte de sua pergunta não tinha segundas intenções, afinal não sabia como funcionavam as coisas. — Mas se for com uma das funcionárias você vai ter que pagar. Você entra e cada quarto tem uma cama e chave.

— É caro?

— Cem dólares.

— Posso entrar com você então?

Aí estava, o que queria desde o início, finalmente dissera na cara dura. Aguardava para ver a reação dela.

A garota sorriu. Não um sorriso safado, nem tímido. Um sorriso de cortejo.

— Mas é claro. — Ela o pegou pela mão e o puxou. Adrian não resistiu e se permitiu guiar. — É sua primeira vez aqui, querido?

— Está tão na cara assim? — Riu consigo mesmo. A garota riu junto, como se fosse uma piada de ambos.

— Não se preocupa, quem nunca esteve aqui fica curioso sobre tudo, então pode perguntar se tiver alguma dúvida.

— Obrigado.

Não disseram mais nada até o fim da escadaria. Ela o guiou até o quarto e fechou a porta com a chave.

Ali dentro, o som de fora era abafado, ainda ouvia-se música, mas não alta. As paredes eram vermelhas com recortes de coração, a cama era um acolchoado redondo enorme e, no centro do quarto, um mastro de poli dance.

Admirou a decoração, notando uma certa preferência pelas cores roxa e vermelha que o clube obviamente tinha. Observou também a cômoda polida ao lado da cama, sobre a qual a chave da porta foi deixada.

— Quer? — Ofereceu a vodca, estendendo o copo.

Com um aceno, ela o tomou de suas mãos e bebeu. Engoliu o líquido e pôs o copo ao lado da chave. Com um empurrão leve, o mandou para sobre o colchão. Adrian reclinou-se, sorrindo. Sua calça exibia um volume recente.

— Por onde quer começar? — Subiu com ele na cama, cercando-lhe a cintura com as pernas, uma de cada lado. — Quer que eu dance para você? — Aproximou o rosto do dele, fechando seus olhos e baixando o tom de voz. — Ou quer ir direto para a parte divertida?

Tocou seu peito, fez pressão e enlaçou as mãos nos ombros. Na dobra do pescoço, depositou sua boca e chupou a pele de leve, sem deixar marcas. Adrian gemeu.

A garota era rápida e não perdia tempo. Ele gostava disso. E gostava da mão dela o tocando, gostava de como deslizava por seu peito, sua pele, como chegava à barriga... O jeito que ela erguia sua camiseta, o choque de temperatura...

A música ficou mais alta, algo em seu bolso vibrou com força, tirando-o de seu pequeno momento de luxúria.

Adrian bufou, decepcionado, enquanto tentava ignorar o toque de seu celular.

— Não vai atender? — perguntou a garota, obviamente incomodava com a chamada que os perturbava.

À contragosto, o loiro puxou o celular do bolso. Bufou mais uma vez ao ver quem estava ligando. Era uma péssima hora.

Afastou a garota com delicadeza, pedindo espaço em silêncio, enquanto encarava a tela do objeto vibrante, decidindo se atendia ou ignorava, sabendo que as ligações continuariam vindo até que atendesse.

— É meu pai — confessou. Recusou a ligação, mas não guardou o celular no bolso, pois logo haveria outra.

— E daí?

— Quer dizer que eu tenho que ir.

Jogou o corpo para trás, sendo acolhido pelo colchão. A segunda ligação veio e a música recomeçou. Adrian pensou que ela fosse deixá-lo sozinho, sair do cômodo ou voltar a tocá-lo. Porém, lhe fez uma única pergunta:

— Eu ainda vou ser paga, não vou?

Adrian lhe lançou um olhar azul, pensando se a pergunta era séria, pois não haviam feito nada. Nada que valesse a pena. Mas a pergunta era mesmo séria. Bom, dinheiro não era o problema... e certamente não encontrou resistência em abrir a carteira.


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Notas finais do capítulo

Quem nunca fez uma identidade falsa para ir com os amigos em uma casa de strip tease? Adrian realmente tem uns amigos bem... únicos kkkkkkkkkkkkkk

Espero que tenham gostado desse capítulo, pois logo logo o fim de semana chega com mais um ♥. O que será que aguarda o nosso loirinho? :3

Obrigado a todos que estão acompanhando essa história, comentários são sempre importantes seja com elogios, críticas e sugestões ♥



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