Tempestade Azul escrita por MattSunshine


Capítulo 3
Casos de Família


Notas iniciais do capítulo

Opaaa, tudo bom? Faz apenas 3 dias e aqui já estamos com mais um capítulo fresquinho para vcs, espero muito que gostem ♥
Qual será a treta que Adrian vai arrumar com a família dessa vez? :3



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Seu plano inicial era deixar a cozinha, subir para seu quarto e se trancar lá pelas próximas horas. Quem sabe descer até a cozinha de madrugada para comer algo se não suportasse a fome. Infelizmente, não conseguiu ser tão rápido, mal tinha saído do cômodo quando esbarrou com ele no corredor.

Nenhum dos dois caiu, mas foi o bastante para fazer o garoto perder o equilíbrio e se apoiar no batente da porta. Seus cabelos loiros desalinhados carregavam consigo o cansaço e estresse das últimas horas que, na verdade, eram dias. Sem nenhuma surpresa, carregava consigo uma pasta de papel pardo embaixo do braço, as olheiras sob seus olhos eram profundas.

Não ficava surpreso por vê-lo assim, estava melhor do que imaginara. Geralmente era esse o resultado de dias e mais dias sem voltar para casa, dormindo no trabalho. A roupa, apesar de amassada, não estava suja, e ele não estava defendo como era o esperado, havia um cheiro de banho recente. Se tomou banho, não trocara de roupa. A mesma camisa, mesma gravata e calças formais demonstravam os dias consecutivos de uso, a ponta dos sapatos também estava gasta, precisando com urgência ser engraxada.

Um sorriso se abriu em seu rosto ao ver o mais novo em sua frente, como se não o tivesse feito horas atrás em uma conversa um tanto desconfortável. Diante do sorriso, uma raiva borbulhou dentro de Adrian, como se fosse uma afronta pessoal, o que praticamente era. Como exatamente poderia estar sorrindo depois de decidir mandar o filho para o outro lado do planeta?

As unhas machucavam a palma da mão, mas ele não se importou. Bufou e deu as costas, indo para a escada. Seu quarto estava perto, apenas alguns degraus de distância.

Outra figura surgiu no corredor, menor que a primeira. Seus cabelos escuros caíam ao redor do pescoço como os da mãe.

— Está tudo bem?

Havia uma preocupação genuína em seu olhar. Claro que ela não sabia de nada, não tinha culpa. E seu rosto devia estar realmente retorcido de raiva para despertar tamanha preocupação. Mordeu a bochecha por dentro para amansar sua expressão. O olhar da irmã se suavizou.

— Estou sim, só um pouco cansado. — Bocejou para ela, a fim de dar mais credibilidade à sua mentira.

Maeve não era do tipo que se deixava enganar fácil, principalmente pelo irmão. Estava sempre um passo à frente de suas mentiras, portanto, sabia que era inútil tentar esconder algo dela. Era provável que tivesse notado que algo estava errado, porém não insistiria se ele não quisesse falar a respeito. Era assim que sua irmã era, difícil de enganar, mas transparente como um cristal.

De um jeito ou de outro, ela descobria em breve o que estava acontecendo. Faltavam poucos dias para o retorno do ano letivo e não havia como prolongar uma mentira por muito mais tempo.

— Só isso?

Perspicaz como sempre. Adrian sorriu e afagou seu cabelo com as mãos, tirando algumas risadas da garota. Afastando-se um pouco, ela segurou seu braço, enganchando-se nele.

— Vem logo, tira essa cara de quem chupou limão e vamos comer que eu estou morrendo de fome.

Não deu tempo para o garoto responder e logo estava o puxando pela casa. Seu pai, em algum momento, havia deixado o corredor, o reencontraram novamente na mesa de jantar. Jacqueline terminava de colocar as panelas sobre a mesa, não havia sinais de choro em seus olhos, como se a conversa nunca tivesse acontecido. Adrian estranhou seu comportamento normal enquanto se deixava guiar pela irmã.

Sentaram-se um ao lado do outro, deixando as pontas da mesa livres. Para seu desconforto, percebeu que teria de se sentar em frente ao pai pela próxima meia-hora, com ele e sua esposa fingindo que tudo estava normal, que nada de mais estava acontecendo. Como conseguiam fingir tão bem?

Quantos dias teria ali até ser mandado embora?

Pegou uma colher e se serviu, antes que sua irmã tivesse mais motivos para suspeitar dele. Tinha prática em esconder coisas dos pais, e da irmã, mas a habilidade da garota de encontrar coisas era quase tão boa quanto a sua para esconder. Às vezes parecia que ela era capaz de ler sua mente, alguma conexão estranha entre irmãos.

Levou uma garfada de macarrão com queijo até a boca enquanto sua mãe cortava a carne. Não se deu ao trabalho de iniciar uma conversa.

— Como foi o trabalho hoje, querido? — perguntou Jacqueline, como se fosse uma pergunta cotidiana, como se ele tivesse pisado em casa durante a semana.

— Estamos correndo para exportar o resto dos produtos desse mês, assinamos mais um contrato, então a meta mensal cresceu ainda mais — respondeu com voz cansada e um sorriso que não abandonava seu rosto. Os talheres quase caíram de suas mãos quando os segurou. — Mas acho que vamos conseguir. Tive que resolver alguns transtornos financeiros e coordenar alguns trabalhos.

— Parece cansativo. Aqui também não tem sido tão tranquilo. — A mulher deu uma rápida olhada no filho ao dizer essas palavras, uma espécie de indireta para saber do que ela estava falando. — E Maeve quer dormir fora antes do início das aulas, alguma festa do pijama.

Festa do pijama era a cara de Maeve.

Adrian revirou os olhos discretamente. As aulas começariam em menos de duas semanas e ele ainda tinhas suas malas a fazer. Devia fazer algum tipo de plano para seu último dia em Nova York. Se fosse para deixar a cidade, a deixaria com estilo. Se algo desse errado, seu pai poderia concertar com dinheiro, já que era o que mais valorizava.

Devia ter dois dias, em torno disso, antes de ter de partir. Como exatamente iria aproveitá-los? Provavelmente os passaria com seus amigos, Nate e Shanola. Os dois eram tão parecidos que poderiam se passar por irmãos, mas na verdade eram o casal mais fofo que já conheceu. Eram seus melhores amigos, praticamente os seus únicos. Gostava de seus colegas de escola e se divertia na presença deles, mas no fim do dia eram apenas isso: colegas.

Apesar de não ter muitos laços com as pessoas de sua cidade, ainda era seu lar. Onde nasceu, cresceu e viveu a vida toda. Não podia simplesmente se mudar de um instante para outro e fingir que estava tudo bem com isso. Seu pai constantemente reclamava de sua irresponsabilidade, mas não era como se tivesse moral para falar alguma coisa, afinal era exatamente igual. Como dizia o ditado: tal pai, tal filho. Apenas evitava de dizer isso por respeito à sua mãe.

— Se ela quiser, não vejo porque não deixar. — Abriu um sorriso para a filha, servindo-se pela segunda vez.

Estava comendo demais, até para ele. Quando fora sua última refeição decente? Quando comera alguma coisa além de barras de cereal e sanduíches?

— Também vou sair amanhã de tarde. — Adrian avisou por pura educação. Seus pais ergueram os olhos, surpresos. — Acho que vou passar o dia com meus amigos.

— Que amigos? — perguntou Mark, fingindo indiferença.

Nate e Shanola eram praticamente seus únicos amigos, ou os mais próximos. Entretanto, não era incomum sair com seus colegas de escola. Talvez os considerasse um pouco amigos, apesar de tudo. Seu pai, por outro lado, não era o mais fã deles.

— Nate e Shanola — respondeu com naturalidade, vendo uma rápida expressão de desgosto passar pelo rosto do mais velho.

Jacqueline parou o movimento que fazia com a colher, pronta para interferir se algo desse errado. Maeve arregalou os olhos, aguardando uma possível discussão. Raramente as duas se intrometiam nas discussões que os dois tinham, apenas quando iam longe demais.

— Tome cuidado.

— Por que? — Por que não eram boas companhias? Adrian estava cansado de ouvir isso do pai. Nem os conhecia direito para fazer afirmativas tão absurdas. — Vai ser meu último dia aqui mesmo, acho que tenho o direito de passá-lo como eu quiser.

— Último dia? — perguntou Maeve. Mark e Jacqueline trocaram olhares perigosos por um rápido instante. Porém, perceptiva como era, a mais nova não deixou passar despercebido. — O que está acontecendo aqui?

Pelo visto, alguém tinha planejado manter segredo. Que peninha.

— A mãe e o pai querem me mudar de escola — disse Adrian para a irmã.

— E o que tem de tão assustador nisso?

Adrian deu de ombros. A raiva o inundava só de pensar naquilo, mas não havia nada a ser feito. Tinha que esconder esse sentimento da irmã menor, ela não precisava saber como ele se sentia em relação a tudo o que estava acontecendo.

— Nada demais. A escola parece ser maravilhosa, tem um campus enorme, várias atividades esportivas que posso escolher as que eu quiser. Enfim, é uma daquelas escolas que gentinha rica e mimada que se acha melhor que os outros porque os pais têm dinheiro.

— Adrian! — Seu pai o repreendeu.

— Desculpa, mas é verdade.

— De onde você tirou essa ideia?

— Já vi filmes e séries o bastante para saber que é assim que funciona.

— Parece um lugar incrível! — disse Maeve, com peso na voz, claramente interrompendo a pequena discussão que se formava ali. — E caro também.

O garoto trocou olhar com os pais, sabendo que a informação que estava prestes a revelar era tudo o que queriam manter oculto. O que não fazia sentido nenhum, já que a menina ia descobrir em breve. Mas Adrian queria ver a expressão estampada em sua face quando finalmente soubesse.

— E o melhor de tudo é que fica do outro lado do planeta. Porque parece que alguém decidiu que pagar um internato por anos e manter o filho em outro continente é mais barato do que tinta para pintar as paredes de um prédio de uma cor morta e sem graça.

Se estivesse bebendo algo, teria cuspido na hora. Maeve não sabia para quem deveria olhar nesse momento. Se era para a mãe, cuja face parecia ter acabado de ver um fantasma, para o pai, que apertava o garfo na mão como se fosse capaz de quebrá-lo, ou para o irmão que nada demonstrava e comia seu jantar normalmente, ignorando o clima pesado que se formou ao redor da mesa.

— E ninguém aqui vai dizer que isso é uma piada? — Dirigiu a pergunta aos pais. Os dois a encararam sem saber o que responder. Não era nenhuma piada como ela queria acreditar que fosse. — Eu não acredito nisso.

— Querida — sua mãe interveio —, não é tão simp...

— Para mim está parecendo bem simples. — Ela a interrompeu, o que era totalmente incomum. — Eu não consigo acreditar no que estou ouvindo.

— Foi uma decisão nossa.

— Foi mesmo? — O olhar que a pequena dirigiu à mãe foi intenso. Tão intenso que ela se calou imediatamente. — Mais alguém aqui tem algo a acrescentar? — Mark não disse nada, apenas encarou seu prato pela metade, enquanto Adrian comia como se não houvessem outras preocupações no mundo. — Ótimo, então já terminei de comer.

Na falta de conversa, os únicos sons eram os das garfadas do louro no prato e da cadeira da garota se arrastando. Ela nada disse, apenas se levantou e deixou o cômodo com raiva. Nos segundos seguintes, puderam ouvir as passadas pesadas na escada e o som de uma porta batendo. Ela não falaria com ninguém até a manhã seguinte. Pegaria o celular, reclamaria do acontecido com suas amigas, dormiria com raiva e, apenas no dia seguinte, mostraria o quão indignada estava.

Após terminar o conteúdo do copo em um único gole, Adrian pôs a louça suja de lado, limpou-se lentamente com um guardanapo sob o olhar confuso da mãe e o fuzilante do pai. Descartou o papel sobre o prato e se levantou, exatamente como a irmã fizera pouco antes.

— Também já terminei, vou subir agora.

— Espera um minuto.

Parou na porta ao som da voz do pai.

— O que foi? — Virou-se para encará-lo. Encontrou uma raiva contida, com um pequeno toque de decepção. — Preciso dormir logo. Sabe, para aproveitar meus últimos dias aqui.

— Você vai pegar o avião daqui a dois dias. Um dos professores vai te buscar no aeroporto.

— Ah, que legal! — Ironizou. — Isso significa que tenho só um dia aqui. Que maravilha, não é? Mais um motivo para ir dormir cedo.

Deu outro passo à frente. Foi parado mais uma vez.

— Isso se conseguir dormir sem causar mais nenhuma briga.

Aquilo foi seu limite. Mesmo com sua mãe presente, ele fora longe demais.

— Eu não causei isso! Você causou! Vocês dois! Acharam que ela ia aceitar uma porcaria dessas de boa? — Seus gritos não eram altos o suficiente para serem ouvidos das casas vizinhas. Eram altos o bastante para fazê-los escutar. — Vocês causaram isso, então se virem.

Seu pai o chamou pela terceira vez e, pela primeira, ele o ignorou. Subiu as escadas com pressa e se trancou no quarto, mal vendo a fresta de luz que saía do quarto da irmã, ao lado do seu. Caiu direto na cama, cansado de toda aquela discussão infantil.

Admitia, não fora seu maior momento de maturidade. Porém, não era como se estivesse errado. Infelizmente, não adiantava mais discutir e o que estava feito, estava feito. O único problema seria sobreviver sozinho do outro lado do planeta. Tentaria voltar para casa pelo menos uma vez por mês para rever a irmã e os amigos, mas passaria longe do pai. Ainda não lhe descia o que tinham feito com ele. Era inacreditável.

Rolou no colchão, incomodado com a luminosidade no quarto. Tirando forças não sabia de onde, Adrian se levantou e desligou a luz. Traçou o caminho de volta à cama com cuidado, desviando das peças de roupa e dos brinquedos no chão. A calma foi embora e o garoto andou mais rápido.

Perdido no escuro, sem saber quanto faltava até a cama. Um desconforto estranho pinicou a sola de seu pé. O virou para evitar a dor, causando uma rápida perda de equilíbrio. No segundo seguinte, seu corpo se projetou para frente e caiu. Acertou a colchão macio sob as cobertas.

Virou de lado na cama outra vez. Faziam horas e ele ainda não conseguia dormir. Tampouco poderia sair de casa, pois arriscava acordar seus pais. Já havia feito isso inúmeras vezes, muitas delas fora pego em flagrante, na maioria conseguiu se safar, sair e voltar sem chamar atenção. No entanto, não iria arriscar piorar uma situação que já estava quase insustentável.

O despertador digital era a única coisa que conferia alguma luz ao local. Era fraca, quase imperceptível, mas estava ali. Lançando uma luz enjoativa e triste, tão fraca que não chegava a nada ao seu redor. Mas estava ali, assim como Adrian que não tinha como sair, preso no mesmo lugar, sempre e sempre.

Estendeu a mão, tateando sobre a cômoda até encontrar o celular. O puxou para perto de si e desbloqueou a tela.

Duas e vinte e sete da manhã. A mesma hora que marcava o despertador. Tinha apenas algumas horas antes de ser acordado pelo maldito toque. Apesar de odiar acordar cedo, era um sacrifício que estava disposto a fazer. Queria passar o máximo de tempo possível com seus amigos, fosse pouco ou fosse muito, o que definitivamente seria pouco.

Apertou o celular contra o peito, diminuindo a quantidade de luz disponível no ambiente. Agora podia distinguir formas suaves na escuridão. Como seus jogos na prateleira sobre a escrivaninha. Eram um negro acinzentado em um negro mais escuro. Cogitou jogá-los por um instante, mas logo jogou a ideia fora. O som acordaria sua família e ela era tudo o que queria evitar. Preferia ter o mínimo de contato possível no momento.

Desbloqueou novamente a tela, agora abrindo um navegador. Só porque iria morar em um lugar em que não queria e longe de casa, não significava que não podia ter mais informações sobre onde iria.

O indicador surgiu na barra de pesquisa, piscando incessantemente. Só então se deu conta de que não sabia realmente o que pesquisar. Seus pais não chegaram a mencionar o nome de sua nova escola.

Havia outra opção.

“Colégio Interno”.

Os resultados foram imediatos, inúmeras páginas surgiram uma abaixo da outra. Adrian abriu a primeira página, logo uma grande quantidade de texto apareceu, intermediada por imagens de adolescentes felizes de uniforme, paisagens naturais e instalações do colégio. Parecia ser grande demais, porém de modo algum desconfortável.

Maeve estava certa, não parecia tão ruim.

Ajeitou o cursor de modo a pegar os dois primeiros parágrafos do texto, começando a lê-lo. Era um relato de uma ex-aluna que passara por um desses colégios.

Foi uma das melhores épocas da minha vida. No início, estava nervosa, sabendo que iria morar longe de casa e tudo mais. Eu tinha apenas treze anos e era extremamente dependente, não conseguia fazer nada por conta própria, apesar desse pequeno problema, sempre foi meu sonho estudar em um colégio interno.

Nada de anormal até então. Talvez não fosse tão ruim estar lá no fim das contas. Poderia ser uma experiência válida e a educação era de qualidade.

Se virou na cama, apoiando-se sobre os cotovelos no colchão duro.

Entrei cedo e a mudança foi enorme. No início, não sabia como me situar e nem o que fazer, era uma completa bagunça. Mas a escola cobra da gente, não tem como viver sem aprender a se virar por lá. Foi um sacrifício grande, porém consegui me acostumar. Acho que acordar cedo foi a pior parte. Antes, eu dormia até meio-dia, às vezes até as duas da tarde, então quando tinha que acordar às seis da manhã parecia que eu ia morrer.

Okay, acordar cedo não seria um grande sacrifício para ele. Estava acostumado a acordar cedo. Seis horas era apenas meia hora mais cedo do que o costume, então não poderia trazer um impacto muito grande, poderia?

Como sou filha única, nunca precisei me preocupar com dividir o quarto ou aprender a conviver com alguém. Outra coisa que mudou desde o começo das aulas. Os quartos eram divididos em três pessoas, era como se eu ganhasse duas irmãs. O que só significava mais responsabilidade. Descobrir como conviver com uma pessoa estranha é difícil, mas também pode ser uma experiência maravilhosa. Sei que para mim, foi.

Nós três tínhamos horários diferentes, modos diferentes, então precisamos estabelecer regras comuns para não ter nenhum problema. No fim, era como se nós fôssemos irmãs de verdade. É impossível dividir o quarto com alguém por anos e não formar nenhum vínculo, minhas colegas de quarto se tornaram minhas melhores amigas por lá.

Falando assim, nem dava para perceber o quão mauricinhas eram as pessoas daquele tipo de escola. Adrian conhecia bem, era difícil ver alguém com uma condição econômica mais elevada ser no mínimo humilde. Pelo menos ele nunca conhecera alguém que fugisse a essa descrição. Considerava a si mesmo uma exceção aos demais.

Entretanto, se quisesse mesmo sobreviver àquela escola, precisava aprender a se enturmar. Talvez tivesse a sorte de conhecer alguém diferente, não era coisa impossível.

Nos últimos anos, pude escolher as matérias que queria estudar, é um jeito da escola te preparar melhor para a profissão que você quer. Pessoalmente, achei ótimo não ter que estudar algumas delas e me focar só no que realmente queria.

Mas nem tudo era flores. O nível dos estudantes é alto e não é tão fácil. As aulas acontecem de manhã, de tarde há outras atividades à escolha de cada um, além disso, também há horários para estudo no dormitório. No fim da tarde, são reservadas três horas para estudo livre e dever de casa, o que acaba deixando realmente muito pouco tempo livre para o aluno ficar mais à vontade. É uma cobrança enorme.

Valeu à pena? Sem dúvida nenhuma!

Okay, isso já era demais. Não precisaria se preocupar em fazer amigos se não ia ter nem tempo de ter uma vida social. Uma carga de estudos dessas era absurda, ele nunca ia se adaptar ao colégio. Que tipo de pessoa ia lá por vontade própria?

Ele era um adolescente. Queria viver a melhor época de sua vida, não passá-la com a cara enfiada em livros. Tudo bem que a maior parte dela passara, mas o importante era viver, o que não conseguiria fazer se passasse o dia inteiro estudando.

Devia ser alguma estratégia maluca de seu pai de evitar que o filho tivesse tempo de comprar tinta e pintar prédios.

Nem tudo é tão terrível assim. Podemos sair aos finais de semana e passar com a família e tudo o que quisermos podemos encontrar no campus do colégio. Para os alunos mais velhos, há até mesmo um bar para quem quiser se divertir e relaxar.

Sua classificação definitivamente adentrava em “aluno mais velho”. Pelo visto, a grande maioria entrava cedo e ele estava quase na idade com que saíam. Só podia imaginar o quanto a diferença de vivência iria prejudicá-lo em relação aos demais. Mas desde que tivesse um lugar para relaxar, poderia se virar.

Muitos colégios internos têm ótimos programas de artes e ciências. Minhas atividades à tarde sempre, sempre, eram alguma coisa relacionada à ciência ou à pesquisa, com uma grande preferência pela química. Os laboratórios são muito bem equipados e os professores possuem ótima qualificação. Nunca fui muito das artes, porém minha amiga preferia esse tipo de atividade e, pelo que eu escutava, o programa não ficava para trás dos outros.

Finalmente algo que lhe agradara e não apenas lhe deu esperanças para um ano menos sofrido, aturável. Era o primeiro parágrafo que lia e que causava certa ansiedade e desejo. Seu pai nunca o apoiou muito em uma carreira artística ou um passatempo saudável. Mas com isso ele não devia contar.

Sua mãe e irmã, por outro lado, ficariam felizes por ele ter encontrado algo que o motivasse a ir para o novo colégio. Sua mãe o incentivaria a ir, enquanto Maeve... bom, Adrian não sabia o que ela diria. Sabia que ela não estava contente com a ideia do menino ir embora, mas não insistiria para que ficasse se não fosse o que ele mesmo desejava.

Bocejou. O sono, que antes não se fazia presente, aparecera em um instante.

Deu uma última olhada nas fotos espalhadas pela página. A primeira era de uma moça com uniforme sorrindo em um quarto com suas duas colegas, atrás delas não havia nada fora de lugar, podia-se notar a perfeita arrumação mesmo com o desfoque da foto. As outras eram, em geral, fotos da escola. Um construto que poderia ser uma mansão antiga, jardins verdes cheios de vida com decoração de um século anterior. O mais valorizado foram as belezas arquitetônicas e naturais da escola, como era o foco do blog.

Uma onda de cansaço súbita o atingiu, junto da percepção de que teria de levantar cedo no dia seguinte. Bom, não precisaria levantar cedo se não quisesse, mas cada minuto a mais na cada era um minuto perdido e Adrian não queria desperdiçar nada.

Apagou a tela do celular, desfazendo-se de quase toda a iluminação presente, deixando apenas a luz do despertador afastar o escuro, e o colocou sobre a cômoda ao lado da cama, esperando que não caísse durante a noite.

Virou de lado na cama fechando os olhos, procurou alguma vontade de dormir, algo que diminuísse sua ansiedade. Amanhã seria um longo dia.


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Notas finais do capítulo

Eae galerinha, o que acharam do capítulo de hoje? Como sempre, Adrian se metendo em algum tipo de problema. Surpresa? Nenhuma :3
No próximo capítulo temos uma surpresinha especial para nosso amado Adrian, muito fofo e amado ♥

Obrigado a quem está lendo e acompanhando a história, comentários são sempre bem-vindos, sejam sugestões, críticas ou teoria malucas :3



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