Tempestade Azul escrita por MattSunshine


Capítulo 2
Decisão


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal, tudo bom? Como passaram esses últimos dias? ♥
Como prometido, aqui está o segundo capítulo, espero muito que gostem. O que será que o doido do Adrian vai aprontar dessa vez? :3



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Após aquela conversa, Adrian não conversou mais com seu pai. E por que conversaria? Não tinham muitos assuntos em comum para falar e, mesmo que tivessem, não era como se fossem fazê-lo.

Passou o resto do dia trancado em seu quarto, revirando-se na cama. Não conseguia tirar da cabeça as expressões que seu pai fizera e, mais importante, não conseguia esquecer suas palavras. Palavras carregadas de raiva, enquanto as suas carregavam ironia e deboche.

Ele nunca havia falado assim com o filho, por mais que a relação entre ambos estivesse longe de ser perfeita. Mas havia algo no modo como o loiro mais velho se portara que... Adrian não sabia dizer exatamente o que era, mas não lhe agradava nem um pouco.

Talvez devesse ter pego mais leve também, ter parado com os grafites por um tempo, até que o outro se acalmasse. Pensando bem, deveria ter previsto isso. Sabia o quanto ver as paredes da empresa pintadas e desenhadas o irritava e, mesmo assim, o fazia quase toda semana.

Se levantou da cama, cansado demais para permanecer nela por mais tempo. O colchão duro já o enjoara e, provavelmente, teria uma marca nele com o formato de suas costas. Atravessou o quarto, ainda que sem vontade alguma para isso. Se não tivesse necessidades biológicas, como comer, poderia passar o resto do ano dentro daquele cubículo, o que não seria uma coisa tão ruim assim.

Saiu do quarto, puxando a porta que se fechou com uma batida atrás de si.

Era uma casa de dois andares. O segundo era basicamente reservado aos quartos e, como sua mãe e sua irmã passavam o dia nos outros cômodos da casa, era lhe reservada certa privacidade. Em geral, se precisasse fazer algo mais... particular, podia ter certeza de que não haveria ninguém naqueles corredores para atrapalhá-lo. Nas raras ocasiões em que havia, podia trancar a porta do quarto.

Desceu para o térreo, escorregando pelo corrimão liso. Pousou no chão de madeira do corredor e mal seus pés o tocaram que uma figura clara usando avental e de cabelos chanel apareceu em sua frente. Sua falsa expressão zangada não o convenceu, embora soubesse que havia um pouco de antipatia ali. Afinal, ela não gostava de tê-lo deslizando sobre os móveis da casa, ainda que um corrimão não fosse bem um móvel.

— Já sei, já sei... — A cortou antes mesmo de começar. — É a última vez que escorrego, vou parar com isso. — Ambos sabiam que era mentira. Quantas vezes havia prometido a mesma coisa?

E não era dessa vez que cumpriria com sua palavra, não em relação a isso. Era tão mais prático do que descer degrau por degrau.

Passou pela mãe, desviando-se dela em passos ágeis, e se jogou sobre o sofá da sala, onde sua irmã assistia com fascinação alguns desenhos animados. Com um sorriso no rosto, tomou o controle remoto das mãos da menina, que o encarou com uma raiva infantil, o que apenas serviu para aumentar o sorriso em seus lábios.

— Adrian, me devolve! — Pediu ela, meio ordenando e meio fazendo manha. Seu corpo magro se curvava sobre o do irmão com a mão estendida em direção ao controle.

Por ser mais forte e duas vezes mais alto, não foi difícil mantê-la longe do objeto que queria.

Sempre fora assim, desde que eram mais novos, Adrian adorava implicar com a mais nova. E ela não crescera tanto assim, o que mantinha a brincadeira divertida. Pelo menos para ele.

Não que gostasse de atormentar sua irmã, mas era exatamente isso que acontecia. Mesmo com as implicâncias, a relação de ambos era uma das melhores que poderia existir e o garoto tinha conhecimento disso. Se pudesse mudar alguma coisa, não mudaria nada.

Maeve apoiou-se na coxa do irmão para chegar mais perto do controle, entretanto, ele se desequilibrou e caiu do sofá, levando-a com ele. Ambos acabaram no chão com o garoto em cima dela. O controle foi tomado de suas mãos.

— Consegui! — Ela comemorou. Empurrou o irmão para o lado e saiu de baixo dele com uma feição emburrada. Sentou-se novamente no sofá e cruzou as pernas com uma pose de impotência, de quem havia ganho a batalha.

A menina estava no início da adolescência, mas quem a visse ainda a enxergaria como uma criança.

Ele sorriu discretamente e se levantou a tempo de ver a mãe entrando na sala. Uma toalha pequena pendia sobre seus ombros, entregando que havia saído da cozinha a recém. Atrás dela, o som de uma panela borbulhando e o cheiro de comida caseira. Adrian respirou fundo, apreciando o aroma que fazia seu estômago roncar.

Fazia horas que não comia nada. As lembranças da “pequena” discussão com o pai haviam afastado qualquer sinal de fome. Na verdade, ele a sentira, porém não sentia a necessidade de se levantar e ir até o alimento. Parecia muito longe. As escadas... Só de pensar que teria de descer tantos degraus, perdera qualquer vontade inexistente de sair da cama.

— O que estão fazendo? — perguntou, elevando as mãos à cintura em uma pose séria. Antes o corrimão e agora isso? Não era mesmo seu dia de sorte.

— Nada! — Ambos responderam em uníssono. Uma resposta tão rápida e automática quanto suspeita.

A mulher estreitou os olhos para os filhos, severa, procurando algum indício de mentira em suas feições. Com os olhos fixos na televisão, evitavam ao máximo desviar o olhar da tela, ou a fazer muitos movimentos com os olhos. Era mais difícil do que imaginaram. A tentação de olhar para a mãe, saber se ela já desistira de analisá-los ou não.

Adrian arriscou olhar para o lado, sem mover a cabeça. Sua irmã estava ainda mais suspeita que ele. Se alguém os entregasse, seria ela. As mãos tremendo eram como letreiros gigantes que a denunciavam. Mesmo que a mãe não as notasse, seria difícil não notar como ela começava a suar.

Definitivamente, muito suspeito.

— Tudo bem — disse ela, deixando que seus braços caíssem ao lado do corpo. Com sua desistência, Adrian pôde se permitir relaxar, desligando o modo de vigília que estava constantemente ligado.

Detestava quando a mãe os encarava daquela forma, sabendo que escondiam algo, ou pelo menos suspeitando que escondiam. Geralmente, ela estava certa. Tinha uma espécie de sexto sentido irritante e mentir para ela se tornava quase impossível. Razão pela qual ele começara a se cuidar mais perto da mulher. Escondia coisas demais para deixá-la perceber.

— Adrian, pode ir até a cozinha? — perguntou, ao passo que o filho levantou o olhar para encará-la. — Preciso falar com você.

Ela não poderia ter percebido alguma coisa, poderia? O garoto com certeza não tinha feito nada para levantar suspeitas dela, cuidara até mesmo em que direção olhava e o ritmo da respiração. O que poderia tê-lo entregue? Maeve? Certamente ela não era nem de longe alguém a se descartar.

E, como se adivinhasse seus pensamentos, ela voltou seu olhar a ele, desesperada e insegura, temendo ser a real culpada de uma conversa que possivelmente seria perigosa. Se antes não havia nada de inocente em sua postura, agora havia menos ainda.

— Pare de incomodar sua irmã e venha. — Pediu a mãe em um tom exigente e ao mesmo tempo educado do qual apenas ela era capaz de pedir, abandonando o cômodo à espera que o filho a seguisse.

Com um mau pressentimento, o garoto deixou a irmã e adentrou a cozinha. Sua mãe já o esperava, sentada na cadeira com uma seriedade incomum em seus olhos. O brilho de preocupação agora dava lugar a um de severidade. Era difícil ver esse sentimento nos olhos dela que quase nunca se estressava com nada. Era a calma em pessoa e apenas tentando de verdade se conseguia tirá-la do sério, e às vezes nem assim.

A cadeira frente a ela estava afastada da mesa, convidando-o a usá-la. Com cautela, Adrian cedeu à tentação e sentou, sentindo que aquela conversa seria importante, diferente das que já tivera anteriormente. Estava adentrando em águas profundas sem saber nadar, podia até mesmo sentir a água o sufocando.

Buscou o ar, esquecido de que tinha de respirar. A mãe permanecia quieta, o que despertou o sentimento de que deveria ser ele a iniciar a conversa.

— Então, mãe, o que...

— Onde você estava essa tarde? — Ela o cortou friamente, fazendo-o engolir seco. Definitivamente havia algo de errado ali e ele começava a suspeitar sobre o que era.

— Por aí — respondeu, sem dar indícios mais precisos. Se houvesse uma possiblidade, nem que pequena, de Jacqueline não saber onde ele estava e o que fazia naquela tarde, Adrian preferia manter assim, mantê-la no escuro.

— E “por aí” quer dizer na empresa do seu pai fazendo grafite nas paredes e incomodando os funcionários?

Engoliu em seco outra vez.

Então ela sabia mesmo. Não que estivesse surpreso, seu pai devia ter mandado mensagem ou ligado para casa. Não ouvira o telefone tocar, então fora a primeira opção. Por que ele precisava falar? O cara gostava mesmo de ferrar com sua vida, não podia manter a boca fechada. Uma vez feito isso, não havia como desfazer.

Com um ruído de derrota, entendeu que estava perdido. A única coisa que restara foi conversar e dizer que jamais pintaria aquele maldito prédio de novo. Era mentira, claro, porém não precisava ser verdade. Foram tantas as vezes que fizera essa exata promessa que até perdeu a conta.

— Tecnicamente... sim, mas...

— Mas? — O cortou novamente. Apesar da rigidez em sua voz, não havia grossura. — E ainda tem um “mas”. Filho — pediu, desesperada —, por favor entenda. Eu sei o quanto você gosta de fazer esse tipo de coisa e o porquê você faz, por mais que não me conte. Seu pai, por outro lado, está cansado de ter que limpar e repintar as paredes da firma toda vez que você faz isso.

O garoto se encolheu na cadeira, subitamente sentindo-se reprimido e culpado. A mulher tinha uma certa razão, por um lado. Por outro, como ela podia defender um cara que nunca via? Um cara que preferia negligenciar esposa e filho para conseguir um trocado a mais? Ele simplesmente não conseguia entender. Ou era muito amor, ou muita ingenuidade.

— Desculpa, mãe. — Afundou-se mais no objeto, por pouco não fazendo parte dele. — Essa foi a última vez, não vou fazer isso de novo.

E ali estava: a famosa promessa. Os dois sabiam como terminava. Ela acreditava, o perdoava e três dias depois ele estava fazendo o mesmo. Era praticamente um vício, não podia mais viver sem pintar aquelas paredes escuras e depressivas.

— Como eu queria acreditar em você. — O que? Essa era nova. Sempre caía na parte da promessa. O que houve de diferente dessa vez? — Mas seu pai está furioso com você e eu não posso mais discordar dele para te proteger, dessa vez foi longe demais.

— Como assim, mãe? — Não gostava nenhum pouco da direção em que a conversa fluía. Tinha algo de errado ali. — O que está acontecendo?

— Desculpa, filho. — Seus olhos marejaram, mas Jacqueline negou liberdade às lágrimas até o último instante, quando o líquido transbordou pelas bordas e atravessou seu rosto, deixando uma trilha úmida. — Eu sei que você não vai gostar nenhum pouco, eu mesma não consigo gostar, mas foi o único jeito que encontramos.

— Mãe? — Chamou por ela, se afastando da cadeira e se postando em pé.

A conversa, que já iniciara de um jeito desagradável, tomava um rumo ainda mais desagradável. Ele não estava curtindo nada aquele papo. Onde ela queria chegar com aquilo? E, mais importante, ele queria mesmo descobrir?

Mordeu o interior da boca para controlar as emoções e tentou chamá-la de novo. Quando a voz não saiu, fez uma nova tentativa.

— Mãe? — Chamou outra vez.

Agora, parecia ter dado certo. Ela ergueu os olhos marejados, mas controlados, para ele. O brilho feliz típico não estava mais nele. Sumira completamente. Entretanto, havia outro brilho. Um brilho não tão feliz, mais duro, do tipo que lhe dizia que ela faria o que achasse melhor, não importava a quem magoasse.

Só que isso ia muito além dela. Adrian sentiu uma dor sufocante no peito, como se não acreditasse que ela era realmente capaz de fazer uma atrocidade tão grande. As palavras ainda não tinham saído, não haviam sido ditas, mas sabia que não eram boas. Não podiam ser boas.

— O que foi? — perguntou quando a coragem lhe veio, aproveitando-se do impulso antes que ele desaparecesse. — Qual foi o único jeito? Único jeito de que?

Os olhos claros ainda o encaravam, marejados de tristeza. A boca se abriu, quase pronta para falar.

— Eu quero que saiba que sentimos muito. — Não era exatamente o que ele esperava que ela dissesse. — Mas está ficando difícil demais e você simplesmente não muda seu comportamento, não importa quanta vezes prometa e fale que vai, eu sei que é mentira.

Abaixou o rosto novamente, apoiado pelas mãos. Mesmo sendo incapaz de vê-la agora, Adrian podia muito bem imaginar a decepção que acabara de ver. Ironicamente, ficou decepcionado consigo mesmo. Decepcionado e envergonhado por ser o causador de tal emoção em sua própria mãe. Por mais que quisesse mentir e dizer a si mesmo que não era culpado, era exatamente isso o que era: culpado.

— Seu pai e eu pensamos muito a respeito. E chegamos a um consenso. — Passou as costas das mãos por sobre os olhos, varrendo o que restava das lágrimas. — Preste atenção, você teve muitas chances, então não havia out...

— Está bem, está bem. — Dessa vez, foi Adrian quem a cortou. Aquela enrolação estava lhe tirando a paciência. Para que ficar fazendo tanto suspense? — Pode falar logo o que decidiram?

Ela lhe olhou de modo analítico por um tempo e, com um suspiro, decidiu dar-lhe o que queria.

— Decidimos mandar você para um colégio interno.

Que?

Colégio interno?

Do que ela falava? Não podia ser o mesmo que ele pensava, o que achava que era. Simplesmente não podia. Ela havia perdido o juízo? Os dois ficaram loucos? Aquilo não era uma possibilidade, nunca foi e nunca deveria ter sido.

— Mas isso não resolve nada. — Tentou argumentar, apelando para a razão. — Eles ainda liberam os alunos nos finais de semana para voltar para casa. O que garante que eu não vou sair de lá só para pintar a firma do pai de novo?

Esperava que a frase não tivesse soado como uma provocação. A última coisa que queria agora era colocar mais lenha na fogueira, mas tinha de falar. O que iria impedi-lo? Poderia comprar tinta em praticamente qualquer lugar e seu pai não poderia vigiar todas as paredes por dois dias inteiros.

— Sim, eles liberam. — Sua mãe confirmou o que ele já sabia. — Mas apenas com a permissão dos pais e você não vai estar por aqui.

— O-o que? — As palavras mal passaram por sua boca. — O que quer dizer?

— Filho — ela ajeitou a postura, como se essa fosse a parte mais chocante da notícia, e não a parte em que queriam mantê-lo aprisionado durante toda semana —, o colégio interno fica em Londres, na Inglaterra.

Na... Inglaterra? Havia escutado certo? Não, não, não e não. Tinha que ser uma piada. O lugar ficava, literalmente, do outro lado do planeta. Estavam dispostos a ir tão longe só para impedi-lo de pintar as malditas paredes da empresa? Não era possível, tinha que ter mais alguma coisa envolvida. Sem dúvidas mantê-lo lá ia ser muito mais caro do que repintar as malditas paredes.

A Inglaterra ficava, sem exageros, do outro lado do mundo. Não podiam, pelo menos, arrumar um lugar mais perto? Tipo ali mesmo em Nova York?

Adrian estava prestes a retrucar, mas foi interrompido pelo som de uma porta se abrindo. Aquilo sim era uma surpresa.

Revirou os olhos, dando as costas para a mãe.


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Notas finais do capítulo

Eae, pessoal, o que acharam do capítulo de hoje? Como sempre, o que não falta nos Signor é treta, dedo no cu e gritaria. Que família divertida :3

Muito obrigado a quem está lendo e acompanhando Tempestade Azul, a opinião de vocês é muito importante e vocês são maravilhosos. Lembrando sempre que comentários, críticas, elogios e sugestões são sempre muito bem-vindos ♥. O próximo capítulo será postado ainda nesse fim de semana, espero vocês lá ♥

E não esquecendo, um agradecimento especial a Sthefani por ler e comentar no último capítulo :3 ♥



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